IV AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE USO DE UM MANANCIAL SUPERFICIAL PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE BAURU - SP

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IV-52 - AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE USO DE UM MANANCIAL SUPERFICIAL PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE BAURU - SP Jorge Hamada (1) Prof. Adjunto do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru - UNESP. Engenheiro civil, mestrado e doutorado em hidráulica e saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP, consultor na área ambiental especialmente para manejo de resíduos sólidos. Coordenador do Grupo de Estudos de Resíduos Sólidos da Unesp - Bauru. Giselda Passos Giafferis Farmacêutica Bioquímica, mestrado em Planejamento Urbano e Regional: Assentamentos Humanos pela FAAC - UNESP de Bauru, especialista em Gestão Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP-SP e em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Engenharia da UFSCAR, Presidente da ABES Subseção de Bauru, Gerente de Meio Ambiente e Química do Departamento de Água e Esgoto de Bauru. Gilberto Sebastião Castilho Filho Técnico Químico do DAE - Departamento de Água e Esgotos de Bauru. Responsável pelo laboratório de Análise de Águas Residuárias do convênio DAE/FEB-UNESP, atua em atividades de coordenação, coletas e análises água em sistemas de abastecimento público e de esgotos sanitários. Endereço (1) : Rua Martinha Dal Médico, 1-35 - Bauru - SP - CEP 17.18-15 - Brasil - Tel: (14) 3226-1535 e-mail: joha@feb.unesp.br RESUMO A capacidade do manancial superficial, que abastece 35% o município Bauru, encontra-se em seu limite na seção de captação. Desta forma toda e qualquer ampliação da capacidade produtiva de água potável tem ocorrido pela abertura de novos poços profundos. O presente trabalho teve como objetivo geral elaborar um estudo de baixo custo, associando-se o estudo qualitativo em andamento, com a inclusão da sistemática de medição de vazão, em uma única seção em um novo manancial, o Ribeirão da Água Parada, determinando-se assim o potencial efetivo para uso no abastecimento. Da análise quantitativa, conclui-se que é necessário que sejam efetuados estudos mais apurados envolvendo recursos de otimização. Isto é fundamental, uma vez que o montante necessário para o investimento neste sistema deve incluir a estação de tratamento de água e a inevitável comparação com a capacidade de exploração dos poços profundos, que atualmente contribuem com 65% do abastecimento. Do ponto de vista qualitativo, o manancial apresenta bom potencial para o abastecimento público, com indicativos compatíveis à Classe 2. Contudo, podem ser observados trechos onde se ressalta o assoreamento, denotando uso inadequado do solo e a falta de vegetação às margens desse ribeirão PALAVRAS-CHAVE: Potencial de abastecimento, Ribeirão da Água Parada, Município de Bauru-SP INTRODUÇÃO O município de Bauru - SP conta com um sistema de abastecimento de água que se utiliza de um manancial superficial e de mais 28 poços profundos distribuídos em diversos bairros no perímetro urbano. O manancial superficial atualmente explorado é o Rio Batalha, respondendo pelo abastecimento de aproximadamente 44% do município. Sua capacidade na seção de captação, com base no regime de vazões anuais, encontra-se no limite para o abastecimento público. Desta forma toda e qualquer ampliação da capacidade produtiva de água potável tem ocorrido pela abertura de novos poços profundos. O Departamento de Água e Esgotos de Bauru (DAE) iniciou um trabalho de pesquisa visando avaliar a capacidade produtiva desses poços e sua distribuição, assim como desenvolver um modelo que permita efetuar o gerenciamento adequado do manancial subterrâneo. Por outro lado existe uma grande preocupação em relação a dependência cada vez maior do manancial subterrâneo, sem que se conheça efetivamente seu real comportamento frente a essa tendência. Desta forma outros mananciais superficiais, além do rio Batalha, devem ser considerados com seriedade como alternativa para o abastecimento público. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

Além da capacidade volumétrica, deve ser considerada a qualidade desses mananciais e a tratabilidade de suas águas através do processo convencional. O DAE tem efetuado sistematicamente o acompanhamento da qualidade da água do Ribeirão da Água Parada, afluente do Rio Batalha, já nas proximidades do Rio Tietê. Sabe-se, contudo, que uma avaliação qualitativa, constitui apenas uma das etapas para avaliação do potencial de uso de um determinado manancial, havendo a necessidade de estudos fluviométricos com base em parâmetros hidrológicos. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo geral elaborar um estudo de baixo custo, associando-se o estudo qualitativo em andamento, com a inclusão da sistemática de medição de vazão, em uma única seção do manancial, determinando-se assim o potencial efetivo desse manancial para uso no abastecimento público da cidade de Bauru. DEMANDA E QUALIDADE DAS ÁGUAS A demanda de água para abastecimento público tem crescido expressivamente nas últimas décadas como resultado da formação das grandes aglomerações urbanas. Desta forma a disponibilidade de mananciais viáveis tem se tornado crítica em função dessas demandas concentradas. Como citado por Nascimento & Heller (25), essa demanda é gênese de conflitos pelo uso de recursos naturais. Os conflitos muitas vezes são gerados pela própria influência econômica da cidade em sua região, como no caso de desenvolvimento de áreas agrícolas ou a implantação de eixos rodoviários em áreas de mananciais. Os próprios modelos de gestão desses recursos estão sendo alterados pela força da interação entre saneamento e recursos hídricos. Embora os setores de abastecimento de água e esgotamento sanitário sejam tradicionalmente os principais usuários dos recursos hídricos, historicamente a sua política tem sido desvencilhada da política das águas, como demonstram Faria & Faria (24). A urbanização produz impactos de naturezas distintas sobre os corpos d água, que repercutem sobre os usos da água, que leva à imposição de restrições e riscos ou majorando custos ao sistema de abastecimento de água. Desta forma, esforços de monitoramento da qualidade dessas águas têm sido desenvolvidos com maior intensidade nos últimos 2 anos. No Estado de São Paulo, destaca-se o trabalho da CETESB (25), através de sua rede de monitoramento e o estabelecimento do IQA Índice de Qualidade da Água para mananciais superficiais. As dificuldades encontradas no setor, segundo Nascimento & Heller (25) indicam a necessidade de desenvolvimento de planos diretores de pesquisas em saneamento, com participação de diferentes segmentos, integrando estudiosos de recursos hídricos, principalmente. Estudos como de Fretzons et al (23), demonstram a importância da abordagem do conceito de bacia hidrográfica, através da delimitação e do diagnóstico da qualidade de suas águas. Além disso, a identificação do uso e ocupação do solo é fundamental para um diagnóstico adequado da bacia e sua influência sobre a qualidade e a quantidade água dos mananciais. METODOLOGIA A bacia hidrográfica desse manancial foi delimitada através de mapas obtidos de levantamentos aéreos existentes na secretaria do planejamento, inclusive do IBGE. Dentro da bacia hidrográfica foram definidas diversas seções e a determinação das respectivas sub-bacias de, estimando-se a vazão média através de vazão específica. A demanda de água máxima possível para o abastecimento público foi considerada como sendo a metade do valor mínimo de vazão estimada para o manancial nas diversas seções. A taxa de crescimento geométrico da população é representativa dos últimos 5 anos (Fundação SEADE, 24). No local em que o DAE efetua a coleta sistemática para avaliação da qualidade da água do Ribeirão da Água Parada, foram efetuadas medições de vazão e definição de uma curva chave para a seção. A partir da relação entre vazão e área de, estabeleceram-se valores para vazão específica, a ser empregada na estimativa de vazão em outras seções (sub-bacias) do rio. As análises químicas foram efetuadas no laboratório da Estação de Tratamento de Água e no Laboratório de Águas Residuárias do Convênio DAE/FEB. Tais análises e ensaios, assim como as medições de vazões, tiveram acompanhamento de técnicos do DAE. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

RESULTADOS O Ribeirão da Água Parada, em seu percurso, percorre aproximadamente 42 km, desde sua foz até desaguar no Rio Batalha, e sua bacia apresenta uma área de cerca de 39.4 ha. A seção de controle considerada abrange uma área de 19.8 ha, como mostrado na Figura 1. Do ponto de vista qualitativo não existiram restrições quanto ao uso do manancial e, para os parâmetros analisados, o mesmo é compatível com a Classe 2. Seção de controle (SC=S2) Contornos da bacia Contornos da área de Figura 1: Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Água Parada, com área aproximada de 39.4 ha e área de para a seção de controle (hachurada) com 19.9 ha.,35,3 Vazão específica, q (l/s.ha),25,2,15,1,5 1/9/22 21/1/22 1/12/22 29/1/23 2/3/23 9/5/23 Figura 2: Vazões específicas estimadas para as vazões medidas no período. A partir dos dados da seção de controle e da obtenção das vazões específicas, efetuaram-se estimativas para vazões em outras seções de referência, consideradas como opções para instalação de um sistema de captação ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

de água para abastecimento. Os valores determinados para a vazão específica com base nas medições efetuadas, são apresentados na Figura 2. As demais seções e suas respectivas áreas de são apresentadas na Figura 3. A partir das vazões estimadas para cada seção considerada determinou-se a população potencialmente atendida e o período de projeto respectivo, como mostrado na Figura 4. S1 S4 S3 Área de 9.2 ha A Área de 13.9 ha B Área de 28.9 ha C Figura 3: Seções consideradas e respectivas áreas de. População atendida (hab) 3. 25. 2. 15. 1. 5. S1: 28.9 ha S2=SC: 19.9 ha S3: 13.9 ha S4: 9.2 ha Seções consideradas 35 3 25 2 15 1 5 Período de projeto População Período Figura 4: População que pode ser abastecida e o respectivo período de projeto em função da seção considerada para a captação de água do manancial. Considerando-se que o período de projeto mínimo deva ser de pelo menos 2 anos, devem ser descartadas as seções S3 e S4. A seção de maior potencial é a S1, pois a distância mínima em linha reta até a área urbanizada do município até a seção S2 é de aproximadamente 15 km e a distância entre as seção S2 e S1 é de 3 km, o que representa um acréscimo de 2% em comprimento ao sistema de adução, para um ganho de 33,3% na vida útil do sistema, ou um potencial de abastecimento para mais 78. hab. A qualidade das águas pode estar associada, principalmente, ao uso e ocupação do solo e ao regime de chuvas, que tem implicação direta sobre a vazão do Ribeirão da Água Parada. Os valores do parâmetro cor da águas do Ribeirão, mostrada na Figura 5, em linhas gerais apresenta uma correlação com a vazão, observando-se, porém, que após chuvas mais intensas, a tendência da cor é diminuir, mesmo com o aumento da vazão, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

mostrando que ocorre nos períodos iniciais de chuva, um arraste de compostos associados à cor. Contudo, a cor medida é a aparente, ou seja, sofre influência dos materiais em suspensão, sendo, portanto, conveniente, analisar simultaneamente os parâmetros cor e turbidez, este último mostrado na Figura 6. Assim, apesar das amplitudes da cor aparente e da turbidez serem diferentes, existe uma correlação bem clara entre esses parâmetros. Neste caso, confirma-se que nos no início do período das chuvas há uma elevação dos valores de cor e turbidez, que não repetem nas chuvas seguintes, mesmo quando a intensidade é maior. Cabe lembrar que as representações de chuva estão sendo consideradas em função do aumento da vazão do ribeirão. 9 8 7 6 Cor (UC) 5 4 3 2 1 13/6/22 12/8/22 11/1/22 1/12/22 8/2/23 9/4/23 8/6/23 Figura 5: Valores da cor na seção de controle durante o período considerado. 25 2 Turbidez (UT) 15 1 5 13/6/22 12/8/22 11/1/22 1/12/22 8/2/23 9/4/23 8/6/23 Figura 6: Valores da turbidez na seção de controle durante o período considerado. A concentração média de cloretos observada foi de 2,7 mg/l, com um máximo de 8,48 mg/l. A princípio é possível identificar uma correlação com o aumento da vazão do ribeirão, como indicado em alguns dias de amostragens e medições, conforme mostrado na Figura 7. Mas como não foram levantados dados sobre chuvas e os registros de vazão foram semanais, há prejuízo na identificação de correlação ente esses parâmetros. Com relação à DBO 5, observou-se um valor médio de 2,66 mg/l, sendo que o máximo observado foi de 12 mg/l. O Rio Batalha e seus afluentes são considerados Classe 2, segundo o Decreto 1.755/nov77, que dispõe ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

sobre o enquadramento dos corpos de água na classificação prevista no Decreto n. 8.468 (1), de 8 de setembro de 1976.e a Resolução CONAMA 2/86. Considerando-se os valores médios, observa-se a conformidade com os limites de DBO 5 estabelecidos para a Classe 2, que estabelece o valor limite de 5 mg/l. Contudo, para se concluir sobre essa classificação, faltam outros parâmetros e a freqüência em que esses valores são ultrapassados. 9 8 7 Cloretos (mg/l) 6 5 4 3 2 1 13/6/22 12/8/22 11/1/22 1/12/22 8/2/23 9/4/23 8/6/23 Figura 7: Valores da concentração de cloretos na seção de controle durante o período considerado. CONCLUSÕES Da análise quantitativa, apesar dos indicativos favorecendo a seção S1, é necessário que sejam efetuados estudos mais apurados envolvendo recursos de otimização. Isto é fundamental, uma vez que o montante necessário para o investimento neste sistema deve incluir a estação de tratamento de água e a inevitável comparação com a capacidade de exploração dos poços profundos, que atualmente contribuem com 65% do abastecimento. Não se deve esquecer ainda a questão estratégica dessa alternativa, pois não somente aumentará a flexibilidade e a segurança do sistema de abastecimento, como também representará um ganho ambiental significativo para bacia, pela abrangência da área e pela necessidade inerente de sua preservação. Assim, em um momento em que são necessárias diretrizes para urbanização e para o uso e ocupação do solo no meio rural, o presente estudo permitirá a tomada de decisões por parte da administração municipal e fornecerá subsídios para alteração da legislação atual. Do ponto de vista qualitativo, o manancial apresenta bom potencial para o abastecimento público, com indicativos compatíveis à Classe 2. Contudo, podem ser observados trechos onde se ressalta o assoreamento, denotando uso inadequado do solo e a falta de vegetação às margens desse ribeirão ribeirão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CETESB, in http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/rios/relatorios.asp. Abril, 25. 2. Faria, S.A.de, Faria R.C. de, Cenários e perspectivas para o setor de saneamento e sua interface com os recursos hídricos. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol. 9 nº 3. p 22-21. 24. 3. Fritzsons, E., Hindi, E.C., Mantovani, L.E., Rizzi, N.E., Alterações da qualidade da água do Rio Capivari com deflúvio: um instrumento de diagnóstico de qualidade ambiental. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol. 8, nº 4. p 239-248. 23. 4. Heller, L., Nascimento, N.O., Pesquisa e desenvolvimento na área de saneamento no Brasil: necessidades e tendências. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol. 1, nº 1. p 24-35., 25. 5. SEADE, Fundação. http://www.seade.gov.br. Novembro, 24. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6