Identidade e cultura: troca de experiências entre universidade e escolas rurais Leidiane Negreiros da Rocha 1, Débora Ferreira da Silva 1, Ithauany Rodrigues Sousa 1, Luã Carvalho Resplandes 1, Janailton Coutinho 2, Leandro Pinto Xavier 3,Cláudia da Silva Magalhães 4 1.Estudantes de graduação da Universidade Federal do Piauí-Campus Professora Cinobelina Elvas(UFPI). 2. Professor Assistente I da UFPI 3. Professor Assistente IV da UFPI 4. Doutoranda em Ciência Animal da UFPI Hoje diversas instituições de ensino criam estratégias de inclusão da sociedade civil em seus meios buscando diminuir as distâncias costruídas historicamente entre esses dois espaços. Assim, construiu-se a partir das demandas populares o projeto Universidade e Mobilização Social: Comunicação e Interação, que teve como objetivo criar um processo de mobilização com os grupos sociais e a comunidade acadêmica, a fim de promover interações e trocas de experiências com as comunidades camponesas. A execução desse projeto, realizado no Campus Profª Cinobelina Elvas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi marcada por uma série de atividades. Foram realizadas entrevistas com movimentos sociais camponeses, apresentações orais e expositivas, grupos de debates sobre inclusão de diversos grupos sociais ao meio acadêmico. Além disso, foi possível inserir o cotidiano camponês das escolas rurais e suas comunidades na Universidade. As atividades foram realizadas mensalmente, com diferentes grupos que buscaram conhecer o meio acadêmico e consequentemente desmistificar a visão distanciativa da universidade para com as camadas populares. Ao final desse projeto, identificou-se a necessidade de realização de atividades integrativas entre a academia, as escolas rurais e suas comunidades a fim de minimizar as desigualdades e distâncias existentes entre esses grupos sociais. Palavras-Chave: Mobilização. Comunicação. Inclusão Social. Interação e Integração
A mobilização social é um processo comunicativo que pode ser confundida com manifestações públicas como passeatas em praças ou concentrações em determinado espaço. Contudo, há autores que afirmam que o sentido da mobilização é mais amplo, pois acontece quando um grupo de pessoas, comunidade ou sociedade decidem agir com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultados desejados por todos (Toro & Werneck, 2004:13). Diz ainda, Mafra (2006) que a mobilização social pode ser entendida como conversa, troca, partilha intersubjetiva e interação. Pode-se dizer que a mobilização, como prática social, constitui-se pela comunicação. Destarte, para que seja social, a mobilização pressupõe algum tipo de acordo em relação à determinada causa pela qual se deseja lutar, e deve possuir indivíduos envolvidos, que visam transformar a realidade. Para que haja este acordo, e, principalmente, para que o interesse coletivo seja definido, é necessário que entendimentos sejam negociados e trocados a partir de um processo comunicativo" (Mafra 2006). Segundo Toro, ( 2004 ) a mobilização social é uma forma de construir na prática o projeto ético proposto na constituição brasileira: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores do iniciativa e pluralismo político. trabalho e da livre Buscando criar processos de mobilização social que reconhecesse a universidade pública como espaço de todos, criou-se um projeto de extensão no Campus Professora Cinobelina Elvas da Universidade Federal do Piauí na cidade de Bom Jesus-PI, Brasil. Processos de mobilização e interação foram criados a fim de aproximar diferentes grupos sociais aos diversos espaços da universidade. Encontros mensais denominados EXPOSIÇÃO DE TALENTOS foram realizados promovendo trocas de experiências; atividades comunicativas e conhecimento de histórias de vida preparando a comunidade acadêmica para desenvolver processos de interação social com as comunidades rurais. A exposição de talentos constava de apresentações mensais, onde diferentes comunidades mostraram parte de sua cultura e de seus saberes. Entrevistas foram realizadas fazendo com que a comunidade acadêmica participasse ativamente de suas histórias de vida. As comunidades rurais
envolvidas (Gruta Bela, Corrente dos Matões, Eugenópolis, Barra Verde, Mocambinho, Piripiri e Assentamento Conceição) pertencem ao município de Bom Jesus no sul do estado do Piauí. A acolhida era a primeira atividade que realizávamos com o grupo. Buscávamos saber suas origens, histórias de vida e quais eram suas perspectivas ao visitarem a universidade. Foi comovente ver que muitos deles tinham naquele momento o seu primeiro contato com a universidade. Estar na Universidade foi motivo para usar uma roupa nova, colocar maquiagem, salto alto e mudar toda a uma rotina para estar em um espaço que tradicionalmente não era seu e distante de sua realidade camponesa. Pensamos então em realizar uma palestra sobre O que é a Universidade. Solicitamos que escrevessem em uma tarjeta o que pensavam que seria Universidade. A partir das respostas discutíamos com eles sobre o papel da universidade na sociedade brasileira e nas comunidades locais. Depois dessa discussão buscamos mostrar a universidade para as escolas rurais. Optamos por trabalhar de forma específica com as escolas rurais por serem estas no Brasil desconsideradas historicamente ao pensar políticas públicas. Assim, apresentamos os laboratórios, restaurante universitário, salas de aula, áreas de experimentos e biblioteca. No período da tarde inserimos uma atividade da disciplina de Extensão Rural chamada de Café com Segurança Alimentar. Ao final da realização desses eventos realizamos uma avaliação do dia através de um questionário para as comunidades rurais sobre a visita realizada no campus universitário. A primeira Exposição de Talentos ocorreu com a comunidade rural Gruta Bela através da Escola Municipal Marcos Júlio com diversas apresentações culturais. Entre elas, a coleção de biojóias produzidas artesanalmente com sementes da região; apresentação de uma peça teatral chamada Mazelas da Gruta (retratando as dificuldades da comunidade Gruta Bela); dança regional (Reisado) com violão, sanfona, ganzá, zabumba, triângulo e pandeiro. Além disso, teve amostragem de remédios caseiros. No decorrer do Café Com Segurança Alimentar, havia a discussão sobre segurança alimentar e
agricultura sustentável a partir das perspectivas dos agricultores familiares do Sul do estado do Piauí. A segunda Exposição de Talentos realizou-se com a comunidade rural Corrente dos Matões através da Escola Cantídio Antônio dos Santos com diversas apresentações culturais e religiosas como o Divino Espírito Santo e exposição de artesanatos ao som do sanfoneiro da região (Dodô do Buriti Seco) junto com uma miniquadrilha denominada Chamegão envolvendo os alunos da escola. A terceira Exposição de Talentos foi realizada com a comunidade Eugenópolis através da Escola Municipal Almerinda Fonseca. As apresentações culturais centraram-se no Jornal Eugenópolis que mostrou a cultura, a religião da comunidade e uma dança típica da região. Além disso, houve uma dança sobre o Dia do estado do Piauí especificando o significado de todos os componentes da bandeira. Integrantes do Projeto Liberdade e Saúde do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) realizaram uma palestra sobre a utilização da educação ambiental como ferramenta de combate ao tráfico de animais silvestres e prevenção de suas zoonoses. A quarta Exposição de Talentos ocorreu em Novembro de 2011 com a comunidade Barra Verde e Mocambinho através das Escolas Municipais Jaime Ribeiro Soares e Luis Alves, respectivamente. A comunidade Barra Verde apresentou uma dança que foi utilizada como metodologia da aula de inglês de sua escola. Essa comunidade trouxe o artesanato e as plantas medicinais da região. Já a comunidade Mocambinho organizou a apresentação de vários dramas (O pife (música),o papafogo, Turma da Sanfona, Estelita, Costureirinha, O moço e a Moça, O anjo e a Mamãe) e trouxeram o sanfoneiro da região. Na tabela (1.0) abaixo sistematizamos os remédios caseiros trazidos pelas comunidades e sua utilidade. Numa região com extrema pobreza, os remédios caseiros passam do hábito à cultura até as necessidades médicas, pois muitas vezes o único medicamento acessado por estas comunidades são os remédios caseiros.
Não queremos com esta receitar ou indicar sua utilização, pois não há comprovação de seus efeitos, no entanto fica um indicador: os saberes acumulados sobre os remédios caseiros devem ser investigados cientificamente e preservados quando seus efeitos forem comprovadamente efetivos. Tabela 1.0 Remédios Azeite de Buriti Copaiba ou Pau Dolio Pau Ferro Assa Peixe Umburana Coentro Cabelo de milho None Banha de ema Erva cidreira Capim santo Aroeira Mastruz Babosa Folha de algodão Folha de ata Folha de mamão Gergelim Catinga de porco Ameixa Juá Utilidade Sinuzite Febre Resfriado Diurético Dor de cabeça, cólicas e reumatismo. Calmante Febre Coceira e inflamação e gripe Dor no abdômen Dor no abdômen Expectorante Dor no abdômen, dor de cabeça Clarear os dentes,
dor no abdômen Caju Açoita cavalo Jatobá Angico Gengibre Quebra pedra Malvão Dor de coluna Anemia Garganta Rins Cólica, tosse A quinta Exposição de Talentos ocorreu em Novembro de 2011 com a comunidade Piripiri e Assentamento Conceição através das Escolas Municipais Délcio Lustosa e João Pedro da Fonseca respectivamente. A comunidade do Assentamento Conceição apresentou uma peça que retratava sua história e outra que discutia o meio ambiente. A comunidade Piripiri apresentou As esmolas do Divino e a culinária local : Doce de Leite, Café, Banana e Cocada. Para que serve então a universidade? Para os estudantes das escolas do campo surgiram os seguintes significados: Universidade é um lugar muito especial para as pessoas, é a importância do meu futuro, é um lugar onde se aprende mais universo de informações, diversidade de cultura, universidade é o meu objetivo mais desejado, universidade é o caminho mais próximo para se conquistar o que você quer fazer, que profissão você quer seguir e a universidade é um centro de conhecimento para as novas gerações de universitários. A Universidade como espaço público e gratuito brasileiro deve se abrir as novas demandas sociais. As escolas rurais com seus professores, estudantes e suas comunidades almejam serem inseridas no cotidiano universitário. Fica claro para os participantes, a imagem da universidade como detentora de mudança e melhoria de vida, no entanto, não devemos abandonar a perspectiva de uma universidade democrática, construtora de pensamento crítico e aberta às novas realidades.
Referências MAFRA, R, L.M. 2006. Relações Públicas e Mobilização Social: a construção estratégica de dimensões comunicativas. Belo Horizonte. TORO, A, J.B 2004. Mobilização social - um modo de construir a democracia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica. MAFRA, R,L.M. 2010. Mobilização social e comunicação: por uma perspectiva relacional. Belo Horizonte.