OS BENS SONEGADOS: COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO Nº 70051277150 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL



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Transcrição:

30 OS BENS SONEGADOS: COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO Nº 70051277150 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL Fabiana dos Santos Gonçalves 1 José Ricardo Moura Pereira 2 Orientadora: Profª. Mª. Ana Cleusa Delben 1 IDENTIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO Ao identificar o acórdão sob nº 70 051 277 150, faz-se mister, dizer que este trata-se de decisão proferida em Apelação Cível e foi julgado no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, sendo que teve como julgadores as Senhoras Des.ª Liselena Schifino Robles Ribeiro e Des.ª Sandra Brisolara Medeiros, bem como, o Presidente e Relator Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, sendo que, tal ocorreu na cidade de Porto Alegre aos 21 de novembro de 2012. A ementa deste decisum reza que: SONEGADOS. INVENTARIANTE QUE DEIXA DE INFORMAR BENS PASSÍVEIS DE COLAÇÃO. HERDEIRO QUE DEIXA DE TRAZER À COLAÇÃO NO PROCESSO DE INVENTÁRIO BENS QUE LHE FORAM DOADOS OU ADQUIRIDOS EM SEU NOME PELO AUTOR DA HERANÇA. INVENTÁRIO EM CURSO. 1. Sonegados são os bens ocultados ao inventário ou que não tenham sido levados à colação. 2. Não estando ainda encerrado o processo de inventário e não configurado o dolo, não se cogita de sonegação e não se aplica a pena de sonegados. 3. Ficando comprovado que o de cujus adquiriu diversos imóveis em nome do filho que é demandado, deve ele levar à colação tais bens, pois configura doação, que é constitui mera antecipação do quinhão legitimário. 4. Os bens e valores doados pelo pai ao filho, sem expressa dispensa de colação, constituem antecipação da legítima, sendo descabida qualquer discussão a respeito da parte disponível, pois não houve referência de que os valores doados saíssem de sua metade disponível. 5. Caso seja concluído o processo de inventário e os bens recebidos pelo herdeiro não sejam por ele levados à colação, poderá ser reclamada, então, em ação própria, a penalização severa de sonegados. Recurso parcialmente provido. (grifos nossos) conceituais, a seguir. Para melhor compreensão deste serão feitas considerações 1 Acadêmica do 8º Período do curso de Direito da FACNOPAR. 2 Acadêmico do 8º Período do curso de Direito da FACNOPAR.

31 2 COMENTÁRIO AO ACORDÃO O Relator iniciou os votos acolhendo parcialmente o pleito recursal informando primeiramente qual deve ser o objeto do inventário e sua forma de estabelecimento, citando o artigo 982 do Código Civil 3, sendo que este diz: Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário. (Redação dada pela Lei nº 11.441, de 2007). 1º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. (Renumerado do parágrafo único com nova redação, pela Lei nº 11.965, de 20090) 2º A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei. (Incluído pela Lei nº 11.965, de 20090) 4 Cabe informar os procedimentos para dar curso ao processo de inventário, pela via judicial, a lei estabelece a necessidade de ser nomeado um inventariante, sendo que a pessoa nomeada para o múnus, deve firmar termo de inventariança (CPC, art. 993) 5 e a ele incumbe exercer, basicamente, a administração e representação, tanto ativa como passiva da sucessão (CPC, art. 991, I e II) 6 até a homologação da partilha, cabendo-lhe prestar as primeiras declarações (art. 993 e parágrafo único, CPC) 7 e conduzir o processo até a formalização da partilha. E está obrigado a prestar contas de todos os atos 3 BRASIL. LEI Nº 10.406 de 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 31 out. 2014. 4 BRASIL. LEI N o 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm> Acesso em: 8 nov. 2014. 5 Art. 993. Dentro de 20 (vinte) dias, contados da data em que prestou o compromisso, fará o inventariante as primeiras declarações, das quais se lavrará termo circunstanciado. No termo, assinado pelo juiz, escrivão e inventariante [...] 6 Art. 991. Incumbe ao inventariante: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 12, 1o; II - administrar o espólio, velandolhe os bens com a mesma diligência como se seus fossem; 7 Art. 993 PARÁGRAFO ÚNICO. O juiz determinará que se proceda: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) I - ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era comerciante em nome individual; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) II - a apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que não anônima. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973.

32 praticados durante a sua administração, nos termos art. 919 do Código de Processo Civil. 8 Os Recorrentes alegam que o inventário iniciado no ano de 1988, sob a responsabilidade da viúva, até o momento do julgamento da apelação, não havia sido terminado. Sustentam que solicitaram à inventariante o arrolamento de diversos bens valiosos que não estavam formalizados em nome do de cujus, com a possibilidade de que o falecido tenha adquirido os bens e registrados em nome apenas de um dos filhos. Afirmam que a prática de sonegação restou configurada nos autos em questão, motivo pelo qual requerem a aplicação do art. 1992 do Código Civil Brasileiro 9. Pretendem seja reformada a decisão atacada e, sendo inequívocas as aquisições em nome do recorrido, sejam na pior das hipóteses consideradas doações, como adiantamento de legítima. Pedindo então o provimento do recurso. Intimados, os recorridos não ofereceram contra razões, deixando fluir in albis o prazo legal. O Relator, em seu voto, menciona que é de extrema relevância os questionamentos referente a doação dos bens ao requerido, sendo adquiridos pelo de cujus e apenas escriturados em nome do filho, sem expressa dispensa de colação, que no caso em questão, constituem apenas antecipação da legítima, interessando apenas as discussões da parte disponível quando se cuida de doação com dispensa de colação, o que inocorreu na espécie. O artigo 1847 do CCB, dispõe que o quinhão legitimário deve ser calculado sobre a metade do total dos bens existentes ao falecer o testador, sendo abatidas as dívidas e as despesas do funeral, e adicionando-se a esse valor a importância das doações por ele feitas aos seus descendentes, que constituem adiantamento da legítima. 10 Sobre o tema o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves conceitua: 8 Art. 919. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de outro qualquer administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado. Sendo condenado a pagar o saldo e não o fazendo no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda e glosar o prêmio ou gratificação a que teria direito. 9 BRASIL. LEI Nº 10.406 de 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 31 out. 2014. 10 Art. 1.847 Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.

33 Colação é o ato pelo qual os herdeiros descendentes que concorrem à sucessão do ascendente comum declaram no inventário as doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegados, para que sejam conferidas e igualadas as respectivas legítimas. (GONÇALVES, 2010. p. 536) Portanto, considerando que se discute nos autos não apenas a colação, mas também o que é parte disponível, convém lembrar a dicção legal. Ou seja, o art. 1.846 estabelece que o testador que tiver descendentes não poderá dispor de mais da metade dos seus bens, pois a outra metade pertence aos herdeiros necessários. Insta destacar o que expressa o artigo 1846 do Código Civil Brasileiro: Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. Na apelação em exame, é observado que o autor reclama a sonegação dos bens por parte da viúva ex-inventariante e pelo herdeiro beneficiado com a antecipação da legítima. Dias diz: Com relação ao tema de adiantamento de legítima, Maria Berenice Quando há adiantamento de legítima, os acréscimos pertencem ao herdeiro desde a data da doação. No entanto, o que for percebido a partir da abertura da sucessão precisa ser colacionado, não para se compensado, mas em face da eventualidade de ser necessária redução por ter ocorrido excesso (CC 2.007). Nesse caso, os bens precisam ser devolvidos com os seus ganhos e rendimentos a partir da abertura da sucessão. Os demais herdeiros fazem jus aos acréscimos de forma proporcional à parte do bem que vão receber. (DIAS, 2008.) Sobre o tema sonegação da legítima, insta mencionar o doutrinador Mário Roberto Carvalho de Faria, que conceitua: Sonegados, são os bens que deveriam ser trazidos ao inventário, no entanto, foram conscientemente dele desviados, quer por não terem sido descritos ou restituídos pelo inventariante ou herdeiros, quer por estes últimos não os haver trazido à colação, quando esse dever se lhes impunha. Pode sujeitar quem a cometeu, além da pena civil, a pena criminal do delito de apropriação indébita. (FARIA, 2002) O Relator, na apelação em exame, afirma que a sentença recorrida apreciou corretamente a ausência de dolo, sendo necessário mais do que provas documentais levadas aos autos pelos recorrentes, já que estes documentos demonstram a propriedade dos bens discutidos, segue transcrito do Relator:

34 [...] na verdade ostentados por terceiros e não restou configurada a existência de dolo por parte do filho (que recebeu o adiantamento da legítima) ou de sua mãe (viúva ex-inventariante), ao terem levado os bens à colação, pois o inventário ainda não foi concluído e existe, ainda, a oportunidade processual para que o herdeiro que foi donatário de alguns bens, possa levar à colação aqueles que lhe foram doados, trazendo a devida especificação das aquisições. (grifo dos autores) (Tribunal de Justiça. Apelação civil n.70006270508). O Relator não viu configurado o dolo por parte dos réus, devido ao fato de que os documentos mencionados e o depoimento da requerente foram insuficiente para demonstrar a intenção volitiva do filho ou da viúva para a configuração da pretensão atribuída aos demandados. Finalizando o voto, o Relator deferiu parcial provimento ao recurso, apenas no que tange ao pedido da colação, quanto aos bens sonegados, condenou os réus para que sejam levados aos autos do processo de inventário para que sejam conferidos os quinhões legitimários de forma a permitir uma partilha equânime, justa e equilibrada. Ainda em seu voto, o Relator pede que aos recorridos que tragam aos autos as devidas especificações dos valores obtidos pela transação de alienação de alguns bens. Diante do exposto, deu procedente em parte a ação. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Relator da supracitada apelação cível, deu provimento parcial, diante da não configuração da intenção volitiva por parte do réu de sonegar a legítima, os bens e valores doados pelo pai ao filho, sem expressa dispensa de colação, constituem antecipação da legítima, sendo descabida qualquer discussão a respeito da parte disponível, pois não houve referência de que os valores doados saíssem de sua metade disponível, havendo portanto, a ausência do dolo. No que tange ao pedido da colação, considerando que se discute nos autos não apenas a colação, mas também o que é parte disponível, condenou os réus, quanto aos bens sonegados, que sejam levados aos autos do processo de inventário para que sejam conferidos os quinhões legitimários, de forma a permitir uma partilha equânime, justa e equilibrada.

35 REFERÊNCIAS ANDRADE, Maritza Franklin Mendes De. Do instituto da colação no direito das sucessões brasileiro: aspectos teóricos e práticos. 2008. 170f. Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Pós- Graduação em Direito das Relações Sociais, São Paulo. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp075955.pdf>. Acesso em: 31 out. 2014. BRASIL. LEI N o 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm> Acesso em: 8 nov. 2014.. LEI Nº 10.406 de 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 31 out. 2014. DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.p. 573. FARIA, Mário Roberto Carvalho de. Direito das Sucessões Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002, p. 253. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro : v.7: direito das sucessões. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação civil n.70006270508. Responsabilidade civil, dano material e moral, uso de cigarros. Apelante: Adelar Brando. Apelado: Cibrasa Indústria e Comércio de Tabacos, Philip Morris do Brasil e Souza Cruz. Relator: Des. Leo Lima, Porto Alegre, 18 set. 2003. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro, Ano 5, n.18, p.137.