Linhas de Consenso. Parotidectomia. Consensos & Estratégias 2015. Linhas de Consenso em Enfermagem para uma melhor intervenção



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Consensos & Estratégias 2015 aeop grupo cabeça-pescoço Linhas de Consenso Linhas de Consenso em Enfermagem para uma melhor intervenção

Prefácio As Glândulas Salivares podem ser divididas em glândulas salivares Major ou Maiores (Parótidas, Submandibulares e Sublinguais) e em glândulas salivares Minor ou Menores 1. As neoplasias das glândulas salivares representam cerca de 3% dos tumores de cabeça e pescoço, na sua grande maioria na glândulas Parótida. Apesar de representarem uma pequena parte dos tumores de cabeça e pescoço, algumas das complicações da cirurgia excisional da glândula Parótida, surgem em grande número. A título de exemplo, a paralisia facial transitória, por manipulação do nervo facial, pode afetar dois terços dos doentes operados. Nestas situações a intervenção precoce e mais adequada leva a uma melhor e mais rápida recuperação. A elaboração deste documento iniciou-se em outubro de 2013, com discussão em sessão científica em março de 2014 e apresentação e redação final em abril de 2015. Pedro Cardoso Coordenação Grupo AEOP - Cancro Cabeça-Pescoço 2

Intervenções de Enfermagem na pessoa submetida a I. Breve resumo da anatomia e fisiologia da glândula parótida As parótidas são as glândulas salivares mais volumosas, serosas, que produzem saliva aquosa e estão localizadas bilateralmente junto ao pavilhão auricular. A glândula parótida drena a saliva na cavidade oral através do canal de Stenon, também denominado canal parotídeo. Este, proveniente da face anterior da glândula, atravessa a face lateral do músculo masséter e o músculo bucinador, entra na cavidade oral junto ao segundo molar superior, onde drena a saliva 1. Da superfície para a profundidade, as estruturas que atravessam esta glândula são: o nervo facial, a veia retro-mandibular e a artéria carótida externa 2. A vascularização é feita pela carótida externa e seus ramos terminais (temporal superficial e maxilar) 2. A inervação parassimpática é feita pelo glossofaríngeo 2. O nervo facial sai do crânio pelo orifício stilo-mastoideu, passa pela glândula parótida e divide-se geralmente em 2 ramos, que posteriormente se subdividem e enervam os músculos faciais. O nervo facial, ao atravessar a glândula parótida, divide-a em dois lobos: lobo superficial e lobo profundo.dos 1500 ml de saliva produzidos diariamente pelo individuo adulto, 25 a 35% é produzido pelas glândulas parótidas. A saliva tem importantes funções: lubrificante e digestiva. Assim, desordens a nível da glândulas salivares que afectem a composição e secreção salivar irão levar a maior predisposição para doenças da cavidade oral 3. Glândula Parótida Glândula Submandibular Glândula Sublingual Lobo Superficial Lobo Profundo Figura 1: Localização da glândula parótida, relativamente às outras glândulas salivares Major http://www.asisccmaxilo.com/tratamientos-quirurgicos/ glandulas-salivares/ acedido a 3/4/13 às 13 horas Figura 2: Visualização anatómica da glândula parótida http://www.asisccmaxilo.com/tratamientos-quirurgicos/glandulassalivares/cirugia-de-la-parotida/ acedido a 3/4/13 às 13:30horas 3

II. Principais distúrbios da glândula parótida Dos principais distúrbios que afectam a glândula parótida salientam-se os inflamatórios e infecciosos (por exemplo: parotidite aguda, parotidite crónica, parotidite recorrente, etc.); os obstrutivos (por exemplo: fenômeno de extravasamento de muco, sialolitíase, etc.) e os neoplásicos. As neoplasias das glândulas salivares correspondem a menos de 3% dos tumores de cabeça e pescoço, sendo que destes 80% correspondem a tumores da parótida 4. Nas glândulas Parótidas 25% dos tumores têm etiologia maligna 5,6. Os fatores etiológicos não estão bem definidos, mas estudos sugerem associações com 2 : Radiação 2 (tratamentos prévios de radioterapia em baixa dosagem 7 ); Tabagismo (apesar de não estar diretamente ligado ao aparecimento de tumores das glândulas salivares, tem sido associado ao tumor de Warthin) 2 ; Vírus Epstein-Barr (em carcinomas indiferenciados) 2 ; Fatores genéticos (relacionados com o gene p53 e o MDM2) 2,6. O principal sintoma dos doentes com neoplasia da parótida é o aumento do volume da região pré-auricular. Nos casos das neoplasias malignas, podem ocorrer outros sintomas como dor, paralisia facial e a ulceração local da pele, entre outros 4,8. É de salientar que a dor também pode ocorrer nas neoplasias benignas, logo este sintoma não deve ser utilizado como parâmetro para diferenciar as neoplasias. É ainda de ressalvar que apesar da paralisia do nervo facial surgir fortemente nas neoplasias malignas, não é exclusiva, uma vez que pode ocorrer pela compressão ou estreitamento do nervo por tumores benignos volumosos. São sinais sugestivos de malignidade a fixação da massa e a indefinição em relação às estruturas adjacentes 2. Para confirmação do diagnóstico são utilizados meios imagiológicos como a ecografia e a TAC, mas é sobretudo a citologia aspirativa que fornece um elemento fundamental para o mesmo. O diagnóstico definitivo só pode ser obtido pelo exame anatomopatológico. O adenoma pleomórfico é a neoplasia benigna mais comum da glândula parótida, representando cerca de 60 a 70%, com maior incidência entre os 40 e os 60 anos. Em 90% dos casos surge no lobo superficial e a única forma de tratamento é a remoção cirúrgica do tumor e/ou da região lesada: parotidectomia 9. O tumor de Warthin é o segundo tumor benigno mais frequente que afecta a glândula parótida 2. O carcinoma mucoepidermóide é o tumor maligno mais comum que afecta a glândula parótida, seguido do adenoma cístico 8. III. Tratamento dos distúrbios neoplásicos da glândula parótida O tratamento de eleição para as neoplasias salivares é a excisão cirúrgica completa. O tipo de cirurgia a realizar depende da etiologia do tumor. Em alguns casos pode ser necessário a excisão ou secção eletiva de estruturas nervosas ou vasculares, dependendo do comportamento biológico do tumor, tamanho e localização do mesmo, invasão de estruturas vasculares e linfáticas loco-regionais. No caso de tumores malignos com metastização cervical, há a necessidade de se associar à parotidectomia, a realização de esvaziamentos linfáticos cervicais. Nas neoplasias parotídeas, geralmente, a parotidectomia superficial com identificação e preservação do nervo facial é curativa. A ressecção completa da parótida está indicada nos tumores malignos assim como a ressecção com reconstrução do nervo facial se o mesmo estiver envolvido 2. A radioterapia associada à cirurgia aumenta a sobrevida dos pacientes. A radioterapia exclusiva, assim como a quimioterapia são utilizadas com caracter excecional ou como tratamento paliativo 2. 4

IV. A parotidectomia pode ser superficial, total ou radical. A parotidectomia deve ser efetuada com técnicas com margens cirúrgicas adequadas 10, porque o núcleo tumoral pode estar ligado a pequenos nódulos à volta, por filamentos do tecido tumoral. A Superficial é utilizada com maior frequência que a Total, pois a maioria dos tumores desta glândula, cerca de 80%, localizam-se no lobo superficial. 10 total Consiste na remoção completa de toda a glândula parótida (lobo superficial e lobo profundo) com conservação do nervo facial. Este procedimento cirúrgico está indicado para tumores com elevado grau de malignidade e tumores localizados no lobo profundo 9. Superficial Consiste na resseção da porção inferior da glândula parótida (lóbulo superficial) após identificação e preservação do nervo facial. Este procedimento está indicado para tumores situados na região superficial da glândula parótida. O tratamento do adenoma pleomórfico da parótida é a parotidectomia superficial com resseção do tumor com margem cirúrgica adequada 9. Lobo Profundo Figura 3: total (visualização do nervo facial) http://www.asisccmaxilo.com/tratamientos-quirurgicos/glandulassalivares/cirugia-de-la-parotida/ acedido a 3/4/13 às 13 horas Radical Excisão completa da glândula Parótida com seção do nervo facial. Indicada no tratamento de tumores malignos com invasão do nervo facial ou que estão íntimamente relacionados com o nervo. Defende-se a tentativa de reconstrução do nervo facial, se possível, no mesmo ato cirúrgico 7. Lobo Profundo Figura 3: superficial (visualização do nervo facial e lobo profundo) http://www.asisccmaxilo.com/tratamientos-quirurgicos/glandulassalivares/cirugia-de-la-parotida/ acedido a 3/4/13 às 13 horas 5

V. Complicações Pós-Operatórias da As complicações da cirurgia dos tumores da parótida estão diretamente relacionadas com o tipo de cirurgia, com a sua extensão e com a iatrogenia cirúrgica 10. Como acontece nas maiorias das cirurgias, poderá ocorrer hemorragia, hematoma, seroma, infeção e deiscência da mesma da ferida cirúrgica 2. A complicação pós-operatória mais comum de uma parotidectomia, é a paralisia do nervo facial, podendo ser definitiva ou temporária. O risco de lesão do nervo facial deve- -se à sua proximidade com a parótida e esta pode ocorrer acidental ou intencionalmente (caso o nervo se encontre invadido pelo tumor). Nos casos de lesão do nervo facial poderá recorrer-se à reconstrução do ramo afetado através de anastomoses cirúrgicas (nervo grande auricular). Estudos referem que a reconstrução dentro de 3 meses após a cirurgia é mais eficaz. O risco de paralisia do nervo facial é 2 a 3 vezes maior quando se realiza uma parotidectomia total comparativamente a uma parotidectomia superficial (60 e 26% respetivamente), pela maior manipulação dos ramos nervosos para libertar o lobo profundo. Outra das complicações mais frequentes é o Síndrome de Frey, ou Síndrome Auriculo-Temporal. Caracteriza-se por eritema, sudorese e calor na face proximal à localização anatómica da parótida lesada, sendo o eritema mais comum nas mulheres e a sudorese mais frequente nos homens. Inicia-se com um qualquer estímulo gustativo. Esta síndrome pode também surgir após traumatismo, infeção ou outra cirurgia da articulação temporo-mandibular. A teoria da regeneração aberrante é a mais aceite para explicar este fenómeno e defende que as fibras parassimpáticas do nervo aurículo- -temporal lesado se juntam às fibras simpáticas das glândulas sudoríparas subcutâneas. Desta forma, o refluxo salivar desencadeado durante a mastigação para além da produção de saliva também induz a sudorese e eritema da região parotídea 11. A diminuição da sensibilidade e a dormência do lóbulo da orelha é uma complicação frequente e designa-se por hipoestesia do lóbulo da orelha. É provocada pela seção do nervo grande auricular (que inerva o pavilhão auricular),o que na maioria das vezes é inevitável na devido à proximidade 12. Algumas complicações menos frequentes, mas descritas na literatura são o trismus e as fístulas salivares. O trismus manifesta-se pela incapacidade de abrir a boca adequadamente. Resulta da inflamação e fibrose dos músculos envolvidos na mastigação 11. Leva a alterações na alimentação, com dificuldade ou impossibilidade de mastigação, conduzindo a alterações no estado nutricional e ponderal, distúrbios da fala ou impossibilidade de higiene oral adequada. As fístulas salivares consistem na acumulação de saliva por baixo da pele da área operada. Surgem quando, da porção restante da parótida, há extravasamento da saliva para a loca parotídea. Esta situação agrava-se com a mastigação 12. 6

V. Intervenções ao doente submetido a Admissão e socialização do doente ao serviço de internamento; Avaliação inicial do doente; Ensino e orientação do doente sobre os procedimentos pré-operatórios; Tricotomia do couro cabeludo na região pré, supra e retro auricular numa margem de 4cm; Adoptar procedimentos do serviço/instituição. Préoperatório Pósoperatório imediato (primeiras 24 horas) Vigiar o estado de consciência; Monitorizar sinais vitais; Vigiar os sistemas de drenagem (permeabilidade do dreno, características e quantidade do líquido drenado); Vigiar o local operado (despiste de hemorragia, edema, hematoma) e o penso operatório (integridade do penso). Em caso de perda da integridade, realizar tratamento à ferida cirúrgica com técnica assética, avaliando a sutura e local peri-sutura e realização de penso oclusivo; Vigiar eliminação vesical; Elevar a cabeceira a 30 (para diminuir o risco de edema); Avaliar mímica facial (o comprometimento do nervo facial pode ser comprovado 1 a 3 horas após o doente ter acordado da anestesia); Elevar a cabeceira a 30 º (para diminuir o risco de edema); Iniciar ensinos sobre exercícios de reabilitação da mímica facial; Iniciar alimentação oral (dieta líquida), assim que o estado de consciência o permita. PÓS- OPERATÓRIO TARDIO (após as primeiras 24 horas) Vigiar o estado de consciência; Monitorizar o quadro álgico; Vigiar os sistemas de drenagem (permeabilidade do dreno, características e quantidade do líquido drenado); Iniciar ensinos sobre a mobilidade do doente, por forma a otimizar os sistemas de drenagem; Avaliar mímica facial. Em caso de não encerramento completo da pálpebra: realizar penso ocular noturno; irrigar frequentemente o olho com soro fisiológico ou lágrimas artificiais, aplicar pomada antibiótica para proteger o olho e evitar conjuntivites (se prescrito); Avaliar o domínio dos exercícios de reabilitação da mímica facial e reforçar sempre que necessário; Vigiar o local operado (despiste de hemorragia, edema, hematoma); Realização de tratamento à ferida cirúrgica com técnica assética e penso oclusivo; Ensino sobre elevação da cabeceira a 30 no leito; Promover a higiene oral; Vigiar possíveis complicações cirúrgicas; Promover primeiro levante; Atender a aspetos psicológicos: possíveis alterações da auto-imagem e prestar apoio emocional, se necessário. Preparação para a alta Penso à sutura operatória e ao exlocal de inserção do dreno; Em caso de não encerramento completo da pálpebra, realizar ensino sobre execução de penso ocular noturno; irrigação frequente do olho com soro fisiológico ou lágrimas artificiais; aplicação de pomada antibiótica para proteger o olho e evitar conjuntivites (se prescrito); incentivar à utilização de óculos de sol para protecção solar, de poeiras e vento; Incentivar à realização de higiene oral pelo menos 3 vezes por dia; Ensino sobre despiste de complicações (vigiar o local operado e área circundante, incluindo ex-local de inserção do dreno, no que se refere ao aparecimento das seguintes alterações: Edema; Calor; Dor; Rubor e Ardor); Avaliar a mímica facial e reforçar a importância dos exercícios de reabilitação da mesma. Se necessário, promover o encaminhamento para profissional de saúde habilitado; Carta de alta de Enfermagem, com as indicações necessárias à remoção da sutura, assim como à avaliação dos ensinos realizados sobre os exercícios de reabilitação da mímica facial. 7

Anexo. Plano de exercícios de reabilitação da mímica facial Os exercícios de reabilitação da mímica facial deverão ser realizados várias vezes ao dia, em frente ao espelho, auxiliando a execução do exercício com a mão homolateral 13. Franzir as sobrancelhas Deverá elevar as sobrancelhas, fortalecendo desta forma o músculo occipitofrontal. Comprimir os lábios Deverá fazer um movimento semelhante ao do assobio, por forma a exercitar os músculos bucinador, orbicular dos lábios e quadrado do mento. Fechar os olhos com força Deverá fechar os olhos com força, abruptamente, reforçando os músculos supraciliar e orbicular das pálpebras. Sorrir com os lábios juntos Deverá procurar sorrir sem mostrar os dentes, trabalhando sobre o músculo risorius. Franzir o nariz Deverá tentar unir as sobrancelhas à parte superior do nariz, enrugando a testa, pretendendo reforçar o músculo supraciliar. Baixar o lábio inferior Deverá baixar o lábio inferior, de modo a reforçar o músculo orbicular dos lábios e quadrado do mento. Sorrir mostrando os dentes Deverá sorrir mostrando os dentes, atuando sobre os músculos risorius de Santorini e quadrado do mento. Encher as bochechas de ar Deverá encher a boca de ar, forçando as bochechas, para reforço dos músculos bucinador, orbicular dos lábios e quadrado do mento. 8

Coordenação: Pedro Cardoso Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço / Urologia, IPO Coimbra Contribuição dos autores: Carla Santos (Serviço de CCP, ORL e Endocrinologia, IPO Lisboa) Cláudia Dias (IPO Coimbra) Cristina Silva (IPO Porto) Ema Neves (CHU Coimbra) Inês Frade (Serviço de CCP, ORL e Endocrinologia, IPO Lisboa) Joana Ferreira (Oncologia Médica, IPO Coimbra) Sandra Santos (IPO Coimbra) Primeira Discussão: Reunião Oncologia Primavera 2014 Apresentação Final: Reunião Oncologia Primavera 2015 Bibliografia Consultada: 1. Seeley, R; Stephens, T.; Tate, P. (1997). Anatomia & Fisiologia. 3ª Ed. Lisboa: Editora Lusodidacta. 2. Ogawa, A. [et al.]. (2008). Neoplasia das Glândulas Salivares. Arq. Int. Otorrinolaringol., 12(3), 409-418. 3. http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/2296/ tumores_de_glandulas_salivares.htm acedido a 4/1/13 às 15horas 4. Junior, A.; Almeida, O.; Kowalski, L. (2009). Neoplasias de Parótida: análise de 600 pacientes atendidos em uma única instituição. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, 75 (4), 497-501 5. http://www.internationalarchivesent.org/additional/acervo_port. asp?id=272, acedido a 23 de dezembro de 2014, 12h00. 6. http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/acervo_port. asp?id=549, acedido a 23 de dezembro de 2014, 12h15. 7. Filho, J. [et al.]. (2000). Tratamento dos Tumores da Cabeça e Pescoço e Base de Crânio. Cancerologia Actual: um enfoque Multidisciplinar, 17 21. 8. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1808-86942009000400005&script=sci_arttext&tlng=pt, acedido a 23 de dezembro de 2014, 14h00 9. Tiago, R. [et al.]. (2003). Adenoma pleomórfico de parótida: aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 1, 486 488 10. Kligerman, J. [et al.]. (2003). Complicações das cirurgias dos Tumores das glândulas salivares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 31(2), 55-60. 11. Goulart, A.; Soares, V.; Koch, P. Prevalência do Síndrome de Frey após. Revista Portuguesa de Cirurgia, Série II, nº 24, Março 2013. 12. Marchese-Ragona R. [et al.](2005). Treatment of complications of parotid gland surgery. Acta Otorhinolaryngologica Italica, 25(3), 174-178. 13. http://paralisiafacial.com/paralisia-facial-exercicios-faciais. html, acedido a 10 de fevereiro de 2014, 14h00. 14. Pereira, Teresa; Santos, Rui (2008). Reabilitar um rosto uma pessoa. Enformação, nº9, Julho 2008, 14-15. 15. Whitby, Robin. Paralisia de Bell: tratamento e evolução. UPDATE, Ano 12, Julho 2001, 32-33. 9

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