Camila Bressanelli. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br



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Transcrição:

Camila Bressanelli Mestre em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora do Centro Universitário Curitiba (UNI- CURITIBA). Advogada.

Os idosos, como qualquer ser humano, são titulares de direitos fundamentais, direitos inerentes a essa condição, e que, por essa razão, são indisponíveis, inalienáveis, intransferíveis e indelegáveis. Os direitos fundamentais são, portanto, aqueles direitos mais básicos, essenciais a qualquer pessoa, a qualquer sujeito de direitos. A dignidade é o caminho de realização dos direitos fundamentais essenciais, uma vez que somente pode ser verificada a dignidade plena se presentes estiverem os direitos fundamentais de todo e qualquer indivíduo. A expressão direitos fundamentais não se confunde com direitos de personalidade. Os direitos de personalidade 1 são aqueles direitos que tipificam o ser humano, que refletem a sua existência única. Por essa razão, todos os direitos de personalidade são, também, direitos fundamentais. A recíproca não é verdadeira, a exemplo do direito à propriedade que, muito embora figure expressamente como um dos direitos fundamentais constitucionalmente garantidos, não é um direito de personalidade. É importante ressaltar que, no ordenamento jurídico brasileiro, o tratamento dos direitos fundamentais foi de forma não taxativa, não exaustiva. O texto da Constituição da República Federativa brasileira de 1988 é expresso ao elencar alguns desses direitos 2. Frise-se, por oportuno, que esse elenco é meramente sugestivo. Ademais, o artigo 1.º, inciso III, da Constituição Federal previu a dignidade da pessoa humana como fundamento deste Estado. Trata-se da cláusula geral de proteção da personalidade humana 3, e que visa à proteção jurídica plena de todos os indivíduos, independentemente de qualquer condição ou situação preexistente. 1 Neste sentido, Szaniawski explica que a personalidade se resume no conjunto de caracteres do próprio indivíduo; consiste na parte intrínseca da pessoa humana. Trata-se de um bem, no sentido jurídico, sendo o primeiro bem pertencente à pessoa, sua primeira utilidade. (SZANIAWSKI, 2009, p. 72). 2 O artigo 5.º, caput, da Constituição Federal elenca, como direitos fundamentais, o direito à vida, à igualdade, à liberdade, à segurança e à propriedade. 3 Esclarece o autor que o direito geral de personalidade pode ser tutelado mediante duas modalidades de proteção. A primeira espécie dá-se pela tutela preventiva, isto é, deve ser exercida antes da ocorrência efetiva do atentado ao direito de personalidade. Segunda modalidade é realizada mediante a reparação do dano, após a prática da violação do direito da vítima, através da ação indenizatória. (SZANIAWSKI, 2009, p. 105.) 9

O Código Civil de 2002, que teve inspiração nos Códigos da Alemanha e da Suíça, procurou estabelecer um modelo misto de proteção aos direitos de personalidade. Nos seus artigos 11 ao 21 procurou-se proteger a esses direitos, ora de forma geral, ora de forma mais específica. Entretanto, independente dessa aparente confusão de critérios, os direitos de personalidade não podem ter enumeração exaustiva, porque decorrem da necessária proteção à existência humana, que, por sua vez, é extremamente complexa e mutante. As medidas protetivas Mais especificamente acerca do Direito do Idoso, o ordenamento jurídico dispôs, de forma expressa, a proteção às pessoas maiores de sessenta (60) anos, através da Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994. 4 Artigo 3., Lei 8.842/94: Art. 3.º A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios: I - a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei. Essa lei dispôs sobre a política nacional do idoso e criou o Conselho Nacional do Idoso. Nesse sentido, a Política Nacional do Idoso objetiva assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover a sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Em seu artigo 3.º, cuidou o legislador dos princípios 4 norteadores da Política Nacional do Idoso. Inicialmente, inseriu-se o idoso no centro da proteção jurídica, e transferiu-se, conforme a previsão desse artigo, à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar ao idoso todos os seus direitos fundamentais básicos, de modo a garantir-lhe a dignidade de forma plena. Na verdade, o legislador procurou sensibilizar a sociedade no sentido de que todos possam atuar para proteger o processo de envelhecimento sadio e digno. Inadmite-se, dessa forma, quaisquer práticas discriminatórias. As dimensões continentais do Estado brasileiro foram consideradas, ademais, nessa Lei, no sentido de consagrar o respeito à diversidade cultural regional, as possíveis diferenças econômico-sociais entre o meio rural e o meio urbano. 10

As diretrizes 5 da Política Nacional do Idoso foram previstas no artigo 4.º dessa mesma Lei, de forma bastante detalhada, iniciando-se pela preocupação de garantir, como direito fundamental do idoso, o convívio social pleno e de qualidade. Ainda na seara das diretrizes, a viabilização desse convívio social no seio familiar, em respeito ao direito fundamental ao convívio familiar. O idoso, nesse sentido, somente poderia ser levado a qualquer entidade asilar, de acolhimento institucional, se não houvesse meios ou condições reais para mantê-lo em seu núcleo familiar. Importante ressaltar que, embora haja a preferência pela permanência no núcleo familiar, o idoso deve contar com estrutura apropriada e ambiente saudável, onde possa ser tratado como ser humano que é. Ademais, através de uma política flexível e descentralizada objetivou-se, por meio dessa Lei, incentivar a capacitação de profissionais que possam estar habilitados a lidar com pessoas idosas, em função de suas especialidades nas áreas de geriatria e gerontologia. A tônica central é pela necessária priorização do atendimento ao idoso, em órgãos públicos e privados prestadores de serviços, mormente quando estiverem desabrigados e sem família. Quanto às diretrizes, salienta-se, ainda, e como extrato do conteúdo da referida Lei, o seguinte: a proteção à convivência social e familiar; descentralização; capacitação de profissionais especialistas; formação para o envelhecimento qualitativo; prioridade de atendimento. Para a implementação da Política Nacional do Idoso, os órgãos e entidades públicas buscarão, em diversas áreas, conforme o elenco do artigo 10 da Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994, o seguinte: 5 São diretrizes da Política Nacional do Idoso, conforme o artigo 4., da Lei 8.842/94, as seguintes: Art. 4.º - Constituem diretrizes da política nacional do idoso: I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações; II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos; III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência; IV - descentralização político-administrativa; V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços; VI - implementação de sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de governo; VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento; VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família; IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento. Parágrafo único - É vedada a permanência de portadores de doenças que necessitem de assistência médica ou de enfermagem permanente em instituições asilares de caráter social. 11

Área de promoção e assistência social: desenvolver ações voltadas para as necessidades básicas, através da estimulação à criação de alternativas para o atendimento do idoso. Área de saúde: atuar na prevenção, proteção e recuperação da saúde do idoso, através do desenvolvimento de setores especializados em geriatria e gerontologia. Área de educação: desenvolver a educação voltada para o idoso e seus interesses. Área de trabalho e previdência social: coibir a discriminação do idoso no mercado de trabalho; priorizá-lo nos benefícios previdenciários. Área de habitação e urbanismo: desenvolver programas para a criação de casas-lares; melhorar as condições de habitabilidade e adaptação da moradia; diminuir as barreiras arquitetônicas e urbanas. Área de justiça: promover a defesa dos direitos da pessoa idosa. Área de cultura, esporte e lazer: garantir a participação do idoso nos bens culturais, inclusive para a garantia da identidade cultural. Decreto 1.948/96 O Decreto 1.948/96 surgiu para regulamentar a Lei 8.842/94, e para a implementação da Política Nacional do Idoso, as competências dos órgãos e entidades públicas são as estabelecidas nesse Decreto. Nesse sentido, possui caráter procedimental, ao determinar estas competências: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República: artigo 2.º do Decreto 1.948/96; Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): artigo 5.º; Ministério do Planejamento e Orçamento, pela Secretaria de Política Urbana: artigo 8.º; Ministério da Saúde, pela Secretaria de Assistência à Saúde: artigo 9.º; Ministério da Educação e do Desporto: artigo 10; 12

Ministério do Trabalho: artigo 11; Ministério da Cultura: artigo 12. Estatuto do idoso: Lei 10.741/2003 Direitos fundamentais do idoso Essa Lei passou a regular os direitos das pessoas com idade igual ou superior a sessenta (60) anos, para a proteção aos direitos fundamentais do idoso, além da consagração da proteção integral e da prioridade absoluta, conforme o artigo 3.º da Lei 10.741/2003 6. Ademais, o Estatuto do Idoso aborda o dever de cidadania na proteção dos interesses de idosos, nos seus artigos 4.º e 5.º, no sentido de transferir para a sociedade o dever de zelo, de proteção aos direitos fundamentais básicos das pessoas idosas 7. Entende-se, a partir da consagração dos direitos fundamentais dos idosos, no direito brasileiro, através do Estatuto do Idoso, o envelhecimento como direito personalíssimo, e o respeito à integridade psicofísica da pessoa do idoso como fundamental à garantia da dignidade plena. Outra questão relevante, também abordada no Estatuto do Idoso, é a relativa aos alimentos devidos à pessoa do idoso, nas hipóteses dos artigos 11 ao 14 e, também, nos artigos 1.694 ao 1.710 do Código Civil, especialmente o artigo 1.695. A previsão do Código Civil de 2002, dos alimentos entre parentes, tem fundamento no direito assistencial como um dos princípios norteadores das relações familiares, e também do princípio da solidariedade familiar, corolário do Direito de Família brasileiro. Os alimentos são devidos, nessa ordem de argumentação, quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, o próprio sustento. Em contrapartida, aquele de quem se reclamam os alimentos pode fornecê-los sem o desfalque necessário ao seu sustento. Em seguida, passar-se-á à análise de alguns direitos fundamentais que foram previstos, de forma não exaustiva, no Estatuto do Idoso. Direito à saúde: implementação de ações especificamente voltadas à satisfação dos interesses dos idosos artigos 15 ao 19. 6 É este o teor do artigo 3.º, do Estatuto do Idoso: Art. 3.º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: I - atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II - preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III - destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V - priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII - garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais; IX - prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. 7 Assim, preveem os artigos 4.º e 5º do Estatuto do Idoso, respectivamente: Art. 4.º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei. 1.º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. 2.º As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 5.º A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei. 13

Direito à educação, cultura, esporte e lazer artigos 20 ao 25. Direito à profissionalização e ao trabalho artigos 26 ao 28. Direito à habitação e à convivência familiar (natural ou substituta). Direito ao transporte gratuito aos maiores de sessenta e cinco (65) anos. É importante observar, no que tange ao direito ao transporte gratuito, que, conforme o artigo 40 do Estatuto do Idoso, no sistema de transporte coletivo interestadual, haverá a reserva de duas vagas gratuitas para os idosos com renda igual ou inferior a dois salários mínimos, e também a possibilidade de concessão de um desconto de 50% no valor das passagens, para idosos nas mesmas condições. Em caráter assistencial, o Estatuto do Idoso previu a garantia de benefício mensal aos maiores de sessenta e cinco (65) anos que não possuam meios para a subsistência, nem de tê-la provida pela família. 8 Assim é o teor do artigo sob exame: Art. 43.º As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III - em razão de sua condição pessoal. Ressalte-se que, para a aplicação das medidas específicas de proteção, levar-se-á em conta o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Com relação às medidas de proteção ao idoso, elas serão aplicadas nas hipóteses previstas pelo artigo 43 8 do Estatuto do Idoso. No sentido de facilitar e garantir o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, previu, o legislador: o encaminhamento à família ou curador; orientação, apoio e acompanhamento; requisição para tratamento de saúde; inclusão em programa de auxílio. Dicas de estudo Analisar o artigo 5.º da Constituição da República Federativa Brasileira, acerca dos direitos fundamentais. Leitura integral do Estatuto do Idoso. Observar, no contexto brasileiro, a atuação do governo no que tange ao desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao atendimento dos interesses de idosos. 14

Referências BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. COTRIM, Gilberto. Direito Fundamental instituições de Direito Público e Privado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil parte geral. v.1. 10. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2008. GUERRA FILHO, Willis Santiago. Direitos fundamentais, processo e princípio da proporcionalidade. In: GUERRA FILHO, Willis Santiago (coord.). Dos Direitos Humanos aos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. OLIVEIRA, Erival da Silva. Diretos Humanos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Elementos do Direito, v.12). RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. Direito à velhice: a proteção constitucional da pessoa idosa. In: WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (coord). Os Novos Direitos no Brasil natureza e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2003. SANTOS, Fernando Ferreira. Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Celso Bastos, 1999. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10. ed. rev. São Paulo: Malheiros, 1997. SIQUEIRA JUNIOR, Paulo Hamilton; OLIVEIRA, Miguel Augusto Machado de. Direitos Humanos e Cidadania. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de Personalidade e sua Tutela. 2. ed. rev. atual. amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 15