A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS



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Transcrição:

FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA - FGF NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NA ÁREA DE LICENCIATURA EM ARTES A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS JOSIANE MARQUES DE ALMEIDA Fortaleza-CE 2012

JOSIANE MARQUES DE ALMEIDA A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS Monografia apresentada ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes na Área de Licenciatura em ARTES, da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Artes. Orientadora: Prof. Ms. Elaine Cristina Forte-Ferreira Fortaleza-CE Janeiro de 2012

Monografia submetida ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes em Arte Educação, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciado em Arte Educação, outorgado pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza FGF. Josiane Marques de Almeida Ms. Elaine Cristina Forte-Ferreira Orientadora Ms. Nertan Dias Silva Maia Coordenador do Curso

... E foram felizes para sempre! Minha história só foi escrita porque vocês desejaram. Cada letra... um tempo dedicado a mim. Cada palavra... um carinho. Cada frase... um alimento: do corpo e da alma. Cada texto... Construído nas lutas, alegrias, tristezas, dedicação, orientação... Nenhuma folha em branco! Muitas páginas escritas... Por você, meu pai. Por você, minha mãe. Letras tão singelas... Suas, minha doce avó. Legivelmente escritas... Por vocês, meus irmãos. E nas páginas que todos vocês não escreveram... Ilustraram e... Coloriram minha vida! No segundo capítulo... Escrevi no livro... Agora... minha própria história. Escolhi para fazer parte do próximo capítulo, Você, Rogério... que está até hoje ao meu lado. Vocês, meus filhos... Camila, Yure e João Pedro. E continuo a escrever... Buscando a felicidade em cada linha escrita! As linhas... Essas traçadas por Deus... Dono deste precioso livro.

É através da história que o homem vem traçando a sua trilha, por onde muitos caminham. Assim, as histórias se repetem, se aprimoram. A história contada de geração a geração, palavra falada é o fio de prumo que ajuda orientar, com sensibilidade e equilíbrio o coração do mundo. Neusa Sorrenti

RESUMO O presente trabalho está voltado para a importância da contação de história no processo da formação do aluno leitor. Desta forma, este trabalhou objetivou investigar se a prática da contação de histórias favorece a formação do aluno leitor no âmbito escolar. Para tal, utilizouse uma pesquisa bibliográfica pertinente ao tema aliado a pesquisa de campo com os alunos pesquisados, baseando-se em diversos autores que já pesquisaram esta temática em especial Abramovich (1997), Bettelheim (1980), Coelho (1998), estudiosos relevantes sobre o assunto. Averigou-se que quando a criança possui contato com histórias, antes mesmo de ingressar na escola, tem sua curiosidade, criatividade, atenção, raciocínio, imaginação e afetividade aguçadas. Assim é necessário que pais e professores contem histórias, incentivando e auxiliando dessa forma, o processo de formação do aluno-leitor. PALAVRAS-CHAVE: Contação. Aluno-Leitor. Escola. Professor.

SUMÁRIO Introdução... 8 Capítulo I: Contar e ouvir histórias: um aprendizado para a formação do leitor... 10 1.1 O poder de encantamento dos contos... 10 1.2 O maravilhoso mundo das histórias... 12 1.3 Valores psíquicos e humanos... 13 1.4 Trilhando os caminhos das histórias e da educação... 14 Capítulo II: A contação de histórias no contexto pedagógico... 18 Capítulo III: A literatura como entretenimento... 20 Capítulo IV: Postura profissional do professor... 23 4.1 Valores e significados ocultos dos contos... 23 4.2 Formação profissional do professor... 24 4.3 Elementos necessários para contar história... 25 Capítulo V: Procedimentos metodológicos e Análise... 29 5.1 Análise dos dados coletados com os sujeitos envolvidos no processo... 29 5.2 A arte de contar histórias para a formação do aluno leitor, na perspectiva da observação e participação dos alunos selecionados... 31 5.3 Apresentação das atividades para a escola e comunidade e culminância do projeto... 35 Considerações Finais... 37 Referências... 39 Apêndices... 41

8 INTRODUÇÃO Considerando que contar histórias é uma Arte. Atualmente, formar leitores também está sendo uma Arte, pois é necessário um conjunto de procedimentos, tais como emoção, cultura, equilíbrio, harmonia, valores, história, sentimentos para realizar uma obra de arte grandiosa que é a formação do próprio ser humano. Ouvir histórias é fator indispensável na vida da criança, visto ser elas essenciais na alfabetização e no gosto pela leitura, levando os alunos a desenvolverem o seu lado cognitivo de forma espontânea e prazerosa. Em termos de linguagem, a criação e a descoberta não ocorrem no vazio. A criança precisa dominar convenções linguísticas, que lhes serão oferecidas através do contato com diferentes modelos contextualizando a língua escrita através de seus usos, antes mesmo de se tornarem efetivamente capazes de ler e escrever. Assim, as crianças que nascem em ambientes letrados, cedo desenvolvem um interesse pela leitura e escrita, espelhando-se nos adultos ao seu redor. É muito difícil uma criança não se interessar por ouvir histórias e não demonstrar interesse lúdico pelas palavras. Dessa forma, o contar histórias para as crianças torna-se fator indispensável na formação do hábito e gosto pela leitura. Nesta perspectiva, este trabalho acadêmico, tem a finalidade de mostrar a arte de formar leitores contando historias. Vários estudos tem sido desenvolvidos em torno dessa temática, porém a presente pesquisa visa colher e/ou fornecer informações que se mostrem relevantes para o desenvolvimento e compreensão do assunto em questão. A presente pesquisa partiu da necessidade de compreender a eficácia de contar histórias no processo da formação dos alunos leitores, pois pode-se perceber que na prática pedagógica de muitos educadores, as histórias estão presentes incentivando a leitura com um prazer. Destacando desta forma como objetivo geral analisar, como e se acontece, a prática de contação de histórias para os alunos do 6º ano de uma escola pública estadual de uma cidade do interior de Minas Gerais. Objetivou-se também nesta pesquisa investigar se é realizada a prática de contar e ouvir histórias como uma estratégia de construção do conhecimento na formação inicial das

9 crianças e ainda analisar como é realizada a contação de histórias na escola. Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizada uma referência bibliográfica pertinente ao tema, buscando obter maiores e melhores informações sobre o assunto pesquisado. Será realizada também uma pesquisa de campo, a qual constará de um questionário semi-estruturado a ser respondido por alguns alunos do 6º ano da escola pesquisada, buscando perceber como o tema é tratado por eles, enquanto sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Para a complementação da pesquisa também será propiciado aos alunos pesquisados um momento de contação de histórias, visando analisar o comportamento dos mesmos e os aspectos do processo ensino-aprendizagem que possa contribuir com a análise dessa temática. Quanto à análise dos dados, pode-se classificar como análise de conteúdo, que é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que tem como objetivo enriquecer a leitura e ultrapassar as incertezas. Essa pesquisa encontra-se dividida em cinco capítulos e uma consideração final. O capítulo I expõe o poder de encantamento dos contos, como surgiram as histórias e as intenções que elas possuem ao transmitir determinados valores, padrões a serem respeitados pela comunidade ou incorporados pelo comportamento de cada indivíduo. O segundo capítulo busca analisar a importância da contação de histórias como meio de despertar o desejo de ler. Já no capítulo III é exposta a relação de cumplicidade entre o leitor e o texto, tendo como pano de fundo a literatura enquanto entretenimento. O quarto capítulo mostra como os contos são transmissores de conhecimentos e de valores culturais, mas através da intervenção do professor essa construção pode se transformar em um caminho de descobertas, e compreensão do sujeito em formação. O capítulo V, trata-se da análise dos dados coletados, finalizando com as considerações finais. A partir desse contexto, a presente pesquisa foi desenvolvida no intuito de investigar se a contação de histórias pode favorecer ou não a formação do aluno leitor no âmbito escolar.

10 CAPÍTULO I CONTAR E OUVIR HISTÓRIAS: UM APRENDIZADO PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR Desde a época remota, o ser humano ao desenvolver a linguagem, transmite de geração em geração suas histórias, seus causos e por meio deles, seus mitos e ensinamentos. Assim, a criança que ouve histórias desde pequena adquire muito cedo o gosto pela leitura. O essencial que os pequenos sejam motivados a contar histórias antes mesmo que aprendam a ler. Segundo Abramovich (1997) é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias. Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, conhecer diferentes tipos de textos, vocabulários, enfim, ampliar o universo linguístico. No entendimento de Machado (2004), os contos podem ser utilizados na escola como instrumentos e dar uma contribuição pedagógica importante para diversas aprendizagens como à compreensão da multiculturalidade 1. A riqueza que encontramos nas narrativas tradicionais nos revela elementos da cultura de um povo como: costumes, crenças, paisagens, vestimentas, hábitos alimentares e outros. Dessa forma a história centrada no desenvolvimento da criança amplia seu vocabulário e seu conhecimento linguístico, favorecendo o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. 1.1 O Poder de Encantamento dos Contos O conto tem o poder do encantamento, segundo Bettelheim (1980), o encanto deve-se ao fato de se tratar de uma obra de arte, uma riqueza literária que contém elementos simbólicos, conteúdos arquetípicos, causando impacto sobre a criança, pois age no seu inconsciente e no seu emocional. [...] os contos de fadas procedem de uma maneira consoante ao caminho pelo qual uma criança pensa e experimenta o mundo; por esta razão os contos de fadas são tão convenientes para ela. Ela pode obter um consolo muito maior de um conto de fadas do que de um esforço para consolá-la baseando em raciocínio e pontos de vista 1 Prática de acomodar qualquer número de culturas distintas, numa única sociedade, sem preconceito ou discriminação.

11 adultos. Uma criança confia no que o conto de fada diz porque a visão de mundo ai apresentada está de acordo com a sua. (BETTELHEIM, 1980, p. 15). Dessa forma, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo a sua volta. Ao conviver com as personagens boas e más, belas e feias, poderosas ou fracas etc., facilita a criança à compreensão de certos valores básicos de conduta humana e conivência social. Já Calvino (1982) tem interesse pelo conto popular, histórias que possuem encanto, valor, importância estilística e estrutural. O escritor afirma que a criança sente prazer em ouvir histórias porque espera as sucessivas repetições de frases e situações que acontecem na estrutura de um conto. O encantamento provocado pelos contos também levanta alguns aspectos. De acordo com Bittencourt (1989) a criança ainda em desenvolvimento ouve a voz materna e essa experiência de transicionalidade, é essencial para a interação da criança com o mundo letrado. Esse é o conceito que, segundo Winnicott (1975), é representado por algo imaginário ou simbólico, sendo um processo de comunicação silenciosa, sem palavras, baseada no funcionamento corporal e nos cuidados oferecidos pela mãe ao recém-nascido, é essencialmente uma experiência de mutualidade, fazendo com que a criança se encante com os contos. Na relação ouvinte-narrador, a musicalidade do narrador provoca prazer e encantamento no ouvinte. Os povos orientais consideravam que no conto oral há conhecimento e ideias de um povo, sendo possível até mesmo indicar condutas, resgatar valores e até curar doenças. O conto adquire um caráter terapêutico. Belink (2008), escritora e defensora das fadas, diz que os contos encantam porque treinam para as emoções, fazem rir e chorar. Buzatto (2003) ainda acrescenta que o conto de tradição oral, seja conto de fada, mito, lenda, fábula ou conto de ensinamento, encanta, pois alimenta o nosso imaginário e interior, sendo uma expressão artística democrática, cada um constrói sua própria história e seus próprios significados. Cada realidade interna é diferente e cabe ao poder imaginário de cada um concluir as suas ideias de espaço, tempo e destinos dos personagens, fisionomias, enfim, que a liberdade em imaginar, dar vida a própria história é um motivo de prazer e satisfação através do conto. A criança deve ouvir, contar e ler histórias adequadas a sua idade, para que fantasiem e sonhem com as aventuras de seu imaginário. Ler e contar histórias é por si só, uma arte, é meio de comunicação.

12 1.2 O Maravilhoso Mundo das Histórias O dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) era um garoto pobre, feio e que queria ser ator. Divertia-se quando seu pai encenava histórias em um teatrinho feito de papelão, mas o seu pai morreu e ele teria que sustentar a família. O garoto partiu para longe, passou fome e frio e só algum tempo depois conheceu um homem que pagou seus estudos. O menino não se tornou ator, mas ficou rico e famoso, escrevendo histórias infantis, transformando-se num dos maiores contadores de histórias do mundo, criando personagens maravilhosos, como Patinho Feio. Dizem que essa história é, um pouco, a história do próprio Hans, que saiu de uma infância cheia de dificuldades e se tornou um escritor amado e reconhecido por todos. Hans Christian Andersen é autor de cerca de 160 contos e seis romances, além de poesias e de uma autobiografia. Sua obra foi traduzida para mais de 100 línguas. Os escritores que o antecederam, Charles Perreault (1628-1703) e os irmãos alemães Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), apenas registraram no papel as histórias já contadas como Chapeuzinho Vermelho. Andersen é, portanto, o primeiro escritor infantil. Os irmãos Grimm nasceram na Alemanha, na pequena cidade de Hanau, em 1785 e 1786. Durante suas vidas, estudaram, moraram e trabalharam em várias cidades, como Steinau, Kassel e Góltingen. Visitaram também muitas outras cidades e vilas da mesma região. Logo perceberam que em muitas localidades se contavam histórias fantásticas sobre príncipes, fadas, bruxas, anões e animais que falavam. Começaram então a reunir essas histórias que corriam de boca em boca e a registrá-las em forma de contos. Assim, crianças de todo o mundo podem ler e conhecer tantas histórias maravilhosas como João de Maria, Os músicos de Bremem, A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, O gato de botas, Cinderela, O Alfaiate Valente, Branca de Neve e muitas outras. Contos de Grimm é uma seleção dos mais belos contos de fadas recolhidos da tradição popular alemã pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. São 12 volumes, com texto em português da escritora Maria Heloísa Penteado. No ano de 2005 foi comemorado o aniversário de 200 anos dos autores, oportunidade para as escolas trabalharem os contos de fadas e a leitura.

13 Rotta (2009) explica: No conto maravilhoso, o leitor é transportado para um mundo onde tudo é possível: tapetes voam e galinhas põem ovos de ouro. Essa é a magia da fantasia. 1.3 Valores Psíquicos e Humanos A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do psiquismo humano. Gerações e gerações de professores, psicólogos, psicanalistas, como também orientadores educacionais, pedagogos e artistas discutem a adequação e validades dessas narrativas para as crianças. Segundo Vieira (2005, p. 10) Os acontecimentos objetivos da vida da humanidade são a nossa história. Os acontecimentos subjetivos, as vivências interiores criaram as estórias. As histórias são acontecimentos da realidade externa, fatos da comunidade de acordo com a cultura, etnia, mas as histórias falam da realidade interior na construção das nossas culturas, das estruturas psicológicas das pessoas e dos grupos humanos. As histórias são uma maneira mais significativa que a humanidade encontrou para expressar experiências que nas narrativas realistas não acontecem. Os contos são temidos porque objetivam os fatos e as verdades que não podem ser expressos pela razão, por isso nos estudos dos contos observa-se: Em primeiro lugar o fato de que eles falam sempre de relacionamentos humanos primitivos e por isso exprimem sentimentos muito arcaicos do psiquismo humano. (VIEIRA, 2005, p. 38) São arcaicos, mas também são atuais, atraentes e investigadores, porque mostram o que se evita manifestar nas sociedades contemporâneas: raiva, inveja, mentira, também felicidade, amor, generosidade. Os contos tratam de princípios éticos universais, falam da busca da totalidade psíquica, da plenitude do ser. Sabendo que os contos antecedem a leitura, pois são usados no cotidiano das crianças pela família desenvolvendo seu imaginário, eles muito tem a contribuir para desenvolver o gosto pela leitura e para a resolução dos conflitos internos infantis. Assim, o que importa nesse estudo é referendar a importância que a escola tem na

14 formação do leitor, sendo primordial que as pessoas que trabalham com educação estejam conscientes dos valores psíquicos e humanos que podem oferecer às crianças, inclusive proporcionar a elas melhores condições para crescer e amadurecer por meio da narrativa e da reflexão das histórias. Essa proposta deveria ser um trabalho sistematizado e permanente nas escolas e os professores, orientadores, psicólogos e artistas precisariam ter um desenvolvimento pessoal e uma intimidade com seus próprios inconscientes, para poder favorecer (ou pelo menos, não atrapalhar) o encontro das crianças com seu mundo interno. 1.4 Trilhando os caminhos das Histórias e da Educação Tão antigo como a humanidade é o ato de contar histórias. As narrativas exercem fascínio e sedução da infância a velhice. Segundo Coelho (2005), hoje a Contação de Histórias está de volta, em pleno mundo do progresso tecnológico, da velocidade dos meios de comunicação e do império da imagem. Até os distraídos podem perceber que o mercado editorial vem sendo invadido pela magia das histórias. Se pensarmos na distância entre o tempo ultramoderno e os tempos primitivos, podemos nos perguntar por que tais histórias tão antigas continuam a interessar crianças e adultos. Por que o destino da Gata Borralheira ou Cinderela, ou o da Branca de Neve, da Bela Adormecida, da Bela e a Fera continuam a interessar? Que importância pode ter para os leitores de hoje as tristezas do Patinho Feio e sua lenta transformação em cisne? Ou a desobediência da Chapeuzinho Vermelho, que vai levar bolo para a avó e escolhe o perigoso caminho da floresta invés da estrada reta e clara e assim atrai o lobo que acaba devorando ela e a avó? Tais interrogações podem ser respondidas lembrando-se que tais lições de vida dadas pela sabedoria dos povos desde os primórdios vêm constituindo a humanidade em contínua evolução. Por mais que o homem transforme o mundo com sua inteligência e trabalho, sua natureza humana não muda. Nela se misturam amor, ódio, amizades, medo, vontade de poder, ideais, desejos, inveja, ciúmes, solidariedade, fraternidade (paixões da alma) e o ar para respirar, alimento para matar a fome e proteção para o corpo (necessidades básicas). Tanto as

15 paixões quanto as necessidades básicas são matérias-primas das histórias e de todos os livros que venceram o tempo e através de milênios continuam a interessar os leitores e ouvintes. Graças a essa matéria-prima humana, somada à linguagem narrativa, que os contos de fadas e os clássicos estão novamente entrando nas escolas. Cabe à educação moderna a tarefa de oferecer caminhos para a formação da consciência de mundo da criança e não apenas servir como instrumento de informações. No nosso mundo dinamizado pelas multilinguagens visuais, sonoras e velozes, a leitura da palavra faz-se cada vez mais necessária para que as novas gerações não se imobilizem como gerações sem palavras. Gerações sem consciência de si mesmas, histórica e crítica. A ausência de autoconsciência torna o indivíduo sem autonomia interior. Sociedade bela-horrível que ao mesmo tempo em que gera o professor e melhora a vida no planeta também provoca a alienação humana porque atrai o indivíduo para fora de si mesmo, alimenta-o apenas de extremidades; impede a formação da sua consciência crítica; impede que cada eu adquira a consciência de seu lugar no mundo e de sua relação essencial com o outro. Uma das verdades do nosso tempo é que sem essa conscientização do eu em relação ao outro e sem o domínio da palavra que nomeia e expressa a realidade não há plena realização existencial. Um dos caminhos para essa autoconscientização é a leitura: é o corpo a corpo do ouvinte com as experiências de vida do outro, que a literatura lhe oferece. Tudo isso precisa começar quando a criança passa a perceber o mundo à sua volta, um dos meios que os adultos podem usar são os contos de fadas. De maneira inconsciente e divertida, a criança entra em contato com a sabedoria humana que vem da origem dos tempos e foi guardada pela memória dos povos e transmitida pelo contar histórias. Desse fenômeno tiramos uma lição: o contar histórias, mais que entretenimento prazeroso, é uma experiência vital, é um exercício de viver. Como disse Meireles (2009) Os livros que têm resistido ao tempo são os que possuem uma verdade capaz de satisfazer a inquietação humana, por mais que os séculos passem. Estão nesse caso os clássicos universais. Todos eles, por meio de mil variantes das situações narradas, tramam-se em torno de algumas poucas invariantes que correspondem às necessidades básicas do ser humano. Como existe o código genético fisiológico (DNA), pelo qual a natureza programa cada ser humano, também deve existir um código espiritual que, desde os primórdios programa a alma da humanidade. Nos clássicos, contos de fada e fábulas é essa

16 alma da humanidade que nos fala. As grandezas e as misérias do ser humano estão ali transformadas em narrativas mágicas que seduzem e convencem porque, de maneira inconsciente, tocam o leitor em suas aspirações vitais mais profundas e muitas vezes, inconscientes. Assim, por exemplo, em Branca de Neve, na trama criada entre a rainha madrasta, a Branca de Neve e os sete anões entram em confronto a inveja ou o ciúme que a beleza e a bondade podem despertar; valorizam-se a paciência diante de um destino adverso e a busca de outros caminhos para fugir dele; exalta-se a solidariedade a ser dada a quem necessita; recompensa-se a virtude e castiga-se o mal; exalta-se o poder regenerador dos maus etc. São experiências humanas que o imaginário do leitor vivencia de maneira inconsciente e, com elas, seu mundo vai-se enriquecendo. Nas transformações que são comuns aos contos de fadas (a do Patinho Feio em cisne; do sapo ou da Fera em príncipe etc.) estão claras as transformações que o ser humano precisa passar da infância a maturidade para se realizar em plenitude quando persegue um ideal de vida. Há um perfeito paralelo entre as histórias contadas e a vida humana, quando a entendemos como uma caminhada, em busca da autorrealização. Nesse caminho surgem obstáculos, inimigos, maldades, bruxas, madrastas etc., mas também auxílios, amigos, fadas, anões e o final é sempre feliz: a realização do ideal. Todos nós para nos realizarmos precisamos ter um projeto de vida; entregamo-nos à caminhada para realizá-lo, encontramos obstáculos que precisam ser superados por nossa paciência, esforço e por fim, a realização: o final feliz. O ser humano veio para dar certo. Quando não dá é porque algo não foi bem no mundo à sua volta. Em nossa época é fundamental que os adultos que lidam com as crianças, principalmente professores, se deem conta do valor ético-existencial dos contos de fadas para o povoamento do imaginário infantil e é nesse imaginário que nossa vida se resolve. Ao ouvirem ou lerem tais contos as crianças, mesmo sem o saber, estão formando as leituras de mundo que as ajudarão nos caminhos a serem trilhados na vida. Em cada uma dessas histórias maravilhosas, há uma verdade vital. Segundo Coelho (2005), nesse nosso mundo-cão do vale tudo, esses exemplos de vida, em que a virtude é exaltada, o mal é castigado e os altos ideais saem vitoriosos, sem dúvida podem ser ótimos guias iluminadores para os pequenos aprendizes de vida e de leitura. O sucesso dos contos de fadas e clássicos infantis se dá pelo o fato de que sua

17 matéria-prima é extraída de verdades humanas e, portanto, não envelhece. É fundamentada em necessidades humanas: o fundo impulso de autorrealização do indivíduo; o desejo do eu de ser aceito pelo outro; a vontade de poder; a luta pela preservação física. Necessidades que uma vez frustradas geram tragédias. Para além do prazer e das emoções do leitor, ao participar de tais aventuras, lhe dá grandes lições de sabedoria e de vida. É preciso descobrir que os contos de fadas têm na base a vida real e que a literatura infantil não é infantil, como o senso comum (distraído) a considera. É acima de tudo um excelente meio de educação a ser explorado.

18 CAPÍTULO II A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO CONTEXTO PEDAGÓGICO Ver uma biblioteca repleta de livros e os alunos indiferentes a eles é um acontecimento angustiante para educadores e professores. É necessário refletir e agir, despertando nos alunos o desejo de ler, vivenciando momentos prazerosos através das histórias. Quando é conseguido atrair o aluno a conquista é garantida e ele passa a ser um leitor frequente em qualquer atividade relacionada ao livro. Muitos professores alegam que alunos a partir do 3º ano não se interessam mais pelas histórias, Coelho (2005) relata que nesse momento a maioria dos professores deixa de contar histórias (se é que as contavam antes). Coelho (2005) declara que uma aluna do curso de Magistério, estagiária em uma classe de quarta série de uma escola pública, constatou que a deficiência está na falta de hábito em ouvir histórias. Quando isso é trabalhado há um grande interesse, mas o trabalho foi suspendido, alegando que o conteúdo programático é extenso e a aprendizagem dos alunos é lenta. Entretanto, os alunos insistiram e a estagiária nas sobras de tempo continuou contando histórias e assim os alunos ficaram motivados para as longas narrativas dos livros didáticos. As histórias podem ser contadas de diversas formas. Um exemplo interessante foi quando Coelho (1998) conta Quinquim Labareda (53) usando o livro, além de todo o seu desempenho como motivação para que o aluno possa se tornar um leitor assíduo. Depois da introdução, fez perguntas que aguçaram a curiosidade, leu mais e interrompeu fazendo comentários pertinentes. Os alunos queriam ouvir mais, ela prosseguiu a leitura e quando já estavam inteiramente motivados, não houve quem resistisse ao desejo de continuar essa leitura. Formou-se fila na espera desse livro. Também há um relato de um aluno que por vários dias participou de sessões de contação do famoso livro de Collodi, na tradução de Monteiro Lobato, trabalho realizado durante um mês. Porém, o aluno ausentou-se no fim da narrativa e assim que foi possível procurou Betty Coelho e disse que Pinóquio não saía de sua cabeça. Ela respondeu que ele poderia ler sozinho para saber o que aconteceu ao boneco de pau. Esse aluno levou o livro para casa e voltou muitas vezes para outras leituras. Segundo Coelho (1998) algumas atividades enriquecedoras podem ser trabalhadas

19 a partir das histórias, pois elas permanecem na mente da criança e podem ser digeridas em práticas artísticas e educativas. São exemplos dessas atividades: - Dramatizações: Participação espontânea e dramatização sem ensaio. O narrador deixa-os agir livremente. A dramatização ajuda a desinibir alunos tímidos, chegando até a nos surpreender. - Pantomima: Mímica, com expressão corporal, sem o uso da voz. - Desenhos, recortes, modelagem, dobradura: Oportunizar a expressão de acordo com as preferências do aluno, não somente através do desenho. - Criação de textos orais e escritos: Fazer propostas que permita a criança refletir sobre a história, ter um final diferente, redigir uma cara para alguém, inventar um caso, quadrinhas, prosas e versos. Incentivar o gosto pela escrita ilustrando e até confeccionado livros. - Brincadeiras: Adivinhas, Cantigas de roda, parlendas. - Construção de maquete: Reproduzir, construir uma ou mais cenas da história. Devem ser trabalhadas espontaneamente, sem imposições.

20 CAPÍTULO III A LITERATURA COMO ENTRETENIMENTO A literatura infantil surgiu somente no século XVII, com a descoberta da prensa. Os contos populares existem desde que o ser humano adquiriu a fala. Há histórias antigas da África, Índia, China, Japão e Oriente Médio como a coleção de contos árabes As mil e uma noites. A fantasia é um mecanismo inventado pelo homem na era medieval para superar as dificuldades da vida real, conta Canton (2005), especialista em contos de fadas pela Universidade de Nova York. As histórias tratam de temas que fazem parte da tradição de muitos povos e as soluções são universais, como por exemplo, O Pequeno Polegar. O personagem representa o desejo de vingança do mais fraco contra o mais forte. As crianças identificam com os heróis e experimentam emoções. Para a escritora Machado (2005), os contos de fadas pertencem ao gênero literário mais rico do imaginário popular. Essas histórias funcionam como válvula de escape e permitem que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo simbólico, saindo mais feliz dessa experiência. A ideia foi transmitida a todos após os estudos de Bettelheim (1903-1990), para ele nenhuma leitura é tão enriquecedora como os contos de fadas, pois além de ajudarem a resolver os problemas interiores, a fantasia ajuda a formar a personalidade e é por isso que os contos não podem faltar à educação. A criança aumenta seu repertório de conhecimentos sobre o mundo e transfere para os personagens seus principais dramas, diz a terapeuta Mariúza Pregnolato Tanouye, de São Paulo (2005). Uma obra é clássica quando desperta emoções humanas. A separação é temida na infância e em muitos contos, este tema é absorvido em seu início. Para Bettelheim (1980) a agressividade e o descontentamento com irmãos, mães e pais são vivenciados na fantasia dos contos: o medo da rejeição é trabalhado em João e Maria, a rivalidade entre irmãos em Cinderela e a separação entre as crianças e os pais em Rapunzel e O Patinho Feio. As histórias do passado apontavam padrões sociais da época, por exemplo, quando falam sobre garotas desobedientes, como Chapeuzinho Vermelho, mostram que camponesas não deviam andar sozinhas.

21 [...] os contos de fadas, considerados por pais e educadores até pouco tempo como irreais, falsos e cheios de crueldade, são, para as crianças, o que há de mais real, algo que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e de fantasias. Porem, o real, a que os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que os contos de fadas falam de um mundo bem mais real para as crianças. (BETTELHEIM, 1980, p. 11-12). Silva (2007) aborda que os adultos também apreciam as histórias e que elas além de divertir o leitor refletem sobre a realidade que o cerca. Menciona, além disso, que é difícil estabelecer uma separação entre livros de entretenimento e o de leitura para aquisição de conhecimentos e estudo nas escolas. A literatura infantil propriamente dita partiu do livro escolar, do livro útil e funcional, de objeto eminentemente didático. (ARROYO, 1968) Antigamente, nas escolas, as histórias usadas nos livros eram produzidas especialmente para serem passados valores da sociedade. Foram passados adiante através dos livros infantis, mas a autêntica literatura infantil não deve ter basicamente esta intenção pedagógica ou didática. O imaginário e a fantasia são cruciais para o desenvolvimento integral da criança. Percebe-se que a maneira de escolher os livros está atualmente atrelada ao seu design, ao invés do conteúdo em si. Os pais têm um papel fundamental na formação do filho leitor, pois se contam ou leem histórias, o filho adquire este hábito com mais facilidade. A escola, os professores exercem também um papel primordial na formação do leitor, pois cabe a eles oportunizar o contato da criança com o livro já que no cotidiano do brasileiro essa atitude não é muito utilizada. Contar histórias antes de dormir é um costume que vem se perdendo. O grande vilão dessa história é a televisão, que vem substituindo a leitura e até mesmo os pais. Contar, ler e ouvir histórias é o grande laço de cumplicidade e aproximação entre pais e filhos e a formação da criança leitora. O interesse de diferentes áreas pela Literatura Infantil e Juvenil pode trazer resultados negativos quanto ao empenho em estimular a criança e jovens o gosto pela leitura, pois podem transformar a compreensão literária do texto em mera denúncia de caráter sociológico, considerado prematuro para ser estimulado no espírito infantil. A Literatura Infantil perde suas características de literariedade quando é abordada somente como meio de transmitir valores. Quanto ao valor literário, se livros são bons ou maus, os comentários críticos mais frequentes divulgados pela mídia utilizam uma linguagem emotiva, condenam ou louvam a obra, tornando-se mais uma linguagem sensacionalista e

22 manipuladora que crítica, que orienta os leitores. É necessário respeitar os escritores e depois da obra analisada, a crítica deve ser construtiva e os críticos que ocupam o poder de ajuizar acerca do valor e desvalor da obra, possam assumir o papel adequado de questionador.

23 CAPÍTULO IV POSTURA PROFISSIONAL DO PROFESSOR 4.1 Valores e significados ocultos dos Contos É necessário encontrar e compreender o significado da própria vida e isso acontece gradativamente, mas é na idade adulta que esta compreensão se torna mais presente, devido às experiências possuídas, o significado da vida é o conhecimento interior, deixar a emoção, a imaginação e o intelecto se fundirem, assim a vida será mais rica e significativa. Na infância a presença dos pais e de pessoas que estão ao redor da criança é imprescindível para que ela encontre o sentido da vida, assim também é a herança cultural que deve ser transmitida de maneira correta e a literatura como fonte estimuladora de significados, informação, necessidades, diversão, curiosidade, imaginação, desenvolvimento, satisfação e emoção. (SCHILLER, 1980, p. 04) afirma que Há maior significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do que na verdade que a vida ensina. Os contos de fada possibilita a criança o entendimento de mundo, de seus problemas interiores e sentimentos e ainda auxilia no encontro das soluções para enfrenta-los de maneira correta. A criança faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela. (BETTELHEIM, 1980, p.16) Através dos contos de fadas, que desperta a imaginação, a criança descobre caminhos para sua segurança interior, o que sozinha não consegue. Se as pressões internas da criança predominam o que acontece com frequência o único caminho pelo qual ela pode esperar obter algum controle sobre elas é a externalização. (BETTELHEIM, 1980, p. 82) Os contos são um patrimônio da humanidade. A criança compreende que eles foram escritos em outra época. Clássicos são clássicos porque se perpetuam, diz CANTON (2005). O medo e a morte devem fazer parte dos contos, no entanto, especialistas afirmam que a tendência de se retirar o medo, a morte, o mal e o castigo das narrativas é forte atualmente. Mas como lembra Canton (2005, p. 54) As mudanças de enredo apaziguam as emoções que precisam ser vivenciadas. Não é saudável evitar que as crianças enfrentem os

24 conflitos. 4.2 Formação profissional do professor Segundo Carvalho (2003), a formação profissional dos professores prioriza os conteúdos que favorecem o desenvolvimento cognitivo, sendo desconsiderados os aspectos emocionais. As atividades com a literatura infantil fazem parte de um programa curricular. As histórias não são contadas por contar, são vinculadas a uma atividade pedagógica e apresentadas às crianças geralmente escritas, desprezando assim a narração oral. Carvalho (2003) entrevistou algumas professoras e analisou que suas dificuldades encontram-se na narração das histórias e na necessidade de utilizar muitos recursos e dramatizações para prender a atenção dos alunos. As professoras preferem histórias mais simples, realistas e que o aprendizado seja mais imediato. Há uma preferência por textos informativos, que tragam um aprendizado concreto. O professor é o responsável muitas vezes na escolha de livros e histórias para os alunos, portanto ele precisa ter critérios e condições para selecioná-los, primeiramente é necessário que ele tenha critérios para si mesmo. Ainda assim, para as professoras, segundo a análise feita, as histórias da infância, rodeadas de emoção são as mais significativas para as crianças. Com relação aos contos de fadas, as professoras reconhecem que essas narrativas prendem a atenção das crianças e que elas se identificam com os heróis, realizam sonhos impossíveis, como tornar uma princesa ou casar-se com um príncipe. Essas histórias são diferentes porque têm magia e fantasia. Ao ouvi-las as crianças aguçam a imaginação e criatividade. Porém, ainda assim, o professor se sente incomodado quando perde o seu papel de educador. Viver a fantasia não corresponde à prática pedagógica, tira o aluno da realidade, é o mesmo que mentir e o professor coloca-se como a verdade na sala de aula, desconhecendo o interior da criança. O professor deve estimular as crianças para construir uma relação afetiva com a literatura infantil, aprendendo o valor intelectual que cada obra tem. Favorecer o gosto pelas histórias, textos, poesias, entre outras obras literárias, implica a determinação do professor em promover momentos apropriados ao ato de contar e de ler histórias.

25 Os contos de fadas antecedem a leitura, pois são usados no cotidiano das crianças pela família desenvolvendo seu imaginário, eles muito têm a contribuir para desenvolver o gosto pela leitura e para a resolução dos conflitos internos infantis. Entretanto, as professoras entrevistadas na pesquisa de Carvalho (2003) relatam que atualmente os pais não são presentes e a televisão ocupou um lugar importante em suas vidas, por isso as crianças estão ficando prejudicadas, havendo problemas de disciplina e comportamento. Falta limite a essas crianças, controle, regras e modelos. A natureza da criança é pouco aceita dentro do contexto escolar, sua emoção, agressividade e sua necessidade de passar a maior parte do tempo brincando ou sonhando são vistos como um obstáculo. A imaginação e a criatividade tornam-se anormais e o fracasso acaba sendo responsabilidade da criança, de sua consciência familiar, sócio-cultural e do educador, que é incapaz de exercer suas funções. As histórias, transformadas em atividade escolar, perdem muitas vezes, suas funções lúdica e estética e impedem que as emoções sejam vivenciadas. Bettelheim (1980) mostra que a magia está no ato de contar, viver emoções novas, sem se deixar dominar, compartilhar com as crianças seu conhecimento e enfrentar a incerteza e o desconhecido. A verdadeira educação pode respeitar e aproveitar a natureza infantil, integrando a fantasia e a emoção em seu processo de desenvolvimento e conhecimento para ingressar em um mundo social e cultural. 4.3 Elementos necessários para contar História Segundo Coelho (1998) já que é constatada a importância da história como fonte de prazer e como contribuição ao desenvolvimento da criança, o sucesso da narrativa depende de vários fatores. O primeiro passo consiste em escolher o que contar. Muitas vezes é necessário adaptar verbalmente a história escrita para facilitar a compreensão, considerando o estilo e o gosto pessoal do narrador. É imprescindível que o interesse do ouvinte, sua faixa etária, condições sócio-econômicas sejam levados em conta. Quanto à faixa etária e interesses, Coelho (1998) informa que a história é assimilada de acordo com o desenvolvimento da criança, então o que contar, tendo em vista a

26 quem contar? Assim ela divide em fases de interesses: Fase pré-mágica: (Crianças até 3 anos) as histórias devem ter enredo simples e atraente e que aproxime da sua realidade, fazendo com que possa vivenciar os enredos. As histórias devem conter de preferência ritmo e repetição. Histórias de bichinhos, crianças, brinquedos, seres da natureza humanizados. Fase mágica: (Crianças de 4 até 6 anos) a criança nessa fase é mais criativa, solicita a mesma história várias vezes e escuta com o mesmo encanto, a primeira vez é novidade e nas repetições ela já sabe o que vai acontecer, ela pode participar e apreciar mais os detalhes. A partir dos 7 anos quando sua linguagem se torna mais evoluída, a criança exige enredo mais longos, diversos assuntos. Com música e a participação dos ouvintes a história fica mais divertida. Coelho (1998) relata que não há rigidez nessa classificação, pois cada criança cresce com seu ritmo próprio. As lendas e fábulas são apropriadas para alunos que possam interpretar seu significado. Quando a história a ser contada é escolhida, é preciso estudá-la. Estudar não é decorar, é captar a mensagem que está implícita, divertir com ela, cantar, inventar músicas, segundo Coelho (1989) seja em quais elementos essenciais abaixo quiser: - Introdução: Parte e contato inicial entre narrador e ouvinte, deve ser curta e cabe ao narrador adaptar e acrescentar caso necessário. - Enredo: Sucessão dos episódios com ideias ordenadas, os conflitos que surgem e a ação dos personagens são acontecimentos para alcançar o clímax. - Clímax: Ponto culminante da história. Emoção. Acontece como uma resultante de todos os acontecimentos. - Desfecho: Fim da história. Costumam-se cantar ou usar expressões clássicas para concluir: Entrou por uma porta, saiu pela outra e quem quiser que conte outra.... - A moral e/ou lições da história, enfim a conclusão das histórias pertence ao ouvinte. Pode haver comentários sem interferir em lições. Várias são as formas de apresentar histórias: - Simples narrativa: Mais antiga, tradicional, fascinante. Expressão verdadeira do contador que usa somente a voz, expressão corporal e postura. A ilustração das histórias se deve a imaginação, a invenção é mais significativa. - Com o livro: Quando a ilustração é tão rica quanto o texto (às vezes mais rica). Mesmo quando a criança não for alfabetizada, a apresentação do livro contribui para o

27 desenvolvimento da sequência lógica do pensamento infantil. Narrar com o livro não é ler a história, é contá-la evitando chamar atenção das crianças para as imagens, pois elas percebem tudo enquanto escutam. - Com gravura: Aconselha-se o uso de gravuras reproduzidas, ampliando as imagens, quando o formato e ilustrações do livro forem pequenos. As gravuras favorecem as crianças pequenas permitindo a observação de detalhes, a sequência das ideias. Pode também haver uma interação com os ouvintes, participando ativamente na colocação das gravuras, com perguntas e comentários pertinentes. - Com o flanelógrafo: Recurso visual prático, usado para histórias que há movimento dos personagens entrado e saindo, cada personagem é colocado individualmente. A ação do personagem principal é importante. - Com desenho: Recurso atraente. As histórias são contadas e os desenhos são reproduzidos em quadros ou papéis, aguçando a curiosidade dos ouvintes e sua participação ativa, desenhando, expressando e criando suas próprias ideias no momento. - Com interferências do narrador e dos ouvintes: A interferência consiste numa participação ativa dos ouvintes tanto pela voz e/ou gestos: falando, cantando, dividindo em grupos, dramatizando. A interferência incorpora ao texto para tornar a narrativa mais atraente, isto se deve a criatividade do narrador. É indispensável o equilíbrio para que as crianças possam ouvir e não somente participar. De acordo com Coelho (1989), antes de iniciar a narração da história é apropriado ter uma breve e rápida conversa com os ouvintes, sobre o assunto mencionado na história, facilitando e evitando interrupções no desenvolvimento do conto. O contador precisa estar consciente de que a história é importante, precisa gostar de crianças e se divertir como elas, se sensibilizar com as histórias. Contar com naturalidade depende da segurança e para ter segurança é preciso conhecer a história, dominar a técnica e estar preparado para contá-la. Coelho (1989) relata que as emoções são transmitidas pela voz, que é o principal instrumento do narrador e tem que saber modulá-la, considerando alguns aspectos: - Intensidade: Varia de acordo com o ritmo, a inflexão e as entonações - Forte, vibrante, pausada, suave, baixa, tendo cuidado para não ser estridente e irritante. - Clareza: Boa dicção, evitar cacoetes (certo? então, aí, entenderam?). - Conhecimentos: Possuir noções básicas de psicologia evolutiva, para escolher melhor as histórias, avaliar as reações e apreciar os comentários das crianças.

28 Uma passagem de Prieto (1994, p. 20) esclarece: O Era uma vez levanta a cortina de um mundo novo que, se escapa à realidade imediata, suscita em troca uma realidade simbólica dotada de uma intensidade tal que as reações que nela se dão podem tomar um matiz às vezes fascinante. (...) Todos os elementos são sugeridos pela voz e pela mímica do narrador, que esquece seu rosto, dissimula seu corpo, esquece sua voz, para converter-se, todo ele, em pincel e paleta, cor e som, forma e emoção. E a emoção chega aos pequenos. Assim, as histórias conduzem a uma imaginação sem limites. Uma boa narrativa pode levar ao fundo do mar, a mais alta montanha, acima das nuvens, a países desconhecidos, ao futuro e ao passado. O contador de histórias precisa ter alguns cuidados para que tenha êxito na sua narração, como conhecer o local, a clientela, número de alunos, faixa etária, quem e onde a história será contada, sentar as crianças de modo que todas o vejam. A duração da narrativa depende da faixa etária e do interesse, de 05 a 10 minutos para os menores e de 15 a 20 minutos para os maiores. Mas isso é flexível. Compete ao narrador alongar ou diminuir o texto, conforme a experiência adquirida. Caso houver interrupções o contador não deve interromper a narrativa, confirma com um sorriso, fixa o olhar na direção de quem interrompeu, sorri e com um gesto pede-lhe para aguardar, só depois de concluída a narração lhe dá a oportunidade de falar. Sempre manter uma atitude tranquila, afinal, geralmente, as crianças indisciplinadas são as que mais necessitam ouvir histórias.

29 CAPÍTULO V PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE Análise dos dados coletados com os sujeitos envolvidos no processo No intuito de comprovar que a hipótese dessa pesquisa possui plausibilidade e retomando ao problema exposto inicialmente, buscou-se coletar dados com o intuito de averiguar se a contação de histórias contribui de forma positiva no desenvolvimento da leitura prazerosa e enriquecimento do imaginário das crianças. Foi realizado um questionário semi-estruturado com alguns alunos selecionados de uma escola pública de São Tiago / MG. Foi feita também uma observação não participante sistemática de um momento de contação e apresentação de história para a averiguação do comportamento e participação dos alunos nas atividades de histórias em sala de aula. Com isso, observou-se o relacionamento entre aluno-aluno, aluno-professor, aluno-ambiente escolar e aluno-comunidade. 5.1 A arte de contar histórias para a formação do aluno leitor, na perspectiva dos alunos selecionados Sabe-se que ouvir histórias é fator preponderante para a formação das crianças. Ouvi-las é o início da aprendizagem para ser um bom leitor, tendo um caminho mágico e prazeroso com infinitas descobertas e compreensão do mundo. Interpretando os alunos entrevistados sobre se gostam de ouvir histórias a maioria responderam que sim, um aluno respondeu que é coisa de criança e três alunos responderam não gostam dessa prática. Analisando as respostas de alguns alunos podemos entender que para se contar uma história,seja ela qual for, faz-se necessário uma preparação antecipada do contador de história. Este preparo deve ser feito com antecedência para evitar o gaguejar diante das palavras e ser surpreendido por acontecimentos na história. Abramovich (1997, p. 18) afirma que:... quando se vai ler uma história (...) não se pode fazer isso de qualquer jeito,

30 pegando o primeiro volume que se vê na estante. E aí no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias). Este cuidado permite que o enredo emocione, desperte uma aventura e tinha sentido. O narrador tem de transmitir confiança, chamar a atenção, pois ele é o elo entre a história e o ouvinte. No que diz respeito ao ouvir histórias na escola, a forma como são trabalhadas e como gostariam que as histórias fossem contadas, os alunos foram unânimes ao afirmarem que ouvem histórias na escola, porém divergiram no tocante à forma e deram sugestões de como gostariam que esse processo fosse realizado, conforme relaram abaixo: Sim. Lendo, às vezes a gente imita o personagem. Um ambiente aconchegante e confortável. (aluno 1) Sim. A professora fica na frente e lê. Queria que fosse tipo um teatro. (aluno 2) Sim. Em folha. Se fizesse um círculo num lugar com uma área verde, com lanches. (aluno 3) Às vezes. De maneiras diferentes. Gostaria que fosse sentado na praça. (aluno 4) Entretanto, um aluno menciona que apesar de ouvir histórias na escola, ela funciona como trabalho a cumprir, o que o faz ter repulsa pela contação de história, conforme confirmado em sua fala. Sim. Manda fazer resumo. De nenhum jeito. (aluno 5) Tal relato nos remete a Poças (1992; p. 17) ao afirmar que: Cabe ao professor a tarefa de despertar a criança para a leitura, vista como uma atividade predominantemente lúdica, onde o livro, antes de mais nada, é fonte de prazer, estímulo a curiosidade e passaporte ao desconhecido. Assim, faz-se necessário que os professores contem histórias aos alunos, incentivando a criatividade e a curiosidade, auxiliando o processo da leitura como prazer e não como tarefa obrigatória possível de avaliação. O educador contador de histórias deve considerar também as condições psicológicas e mentais das crianças selecionado os textos de acordo com a faixa etária de seus ouvintes. Um outro questionamento feito aos alunos foi se contariam histórias para pessoas necessitadas de atenção e carinho, como idosos em asilos e crianças hospitalizadas e por quê. Analisando essa questão foi constatado que a maioria dos alunos contariam