Modelação Competitiva de Basquetebolistas por Concentração de Lactato



Documentos relacionados
António Graça Quantificação do Limiar anaeróbio Controlo Através da Lactatémia

Palavras-chave: Controle Autonômico; Recuperação; Treinamento Esportivo; Esportes Coletivos.

DESCRIÇÃO DA PERCEPÇÃO DE ESFORÇO FRENTE ÀS MODIFICAÇÕES DE REGRAS EM JOGOS-TREINO NO BASQUETEBOL.

PREPARAÇÃO FÍSICA ARBITRAGEM FPF Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE PARECER DOS RECURSOS

Prof. Leandro Carvalho CEMAFE Unifesp/EPM

A Proposta da IAAF 03. Campeonato para anos de idade 03. Formato da Competição 04. Organização da Competição 05.

Manual de Atividades Complementares

A Influência da instrução verbal e da demonstração no processo da aprendizagem da habilidade parada de mãos da ginástica artística.

PLANEJAMENTO ANUAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA ENSINO MÉDIO INTRODUCÃO

Desenvolvimento da criança e o Desporto

TÍTULO: MAGNITUDES DE FORÇA PRODUZIDA POR SURFISTAS AMADORES CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

EXEMPLO: QUANTIFICAÇÃO DAS AÇÕES OFENSIVAS DO GOALBALL NOS JOGOS PARALÍMPICOS DE LONDRES

PLANO DE TRABALHO FUTEBOL

EFEITOS DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM-TREINAMENTO NO DESEMPENHO DE HABILIDADES TÉCNICAS DE JOGADORES DE FUTEBOL DA CATEGORIA SUB-13

3x3 Regras do Jogo. quadra se alguma for utilizada podem ser adaptadas ao espaço disponível

ANÁLISE DA QUALIDADE TÉCNICA DO SAQUE EM ATLETAS DE VOLEIBOL SENTADO

Universidade Estadual de Maringá CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Palavras-chave: Aptidão Física. Saúde. Projeto Esporte Brasil.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Campus Sombrio Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio

PLANEJAMENTO DE AULA 2010 EDUCAÇÃO FÍSICA PROFESSOR MARCIO LUIZ DALMOLIN

MÉTODOS DE TREINAMENTO INTERVALADOS 2 COMPONENTES DO MÉTODO DE TREINO INTERVALADO

PLANEAMENTO DO TREINO: DA FORMAÇÃO AO ALTO RENDIMENTO

Basquetebol A transição defesa-ataque nos escalões de sub-14 e sub-16: como fazer e como construir

Bases Metodológicas do Treinamento Desportivo

AVALIAÇÃO: A Ed. Física VALOR: 7.5 (SETE E MEIO) (AHSE) DATA: 22/09 HORA: Série: 1º ano Professores Ministrantes: Kim Raone e Marcus Melo

07/05/2013. VOLEIBOL 9ºAno. Profª SHEILA - Prof. DANIEL. Voleibol. Origem : William Morgan 1895 ACM s. Tênis Minonette

salto em distância. Os resultados tiveram diferenças bem significativas.

Período de Preparação Período de Competição Período de Transição

Colégio Adventista de Rio Preto Educação Física BASQUETEBOL. Basquetebol 8º ano. basquetebol

PLANIFICAÇÃO EDUCAÇÃO FÍSICA. Secundário Andebol

Informação Prova de Equivalência à Frequência EDUCAÇÃO FÍSICA

Análise comparativa da posse de bola do F.C Barcelona x São Paulo FC x SC Internacional e as ações ofensivas geradas.

INSTRUÇÃO NORMATIVA No. 01/2013 DE 21 DE MAIO DE 2013

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEME MENTARES CURSO DE ENFERMAGEM. Belo Horizonte

A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Prof. Dr. Renato Sampaio Sadi DCEFS-UFSJ 2012

CAPÍTULO I DOS OBJETIVOS DOS JOGOS UNIVERSITÁRIOS EINSTEIN

PERFIL ESTATÍSTICO DOS ARMADORES DE BASQUETEBOL: um estudo com participantes do Campeonato Mundial de Basquetebol

III TORNEIO DE BASQUETE 3 x 3 MASCULINO E FEMININO CEFER - USP RIBEIRÃO PRETO

Organização do treino de Badminton

Nome: Turma : N.º. Grupo 1 (24 %) Basquetebol (Cada questão 3%)

Crescimento e Desenvolvimento de Atletas Jovens nas Distâncias de Fundo e Meio Fundo: Fases Sensíveis

FACULDADE SETE DE SETEMBRO FASETE

CURSOS ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Exposição de marca Além de obter maior visibilidade na mídia, através da associação com equipes e atletas de alto rendimento, a marca da instituição

Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) NOVEMBRO/2013

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL

CIRCUITO TREINO * O fator especificador do circuito será a qualidade física visada e o desporto considerado.

Estudo de caso das mudanças fisiológicas e de. de desempenho de judocas do sexo feminino em preparação

CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ESTÉTICA E COSMÉTICA MANUAL DE ATIVIDADES COMPLENTARES

ESCOLA SECUNDÁRIA DE ODIVELAS MATRIZ DO EXAME DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA EDUCAÇÃO FÍSICA 3º Ciclo Ano lectivo 2009/2010

3.2 Descrição e aplicação do instrumento de avaliação

RESOLUÇÃO. Bragança Paulista, 30 de maio de Prof. Milton Mayer Presidente

Comportamento da freqüência cardíaca em duas funções específicas no jogo de vole...

Pesquisa realizada com os participantes do 16º Seminário Nacional de Gestão de Projetos APRESENTAÇÃO

Alexandre Sérgio Silva Laboratório de Estudos do Treinamento Físico Aplicado ao Desempenho e Saúde (LETFADS) ass974@yahoo.com.br

RELATÓRIO DE CUMPRIMENTO DO OBJETO

Confederação Brasileira de Voleibol PREPARAÇÃO FÍSICA Prof. Rommel Milagres SAQUAREMA Dezembro 2013

XXVII JOGOS ESCOLARES MUNICIPAIS JEMs 2013 REGULAMENTO ESPECÍFICO DO ATLETISMO

A PLANIFICAÇÃO DO TREINO DA FORÇA NOS DESPORTOS COLECTIVOS por Sebastião Mota

REGIME DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO

LISTA DE MATEMÁTICA. Aluno(a): Nº. 1. Determinada editora pesquisou o número de páginas das revistas mais vendidas em uma cidade.

Escola E.B. 2/3 dos Olivais

FLUXOGRAMA DA PESQUISA

Avaliação da via aeróbia numa equipa de Futebol Júnior

COMPETIÇÕES DE VOLEIBOL ETAPA ESCOLAR

Basquete 3x3 Tour Nacional Etapas Regionais/FINAL 2013

Orientações para montagem

Programa Institucional de Iniciação Cientifica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos PIC/UNIFEB

Unidades de Formação e Cargas Horárias Taekwondo Grau II

Indústria. Prof. Dr. Rudinei Toneto Júnior Renata de Lacerda Antunes Borges

VELOCIDADE, AGILIDADE, EQUILÍBRIO e COORDENAÇÃO VELOCIDADE

Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do Desportista após uma lesão

BIKE PERSONAL TRAINER O TREINO DE CICLISMO DEPOIS DOS 50 ANOS

Velocidade no Futebol - Capacidade é complexa e precisa ser analisada de forma global

Bateria de Medidas e Testes. Centros de Formação de Jogadores Federação Portuguesa de Voleibol

Capítulo 7 Medidas de dispersão

REGULAMENTO PARA ATIVIDADES COMPLEMENTARES DO CURSO DE ENGENHARIA BIOMÉDICA

APOIO: 1ª COPA FUNILÂNDIA SESCON/MG

XI Mestrado em Gestão do Desporto

Universidade Federal de Juiz de Fora Graduação em Educação Física e Desportos. Leonardo Rotondo Pinto

POTÊNCIA ANAERÓBIA EM ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO: DIFERENÇAS ENTRE CATEGORIAS.

REGULAMENTO BASQUETE 2009

TÁTICAS BÁSICAS DO VOLEIBOL TÁTICAS BÁSICAS DO VOLEIBOL SISTEMAS TÁTICOS

Educação Física: Futsal

MARATONA DO CONHECIMENTO TECNOLÓGICO DESCRITIVO TÉCNICO DA OCUPAÇÃO DE: GESTÃO HOSPITALAR

Palavras-chave: Futebol. Preparação física. Diferentes Posições.

Apenas. R$30,oo por curso PREPARAÇÀO FÍSICA NO FUTEBOL BASQUETE INICIAÇÃO AO VOLEIBOL BADMINTON GINÁSTICA ARTÍSTICA E TRAMPOLIM MUSCULAÇÃO EM ACADEMIA

Este documento não substitui o original aprovado pelo Conselho de Administração da FEST. Página 1/7

CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS ALUNOS. 1 - Currículo Nacional do Ensino Básico Competências Essenciais de Educação Física

Programa de Apoio Didático Graduação - Perguntas Frequentes

PROPOSTA PARA UM SUPORTE ADEQUADO ÀS REDES LOCAIS NA UFSCar Prof. Néocles Alves Pereira Secretário Geral de Informática

II. Atividades de Extensão

Prof.. Claudio Pavanelli

Futebol e arbitragem: o resultado da preparação

E Nas extremidades da rede existem duas antenas que delimitam o espaço aéreo de jogo.

Fundamentos Teórico-Práticos do Aquecimento no Futsal

Praça Manuel Marques da Fonseca Júnior Praça Modelo

PROGRAMA DE FUTEBOL 10ª Classe

Transcrição:

ORIGINAL / ORIGINAL Modelação Competitiva de Basquetebolistas por Concentração de Lactato Modeling Competition on Basketball Players by Lactate Concentration JOÃO PAULO BORIN* Docente do curso de mestrado em Educação Física Núcleo de perfomance humana (UNIMEP/SP) VALDOMIRO OLIVEIRA Doutorando em Ciências do Esporte (UNICAMP/SP) FULVIO MARTINS VENTURA Preparador físico do Franca Basquetebol Clube CLOVIS FRANCISCON Preparador físico da Seleção Brasileira Masculina Adulta de Basquetebol NATHALIA ARNOSTI VIEIRA Bolsista de iniciação científica do curso de Educação Física (FAPIC/ UNIMEP/SP) * Correspondências: Rod. do Açúcar, km 156, Mestrado em Educação Física, 13400-911, Piracicaba/SP jpborin@unimep.br RESUMO O entendimento das respostas fisiológicas apresentadas pelos atletas durante as partidas tem sido alvo de investigação de estudiosos no âmbito do treinamento desportivo, principalmente para elaboração, controle e prescrição do treinamento. O objetivo do presente trabalho foi determinar níveis de concentração de lactato em partidas oficiais de basquetebol adulto. As unidades observacionais constituíram-se de quatro atletas (dois armadores e dois laterais), que pertenciam a diferentes equipes e participaram de partidas da Fase Semi-Final Hexagonal do Campeonato Nacional de Basquetebol, 2005-2006. A coleta do lactato realizou-se antes do aquecimento das partidas e cinco minutos após o término das mesmas. Os dados coletados foram armazenados em um banco computacional, produzindo-se informações no plano descritivo (medidas de centralidade e dispersão) e, no inferencial, Teste t de Student e Anova One-way. Os principais resultados apontam para valores de lactato semelhantes no início das partidas em ambas as posições: 2,23 ± 0,17mM para armadores e 2,30 ± 0,40mM para laterais, porém com diferença significante ao final, com armadores apresentando valores superiores, 4,47 ± 0,21mM, em relação aos laterais, 3,70 ± 0,20mM. Tais dados situam-se como indicadores importantes para preparadores físicos tanto na elaboração como na prescrição e controle do treinamento. Palavras-chave ESFORÇO BASQUETEBOL LACTATO. ABSTRACT The understandingt of the physiological answers presented by the athletes during the games has been a goal of researchers in the context of sporting training. The objective of the present work aims at to determine levels of lactate concentration in oficial games of adult basketball. The units to be observed consisted of four athletes (two guards and two forwards), belonging to different teams that had played through the Hexagonal Semifinal Phase of the National Championship of Basketball 2005-2006. The collection of lactate was taken before the worming period of the games and five minutes after the end of them. The collected data was stored in a retrieval system, producing descriptive information (measurements of concentration and dispersion) and, through the inferential, Test t of Student and Anova One-way. The main results denote similar values, at the beginning of the games in both positions: 2.23 ± 0.17 mm for guards and 2.30 ± 0.40 mm for forwards, however with significant difference at the end, with the guards presenting superior average values 4.47 ± 0.21 mm in relation to the forwards 3.70 ± 0.20. Such data are important pointers for coaches for the elaboration control of training. Keywords EFFORT BASKETBALL LACTATE. Saúde em Revista Modelação Competitiva em Basquetebolistas 13

INTRODUÇÃO O basquetebol caracteriza-se como desporto coletivo, desenvolvido em grande velocidade com mudanças constantes de ritmo, intensidade e dinamismo de suas ações, tanto ofensivas quanto defensivas e constituído por soma de habilidades que, unidas, compõem o jogo. 1 A referida modalidade solicita de qualquer atleta o máximo de sua eficiência física, a fim de ajudar seus companheiros a conseguir o maior número de pontos e conseqüentemente a vitória. 2 Como em outras modalidades, possui características próprias e específicas em sua formação, como posição dos atletas, aspectos técnicos e táticos, precisão e regras, entre outros componentes. Na complexidade técnico-tática desse desporto, surgiram funções específicas dos jogadores (armador, ala ou laterais e pivô) com um papel distinto no jogo. 3 Os armadores têm a função de organizar e comandar o ritmo do jogo e uma de suas principais características é o uso da técnica do drible e passe. 4 Os alas possuem como identificação técnica a execução de arremessos e infiltrações, além de também terem o drible como forma de condução de bola. 5 Por fim, os pivôs, responsáveis pelas ações mais próximas à cesta, são conhecidos pelo jogo de força e na maioria das vezes pelos fundamentos de rebote e bloqueio. 3 Com o decorrer dos anos e a divulgação, observa-se um aumento do número de equipes participantes em campeonatos promovidos por entidades específicas (Confederações e Federações) ou união de várias agremiações (Ligas) em diferentes categorias. 6 Tal evolução também vem sendo verificada, no dinamismo das ações e intensidade, por meio de diferentes indicadores como freqüência cardíaca, padrões de movimento e concentração de lactato. 7, 8, 9, 10, 11 Particularmente, quanto a este último, é modificado pela atividade física, assim como durante a realização de exercício, depende, em primeira instância, da intensidade da carga de trabalho e, em segunda, da sua duração, sendo que, em condições de repouso, há formação de quantidades pequenas com valor médio de 0,9mM. 12 Procurando caracterizar o ciclo de energia predominante no basquetebol, Guyton 13 aponta para os sistemas do fosfágeno e glicogênio-ácido láctico. Mais detalhadamente, Fox e Mathews 14 mostram que 85% da energia exigida foram encontrados por meio do esgotamento de adenosina trifosfato e creatina fosfato e 15% de glicólise. Alguns estudiosos têm se preocupado quanto à realização de investigações em diferentes condições em que os praticantes desempenham suas funções na competição, cujos resultados obtidos, mesmo em treinamentos, dificilmente representam a realidade da disputa. 10 Devido às particularidades específicas e responsabilidades diferenciadas dos jogadores, aqueles que desempenham determinada função em quadra (armador, ala ou pivô) podem aperfeiçoar seu desempenho por meio de treinamento específico às técnicas mais solicitadas durante as partidas. A partir do exposto, o presente trabalho possui como objetivo conhecer o comportamento da concentração de lactato sangüíneo de atletas de basquetebol armadores e laterais, durante disputas da Fase Semi-Final Hexagonal do Campeonato Nacional Adulto Masculino, 2005-2006. METODOLOGIA Sujeitos Participaram deste estudo, quatro atletas (25,4 ± 2,6 anos, 188 ± 2,4cm) pertencentes a duas diferentes equipes que disputaram cinco partidas da Fase Semi-Final Hexagonal do Campeonato Nacional de Basquetebol Adulto Masculino, 2005-2006. Todos os voluntários foram informados sobre as avaliações e assinaram termo de consentimento, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universi- 14 SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (21): 13-18, 2007

dade Metodista de Piracicaba-UNIMEP, protocolo nº 33-05, para integrar o estudo. Delineamento Experimental Antes do aquecimento em quadra para iniciar as partidas, os atletas se dirigiam à sala destinada para coleta de sangue e permaneciam por 15 minutos sentados. A seguir, dois avaliadores, utilizando luvas cirúrgicas descartáveis, após assepsia local com álcool e punção com a utilização de lanceta descartável, coletavam 25 microlitros (μl) de sangue, do lóbulo da orelha, em capilares calibrados e heparinizados. Após a coleta de cada amostra, passava-se algodão na superfície do lóbulo para a retirada de possíveis gotas de suor, as quais poderiam contaminar as amostras e, imediatamente, o sangue era colocado para análise no Accusport. Ao término das partidas, o procedimento de coleta e análise foi realizado após 5 minutos. Cabe aqui destacar que os quatro atletas atuaram em média 38 ± 1,03 minutos em todas as partidas analisadas. Análise Estatística Os dados coletados foram armazenados em um banco computacional, produzindo-se informações no plano descritivo (medidas de centralidade e dispersão) e, no inferencial, para verificar diferenças entre atletas e posições, antes e depois das partidas, utilizou-se Teste t de Student e Anova One-way e o nível de significância adotado foi de p<0,05. RESULTADOS A partir dos dados coletados, as tabelas 1 e 2 são apresentadas para entendimento dos resultados obtidos. A tabela 1 mostra as características antropométricas de peso e estatura dos atletas participantes por posição. De imediato, nota-se que, em ambas as variáveis estudadas, os laterais possuem valores médios superiores aos armadores, indicando maior peso e altura. A tabela 2 aponta para as medidas descritivas de média e desvio-padrão da concentração de lactato sangüíneo, obtidas antes e após as partidas nas diferentes posições e respectivos resultados estatísticos. Verificase que, ao comparar as posições antes do início das partidas, os atletas comportam-se de maneira semelhante, sem apresentar diferença estatística. Porém, ao final dos jogos, há diferença significante dos valores em relação ao início, tanto nos armadores como nos laterais, bem como no final, os armadores mostram resultados superiores. Tabela 1. Valores médios e desvio-padrão das características antropométricas dos atletas estudados segundo suas posições. Posição de jogo Peso (kg) Estatura (cm) Armadores 76,9 ± 4,2 186,5 ± 0,7 Laterais 102,8 ± 6,8 195,0 ± 7,1 Tabela 2. Valores médios e desvio-padrão da concentração de lactato sangüíneo antes e após as partidas segundo posições e resultados estatísticos. Posição Momento da avaliação Resultado de jogo Antes Após estatístico Armadores 2,23 ± 0,17 4,47±0,21 0,0001 (p < 0,05) Laterais 2,30 ± 0,40 3,70±0,20 0,005 (p < 0,05) Resultado estatístico 0,405 (p > 0,05) 0,01 (p < 0,05) Saúde em Revista Modelação Competitiva em Basquetebolistas 15

DISCUSSÃO Com a evolução e popularidade da modalidade, um dos pontos de maior preocupação no âmbito da preparação dos atletas tem sido voltado à parte física. Nesse sentido, o entendimento das respostas que o organismo apresenta durante as partidas, principalmente quanto aos indicadores metabólicos, tem sido alvo de preparadores físicos e pesquisadores. Tais informações são relevantes no sentido de indicar adequada utilização de metodologias para treinamento, que vão desde cardiofreqüencímetros a modelos estatísticos 10, 16 para análise de deslocamentos. Nesse sentido, o ponto fundamental a ser entendido é a carga imposta aos atletas nas diferentes partidas, pois a partir do conhecimento da intensidade do esforço tal indicador torna-se importante na prescrição e no controle do treinamento. Cabe ressaltar que informações como tempo de jogo disputado pelos atletas, função exercida durante partidas, sistema tático utilizado pela equipe na defesa (por zona ou individual), nível técnico dos jogos, gênero, idade, tempo de treinamento dos praticantes, entre outros, influenciam diretamente nas respostas fisiológicas. Nessa direção, o perfil ou modelo fisiológico da intensidade imposto aos atletas durante as partidas na modalidade, pela concentração de lactato sangüíneo, parece predominar pela via anaeróbia, principalmente 13, 14 glicolítica. McInness et al., 10 em competições oficiais da modalidade, apontam valores médios de 6,8 ± 2,8mM e a concentração máxima obtida de 8,5 ± 3,1mM. Tais valores são superiores aos encontrados no presente trabalho tanto para armadores, 4,47 ± 0,21mM, quanto laterais, 3,70 ± 0,20mM, mas ainda mantendo o patamar glicolítico. Porém, em outro estudo, Maresh et al. 17 estudando colegiais do sexo feminino apontam escores de 10,4 ± 0,5mM e em jogadoras da Liga Espanhola, Rodrigues et al. 18 (2001) encontram 3,9 ± 2,0mM para amadoras e 4,2 ± 2,1mM para laterais. No cenário nacional, Moreira, Souza e Oliveira 19 relatam, em atletas masculinos adultos, concentração de lactato sangüíneo, imediatamente após o término das partidas, tendo resultados médios de 4,48mM, valor semelhante ao encontrado pelos armadores no presente estudo. Apesar dos limitados estudos sobre valores de lactato sangüíneo em partidas oficiais de basquetebol, parece ser consenso na literatura 10, 20, 21, 22, 23 que tais valores são provenientes de ações em alta intensidade, como velocidade na mudança de direção, explosão nos movimentos de arremessos, deslocamentos na defesa ou na execução de contra-ataques, bem como habilidade de saltar de forma rápida e repetitiva. Particularmente, quanto às posições, nota-se pelos valores obtidos dos armadores que há maior acúmulo de acidose do que nos laterais. Tal comportamento pode ser justificado pela função que os chamados organizadores do jogo, armadores, exercem em quadra, pois são orientados a distribuir a bola por toda equipe fazendo com que ocorra dinamismo das ações e conseqüentemente maior deslocamento em quadra para sempre ter a posse de bola. Nessa direção, Borin et al. 24 (2000) relatam que apesar dos laterais serem os responsáveis pelo maior número de ações finalizadoras à cesta, são os armadores que percorrem a maior distância em quadra. Outro ponto ainda a destacar nessa linha, é a importância que o metabolismo aeróbio exerce nos momentos de baixa intensidade como pedido de tempo, arremessos de lance livre e quando os atletas estão sem atuar na partida, por exemplo, importante para que a ressíntese dos estoques energéticos seja feita de maneira rápida e eficiente, assim como na remoção e utilização do lactato. A especificidade, principalmente em atletas de alto desempenho, deve ser observa- 16 SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (21): 13-18, 2007

da, procurando cada vez mais oferecer cargas ótimas e adequadas, durante os treinamentos, oriundas das competições. De acordo com os dados obtidos, sugere-se que na etapa preparatória como possível estratégia de treinamento, que o componente aeróbio não seja esquecido em todas as posições, porém com a realização de exercícios especiais com bola em quadra e não corridas longas. No período competitivo, buscar trabalhar as especificações de cada posição como drible, controle de bola e passes para armadores; e dribles, arremessos e rebotes para alas, mas em alta intensidade procurando simular situações mais próximas às que ocorrem nas partidas. Por fim, outro ponto a destacar volta-se à interação entre as capacidades físicas predominantes na modalidade, em que a capacidade de força explosiva, pela exigência de movimentos rápidos ao longo das partidas, bem como a resistência aeróbia, por atuar na recuperação de esforços máximos e submáximos, 25 são componentes importantes tanto na prescrição como no controle do treinamento nos períodos preparatório e competitivo. CONCLUSÃO O basquetebol, por se caracterizar como modalidade que apresenta esforços intermitentes e ações acíclicas, aponta no âmbito metabólico valores que sinalizam a via glicolítica como predominante, contribuindo assim com informações importantes para preparadores físicos na elaboração, prescrição e controle do treinamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ortega C. La preparacion física como medio del sistema de entrenamiento de los basquetbolistas de alto nível. Stadium 1980;(84):7-13. 2. Barnes M. El condicionamento físico en básquetbol. Stadium 1985;(113):31-4. 3. Miller S, Bartlett R. The relationship between basketball shooting kinematics, distance and playing position. Journal Sports Sciences maio/1996;14:243-53. 4. Carnessecca L. Atacando a pressão, ataque contra uma defesa zona pressão. In: Coletivo de Autores [quem são os organizadores?]. Caderno Técnico-Didático: Basquetebol Coletânea. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Física e Desportos; 1980. p. 10-3. 5. Coleman B, Ray P. Basquetebol. São Paulo: Publicações Europa - América, Coleção Desporto; 1976. 6. Federação Paulista de Basquetebol FPB. As divisões menores. Basquete abr/1995;(39):12-18. 7. Ramsey JD, Ayoub MM, Dukey RA, Edgard HS. Heart rate recovery during a college basketball game. Research Quarterly for Exercise Sport 1970;41(4):528-35. 8. Mcardle WD, Maggel JR, Kyvallos LD. Aerobic capacity, heart rate and stimated energy cost during women s competitive basketball. Research Quarterly for Exercise and Sport 1971;42(2):178-86. 9. Higgs SL, Riddell J, Barr DT. The importance of VO 2 max. in performance of a basketball game-simulated work task (abstract). Canadian Journal of Applied Sports Science 1982;(7):237. 10. McInnes SE, Carlson JS, Jones CJ, Mckenna MJ. The physiological load impose on basketball players during competition. Journal of Sports Sciences 1995;(13):387-97. 11. Borin JP, Gonçalves A, Padovani CR, Aragon FF. Variabilidade da intensidade de esforço nas três posições do basquetebol: ensaio quantitativo em nosso meio. Revista Brasileira de Ciências do Esporte 1999;20(2/ 3):119-25. 12. Ferry A, Duvallet A; Rieu M. The effect of experimental protocol on the relationship between blood lactate and workload. Journal Sports Medicine 1998;28:341-7. 13. Guyton AC. Fisiologia humana. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1988. 14. Fox E, Mathews DK. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1986. 15. Lebre E. Avaliação da intensidade do esforço na ginástica rítmica desportiva. In: Bento J, Marques A. (editores). Desporto, Saúde, Bem-estar. Lisboa: Actas; 1991. p. 291-303. Saúde em Revista Modelação Competitiva em Basquetebolistas 17

16. Kokobun E, Daniel JF. Relação entre a intensidade e duração das atividades em partida de basquetebol com as capacidades aeróbia e anaeróbia: estudo pelo lactato sangüíneo. Revista Paulista de Educação Física 1992;6(2):37-46. 17. Maresh CM, Wang BC, Goetz RA. Plasma vasopressin, renin activity, and aldosterone responses to maximal exercise in active college females. European Journal of Applied Physiology 1985;85:398-403. 18. Rodrigues M, Alarcón F, Cárdenas D. Análisis del salto en Baloncesto. In: Federacion Espanhola de Baloncesto (organizadores). Proceedings of the I Congresso Iberico de Baloncesto; 10-14/jun/2001. Barcelona, Espanha. Barcelona: FEB; 2001. p. 135-8. 19. Moreira A, Souza M, Oliveira PR. Controle das reações metabólicas de basquetebolistas adultos em partidas oficiais. In: CELAFISCS. Anais do XXV Simpósio Internacional de Ciências do Esporte; 10-12/out/2002; São Paulo. São Paulo: CELAFISCS; 2002. p. 58. 20. Fox EL. Sports physiology. 2 ed. Philadelphia: WB Saunders; 1999 21. Gillam GM. Physiological basis of basketball bioenergetics. NSCA J 1985;6:44-71. 22. Gillam GM. Identification of anthropometric and physiological characteristics relative to participation in college basketball. NSCA J 1986;7:34-6. 23. Woolstenhulme MT, Bailey BK, Allsen PE. Vertical jump, anaerobic power, and shooting accuracy are not altered 6 hours after strenght training in collegiate women basketball players. Journal Strenght Conditional Research 2004;18(3):422-5. 24. Borin JP, Gonçalves A, Padovani CR, Aragon FF. Intensidade de esforços em atletas de basquetebol, Segundo ações de defesa e ataque: estudo a partir de equipe infanto-juvenil do campeonato paulista de 1996. Revista Treinamento Desportivo 2000;5(1):19-26. 25. Zakharov A. Ciência do treinamento desportivo: Aspectos teóricos e práticos da preparação do desportista. Rio de Janeiro: Palestra Sport; 2003. Submetido: 21/jun./2006 Aprovado: 15/set./2006 18 SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (21): 13-18, 2007