Diagnóstico do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no Distrito Federal - Uma Proposta Metodológica -



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Transcrição:

III Encontro da ANPPAS 23 a 26 de maio de 2006 Brasília-DF Diagnóstico do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no Distrito Federal - Uma Proposta Metodológica - David Rodrigues dos Santos - Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal / Centro de Desenvolvimento Sustentável - Universidade de Brasília Taís Pitta Cotta Instituto de Química; Centro de Desenvolvimento Sustentável - Universidade de Brasília O presente trabalho tem por finalidade propor a aplicação de uma metodologia para o diagnóstico do transporte rodoviário de produtos perigosos no Distrito Federal, havendo ainda a possibilidade de replicação da metodologia em outros estados da federação, uma vez que a metodologia é simples, além de possuir uma efetividade e confiabilidade alta. O produto final do trabalho será a validação da metodologia enquanto ferramenta de pesquisa, produzindo ainda como produto secundário, o diagnóstico do transporte rodoviário de produtos perigosos no Distrito Federal, o qual poderá ser empregado para subsidiar as políticas públicas que tenham por foco a segurança global da população, tanto do ponto de vista da proteção civil, quanto da saúde pública, meio ambiente e segurança pública. O texto, composto de uma parte descritiva e uma discursiva, tem por objetivo demonstrar que a metodologia empregada para traçar o perfil do transporte rodoviário de produtos perigosos no Distrito Federal, é bastante simples, do ponto de vista dos recursos empregados, e muito confiáveis, sob a óptica dos resultados apresentados. Cabe ressaltar que os resultados refletem o momento no qual a metodologia foi aplicada, podendo haver variações, em relação ao perfil descrito, conforme o período de aplicação da metodologia.

Introdução Conforme o Programa Internacional Segurança Química das Nações Unidas- IPCS/UNITAR (1998), as atividades relacionadas à indústria química são essenciais para a sociedade moderna, mas elas podem representar uma ameaça à saúde humana e ao meio ambiente, uma vez que, ao mesmo tempo em que ela propicia grandes progressos, também cria impacto negativo, principalmente por meio dos processos de produção e uso inadequado dos produtos. A crescente preocupação com a questão da segurança química no Brasil e no mundo, tema cada vez mais discutido nos fóruns mundiais, já que o descuido na utilização das substâncias químicas ao longo dos anos causaram graves acidentes cujas causas estavam diretamente ou indiretamente relacionada com a ação antrópica. A Agenda 21 (CNUMAD, 1992), ressalta que os riscos ligados às substâncias químicas ignoram as fronteiras nacionais, e um maior conhecimento sobre os riscos químicos constitui um pré-requisito para a segurança química. De acordo com o Capítulo 19 da Agenda 21, nos últimos anos a contaminação em grande escala por substâncias químicas vem causando graves danos à saúde humana, às estruturas genéticas, à reprodução e ao meio ambiente. Com o crescimento das indústrias do setor químico, cresceu também a necessidade de mais e melhores informações visando à segurança química. Com relação ao Brasil, onde ocorreu transferência de tecnologias, em muitos casos consideradas obsoletas em outros países, é necessário um maior cuidado com as questões de segurança química, pois, além das necessidades inerentes ao setor, existem outros fatores que contribuem para a maior ocorrência de acidentes, como por exemplo, a falta do conhecimento que seria adquirido se a tecnologia tivesse sido desenvolvida no País. Outro fator preocupante é a deficiência dos mecanismos de fiscalização governamentais, que, por não possuem elementos adequados para uma eficiente avaliação de riscos, emitem licenças ambientais sem que seja corretamente considerado este importante aspecto. Existem ainda, problemas relacionados aos conflitos de competência entre as esferas federais, estaduais e municipais. Segundo OLIVEIRA (2004), com relação às substâncias químicas, já foi identificado, e citado em alguns trabalhos, que o controle realizado em nível federal no Brasil é bastante disperso, o que possivelmente gera conflitos de competências e redundâncias regulatórias. Segundo FREITAS e AMORIM (2000),verifica-se que nos anos 80 a capacidade de produção e refino de petróleo mundial ultrapassava a escala de um milhão de toneladas/ano e que o transporte e armazenamento seguiram o mesmo ritmo. Paralelamente, observou-se um aumento no número de seres humanos expostos aos riscos decorrentes dessas atividades, cuja 2

conseqüência direta foi o aumento na freqüência e gravidade dos acidentes envolvendo produtos químicos. Estes acidentes caracterizam-se por serem eventos cujo potencial de danos é ampliado. Em síntese, a característica dos acidentes químicos ampliados é que possuem a capacidade de causarem danos imediatos e grande número de óbitos em um único evento, podendo ainda os seus efeitos ultrapassar os limites espaciais e temporais em relação ao local e momento em que ocorreram. PNUMA/OIT/OMS (1998) define produtos perigosos como sendo uma substância ou substâncias que causam danos à saúde humana e/ou ao meio ambiente, a curto ou em longo prazo. Como exemplo, CIQUIME (1993) cita o acidente ocorrido na Argentina, envolvendo um caminhão-tanque transportando gasolina. Em 15 de setembro de 1992, às 20h30, um caminhão da empresa YPF contendo uma carga de 35.000 litros de gasolina, transitava pela rota nacional n o 7, entre as cidades de Lujan de Cuyo e Cacheuta (Província de Mendonza). Devido a uma falha técnica no sistema de direção, o caminhão desviou da estrada e tombou em um ponto conhecido como curva do nicho. Os serviços locais de emergência foram alertados por pessoas que passavam pelo local. Os agentes de resposta às emergências, quando chegaram ao local, se concentraram no resgate do condutor do caminhão, que havia falecido no ato, descuidando do que ocorria com a carga que estava derramando no Rio Mendoza. A 20 Km do local do acidente se encontrava a captação de água da empresa que abastece as populações de Mendonza, Guaymallén, Godoy Cruz, Las Heras e Maipú (num total de 700.000 habitantes). Devido ao horário em que ocorreu o acidente, a demanda de água era pequena e a gasolina derramada não entrou na rede de distribuição de água. No dia seguinte, ao iniciar as atividades normais das cidades, os habitantes sentiram um sabor estranho na água e as solicitações aos hospitais, centros de emergências, centros de intoxicação e Ministério da Saúde foram inúmeros. As autoridades, ao tomarem conhecimento da situação, constituíram uma comissão de prevenção e contataram o CIQUIME (Centro de Informações Químicas para Emergências - Buenos Aires) solicitando informações para controlar a emergência. Algumas recomendações foram: não clorassem a água para evitar a formação de clorofenóis; não consumo a água até que todas as medidas de prevenção fossem implantadas e determinar a concentração de gasolina na água. Por volta das 11 horas, foi esclarecido que a concentração de gasolina na água não representava risco para a saúde. Entretanto, as medidas de prevenção citadas permaneceram, por precaução, até às 19 horas, causando sérios danos para as cidades afetadas. 3

Segundo o Perfil Nacional da Gestão de Substâncias Químicas - PNGSQ (2003), as plantas químicas estão distribuídas no Brasil conforme a tabela 1, na qual podemos verificar que o Distrito Federal encontra-se em região de confluência das rodovias que cruzam o interior do Brasil, considerando-se que o escoamento da produção brasileira é realizado principalmente pelo modal rodoviário. Tabela 1- Número de Plantas Químicas por Unidade da Federação Unidade da Federação N o de Plantas Químicas Unidade da Federação N o de Plantas Químicas Alagoas 03 Amazonas 05 Bahia 59 Ceará 03 Espírito Santo 03 Goiás 05 Maranhão 01 Minas Gerais 68 Pará 03 Paraíba 04 Paraná 42 Pernambuco 18 Piauí 01 Rio de Janeiro 70 Rio Grande do Norte 03 Rio Grande do Sul 66 Santa Catarina 20 São Paulo 485 Sergipe 03 Total de plantas = 882 Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC, 2002 Segundo o PNGSQ, o Brasil não possui um sistema estruturado de informações sobre o transporte de produtos perigosos, o que prejudica o entendimento da gravidade do problema. Partindo-se deste pressuposto, o presente trabalho busca metodizar o levantamento de informações acerca de produtos químicos, focalizando dentro do ciclo de vida do produto, apenas o vetor do transporte rodoviário, posto que este modal é o mais comumente utilizado no Brasil. Hipóteses O trabalho buscou responder às seguintes questões: 1) O Distrito Federal é apenas corredor de transporte, por onde passam os produtos destinados às Regiões Norte/Nordeste do País, vindos das Regiões Sul/Sudeste; 2) A classe dos líquidos inflamáveis é a que possui a maior quantidade de produtos trafegando pelas rodovias que cruzam o DF; 4

3) O diagnóstico do transporte será utilizado para proposição de políticas públicas interinstitucionais visando a segurança global da população. Metodologia Na década de 80, os estados brasileiros que formam o Conselho de Desenvolvimento dos Estados do Sul (CODESUL), incluídos os três estados da região sul e o Mato Grosso do Sul, propuseram uma nova concepção nas fiscalizações rodoviárias. Inicialmente,as fiscalizações eram realizadas de forma independente por cada órgão, conforme sua competência legal. A proposta apresentada então deveria agrupar todos os órgãos que possuíam competência legal para fiscalizar o transporte rodoviário em uma única ação. Além das polícias rodoviária e militar, estavam presentes também outras instituições que possuem ação fiscalizadora sobre os veículos de transporte rodoviários (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO, Vigilância Sanitária, Polícia Federal, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Departamento Estadual de Estradas e Rodagens, outros). Em 2001, houve uma tentativa de implantação desta metodologia de levantamento de informações no Distrito Federal, sendo que a prática demonstrou que a mesma não possuía efetividade em razão dos seguintes inconvenientes: - As Fiscalizações eram realizadas mensalmente, sendo escolhidos aleatoriamente três dias consecutivos, alternando-se os turnos (matutino, vespertino e noturno) e locais, sendo que a duração das mesmas seguia um padrão médio de 04 horas por dia, uma vez que experiências similares citadas anteriormente demonstraram que a atividade perde efetividade se prolongarse acima deste período; - As fiscalizações eram pontuais e periódicas, sendo necessário que fossem realizadas várias fiscalizações mensais e o cruzamento das informações para validação do diagnóstico, o que redundaria no emprego de um grande efetivo das instituições envolvidas; - As fiscalizações integradas dependem de articulação interinstitucional, sendo que as agendas de cada órgão dificultam a realização constante de operações desta natureza. Desta forma e buscando sempre a efetividade das ações, esta nova proposta metodológica apresentada teve por objetivo utilizar-se dos pontos fortes observados com o emprego da metodologia supra citada e sanar as deficiências desta. A metodologia proposta fundamenta-se na aplicação de questionários aos motoristas de caminhões transportadores de produtos perigosos, utilizando-se dos postos fiscais da Secretaria de Fazenda já existentes, com a finalidade de traçar um diagnóstico mais preciso do transporte rodoviário de produtos 5

perigosos, subsidiando o planejamento das futuras ações, em conformidade com o perfil apresentado. Cita-se ainda como vantagem da metodologia proposta o fato de utilizar-se da estrutura já existente, não sendo necessária a mobilização de diversos órgãos para atingir a eficácia dos resultados. Outra vantagem é a possibilidade de replicação da metodologia por todos os estados da federação que tenham interesse, uma vez que a estrutura a ser utilizado pode sofrer pequenas adaptações conforme a realidade local e ser implantada, com sucesso. Estratégias para implantação da metodologia 1. Pesquisa prospectiva para verificar a existência de outras pesquisas prévias similares, avaliando os pontos fortes e as deficiências destas e razões pelas quais deixaram de serem aplicadas; 2. Análise dos arranjos institucionais dos órgãos que desenvolverão a pesquisa, analisando qual possui o perfil mais adequado para aplicação do questionário (aceitação/rejeição pelo público-alvo, facilidade de mobilização, incentivos institucionais para aplicação do mesmo,interesse nos resultados,etc); 3. Caso a Secretaria de Fazenda não possua os pré-requisitos para aplicação direta do instrumento de pesquisa, realizar a articulação entre esta e o órgão mais adequado para a realização da tarefa; 4. Elaboração do instrumento de coleta de dados, definindo as informações relevantes a serem catalogadas; 5. Definição dos pontos de coleta de dados, identificando os locais estratégicos e representativos estatisticamente do universo a ser pesquisado, tomando-se como base a experiência tanto dos fiscais de tributos quanto dos agentes da via, os quais possuem uma idéia clara dos locais mais adequados para aplicação do questionário; 6. Capacitação dos responsáveis pelo preenchimento dos questionários, minimizando os erros no preenchimento; 7. Aplicação do questionário e definição do período de aplicação; 8. Análise dos dados análise e tratamento estatístico dos dados coletados; 9. Disponibilização dos resultados. No caso do Distrito Federal, foram seguidos todos os passos citados anteriormente, sendo verificado que: 1) A fiscalização realizada nos postos fiscais não contemplava os objetivos da pesquisa, uma vez que a Secretaria de Receita verifica apenas as questões fiscais, não havendo nenhum 6

tipo de diferenciação entre produtos perigosos e qualquer outro tipo de produto, somente a separação dos produtos conforme o regime tributário; 2) A rotina do posto fiscal funciona da forma que segue: o motorista estaciona o veículo no pátio do posto fiscal, dirige-se ao guinche de atendimento e entrega a nota fiscal. Após verificação quanto à regularidade do pagamento dos tributos fiscais, caso o produto tenha por destino o Distrito Federal, é retirada uma das guias da nota fiscal e a mesma é carimbada e segue o destino. Caso haja algum problema, é calculado o imposto devido que deverá ser pago pelo transportador. Caso o veículo tenha por destino outra Unidade da Federação, a nota é carimbada e o transportador segue sua viagem; 3) Embora o sistema de arrecadação da Receita seja informatizado, não é possível buscar as informações necessárias para traçar o diagnóstico do transporte de produtos perigosos, uma vez que dados essenciais não são lançados (nome do produto, quantidade, origem/destino etc). Ressalta ainda que é interesse da Subsecretaria de Receita possuir informações quanto ao perfil e sobre os procedimentos com cargas de produtos perigosos, uma vez que os fiscais muitas vezes se expõem aos riscos ocasionados por estes produtos sem ter a percepção deste risco por absoluta falta de informações. A conclusão, após análise dos fatos acima, era de que havia necessidade de desenvolver uma metodologia capaz de realiza o levantamento de informações que pudessem subsidiar ações institucionais futuras e que vários órgãos têm interesse nas informações obtidas pelo diagnóstico. Por fim, a metodologia era necessária e desejável. Resultados e discussão Inicialmente, são apresentados na tabela 2 os produtos perigosos detectados pela pesquisa, os quais encontram-se relacionados por Número de Identificação ONU e o nome do produto. Tabela 2 - Relação de produtos e respectivos números de identificação da ONU 1001- Acetileno dissolvido 1028- Diclorodifluormetano, gás refrigerante R-12 1002- Ar comprimido 1040- Óxido de etileno 1003- Ar líquido refrigerado (Criogênico) 1046- Hélio comprimido 1005- Amônia anidra liquefeita 1049- Hidrogênio comprimido 1006- Argônio comprimido 1056- Criptônio comprimido 1011- Butano ou misturas de Butano 1063- Cloreto de metila, gás refrigerante R-40 1013- Dióxido de carbono comprimido 1066- Nitrogênio comprimido 1017- Cloro gasoso 1070- Óxido Nitroso comprimido 1018- Clorodifluormetano, gás refrigerante R-22 1072- Oxigênio comprimido 7

1073- Oxigênio líquido refrigerado (Criogênico) 1075- Gás liquefeito de petróleo (GLP) 1077- Propileno/ Propeno 1078- Gases refrigerantes, N.E. 1086- Cloreto de vinila, inibido 1090- Acetona 1092- Acroleína inibida 1105- Álcoois amílicos, Isopentanol 1107- Cloreto de amila 1114- Benzeno 1120- Butanóis 1170- Álcool etílico 1171- Éter etílico do monoetilenoglicol 1173- Acetato de etila 1201- Óleo de fusel 1202- Gasóleo ou óleo para aquecimento 1203- Combustíveis para motores, inclusive gasolina 1208- Hexanos 1219- Álcool Isopropílico 1223- Querosene 1230- Álcool metílico 1263- Tintas ou material relacionado com tintas 1267- Petróleo cru 1275- Propionaldeído 1286- Óleo de resina 1289- Metilato de sódio, soluções alcoólicas 1293- Tinturas medicinais 1294- Tolueno 1299- Terebentina 1302- Éter etilvinílico inibido 1303- Cloreto de vinilideno inibido 1306- Preservativos para madeira, líquidos 1325- Sólido inflamável orgânico,n.e. 1350- Enxofre 1360- Fosfeto de cálcio 1361- Carvão, de origem vegetal ou mineral 1362- Carvão ativado 1365- Algodão úmido 1381- Fósforo branco ou amarelo 1402- Carbureto de cálcio 1470- Perclorato de chumbo 1701- Brometo de xilila 1708- Toluidinas 1713- Cianeto de zinco 1715- Anidrido acético 1719- Líquido alcalino cáustico, N.E. 1748- Hipoclorito de cálcio, seco, ou misturas com mais de 39% de cloro livre 1759- Sólidos corrosivos,n.e. 1760- Ácido dicloropropiônico 1778- Ácido fluorsilícico 1789- Ácido clorídrico 1791- Hipoclorito, soluções com mais de 5% de cloro livre 1803- Ácido fenolsulfônico 1806- Pentacloreto de fósforo 1823- Hidróxido de sódio/soda cáustica, sólida 1824- Hidróxido de sódio/soda cáustica (líquido) 1830- Ácido sulfúrico 1845- Dióxido de carbono sólido 1863- Combustíveis para aviões a turbina, querosene 1865- Nitrato de n-propila 1866- Resina em solução, inflamável 1902- Fosfato ácido de disiooctila 1950- Aerossóis 1956- Gases comprimidos, N.E. 1963- Hélio, líquido refrigerado (criogênico) 1977- Nitrogênio, líquido refrigerado (criogênico) 1978- Propano ou misturas de propano 1979- Gases raros, mistura 1987- Álcoois, N.E. 1993- Líquidos inflamáveis, N.E. 1999- Asfalto para estradas, alcatrões líquidos 2055- Estireno monômero, inibido 2078- Diisocianato de tolueno 2187- Dióxido de carbono, líquido refrigerado 2203- Silano comprimido 2208- Hipoclorito de cálcio misturas, seca 2232- Cloroacetaldeído 8

2276-2- Etilhexilamina 2465- Acido dicloroisocianúrico, seco 2468- Acido tricloroisocianúrico, seco 2478- Isocianatos, inflamáveis, tóxicos, N.E. 2506- Sulfato ácido de amônio 2581- Cloreto de alumínio, em solução 2584- Ácido alquil, aril ou tolueno sulfônico, líquido, com mais de 5% de ácido sulfúrico livre 2586- Ácido alquil, aril ou tolueno sulfônico, líquido, com até 5% de ácido sulfúrico livre 2588- Pesticidas tóxicos, sólidos, N.E. 2590- Asbesto branco 2672- Hidróxido de amônio, com mais de 10% de amônia e até 30% de amônia 2757- Pesticidas à base de carbamatos, sólidos, tóxicos, N.E. 2758- Pesticidas à base de carbamatos, líquidos, inflamáveis tóxicos, N.E. 2783- Pesticidas à base de organofosforados, sólidos, tóxicos, N.E. 2784- Pesticidas à base de organofosforados, líquido, inflamável, tóxicos, N.E. 2794- Baterias elétricas, úmidas, contendo soluções ácidas 2814- Substâncias infectantes que afetam os seres humanos,agentes etiológicos,n.e. 2821- Fenol, em solução 2902- Pesticidas líquidos, tóxicos, N.E. 2903- Pesticidas líquidos, tóxicos, inflamáveis, N.E., com ponto de fulgor igual ou superior a 23 o C 2927- Líquido tóxico, corrosivo, N.E. 2991- Pesticidas à base de carbamato, líquidos, tóxicos, inflamáveis, N.E. 2992- Pesticidas à base de carbamato, líquidos, tóxicos, N.E. 2995- Pesticidas à base de organoclorados, líquidos, tóxicos, inflamáveis, N.E. 2998- Pesticidas à base de Triazina, líquidos, tóxicos, N.E. 3004- Inseticida à base de derivados benzóicos, líquido, tóxico 3005- Pesticidas à base de ditiocarbamatos, líquidos, tóxicos, inflamáveis, N.E. 3017- Pesticidas à base de organofosforados, líquidos, tóxicos, inflamáveis, N.E. 3018- Pesticidas à base de organofosforados, líquidos, tóxicos, N.E. 3020- Pesticidas à base de compostos orgânicos de estanho, líquidos,tóxicos, N.E. 3066- Tintas ou materiais relacionados com tintas, corrosivas 3070- Óxido de eteno e diclorodifluormetano, misturas, com até 125 de óxido de eteno 3077- Substâncias perigosas para o meio ambiente, sólidas, N.E. 3082- Substâncias perigosas para o meio ambiente, líquidas, N.E. 3092- Metóxi-2-Propanol 1 3105- Peróxido orgânico, tipo D, líquido 3163- Gás liquefeito, N.E. 3244- Sólidos, que contém líquido corrosivo, N.E. 3257- Líquido de temperatura elevada, inflamável, N.E., até ou acima de 100 o C e abaixo de seu ponto de fulgor 3265- Líquido corrosivo, ácido, orgânico, N.E. 3266- Líquido corrosivo, alcalino, inorgânico, N.E. 3269- Resina de poliéster,conjunto 3300- Óxido de etileno e dióxido de carbono, mistura, com mais de 87% de óxido de etileno 3305- Gás comprimido, tóxico, inflamável, corrosivo, N.E. 3310- Gás liquefeito, tóxico, oxidante, corrosivo, N.E. 3312- Gás inflamável, líquido refrigerado, N.E. 3340- Gás refrigerante R-407C 3348- Pesticida à base de derivado de ácido fenoxiacético, líquido, tóxico 9

3351- Pesticida à base de piretróide, líquido, tóxico, inflamável, com ponto de fulgor igual ou superior à 23 o C 3352- Pesticida à base de piretróide, líquido,tóxico Observação: N.E. = não especificado (Conforme Resolução ANTT n o 420) A pesquisa revelou ainda que, dos produtos transportados 38,7% originaram-se no Distrito Federal e que 58% possuíam como destino o DF. Esta informação revela uma tendência diferente da hipótese 1 deste trabalho, uma vez que mais da metade dos produtos pesquisados no período tem por destino o Distrito Federal. Outra informação relevante é que o estado de Goiás é o segundo estado do qual a maioria dos produtos pesquisados se originam, com 24,2%, seguido por São Paulo (22,1%). Tabela 3 - Relação dos estados de origem e destino das cargas no período de 01/nov/2005 a 17/jan/2006 Estado de origem da carga Numero de caminhões % Estado de origem da carga Numero de caminhões DF 2.059 38,8 RJ 2 0,1 RJ 154 2,9 MG 275 12,4 MG 544 10,2 SP 6 0,3 SP 1.178 22,2 BA 160 7,2 RS 8,2 MT 6 0,3 SC 1,0 GO 1.709 77,2 PR 16,3 TO 49 2,2 BA 39,7 MA 2 0,1 MT 9,2 PA 4 0,2 GO 1.290 24,3 PI 1 0 TO 6,1 SE 2,0 CE 5,1 PA 2,0 PI 1,0 Total 5.314 100,0 Total 2.214 100,0 % Conforme se verifica no gráfico 1, a classe de produto mais transportada para o DF é a de líquidos inflamáveis (classe 3). Ressalta-se que para transporte de líquidos inflamáveis para o Distrito Federal, além do modal pesquisado (rodoviário), existe o modal dutoviário que liga Paulínea-SP à Brasília-DF, passando por Senador Canedo - GO (poliduto OSBRA- TRANSPETRO). Embora possa haver outras variáveis envolvidas, o valor do ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) contribui para que o transporte de líquidos inflamáveis seja realizado por rodovias em detrimento a utilização do poliduto. 10

Finalmente, os resultados comprovaram que, para o período pesquisado, existe um fluxo de produtos que utiliza as rodovias do DF como rota na ligação entre norte/nordeste com o sul/sudeste. Gráfico 1 Classe de Risco dos Produtos transportados no período de 01/nov/2005 a 17/jan/2006 Número de caminhões 3500 3000 2500 2000 Explosivos Gases Líquidos inflamáveis Sólidos inflamáveis 1500 Tóxicas e infectantes 1000 500 0 Corrosivas Perigosas diversas Substâncias oxidantes Considerando-se a hipótese 2, ficou comprovado pelo gráfico 1 que a classe dos líquidos inflamáveis realmente é a mais transportada em relação à freqüência, totalizando 65,6% dos produtos perigosos transportados, seguidos dos gases (23,3%). As demais classes, em relação à freqüência, não possuem quantidades significativas. Em relação ao horário de coleta, o gráfico 2 demonstra os horários nos quais os dados foram coletados. Nota-se que na distribuição do fluxo das cargas,ocorre um pico no horário compreendido entre 8 e 11 horas da manhã, sendo que, no período vespertino, ocorre outro pico com menor intensidade que o primeiro, no período compreendido entre 14 e 16 horas. No período compreendido entre 17:30 e 20 horas, o fluxo volta a aumentar, decaindo a partir deste horário. Desta forma, verifica-se que nos períodos supracitados, as ações de fiscalização nas vias surtem maior efeito, uma vez que abrange uma maior quantidade de veículos transportadores. Outra importante informação retirada da análise deste tópico é que durante o horário comercial (8-18 horas), ocorre um intenso fluxo de cargas desta natureza nas rodovias que cruzam o Distrito Federal, posto que não existe, localmente, nenhum dispositivo legal que regulamente horários e rotas específicas para transporte desta natureza. Ou seja, durante os 11

picos de fluxo das cargas, existe um fator agravante, sob o ponto de vista da proteção civil, que é o maior fluo de veículos particulares e de passageiros (ônibus coletivo), os quais potencializam os efeitos de um acidente, caso este ocorra, aumentando o número da população exposta. Sugere-se que as autoridades locais utilizem estas informações para o planejamento das ações que visem proteger esta população de eventuais acidentes ocorridos no transporte rodoviário de produtos perigosos. Gráfico 2 Horário das coletas de dados versus número de caminhões Histograma horário coleta de dados 250 200 Freqüência 150 100 50 0 00h00min00s 06h00min00s 12h00min00s 18h00min00s 00h00min00s horario da coleta de dados Mean = 50.031 Std. Dev. = 17.382 N = 5.294 Em relação à segurança no transporte, o gráfico 3 mostra que, do universo pesquisado, 94% afirmaram possuir o curso MOPP - Movimentação de Produtos Perigosos (habilita o condutor para o transporte de produtos perigosos), enquanto 2,6% afirmaram não possuir e apenas 3,4% não responderam ao quesito. Quanto a este item, o Decreto Federal nº 96.044, de 18 de maio de 1988 (Regulamento do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos- RTPP), combinado com a Lei n o 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código Brasileiro de Trânsito- CBT), Art 145, Item IV, obriga todo condutor de veículo transportando produtos perigosos a possuir treinamento específico como pré-requisito para habilitação em transportes desta natureza. Embora o percentual de motoristas que afirmaram não possuir esta habilitação seja pequeno (2,6%), e o percentual dos que não responderam (3,4%) também o seja, vale ressaltar que um motorista que desconheça os riscos da carga que está transportando torna-se um fator de aumento de vulnerabilidade, uma vez que, em caso de acidentes, o motorista inabilitado não saberá quais as primeiras medidas e procedimentos a serem adotados. 12

Gráfico 3 - Percentual de motoristas com curso MOPP 2,6 3,4 Habilitado com MOPP Habilitado sem MOPP Não identificado 94 Conclusão Os resultados indicam que a metodologia proposta pode ser utilizada para a coleta de informações com respeito ao transporte de produtos perigosos, sem a necessidade de envolver diversos órgãos da administração pública federal, estadual e/ou municipal, gerando informações confiáveis e com um custo relativamente baixo. Conforme demonstrado na discussão dos resultados, existe um potencial de informações acerca do que a Defesa Civil Brasileira BRASIL (1997) considera segurança global da população e que podem ser utilizados por outros setores governamentais e intergovernamentais, no planejamento de suas ações, como, por exemplo, o setor meio ambiente, o qual pode utilizar-se das informações coletadas para direcionar suas ações de prevenção de acidentes com produtos químicos em áreas de proteção ambiental (APAs) que tenham por limites as rodovias que transportam este tipo de produtos. Como exemplo, no Distrito Federal esta situação ocorre com o Parque Nacional de Brasília, Reserva Ecológica de Águas Emendadas, dentre várias outras APAs junto a rodovias. Cabe ressaltar ainda que, setores relacionados à assistência e vigilância à saúde podem utilizar-se das informações coletadas para preparar-se melhor para o atendimento às vítimas de acidentes desta natureza, posto que o tratamento de vítimas de produtos perigosos possui uma série de protocolos de atendimento diferenciados, já que nestes casos, além do cuidado com a saúde da vítima, existe o risco potencial de contaminação da equipe médica que presta o auxílio ao paciente. Por fim, vale ressaltar que, a metodologia é totalmente aplicável e eficiente, uma vez que as hipóteses propostas foram comprovadas ou contestadas, mas sempre respondidas. 13

Desta forma, caso haja interesse de outra Unidade da federação em aplicar a metodologia, à priori, não existe elemento impeditivo, desde que haja condições semelhantes para aplicação da mesma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agenda 21 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 3 a edição. Editora IBAMA. Brasília, Brasil. 2001. CIQUIME - Centro de Información Química para Emergências, Informações de acidentes com sustâncias químicas ocorridos na Argentina entre junho 1991 e dezembro 1992. Buenos Aires, 1993. BRASIL, Decreto Federal nº 96.044, de 18 de Maio de 1988. BRASIL, Decreto Lei nº 88.821, de 06 de Outubro de 1983. BRASIL, Ministério do Planejamento e Orçamento, Segurança Global da População. Imprensa Nacional, 1 a ed,1997. BRASIL. Ministério dos Transportes. Instruções Complementares ao Regulamento do Transporte de produtos perigosos. Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT. Brasília. 2004. 376 p. CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992, Rio de Janeiro. Agenda 21. Brasília. Senado Federal - Subsecretaria de Edições Técnicas. 2001. 598 p. PNUMA/OIT/OMS. Programa Internacional de Seguridad sobre Sustancias Químicas - PISSQ. Accidentes químicos: aspectos relativos a la salud. Guía para la preparación y respuesta. OCDE, PNUMA, OMS. Washington, D.C.:OPS, c1998, 140p. FREITAS, C. M.; AMORIM, A. E.; Vigilância Ambiental em Saúde de Acidentes Químicos Ampliados no Transporte Rodoviário de Cargas Perigosas. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, 2000. Intergovernmental Forum On Chemical Safety - IFCS, Final Report of Third Session, Salvador, 2000. IPCS/UNITAR International Programme on Chemical Safety/United Nations Institute for Training and Research. Key elements of a national programme for chemicals management and safety. Genebra: IOMC. 1998.115 p. Oliveira, S. S.; A Utilização da Avaliação de Riscos no Gerenciamento de Produtos 14

Agrotóxicos: Diretrizes para a Formulação de Políticas Públicas. Tese de Doutorado. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paul USP. São Paulo; 2004. Perfil Nacional da Gestão de Substâncias Químicas PNGSQ, Comissão Nacional de Segurança Química - CONASQ, Brasília, 2003. SEVERINO, A. J.; Metodologia do Trabalho Científico, 21 a Ed., São Paulo, Cortez, 2000. U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY EPA, Glossary of terms related to health, exposure, and risk assessment, 1989. 15