TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL MINUTA DE JULGAMENTO FLS. *** TERCEIRA TURMA *** ANOTAÇÕES: DUPLO GRAU 91.03.003384-8 40267 REOMS-MS PAUTA: 18/10/2006 JULGADO: 18/10/2006 NUM. PAUTA: 00174 RELATOR: JUÍZA CONV PRESIDENTE DO ÓRGÃO JULGADOR: DES.FED. CARLOS MUTA PRESIDENTE DA SESSÃO: DES.FED. MÁRCIO MORAES PROCURADOR(A) DA REPÚBLICA: Dr(a). MARCELA MORAES PEIXOTO AUTUAÇÃO PARTE A: LOESTER NUNES DE OLIVEIRA PARTE R: Conselho Regional de Medicina - CRM ADVOGADO(S) SUSTENTAÇÃO ORAL CERTIDÃO Certifico que a Egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento à remessa oficial, nos termos do voto do(a) Relator(a). Votaram os(as) DES.FED. MÁRCIO MORAES e DES.FED. CECILIA MARCONDES. Ausentes justificadamente os(as) DES.FED. NERY JUNIOR e DES.FED. CARLOS MUTA. SILVIA SENCIALES SOBREIRA MACHADO Secretário(a) Página 1 de 5
RELATOR : JUÍZA CONV. / TERCEIRA TURMA R E L A T Ó R I O Trata-se de remessa oficial, em mandado de segurança, impetrado com o objetivo de sustar processo ético profissional instaurado pelo Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul, tendo em vista a garantia de inviolabilidade das opiniões, palavras e votos proferidos por vereadores no exercício de seus mandatos, na circunscrição do Município em que atuam. Alega, em suma, o impetrante que é médico e foi eleito para exercer o cargo de vereador, na Comarca de Campo Grande. No exercício dessa função, denunciou a ocorrência de irregularidades, na Maternidade Cândido Mariano. Em conseqüência de denúncia feita pela diretoria da Associação de Amparo à Maternidade e à Infância, o Conselho Regional de Medicina abriu processo ético disciplinar em face do impetrante, por infração ao artigo 19 do Código de Ética Médica, tendo em vista as declarações por ele prestadas e publicadas na imprensa local, quando da denúncia supramencionada. A r. sentença concedeu a segurança. Sem recurso voluntário, subiram os autos a esta Corte, opinando o Ministério Público Federal pela confirmação da r. sentença. Dispensada a revisão, na forma regimental. É o relatório. j.o. Página 2 de 5
RELATOR : JUÍZA CONV. / TERCEIRA TURMA V O T O Senhores Desembargadores, trata-se de mandado de segurança em que o impetrante, médico e vereador na Comarca de Campo Grande-MS, objetiva a sustação de processo ético-profissional, instaurado pelo Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul, resultante de solicitação da Associação de Amparo à Maternidade e à Infância, por ter o impetrante denunciado, publicamente, irregularidades na Maternidade Cândido Mariano. É claro no processo que o impetrante, ao denunciar irregularidades relativas a saúde pública, ao atendimento da população carente, não o estava fazendo no exercício da profissão de médico, mas sim, de vereador, defendendo interesses de seus munícipes, estando aí acobertado pelo manto da inviolabilidade, garantida pela Constituição Federal, art. 29, VI, e pela Lei Orgânica do Município de Campo Grande, artigo 26. E essa defesa foi tão efetiva que resultou em medidas que melhoraram o atendimento à população carente. seguir: Irreparável a sentença do Juízo a quo, em parte reproduzida a Neste particular não há que se cogitar da figura do médico, que tem por dever denunciar irregularidades perante a autarquia da classe, mas sim da figura do vereador que, como mandatário do povo, goza da prerrogativa da inviolabilidade em razão de suas opiniões, palavras e votos. É que se admitisse que o médico-vereador somente pudesse denunciar irregularidades frente ao ao Conselho Regional de Medicina ou junto à Comissão de Ética da autarquia, estar-seia restringindo o múnus público que lhe foi acometido, de sorte a subjugar os interesses maiores da comunidade em relação aos interesses particulares de uma classe. Em termos de Direito Público, isto é inadmissível, vez que os interesses públicos sempre detém a primazia. Ainda, nesse sentido, trago à colação os seguintes julgados: - RHC 7910, Rel. Des. Fed. VICENTE LEAL, DJ 01.03.99, Página 3 de 5
p. 380: RHC - CONSTITUCIONAL - PENAL - IMUNIDADE - VEREADOR - Os vereadores, à semelhança de deputados e senadores, no exercício da respectiva atividade, gozam de imunidade a fim de ser desenvolvido, sem peias, o mandato. Cumpre desenvolvê-lo na Câmara Municipal. Inadequado, em princípio, valer-se da imprensa, notadamente quando a referência desairosa a terceiros. - RE 220687, Rel. Des. Fed. CARLOS VELLOSO, DJ 28.05.99, p. 25: CONSTITUCIONAL. VEREADOR: IMUNIDADE MATERIAL: C.F., art. 29, VIII. RESPONSABILIDADE CIVIL. I. - Imunidade material dos vereadores por suas palavras e votos no exercício do mandato, no município e nos limites dos interesses municipais e à pertinência para com o mandato. II. - Precedentes do S.T.F.: RE 140.867-MS; HC 75.621-PR, Moreira Alves, "DJ" de 27.3.98; RHC 78.026-ES, O. Gallotti, 1ª T., 03.11.98. III. - A inviolabilidade parlamentar alcança, também, o campo da responsabilidade civil. Precedente do S.T.F.: RE 210.917-RJ, S. Pertence, Plenário, 12.8.98. IV. - R.E. conhecido e provido. - RHC 13268, Rel. Des. Fed. FONTES DE ALENCAR, DJ 24.03.03, p. 283: HABEAS-CORPUS. - Vereador. Inviolabilidade" por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município" (CF, art. 29, VIII). - Recurso ordinário atendido. Ante o exposto, nego provimento à remessa oficial. Página 4 de 5
RELATOR : JUÍZA CONV. / TERCEIRA TURMA E M E N T A ADMINISTRATIVO. TRANCAMENTO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. MÉDICO NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PARLAMENTAR DE VEREADOR. DENÚNCIAS QUE NÃO SE CONFUNDEM COM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO. 1. Objetiva-se a sustação de processo ético-profissional, instaurado pelo Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul, por ter o impetrante denunciado, publicamente, na condição de vereador, irregularidades em hospital Municipal. 2. Ao denunciar irregularidades relativas a saúde pública, ao atendimento da população carente, não estava o impetrante o fazendo no exercício da profissão de médico, mas sim, de vereador, defendendo interesses de seus munícipes, estando aí acobertado pelo manto da inviolabilidade, garantida pela Constituição Federal, art. 29, VI. 3. Precedentes. 4. Remessa oficial não provida. A C Ó R D Ã O Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento à remessa oficial, nos termos do relatório e do voto que integram o presente julgado. São Paulo, 18 de outubro de 2006. (data do julgamento) Página 5 de 5