PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO
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- Rafaela Minho Sintra
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1 PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO 2007 O MERCADO DE TRABALHO SOB A ÓPTICA DA RAÇA/COR Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego permitem diversos tipos de detalhamento para análises específicas, como de certos segmentos sociais ou econômicos. Com a aproximação do Dia da Consciência Negra, a Fundação Seade trata da situação da população negra no mercado de trabalho na. As informações referem-se aos últimos 12 meses (média de outubro de 2006 a setembro de 2007) e foram considerados negros os pretos e pardos, e não-negros, os brancos e amarelos. Os negros correspondem a cerca de 36% da população em idade ativa (PIA) e estão presentes em proporção semelhante na composição da população economicamente ativa (PEA) (Tabela 1). Logo, sua taxa de participação no mercado de trabalho (63,3%) não se distingue significativamente da população não-negra (62,3%). Essa ligeira diferença explica-se pela maior presença de mulheres negras no mercado de trabalho, particularmente nas faixas etárias mais elevadas. Tabela 1 Distribuição da População em Idade Ativa, por Condição de Atividade, segundo Raça/Cor Em porcentagem Indicadores Total Negros Não-Negros PIA 100,0 35,8 64,2 PEA 100,0 36,2 63,8 Ocupados 100,0 34,9 65,1 Desempregados 100,0 43,7 56,3 As diferenças entre negros e não-negros tornam-se mais visíveis quando se detalham suas respectivas condições de atividade. A Tabela 1 mostra com clareza que a presença dos primeiros entre os ocupados é menor do que sua participação na PIA e na PEA e, entre os
2 desempregados, é sensivelmente maior. Em outros termos, tais informações mostram que, no período em pauta, a chance de um negro ser desempregado é maior que a de um nãonegro. O Gráfico 1 mostra isso com mais precisão: a taxa de desemprego total observada entre os negros foi de 18,1%, em relação a 13,2% entre os não-negros. Se desagregada segundo seus tipos, a situação diferenciada de desemprego permanece, uma vez que os indicadores referidos aos negros são também superiores aos dos não-negros. Gráfico 1 Taxas de Desemprego, por Tipo 20,0 Aberto Oculto Em % 16,0 6,4 12,0 8,0 4,0 11,7 4,2 9,0 0,0 Negros Não-Negros Nota: A taxa de desemprego total é composta pela soma das taxas de desemprego aberto e oculto. Quando se observa a composição dos ocupados nos diferentes segmentos econômicos por raça/cor, também se percebem diferenças importantes (Gráfico 2). Embora a presença dos negros seja expressiva em todos os segmentos analisados, nota-se uma sobre-representação desse segmento populacional nos ramos de atividade que agrupam as ocupações menos prestigiadas socialmente e, em geral, com menor remuneração, relações de trabalho mais precárias e menos exigentes em termos de qualificação profissional, como são os casos da Construção Civil e dos Serviços Domésticos.
3 Gráfico 2 Distribuição dos Ocupados, segundo Setor de Atividade, por Raça/Cor Negros Não-Negros Em % 100,0 80,0 60,0 65,1 65,2 66,2 68,4 50,6 45,1 40,0 20,0 34,9 34,8 33,8 31,6 49,4 54,9 0,0 Total Indústria Comércio Serviços Construção Civil Serviços Domésticos A Tabela 2 confirma que o acesso aos empregos assalariados ainda é mais difícil para os negros do que para os não-negros, além de sugerir que tal diferença se explica pelas dificuldades enfrentadas pelos negros para ingressar no setor público, onde mais da metade dos ocupados possui o ensino superior. De fato, as diferenças na distribuição dos ocupados segundo raça/cor mostram-se importantes em três posições ocupacionais: entre os assalariados do setor público e os empregadores, em que os porcentuais de não-negros superam claramente os de negros; e entre os empregados domésticos, em que ocorre o contrário. Tais constatações permitem avançar algumas hipóteses otimistas. Sabidamente, as ocupações com elevadas exigências de qualificação profissional são muito mais freqüentes no setor público do que no privado. Ademais, a única forma relevante de ingresso no setor público atualmente é por meio de concurso público. Desse modo, pode-se inferir que a subrepresentação de negros nesse setor deve-se muito mais às históricas dificuldades de acesso, por parte de tal segmento populacional, aos níveis mais elevados de ensino do que a eventuais ações discriminatórias de que possa ser vítima. No caso dos empregadores, o requisito para inserir-se nessa posição ocupacional tem a ver com a disponibilidade de riqueza acumulada que permita montar um negócio e contratar
4 empregados. Também aqui, determinantes do passado têm muito mais peso explicativo que comportamentos discriminatórios do presente. Tabela 2 Distribuição dos Ocupados, segundo Posição na Ocupação, por Raça/Cor Em porcentagem Posição na Ocupação Total Negros Não-Negros Total 100,0 100,0 100,0 Assalariados 66,2 64,6 67,0 Setor Privado 57,8 58,4 57,5 Com Carteira Assinada 44,6 44,2 44,8 Sem Carteira Assinada 13,2 14,1 12,7 Setor Público 8,4 6,2 9,5 Autônomos 19,3 19,9 18,9 Trabalham para Empresa 7,6 7,5 7,6 Trabalham para o Público 11,7 12,3 11,3 Empregadores 4,2 1,7 5,5 Empregados Domésticos 8,1 12,8 5,6 Demais 2,2 1,0 2,9 Por fim, a sobre-representação de negros entre os empregados domésticos reflete aqueles mesmos determinantes históricos, uma vez que é das poucas posições ocupacionais em que os requisitos de qualificação profissional dependem menos da formação escolar do que da experiência no trabalho. Não por acaso, outros estudos da Fundação Seade mostraram que esse tipo de trabalho tem concentrado, crescentemente, mulheres em idade mais elevada, particularmente as negras. Pela óptica dos grupos ocupacionais (Tabela 3), as hipóteses que as informações disponíveis permitem formular não são distintas dessas. É evidente a sub-representação de negros nas posições de direção e planejamento, em que as exigências de formação escolar são particularmente elevadas. Nas posições de execução, tal sub-representação é constatada apenas entre as ocupações qualificadas e, nas de apoio, entre as não-operacionais e de escritório. Em contrapartida, há sobre-representação de negros nos grupos ocupacionais com menores exigências de qualificação como os não-qualificados e os classificados na rubrica serviços gerais. O otimismo mencionado anteriormente reside no fato de que a atual situação dos negros no mercado de trabalho da, ainda que desfavorável, não se mostre tão precária quanto foi no passado. Atualmente, a universalização do ensino
5 fundamental e o maior acesso aos níveis médio e superior de ensino por toda a população permitem supor que as diferenças ainda importantes entre as oportunidades para negros e não-negros ingressarem e progredirem em sua vida profissional possam ser superadas. Tabela 3 Distribuição dos Ocupados, segundo Grupos de Ocupação, por Raça/Cor Em porcentagem Grupos de Ocupação Total Negros Não-Negros Total 100,0 100,0 100,0 Direção e Planejamento 13,5 4,6 18,3 Empresários, Direção e Gerência 6,2 2,2 8,4 Planejamento e Organização 7,3 2,4 10,0 Execução 52,8 59,3 49,3 Qualificados 8,8 7,1 9,8 Semi-qualificados 32,6 34,9 31,3 Não-qualificados 11,4 17,2 8,2 Apoio 20,7 20,9 20,7 Não-operacionais 9,2 7,8 10,0 Serviços de Escritório 4,1 3,1 4,7 Serviços Gerais 7,4 10,0 6,0 Mal Definidas 12,9 15,2 11,7 As informações sobre os rendimentos do trabalho de negros e não-negros antepõem algumas dúvidas na visão otimista que as demais informações trouxeram. Desde logo, não surpreende o fato de que o rendimento médio da população negra ocupada (R$ 752), equivale a 56% ao da população não-negra (R$ 1.346), haja vista as diferentes estruturas ocupacionais a que se submetem. Porém, quando se desagregam os dados por grupos ocupacionais, algumas diferenças observadas são preocupantes. Ressalte-se que a jornada média de trabalho semanal é idêntica para ambos os segmentos (42 horas), mas como há distinções entre os diversos grupos analisados, optou-se, neste trabalho, pela apresentação do rendimento médio real por hora trabalhada. Ao se compararem os rendimentos do trabalho de negros e não-negros inseridos nos mesmos grupos de ocupação, notam-se grande disparidade entre os valores. O rendimento médio real por hora dos negros em cargos de direção e planejamento era de R$ 10,00, o que corresponde a 56,5% do rendimento dos não-negros no mesmo grupo ocupacional (R$ 17,80). Como é de se esperar, essa diferença se reduz conforme diminuem os rendimentos. No entanto, mesmo nos grupos ocupacionais com menores remunerações, diferenças não desprezíveis persistem: nas ocupações classificadas como serviços gerais, os rendimentos
6 dos negros correspondiam a 88,8% aos dos não-negros (R$ 3,20 e R$ 3,60, respectivamente) e mesmo nas ocupações não-qualificadas, com pior remuneração, ainda se observou uma pequena diferença entre os rendimentos de negros (R$ 2,90) e não-negros (R$3,00). Decerto, essas poucas informações não permitem grandes inferências sobre o que ocorre com a população negra no mundo do trabalho. No entanto, lançam algumas pistas importantes que podem ser perseguidas por meio de análises mais aprofundadas. As duas hipóteses destacadas neste texto, e que poderiam ser objeto de estudos futuros mais detalhados, são: a) de que as diferenças de acesso ao mercado de trabalho para negros e nãonegros tende a se reduzir, particularmente com os avanços no campo educacional; b) que as diferenças entre esses grupos populacionais, no entanto, persistem no que diz respeito às possibilidades de progresso em suas carreiras profissionais. Se tais hipóteses se confirmarem, pode-se supor que os métodos de contratação de pessoal tendem a ser muito mais isentos de eventual caráter discriminatório do que os que presidem a avaliação dos profissionais já contratados e a evolução de suas carreiras. Para outras informações sobre o tema, consulte Mulher & Trabalho; ou para tabulações específicas de médias anuais, acesse Pesquisa de Emprego e Desemprego Tabulação de Microdados.
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