A SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA



Documentos relacionados
TÍTULO: SÍNDROME DE BURNOUT VOLTADO À PROFISSIONAIS DO SETOR DE NEONATOLOGIA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PONTA DELGADA AÇORES 08 a 10 de MAIO de 2013 Emmanuel Fortes S. Cavalcanti 3º Vice Presidente CFM - Brasil

SÍNDROME DE BURNOUT: ATIVIDADES PREVENTIVAS COM PROFISSIONAIS DA SAÚDE DA FAMÍLIA

A Saúde Mental dos Trabalhadores da Saúde

TRABALHADORES DE SAÚDE DE UM MUNICÍPIO DO RIO GRANDE DO SUL

Paula A.S.F. Martins Enfermeira, doutora em Enfermagem Psiquiátrica (EEUSP), especialista e mestre em Enfermagem Psiquiátrica e em Saúde Mental

CURSO: ENFERMAGEM. Objetivos Específicos 1- Estudar a evolução histórica do cuidado e a inserção da Enfermagem quanto às

SÍNDROME DE BURNOUT e a equipe de enfrmagem

A psicologia tem uma dimensão prática que se integra em vários contextos e instituições sociais: escolas, hospitais, empresas, tribunais, associações

EMENTAS DAS DISCIPLINAS

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Problema Geral de Investigação

Lidando com o paciente oncológico C A M I L A M A N O S S O F U N E S J É S S I C A D E O L I V E I R A S T O R R E R

Gestão de Qualidade. HCFMRP - USP Campus Universitário - Monte Alegre Ribeirão Preto SP Brasil

De volta para vida: a inserção social e qualidade de vida de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial

Evanir Soares da Fonseca

FÓRUM DE HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR E VOLUNTARIADO

A importância da Ergonomia Voltada aos servidores Públicos

Lucas Garcia. Gerente de Produto EPIMED - Segurança do Paciente Departamento de Enfermagem SOTIERJ

PALAVRAS-CHAVE: Uso Racional de Medicamentos. Erros de medicação. Conscientização.

INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFESSORES DA ÁREA DA SAÚDE DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ PR

ESTRESSE OCUPACIONAL SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO

MEDIDAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DE CÁRIE EM ESCOLARES ADOLESCENTES DO CASTELO BRANCO

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

SÍNDROME DE BURNOUT, A SÍNDROME DA ESTAFA PROFISSIONAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA.

GARANTIA DA QUALIDADE DE SOFTWARE

PRINCÍPIOS Prevenção e o controle das doenças, especialmente as crônico-degenerativas estimulam desejo

PROTEÇÃO DA SAÚDE MENTAL EM SITUAÇÕES DE DESASTRES E EMERGÊNCIAS (1)

Doença de Alzheimer: uma visão epidemiológica quanto ao processo de saúde-doença.

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Disciplina MSP 0670-Atenção Primária em Saúde I. Atenção Básica e a Saúde da Família 1

O CUIDADO PRESTADO AO PACIENTE ONCOLÓGICO PELA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

Humanização no atendimento do Profissional Envolvidos Com as Técnicas Radiológicas

AÇÕES EFETIVAS DE GERENCIAMENTO DO STRESS OCUPACIONAL: Desafio de Conciliar Embasamento Científico e Planejamento Estratégico

III CONGRESSO BRASILEIRO DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E I ENCONTRO LATINO-AMERICANO SOBRE FAMILIA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

MANUAL ATRIBUIÇÕES E ROTINAS PSICOLOGIA HOSPITALAR

Pesquisa. Há 40 anos atrás nos encontrávamos discutindo mecanismos e. A mulher no setor privado de ensino em Caxias do Sul.

Gerenciamento de Problemas

Síndrome de Burnout. Astrid Guerra Barros Psicóloga pós-graduanda em Terapias Cognitivas Comportamentais

ESTUDO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO PARA EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA. Palavras-Chave: Custos, Formação de Preço, Economia Solidária

Suplementar após s 10 anos de regulamentação

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PSICOLOGIA DA FACULDADE ANGLO-AMERICANO

POLÍTICA DE SEGURANÇA POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM-ESTAR NO TRABALHO

FORMAÇÃO PROFISSIONAL COMO FATOR ESTRATÉGICO. Praia, 20 Outubro Organização da Apresentação. Formação Profissional como fator estratégico;

UMA PESQUISA SOBRE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO IFC-CÂMPUS CAMBORIÚ

TÍTULO: ERROS DE MEDICAÇÃO NA ENFERMAGEM: NO PACIENTE ADULTO HOSPITALIZADO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO PROCESSO ASSISTENCIAL À FAMÍLIA DE RECÉM-NASCIDO DE RISCO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA.

Níveis de atenção à saúde e serviços de saúde

Processo de Construção de um Plano de Cargos e Carreira. nas Organizações Públicas Brasileiras

ALERTA PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM SOBRE OS SINTOMAS DA SÍNDROME DE BURNOUT

QUALIFICAÇÃO DA ÁREA DE ENSINO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA PROFISSIONAIS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Manual de Competências do Estágio dos Acadêmicos de Enfermagem-Projeto de Extensão

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO PARECER COREN-SP GAB Nº 053 / 2011

Worldwide Charter for Action on Eating Disorders

Saúde Mental do Trabalhador. Grazieli Barbier Barros Terapeuta Ocupacional Especialista em Saúde Pública e da família.

Regulamento Institucional do Serviço de Apoio Psicopedagógico SAPP

MANUAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE FISIOTERAPIA

1 SEPAGE Seminário i Paulista de Gestão em Enfermagem. Liderança Coaching e Desenvolvimento de Pessoas

II TEXTO ORIENTADOR 1. APRESENTAÇÃO

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

GINÁSTICA LABORAL Prof. Juliana Moreli Barreto

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Avaliação Psicossocial: conceitos

CURSO DE ATUALIZAÇÃO. Gestão das Condições de Trabalho e Saúde. dos Trabalhadores da Saúde

Gestão da Qualidade. Gestão da. Qualidade

Reportagem Gestão de Resíduos

Planejamento de Recursos Humanos

Carreira: definição de papéis e comparação de modelos

MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS)

RESOLUÇÃO. Artigo 2º - O Currículo, ora alterado, será implantado no 2º semestre letivo de 2001 para os alunos matriculados no 4º semestre.

REDUÇÃO DE DANOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Desigualdades em saúde - Mortalidade infantil. Palavras-chave: mortalidade infantil; qualidade de vida; desigualdade.

Aula 1 Uma visão geral das comorbidades e a necessidade da equipe multidisciplinar

Segurança Comunitária

b) supervisionar o cumprimento desta política pelas entidades integrantes do Sistema Sicoob;

Atenção à Saúde e Saúde Mental em Situações de Desastres

LER/DORT. Dr. Rodrigo Rodarte

Equipe: Ronaldo Laranjeira Helena Sakiyama Maria de Fátima Rato Padin Sandro Mitsuhiro Clarice Sandi Madruga

PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO PROFISSIONAL

Curso de Especialização em GESTÃO EM SAÚDE MENTAL

Universidade Federal Fluminense Pós Graduação Enfermagem do Trabalho. Enfermagem em Saúde do Trabalhador

PPRDOC PROGRAMA DE PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS E CRÔNICAS

Tópicos Abordados. Pesquisa de Mercado. Aula 1. Contextualização

Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação Departamento de Ciência da

PAF Programa de Acompanhamento Funcional

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Política de Gerenciamento do Risco Operacional Banco Opportunity e Opportunity DTVM Março/2015

POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM ESTAR NO TRABALHO

Curso de Especialização EM ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS DE PESQUISAS E A OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E VISIBILIDADE DA ENFERMAGEM 1

especialidade Psic. Raquel Pusch

Qualidade de vida no Trabalho

Síndrome de Burnout em médicos e enfermeiros nos serviços de atenção básica em saúde

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA CENTRO DE REFERÊNCIAS TÉCNICAS EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS CONVERSANDO SOBRE A PSICOLOGIA E O SUAS

Gerenciamento de Riscos em Segurança da informação.

POLÍTICA DE SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE (SMS) Sustentabilidade

Transcrição:

A SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA BURNOUT SYNDROME IN HEALTH PROFESSIONALS: A LITERATURE REVIEW Kelly Cristina Alvaredo Matubaro, Maria Cristina Frollini Lunardelli, Amili Martins Ellaro, Larissa Figueiredo Salmen Seixlack Bulhões, Ludmila Limonti de Souza Campus de Bauru Faculdade de Ciências Psicologia Kelly_matubaro@hotmail.com Palavras chaves: Síndrome de Burnout; profissionais da saúde; saúde do trabalhador Keywords: Burnout Syndrome; health professionals; occupational health Introdução A Síndrome de Burnout é uma forma de resposta ao estresse laboral crônico, sendo esta uma condição na qual o trabalhador se desgasta, e desiste, na medida em que perde a satisfação e sentido pelo trabalho. Considerando a situação econômica global e, conseqüentemente, o desemprego, a insegurança e o medo de perder o emprego, é necessário compreender o assunto para promover alternativas e medidas de intervenção eficazes visando a saúde e o bem-estar do trabalhador. Dessa forma, é importante compreender os fatores predisponentes e conseqüentes os quais podem instrumentalizar o psicólogo a intervir para prevenir, tratar ou minimizar a procedência da síndrome, tanto nos profissionais quanto nas organizações. Objetivos O objetivo geral desse estudo foi fazer um levantamento e análise de artigos científicos sobre a Síndrome de Burnout em profissionais da saúde, no período de 2003 à 2009, a fim de atingir os seguintes objetivos específicos: identificar os principais sintomas do quadro clínico, assim como os fatores de risco e desencadeantes para o desenvolvimento da síndrome; compreender os fatores predisponentes e conseqüentes; fazer comparações entre os dados obtidos; identificar profissionais e as profissões da saúde mais afetados, bem como as formas de tratamento, prevenção e possíveis intervenções, principalmente de caráter preventivo, nas organizações. Fundamentação teórica No contexto da globalização, o trabalho não está necessariamente vinculado ao prazer, ao reconhecimento e crescimento profissional, sendo que este vem sendo percebido como uma fonte de sofrimento e adoecimento do trabalhador, que aparece muitas vezes quando o individuo já não passa a modificar sua atividade no sentido de torná-la mais adequada às suas necessidades fisiológicas e a seus desejos (KILIMNIK, 1998). A síndrome de Burnout é definida por Codo e Menezes (2002) como uma condição na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas já não importam mais e qualquer esforço lhe parece ser inútil. De acordo com Maslach e Jackson (1981) a síndrome aparece como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com problemas. Codo e Menezes (2002) também apontam que a síndrome é entendida como um conceito multidimensional que envolve três componentes: (1) exaustão emocional, (2) despersonalização e (3) falta de envolvimento pessoal no trabalho. Segundo Calais e Inocente (2004), o Burnout é resultante da interação de variáveis psicológicas, biológicas e socioculturais, além de fatores de risco e multideterminantes que aumentam a probabilidade do desenvolvimento e da manutenção da síndrome. Dessa forma, o grau e o tipo de manifestações dependerão da configuração de fatores individuais (predisposição genética, experiências socioeducacionais) e fatores ambientais (locais, pessoas e condições de trabalho). 00981

Metodologia Para o levantamento bibliográfico, buscou-se artigos e revistas científicas acerca da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde, no período de 2003 a 2009, nas seguintes bases de dados: IndexPsi, Scielo, Lilacs e PsycInfo. Além disso, alguns livros foram consultados para conhecimentos gerais a respeito do assunto. Após a coleta, as informações e resultados obtidos foram analisados e comparados, considerando alguns aspectos relevantes da síndrome em profissionais da saúde, como por exemplo, os principais desencadeantes e fatores de risco, as estratégias de intervenção que apontam resultados positivos, comparações entre os profissionais da saúde mais afetados, as condições de trabalho, entre outros. Resultados Foram identificados 11 estudos dos quais apenas um se apresentava como uma revisão bibliográfica, sendo que os dez restantes se caracterizavam por uma pesquisa de campo. Dentre os estudos encontrados, a população mais investigada foi médicos em geral, enfermeiros e assistentes de enfermagem. E um estudo apresentou investigação com agentes comunitários da saúde. Na investigação com agentes comunitários da saúde (Programa de Saúde da Família), Silva e Menezes (2008) realizaram uma pesquisa com agentes de unidades básicas de saúde para medir as três dimensões da síndrome do esgotamento profissional: exaustão emocional, despersonalização e decepção (baixa realização pessoal). Nos resultados, 24,1% dos entrevistados apresentaram a síndrome de esgotamento profissional, sendo que a maioria apresentou exaustão emocional. Outra pesquisa realizada com diversos profissionais dois médicos, um secretário, um psicólogo, um farmacêutico, um enfermeiro e três auxiliares de enfermagem que atuam numa clínica de oncologia pediátrica, apontou como fontes de estresse as dificuldades da organização do trabalho, bem como as características da doença, seu tratamento e a morte de crianças (RAMALHO; NOGUEIRA- MARTINS, 2007). Em estudos realizados com médicos (BARROS et al., 2008; LIMA et al., 2004; TUCUNDUVA et al., 2006), avaliou-se a síndrome de Burnout nas suas três dimensões, classificadas em níveis baixo, moderado e alto. Dentre essas pesquisas, participaram médicos intensivistas que trabalhavam na UTI adulto (com prevalência da síndrome de 63,3%, sendo que a principal dimensão afetada foi a exaustão emocional); médicos residentes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (20,8% apresentaram incidência de Burnout, 65% da população estudada apresentou classificação alta em exaustão emocional); cancerologistas (indícios da síndrome em 15,7% dos médicos, nos quais 55,8% na dimensão exaustão emocional). Assim também, outros estudos (FOGAÇA et al., 2008; HERNANDEZ, 2003; FELICIANO; KOVACS; SARINHO, 2005) foram realizados com duas populações: médicos e enfermeiros. Fogaça et al. (2008) realizaram uma revisão bibliográfica sobre estresse ocupacional e Burnout em médicos e enfermeiros que trabalham em unidade de terapia intensiva pediátrica e neonatal (UTIPN). Hernandez (2003) realizou um estudo transversal com profissionais da saúde dos níveis primário e secundário de atendimento, a respeito de estresse e Burnout. Os resultados concluíram que assim como o gênero e a profissão, o nível de atendimento também diferenciou as respostas de estresse e Burnout. Feliciano, Kovacs e Sarinho (2005) pesquisaram os sentimentos de profissionais dos serviços de pronto-socorro pediátrico diante das situações de trabalho, tendo como foco os componentes do Burnout. Jodas e Haddad (2009), em uma pesquisa com trabalhadores de enfermagem atuantes no Pronto Socorro do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), investigaram os sinais e sintomas de Burnout nos participantes. Constatou-se que 8,2% apresentaram sinais da síndrome. Paschoalini et al. (2008) investigaram possíveis indicadores de alterações cognitivas, depressão, ansiedade e agentes estressores ocupacionais em auxiliares e técnicos de enfermagem e enfermeiros de diversos setores da Santa Casa de Misericórdia de Assis-SP. Em uma pesquisa de Gil-Monte e Marucco (2008) realizada em Buenos Aires, foi utilizado critérios de diferentes países, para analisar Síndrome de Burnout em pediatras de hospitais gerais. Foram utilizados diferentes critérios referentes a vários países para estabelecer sua prevalência, que variou muito de acordo com 00982

o critério de cada país. Essa pesquisa permitiu concluir que as influências transculturais podem influir significativamente nos critérios para estabelecer a prevalência da Síndrome de Burnout. Discussão Analisando os resultados das pesquisas revisadas pode-se verificar que o componente da síndrome que aparece com maior prevalência é a exaustão emocional. Quanto às fontes de estresse relacionadas ao diagnóstico da Síndrome de Burnout, as mais recorrentes foram: a falta de reconhecimento do trabalho, problemas na rotina, falhas na coordenação do grupo de trabalho, falta de recurso de auxílio ao profissional, fraca estrutura administrativa no serviço de saúde, falta de apoio social, discrepância entre a remuneração e o esforço empregado, falta de oportunidades de desenvolvimento pessoal, sobrecarga de trabalho, entre outros. Além disso, também foi identificado: necessidade de atualização de informação para assegurar a competência profissional, conflitos com superiores, sentir muita responsabilidade nos resultados de atendimento aos pacientes, baixo reconhecimento por parte da população assistida, etc. Por outro lado, a prevalência de Burnout foi menor entre os profissionais que referiram ter algum hobby, que praticavam atividade física regular, apresentavam maior tempo e experiência na área de atuação, que possuíam título de especialista, entre outros. Os sintomas indicativos de Burnout foram transtornos do sono, cefaléias, ansiedade, irritabilidade, depressão, fadiga ou fraqueza, azia ou acidez estomacal, níveis elevados de cortisol, etc. Além disso, também são indícios da síndrome a ocorrência de cansaço, esgotamento, angústia e revolta pela sobrecarga e limitações dos recursos frente às situações que envolvem risco de vida, temor de cometer enganos fatais, o descrédito nas possibilidades de mudanças e a vontade de desistir, sentimento de inadequação e fracasso, sentimento de pouco tempo para si, dores nos ombros e nuca, sentimento de cansaço mental e estado de aceleração contínuo. Algumas atitudes diante do trabalho, citadas pelas pesquisas, as quais tornam o profissional vulnerável ao desenvolvimento de Burnout são: envolver-se profissional e não pessoalmente na ajuda aos pacientes e familiares, aumentando a ansiedade ou estimulando a racionalização por meio do distanciamento emocional; o confronto entre os limites e potencialidades dos serviços e as necessidades dos usuários, que podem provocar atritos entre os profissionais e pacientes; desconfiança em relação aos colegas de profissão. Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de intervenções institucionais de capacitação e apoio para que o profissional possa lidar com os aspectos subjetivos da atividade assistencial, prevenindo-se contra a instalação do Burnout. As alternativas apontadas pelas pesquisas para a prevenção da síndrome foram menos burocracia, limitação do número de pacientes atendidos, e maior quantidade de formação continuada. Conclusão Diante dos dados apresentados pelas pesquisas, percebe-se a necessidade de atenção no gerenciamento da situação de bem-estar dos trabalhadores da área da saúde, considerando que possuem maior proximidade físico-psicológica com o doente/familiares. É importante notar que a dinâmica organizacional do trabalho em hospitais gera grande tensão ocupacional, sendo necessário monitorar periodicamente a saúde mental e física desses trabalhadores. Com base nos artigos pesquisados, algumas indicações para os profissionais da saúde, no que diz respeito ao contexto de trabalho, são: encontrar mecanismos para controlar estressores do trabalho dentro do hospital, usando sistemas de apoio informal e formal; definir limites pessoais em termos de tempo e energia, evitando envolvimento excessivo; manter linhas de comunicação aberta com os colegas; deixar suas necessidades serem conhecidas pelos colegas e supervisores, especialmente quando a limitação dos recursos leva à sobrecarga. No que se refere à vida pessoal, é importante manter equilíbrio entre vida pessoal e profissional, dedicar tempo à família, relaxar, engajar-se em atividades prazerosas, praticar atividades físicas regularmente, entre outros. Em relação ao contexto das instituições, pode-se seguir as recomendações do Ministério da Saúde (2001; 2004): criar canais de identificação das necessidades e expectativas do trabalhador, bem como canais de retorno desta avaliação; criar cursos de capacitação permanentes dos profissionais 00983

de saúde com foco na humanização do serviço; criar sistema de apoio psicológico e social aos profissionais; formar grupos transdisciplinares para discussão de casos clínicos, etc. É importante ressaltar que a função daquele que se propõe a cuidar dos cuidadores é a de ajudar o grupo de profissionais a lidar com seus problemas, os quais podem ser de ordem socioeconômica ou emocional, de uma maneira mais construtiva, desenvolvendo condutas éticas de respeito à dignidade dos pacientes e valorização dos colegas. O sofrimento psíquico inerente à atividade dos profissionais de saúde, ao ser cotidianamente compreendido e elaborado pelos seus protagonistas, poderá ser transformado em desenvolvimento pessoal e construção de conhecimentos. Referências BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. (Org.) Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. CODO, W; MENEZES, I. V. O que é burnout? In: WANDERLEY CODO. (Org.). Educação: Carinho e Trabalho. 3 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002, p. 237-254. FELICIANO, K. V. O.; KOVACS, M. H.; SARINHO, S. W. Sentimentos de profissionais dos serviços de pronto-socorro pediátrico: reflexões sobre o Burnout. Revista Brasileira de Saúde e Maternidade Infantil, Recife, v. 5, n. 3, p. 319-328, 2005. FOGAÇA, M. C.; CARVALHO, W. B.; CÍTERO, V. A.; NOGUEIRA-MARTINS, L. A. Fatores que tornam estressante o trabalho de médicos e enfermeiros em terapia intensiva pediátrica e neonatal: estudo de revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 20, n. 3, p. 261-266, 2008. GIL-MONTE, P. R.; MARUCCO, M. A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo (burnout) en pediatras de hospitales generales. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 3, p. 450-460, 2008. HERNANDÉZ, R. J. Estrés y Burnout em profesionales de La salud de los niveles primario y secundario de atención. Revista Cubana de Salud Publica, v. 29, n. 2, p. 103-110, 2003. JODAS, D. A.; HADDAD, M. C. L. Síndrome de Burnout em trabalhadores de enfermagem de um pronto-socorro de hospital universitário. Acta Paul Enferm, v. 22, n. 2, p. 192-197, 2009. KILIMNIK, Z. M. Trabalhar em tempos de fim dos empregos: mudanças na trajetória de carreira de profissionais de Recursos Humanos. Psicologia, Ciência e Profissão, v.18, n. 2, p. 34-35, 1998. LIMA, F. D. et al. Revista Brasileira de Educação Médica, v.31, n. 2, p. 137-146, 2007. MALASH, C.; JACKSON, S. E. The measurement of experience burnout. Journal of Occupational Behavior, v.2, p. 99-113, 1981. MINISTÉRIO DA SAÚDE NO BRASIL. Manual de Procedimentos para os serviços de Saúde Doenças relacionadas ao Trabalho, Brasília, DF, Brasil: Editora MS, 2001. PASCHOALINI, B.; OLIVEIRA, M. M.; FRIGÉRIO, M. C.; DIAS, A. L. R. P.; SANTOS, F. H. Efeitos cognitivos e emocionais do estresse ocupacional em profissionais de enfermagem. Acta Paul Enferm, v. 21, n. 3, p. 487-492, 2008. RAMALHO, M. A. N.; NOGUEIRA-MARTINS, M. C. F. Vivências de profissionais de saúde da área de oncologia pediátrica. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 1, p. 123-132, 2007. SILVA, A. T. C.; MENEZES, P. R. Esgotamento profissional e transtornos mentais comuns em agentes comunitários de saúde. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 5, p. 921-929, 2008. Tucunduva, L. T. C. et al. A síndrome da estafa profissional em médicos cancerologistas brasileiros. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 52, n. 2, p. 108-112, 2006. 00984

00985