As leis da procura e oferta são fundamentais para o entendimento correcto do funcionamento do sistema de mercado.



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CAPÍTULO 3 PROCURA, OFERTA E PREÇOS Introdução As leis da procura e oferta são fundamentais para o entendimento correcto do funcionamento do sistema de mercado. O conhecimento destas leis requer que, em primeiro lugar, se compreenda o que determina a procura e a oferta de produtos específicos. Posto isto, veremos de que forma a procura e a oferta em conjunto determinam os preços e as quantidades que são compradas e vendidas dos bens. Finalmente, examinaremos o modo como o sistema de preços permite que a economia possa responder às muitas mudanças que sobre ela são impostas. Neste capítulo introduzem-se os elementos básicos da procura, da oferta e dos preços. 3.1 Procura O que determina a procura de um dado produto? A razão substantiva desta questão reside na ideia de querermos compreender os motivos pelos quais os consumidores compram uma determinada quantidade de cada um dos produtos. Vamos por isso, de forma intuitiva, introduzir a teoria neoclássica que explica o consumo de um qualquer produto típico.

3..1.1 Significado da Quantidade Procurada A quantidade procurada de um produto é a quantidade total desse produto que os consumidores de uma economia desejam comprar num dado período de tempo. Admitimos aqui o consumo total de um bem. Mais adiante, no capítulo correspondente à teoria do consumidor, discutiremos em detalhe o comportamento dos consumidores individuais, ou seja, examinaremos as procuras individuais. Voltando ao conceito da quantidade procurada, três aspectos devem ser realçados. Primeiro, a quantidade procurada é uma quantidade desejada. É a quantidade que os consumidores desejam comprar quando confrontados com um determinado preço do produto, os preços de outros produtos, os seus rendimentos, as suas preferências e todos os outros factores de influência. Observe-se que a quantidade desejada não é o mesmo que a quantidade realmente (ou efectivamente) comprada. Segundo, a quantidade desejada não é uma quantidade ilusória, é simplesmente uma quantidade que as pessoas se dispõem a comprar, dado o preço que têm de pagar. Terceiro, a quantidade procurada constitui um fluxo contínuo de compras. Deve por isso ser expressa quantitativamente por período de tempo. Por exemplo, 1 milhão de unidades por dia, 7 milhões por semana, ou 365 milhões por ano. Ao conceito de variável fluxo contrapõe-se o conceito de variável stock que se mede num ponto bem determinado de tempo. Um exemplo deste último caso é a quantidade de um produto armazenado num dado dia. A quantidade de um produto, que os consumidores desejam comprar num período de tempo, depende das seguintes variáveis: (1) preço do produto em causa; (2) rendimento médio das famílias; (3) preços dos produtos relacionados; (4) preferências dos consumidores; (5) distribuição do rendimento da economia; (6) população da sociedade; e (7) expectativas quanto ao futuro. É extremamente difícil determinar a influência separada de cada uma destas variáveis sobre a quantidade procurada quando se consideram as variações simultâneas de todas elas. O processo correcto de análise destas influências separadas consiste em manter 2

constantes todas as variáveis à excepção da variável cujo efeito se pretende estudar. Uma vez feito o estudo do efeito separado de cada uma das variáveis, é então possível analisar o efeito combinado de todas as variáveis. Em termos matemáticos, o efeito separado é estudado através da derivada parcial da variável dependente em relação à variável escolhida; e o efeito total pelo diferencial total da variável dependente. Na terminologia científica, a frase manter todas as outras variáveis constantes é referida por sendo outras coisas iguais ou outras coisas dadas ou ainda a frase ceteris paribus do latim. Exemplificando, a influência do preço do trigo sobre a quantidade procurada de trigo, ceteris paribus, significa medir o efeito da variação do preço do trigo sobre a quantidade procurada deste produto, mantendo todas as outras variáveis de influência constantes. 3.1.2 Quantidade Procurada e Preço A teoria sobre o modo como os preços dos produtos são determinados requer o estudo da relação funcional entre as quantidades procuradas de cada produto e os seus preços. Quer isto dizer que as outras influências são mantidas constantes. A proposição económica básica sobre esta relação funcional afirma que o preço e a quantidade procurada de um produto estão negativamente relacionadas, ceteris paribus. Ou seja, quanto maior é o preço, menor é a quantidade procurada; e quanto menor é o preço, maior é a quantidade procurada. O grande economista britânico Alfred Marshall (1842-1924) designou esta relação fundamental por lei da procura. Veremos, no Capítulo 6, de que modo esta relação é deduzida a partir de hipóteses básicas sobre o comportamento do consumidor. Contudo, mesmo nesta fase de estudo, é legítimo que se pergunte sobre os motivos essenciais dessa relação. Fazendo apelo à intuição, é possível que se chegue à resposta. Considere um qualquer produto e admita que o seu preço varia, mantendo-se todas as outras influências constantes. Quando o preço aumenta, o produto torna-se mais caro para satisfazer as vontades humanas. Em consequência, alguns consumidores deixarão de 3

comprar o produto; outros diminuirão a quantidade do produto que desejam comprar; haverá no entanto um grupo mais restrito de consumidores que continuará a desejar comprar a mesma quantidade. Em resumo, porque muitos consumidores procurarão transferir, parcial ou totalmente, o consumo para outros produtos similares, menos será comprado do produto cujo preço aumentou. Raciocínio análogo se aplica quando o preço do produto baixa. 3.1.3 Lista de Procura e Curva de Procura A lista de procura é uma forma de ilustrar a relação entre a quantidade procurada e o preço de um produto, sendo outras coisas iguais. É um quadro numérico que mostra a quantidade procurada para cada nível de preço. Sugere-se que se veja o Quadro 3.2 em [Lipsey e Chrystal (2004) 43]. Uma forma alternativa de ilustrar a relação entre a quantidade procurada e o preço é desenhar um gráfico. A Figura 3.3 [Lipsey e Chrystal (2004) 43] é um exemplo. O preço está representado no eixo vertical e a quantidade procurada do produto (ovos medidos em milhares de dúzias por mês) está expressa no eixo horizontal. A curva suave de inclinação negativa é designada curva de procura, que mostra a quantidade que os consumidores desejam comprar para cada nível de preço. A inclinação negativa da curva indica que a quantidade procurada aumenta quando o preço baixa. Um ponto qualquer na curva é um par ordenado que exprime uma combinação específica de preço e quantidade procurada. A curva de procura, como um todo, mostra mais do que isto. Representa a relação entre a quantidade procurada e o preço, mantendo-se outras coisas iguais. Quando os economistas se referem à procura num mercado específico, referem-se não a uma quantidade específica que é procurada num dado período de tempo (ou seja, um ponto específico na curva), mas à curva no seu todo. Diferente é a noção da quantidade procurada que é geometricamente traduzida por um ponto na curva. 4

3.1.4 Deslocações da Curva de Procura A curva de procura é desenhada assumindo-se que, à excepção do preço do produto, as outras variáveis explicativas da procura se mantêm constantes. O que sucede se estas variáveis se alterarem? Por exemplo, admitamos um aumento nos rendimentos das famílias, permanecendo o preço do produto constante. Se as famílias aumentarem as compras do produto, a nova quantidade procurada não pode ser representada por um ponto na curva de procura original. A nova quantidade é representada numa nova curva de procura situada à direita da curva original, como se mostra na Figura 3.4 [Lipsey e Chrystal (2004) 44]. O processo da deslocação da curva de procura resulta de uma regra geral. A alteração em qualquer das variáveis explicativas da procura, previamente mantidas constantes, implica a deslocação da curva de procura para uma nova posição. Consideremos apenas o caso das variações nos preços dos produtos relacionados. Outros casos, também relevantes, são explicados no manual recomendado [Lipsey e Chrystal (2004) 43-46]. A inclinação negativa da curva de procura implica que quando o preço de um produto baixa, o produto torna-se menos dispendioso em relação aos produtos que proporcionam a mesma satisfação das necessidades e desejos. Estes produtos são chamados produtos substitutos. O mesmo efeito analisado emerge quando os preços destes substitutos aumentam. Em qualquer dos casos, a quantidade procurada do produto em causa aumenta. Mas, a variação nos preços dos substitutos de um produto implica a deslocação da curva de procura deste produto para uma nova posição. Se os preços dos substitutos aumentarem, a curva de procura do produto relacionado desloca-se para a direita. Contrariamente, se os preços dos substitutos baixarem, a curva de procura desloca-se para a esquerda. Situação distinta é a dos produtos complementares que são produtos que tendem a ser usados conjuntamente. Por exemplo, automóveis e gasolina são complementares. A baixa de preços num destes produtos ocasiona o aumento da quantidade comprada de ambos os produtos. Consequentemente, a diminuição do preço de um complementar de um produto implica a deslocação para a direita da curva de procura deste produto. 5

3.1.5 Variação na Procura e Variação na Quantidade Procurada Vimos que a noção de procura está associada à totalidade da curva de procura e que a noção de quantidade procurada está associada à quantidade que é procurada para um dado preço, ou seja, um ponto específico na curva de procura. Por isso, o termo variação na procura descreve a variação da quantidade procurada para cada um dos níveis de preço, e o termo variação na quantidade procurada descreve o movimento de um ponto da curva de procura para um outro ponto que pode estar posicionado na curva de procura original ou numa nova curva de procura. Deste modo, a variação na quantidade procurada pode resultar de modo seguinte: (1) da deslocação da curva de procura com o preço constante; (2) do movimento ao longo da curva de procura em consequência da variação no preço; e (3) da combinação destes dois efeitos. 3.2 Oferta O que determina as quantidades de produtos que são produzidos e oferecidos para a venda? A discussão mais detalhada dos problemas da oferta será feita mais adiante, na Parte 3, do programa da disciplina. Por agora importa apenas examinar a relação básica entre o preço de um produto e a quantidade produzida e oferecida para a venda e, ainda, examinar os factores que promovem a alteração desta relação básica. 3.2.1 Significado da Quantidade Oferecida A quantidade de um produto que uma empresa deseja vender, num dado período de tempo, é designada quantidade oferecida desse produto. A quantidade oferecida é uma variável fluxo, ou seja, uma dada quantidade por unidade de tempo. Observe-se também que a quantidade oferecida é a quantidade que as empresas se dispõem a oferecer para a 6

venda, ou seja, não corresponde necessariamente à quantidade que de facto é vendida. Esta última é expressa por quantidade realmente (ou efectivamente) vendida. A quantidade de um produto que as empresas se dispõem a produzir e oferecer para a venda é influenciada pelas seguintes variáveis: (1) preço do produto; (2) preços dos factores de produção (inputs); (3) tecnologia; e (4) número de empresas. Para o estudo da influência separada de cada uma destas variáveis sobre a produção e a oferta, fazemos uso da hipótese ceteris paribus, como explicámos anteriormente. 3.2.2 Quantidade Oferecida e Preço Observa-se que existe uma relação funcional entre a quantidade oferecida e o preço de um produto. Para um grande número de produtos, a proposição económica básica sobre esta relação funcional afirma que o preço e a quantidade oferecida de um produto estão positivamente relacionadas, ceteris paribus. Ou seja, quanto maior é o preço, maior é a quantidade oferecida; e quanto menor é o preço, menor é a quantidade oferecida. Mais adiante, no capítulo correspondente à teoria do produtor, ofereceremos uma explicação mais detalhada e fundamentada desta questão. Nesta fase de estudo, fazemos apenas apelo à intuição sobre a razão de ser dessa relação funcional. Facilmente se aceita que haja mais produção se com isto os lucros das empresas aumentarem. Quando o preço do produto aumenta e os preços dos factores de produção permanecem constantes, os lucros aumentam com o mesmo nível de produção. Contudo, neste cenário, os lucros crescem ainda mais se houver uma maior produção. Conclui-se assim que, quando o preço de um produto cresce, a quantidade oferecida deste produto cresce. 3.2.3 Lista de Oferta e Curva de Oferta A relação funcional discutida pode ser ilustrada por uma lista de oferta que é um quadro numérico que mostra a relação entre a quantidade oferecida e o preço de um produto, 7

mantendo-se outras coisas iguais. A Tabela 3.4 [Lipsey e Chrystal (2004) 47] é uma lista de oferta de ovos. A curva de oferta de um produto é a representação gráfica da lista de oferta desse produto. A Figura 3.6 [Lipsey e Chrystal (2004) 47] é um exemplo da curva de oferta. Cada um dos pontos na curva de oferta representa uma combinação específica de preço e quantidade. A curva no seu todo mostra mais do que isto. A curva de oferta exprime a relação entre a quantidade oferecida e o preço, permanecendo constantes outras variáveis de influência. A inclinação positiva da curva indica que a quantidade oferecida aumenta quando o preço aumenta. Note-se que o termo oferta reporta-se à relação funcional total entre a quantidade oferecida e o preço de um produto, estando subjacente a ideia de que as outras variáveis explicativas permanecem constantes. Um ponto específico na curva de oferta exprime apenas a quantidade oferecida para um dado preço. 3.2.4 Deslocações da Curva de Oferta A deslocação da curva de oferta implica que, para cada nível de preço, uma quantidade diferente da inicial é oferecida. A deslocação à direita significa uma maior quantidade oferecida e a deslocação à esquerda uma menor quantidade oferecida, para cada um dos níveis de preço de um produto. A Figura 3.7 [Lipsey e Chrystal (2004) 48] constitui um exemplo de deslocação à direita. A regra geral que explica a deslocação da curva de oferta é a que se segue. A alteração em qualquer das variáveis explicativas da oferta, à excepção do preço do produto, causa a deslocação da curva para uma nova posição. Enumerámos acima as variáveis que motivam isto: preços dos factores de produção, tecnologia e número de empresas. Consideremos aqui apenas o caso do número de empresas. Admitindo um dado conjunto de preços e tecnologia, a quantidade oferecida de um produto depende do número de empresas que produzem e vendem esse produto. Se o número de empresas que fabricam este produto aumentar, então a oferta de produção no mercado aumentará e, em 8

consequência, a curva de oferta do produto deslocar-se-á para a direita. Contrariamente, a redução do número de empresas deslocará a curva para a esquerda. 3.2.5 Variação na Oferta e Variação na Quantidade Oferecida É relevante a distinção entre o movimento ao longo de uma curva de oferta e a deslocação dessa curva para uma nova posição. O termo variação na oferta descreve a deslocação da curva de oferta, ou seja, a variação na quantidade oferecida para cada um dos níveis de preço. O termo variação na quantidade oferecida descreve o movimento de um ponto da curva de oferta para um outro ponto, situado na mesma curva ou numa nova curva de oferta. Deste modo, a variação na quantidade oferecida pode resultar: (1) da variação na oferta, com o preço mantido constante; (2) do movimento ao longo de uma dada curva de oferta motivado pela variação no preço; e (3) da combinação destes dois efeitos. 3.3 Determinação do Preço Examinámos até agora a procura e a oferta de modo separado. Mas a interacção entre estas duas forças de mercado é central para se compreender a forma de determinação do preço de mercado de um produto. A Figura 3.9 [Lipsey e Chrystal (2004) 49] mostra as curvas de procura e de oferta conjuntamente. As quantidades procuradas e oferecidas de ovos, para cada nível de preço, podem agora ser comparadas. Observe-se que, na figura, existe apenas um preço que permite igualar a procura e a oferta. Quando o preço é igual a 1,5 unidades monetárias 1, as quantidades procurada e oferecida são iguais a 77,5 milhares de dúzias de ovos por mês. O ponto E exprime esta situação. O preço abaixo de 1,5 unidades monetárias implica um excesso de procura, porque a quantidade procurada é maior que a quantidade oferecida. O preço acima de 1,5 9

unidades monetárias implica um excesso de oferta, porque a quantidade oferecida é maior que a quantidade procurada. Em todos os casos de excesso de oferta, as empresas procurarão baixar o preço do produto para se livrarem dos excedentes de produção existentes. Similarmente, os compradores, ao observarem a existência desses excedentes, oferecerão também preços mais baixos na compra do produto. Ou seja, o excesso de oferta conduz à diminuição do preço do produto. Em todos os casos de excesso de procura, haverá potenciais compradores que não poderão realizar a compra de quantidades do produto que desejam. Gerando-se uma situação de rivalidade de consumo entre os compradores insatisfeitos, estes procurarão oferecer preços mais altos de compra. Apercebendo-se disto, os vendedores procurarão colher mais ganhos com a subida do preço do produto. Ou seja, o excesso de procura conduz ao aumento do preço do produto. Admitamos agora de novo o preço de 1,5 unidades monetárias. Neste caso, a quantidade de venda desejada pelas empresas é igual à quantidade de compra desejada pelos compradores. Não havendo, nem excesso de procura, nem excesso de oferta, não haverá qualquer pressão sobre o preço do produto no sentido de aumento ou de diminuição. É uma situação de equilíbrio de mercado. O equilíbrio implica uma situação de repouso entre forças opostas. O preço de equilíbrio é o preço para o qual o preço de mercado efectivo tende. Uma vez estabelecido e não havendo quaisquer choques exógenos, o preço de equilíbrio persistirá no mercado. Significa isto que poderá mudar de posição com as deslocações das curvas de procura e de oferta (estas deslocações são provocadas pelos choques exógenos). A igualdade da quantidade procurada e da quantidade oferecida constitui uma condição de equilíbrio de mercado. Mais rigorosamente então, o preço de equilíbrio é o preço que requer a verificação desta condição. 1 Na figura as unidades monetárias estão representadas em libras. A conversão em outras unidades de moeda é um mero exercício matemático. 10

O preço que não iguala a quantidade procurada e a quantidade oferecida é designado preço de desequilíbrio. O excesso de procura ou o excesso de oferta colocam o mercado em estado de desequilíbrio, no qual o preço de mercado estará em processo de mudança. 3.4 Leis da Procura e Oferta Variações em qualquer das variáveis, à excepção do preço do produto, que influenciam a quantidade procurada ou oferecida causam a deslocação da curva de procura ou da curva de oferta ou de ambas, dependendo cada caso de deslocação das variáveis que mudam. São possíveis quatro cenários: (1) o aumento da procura implica a deslocação para a direita da curva de procura; (2) a diminuição da procura implica a deslocação para a esquerda desta curva; (3) o aumento da oferta implica a deslocação para a direita da curva de oferta; e (4) a diminuição da oferta implica a deslocação para a esquerda desta última curva. O efeito de cada uma das deslocações pode ser estudado pelo método de estática comparada. Ou seja, compara-se o equilíbrio inicial com o equilíbrio final que resulta da mudança da variável exógena. O termo estática indica que se deixa de lado a análise da trajectória temporal do preço de equilíbrio de uma posição inicial para uma nova. O estudo desta trajectória é descrito pela análise dinâmica. Cada uma das quatro deslocações possíveis causa alterações que são descritas por uma das quatro leis da procura e oferta. Cada uma destas leis resume o que acontece quando uma posição inicial de equilíbrio é perturbada pela deslocação da curva de procura ou da curva de oferta. É necessário notar que, do ponto de vista da ciência económica, o termo lei é utilizado para significar que uma dada teoria é confirmada por um número substantivo de testes empíricos, não havendo certezas absolutas que as suas previsões estejam sempre asseguradas. As quatro leis da procura e oferta, ilustradas na Figura 3.10 [Lipsey e Chrystal (2004) 52], podem ser sintetizadas de modo seguinte: (1) o aumento da procura causa o aumento do preço de equilíbrio e da quantidade transaccionada de equilíbrio; (2) a diminuição da 11

procura causa a diminuição do preço de equilíbrio e da quantidade transaccionada de equilíbrio; (3) o aumento da oferta causa a diminuição do preço de equilíbrio e o aumento da quantidade transaccionada de equilíbrio; e (4) a diminuição da oferta causa o aumento do preço de equilíbrio e a diminuição da quantidade transaccionada de equilíbrio. A explicação intuitiva de cada uma destas leis é simples. Oferecemos a explicação para a primeira lei: o aumento da procura gera uma escassez no fornecimento do produto e, por isso, os compradores insatisfeitos dispõem-se a oferecer um preço mais alto pelo produto; a subida do preço motiva o aumento da produção e, deste modo, no novo equilíbrio de mercado, mais quantidades são transaccionadas com o preço mais alto. As explicações para os outros casos devem ser lidas no manual recomendado [Lipsey e Chrystal (2004) 51-52]. A teoria da determinação do preço de um produto, através da procura e da oferta, é elegante na sua simplicidade. Contudo, é poderosa e efectiva nas suas diversas aplicações. Nos capítulos subsequentes veremos isso. 3.5 Preços Absolutos e Preços Relativos Até agora não se definiu, de modo preciso, o preço de um produto. Assume uma grande importância, na teoria microeconómica, a definição do preço. Nesta fase de análise, importa apenas oferecer uma noção breve deste conceito, uma vez que a questão será retomada nos capítulos correspondentes às teorias do consumidor e do produtor. O preço de um produto é a quantia de dinheiro que deve ser gasta para se adquirir uma unidade desse produto. Este valor é designado preço absoluto ou preço monetário. Mas contém mais interesse a noção de preço relativo. O preço relativo de um produto é o quociente de dois preços absolutos. Mais precisamente, o preço relativo de um produto exprime o preço deste produto em termos de unidades físicas de um outro produto. Por exemplo, o preço relativo de um computador é igual a 10 máquinas de cálculo matemático. O que é relevante na análise da procura e da oferta é o preço de um produto relativamente aos preços de outros produtos, ou seja, o que é relevante é o preço relativo. 12