O FLUIDO E O IMAGINÁRIO: OS (DES)LIMITES DA LÍNGUA NO CONTEXTO ESCOLAR

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Transcrição:

1 O FLUIDO E O IMAGINÁRIO: OS (DES)LIMITES DA LÍNGUA NO CONTEXTO ESCOLAR Educação, Linguagem e Memória Rairy de Carvalho Gomes 1 (rairydecarvalho@gmail.com) Introdução Ao identificar e apontar possíveis propostas para o ensino da língua portuguesa nas escolas, procura-se tornar o sujeito parte integrante em meio ao processo regente de instrumentalização da língua, da padronização do ensino de língua portuguesa por meio dos livros didáticos e a partir dos pressupostos defendidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997). A pergunta que permeia a produção apresentada é: de que forma a escola é capaz, e capacitada, para lidar com esses (des)limites da língua, com o reconhecimento da pluralidade linguística-cultural dos sujeitos nela presentes? A dicotomia contínua, entre língua fluida e imaginária no contexto escolar, será brevemente apresentada aqui nesse relato de experiência, e de que forma ela pôde ser observada por meio de um trabalho realizado pelo PIBID da Universidade Católica de Brasília (UCB) no subprojeto Letras - Português. Refletir acerca do papel do ensino da língua na escola: é somente o imaginário? Quando se afirma que o sujeito é formado por histórias, experiências e memória é inevitável não pensar em linguagem, em registro por meio da fala e da escrita. Sabe-se que a história da humanidade se iniciou pela oralidade, sendo fundamentada pela escrita 1 Licenciado em Letras Português e suas respectivas Literaturas pela Universidade Católica de Brasília (UCB).

2 e pelos instrumentos linguísticos que surgiram ao longo da história: as gramáticas e os dicionários (AUROUX, 2009). Marcuschi (1997) afirma que o indivíduo é antes de tudo um ser que fala e que a obtenção da língua escrita é uma questão de letramento. No entanto, Marcuschi (Ibidem) defende que fala e escrita são um contínuo, partindo então do pressuposto de que a língua escrita é também reflexo da experiência, da vivência, da história do sujeito, e não somente, reflexo de um processo de letramento. Para refletir acerca da problematização proposta, o presente trabalho pretende discutir duas questões centrais: a) Como relacionar fala e escrita, língua fluida e língua imaginária no contexto escolar. b) Quais as dificuldades enfrentadas no ensino ao compreendermos que a linha que divide fala e escrita, língua fluida e língua imaginária encontra-se cada vez mais tênue? É sob essa perspectiva que este trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre os (des)limites da língua, discutir como o processo imaginário afeta o processo de escolarização da língua, fazendo com que o sujeito não se reconheça na própria língua, a língua ensinada na e pela escola (ORLANDI, 2009). Para Orlandi (2009), há ainda a heterogeneidade da língua portuguesa, que se constituiu em um país colonizado e multilíngue. Segundo a autora, essa relação pode ser vista nos conceitos de língua fluida e língua imaginária. Língua fluída é a língua que está em constante movimento, a que ultrapassa os meios de padronização, e é a partir dessa fluidez que o sujeito se reconhece enquanto parte de um processo social, como um sujeito que fala, que tem representatividade enquanto falante. Já a língua imaginária é a língua padronizada, a embebida de ideologias e de uma representação de prestígio frente às demais variações existentes da língua, sinônimo de dominação sociocultural, e posta como um bem cultural desejável (MARCUSCHI,1997; ORLANDI, 2009). Dessa forma, ao apresentar a discussão acerca da língua imaginária e fluida, apontamos reflexões sobre como repensar o ensino de língua portuguesa e, sobre como ocorre a escolarização da língua nacional na escola, levando em consideração o sujeito de forma unitária e suas particularidades e singularidades.

3 Considerações Finais Têm se aí um desafio, uma vez que é notório que a escola lida com sujeitos múltiplos, todavia, a língua enquanto um produto social, é passível de ressignificações constantes, indissociável da cultura (MARCUSCHI, 2007), ou seja, da história e da memória do sujeito (ORLANDI, 2009). Citando, como exemplo, o guia do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD, 2015) do Governo Federal do Brasil, os autores do guia (manual) tratam a variedade linguística no ensino de língua portuguesa como fator determinante na formação e construção do sujeito, propiciando ao sujeito um repertório linguístico suficiente para ser utilizado em diferentes contextos de uso. Todavia, há de se questionar se realmente a escola, de forma estrutural intelectual, está preparada para tal missão. Os dados utilizados para compor esse relato de experiência foram obtidos através do subprojeto PIBID de Letras-Português da UCB. O grupo conta com uma oficina voltada à produção textual com foco no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As oficinas foram ofertadas e aplicadas para alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga, Distrito Federal. O objetivo da oficina era apresentar os elementos textuais necessários a discussão do texto dissertativo-argumentativo e trabalhar com a prática da reescrita. Dessa forma, desenvolver a capacidade reflexiva do aluno no próprio texto por meio do distanciamento, tornando o autor um leitor do próprio texto, por conseguinte, exercer a prática da reescrita. Constatou-se uma melhora qualitativa e quantitativa dos estudantes participantes no período da oficina, todavia, quando esses alunos foram colocados a produzir novamente em contexto escolar a melhora fora mínima. Desse modo, pode-se supor que movimentos situacionais de ensino e aprendizado da norma padrão, ou da língua imaginária, não coloca o estudante em seu ambiente primeiro de expressão, tornando a vida real, a língua do dia-a-dia, um objeto distante da realidade da

4 escolarização. Ou seja, a língua ensinada na escola é distante da fluidez linguística do cotidiano. Os dados preliminares da pesquisa/relato apontam para o real (des)limite entre as variações dialetais e a norma padrão e sua aplicação no contexto escolar. Isso afirma a real necessidade do programa mínimo, sugerido por Possenti (2004), onde a universidade, em seu papel formador, deve estar em constante diálogo com a escola e seu contexto social, papel esse, desenvolvido por vários projetos do PIBID pelo Brasil. Apontando para os fatos expostos pela oficina realizada, fica claro a real necessidade da reflexão acerca do papel do ensino da língua portuguesa nas escolas. De acordo com dados recentes da Empresa Brasil de Comunicação (2016), mais de 200 mil professores estão atuando em diversas áreas sem a formação ou qualificação devida, esse quantitativo representa cerca de 38,7% dos professores da rede pública de educação. Ao interpretar tais dados, depreende-se que se torna quase que inviável uma unidade no ensino no país. Os próprios PCNs do ensino de língua portuguesa reconhecem que a demanda durante as últimas décadas mudou, pois, o documento entende que o processo de aquisição de leitura e escrita transpassa o limiar de memorização e reprodução, o que para Marcuschi (2007) será chamado de letramento, ou seja, não necessariamente um processo atrelado à escolarização, mas sim, à experiência e ao conhecimento que o sujeito carrega consigo. Não há como dissociar a experiência dos sujeitos ao ensino da língua na escola e esse é o desafio que rege a atuação dos educadores, os limites e limitações do ensino da língua portuguesa pelo país. Referências Agência Brasil de Comunicação. Quase 40% dos professores no Brasil não têm formação adequada. Disponível em < http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-03/quase-40-dos-professores-nobrasil-nao-tem-formacao-adequada> Acesso em: 05 de out. 2016.

5 AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Trad. Eni P. Orlandi. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2 ed. 2009. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental. 144p. Brasil. Guia de livros didáticos: PNLD 2016: Alfabetização e Letramento e Língua Portuguesa: ensino fundamental anos iniciais. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2015. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e Escrita. Revista Signótica, Góias, V.9 n. 1, p.119-145, jan./dez. 1997.. Oralidade e letramento como prática sociais. In: MARCUSCHI, L. A.; DIONISIO, A. P. Fala e Escrita. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p.31-56. Orlandi, E. P. Língua brasileira e outras histórias: discurso sobre a língua e o ensino no Brasil. Campinas, SP: Editora RG, 2009. POSSENTI, S. Um programa Mínimo. In: BAGNO, Marcos (org.). Linguística da Norma. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p.317-332.