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Transcrição:

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ausência de uma cultura que valorize a recolha sistemática de dados dificulta a obtenção de informação pertinente para o planeamento dos serviços de saúde. Como exemplo, podemos analisar o que acontece com a informação sobre as causas de morte que são registadas no certificado de óbito, apesar de se assistir a uma redução no número de óbitos classificados como Sintomas, Sinais e Afecções mal Definidas, o número ainda é demasiado elevado. Assim, é emergente a necessidade de investir na formação sobre a importância da recolha de dados sobre saúde, não só sobre os óbitos, mas também sobre os restantes acontecimentos de saúde (ex: doenças de declaração obrigatória, doenças profissionais). Neste âmbito, e com o objectivo de rentabilizar a informação e o tempo que os profissionais utilizam no preenchimento dos suportes para a sua recolha, é fundamental a uniformização desses suportes. O envelhecimento da população, associado à melhoria dos cuidados de saúde, permite a sobrevivência de indivíduos que após episódios de doença, nomeadamente no acidente vascular cerebral, passam a ter necessidades especiais. A sobrevivência mais prolongada está frequentemente associada a incapacidade e dependência em grau variável, em particular entre os idosos. Isto tem determinado a carência de serviços de saúde especializados (ex. unidades de retaguarda, cuidados continuados, apoio domiciliário), e de recursos humanos, nomeadamente de equipas multiprofissionais (ex. médicos, enfermeiros, fisioterapeutas) responsáveis pela prestação dos cuidados no domicílio para assegurar a estes utentes melhor qualidade de vida. Esta situação tende a agravar-se. O protelar da decisão de procriar, que se observa actualmente na população em idade fértil, implica necessidades acrescidas no âmbito dos cuidados de saúde materno-infantil, pois vai condicionar um incremento no número de gravidezes de risco. Este fenómeno, conjugado com o facto de a principal causa de mortalidade infantil serem as malformações congénitas, poderá dificultar a melhoria deste indicador de saúde. No entanto, há ainda um vasto leque de causas mal definidas, que devem ser esclarecidas, e de causas externas, que podem ser alvo de eventuais medidas para as minimizar. O aumento da prevalência de fumadoras em idade fértil, esperado de acordo com os resultados das avaliações realizadas em adolescentes, poderá condicionar, além de diminuição da fertilidade, o prognóstico da gravidez. Estes factores poderão contribuir também para um aumento das necessidades no âmbito dos cuidados pré e

peri-natais. A promoção da adesão às consultas pré-concepcionais tem de ser dinamizada. Atendendo à maior mobilidade de pessoas entre países, e tendo em conta o número crescente de estrangeiros residentes em Portugal (aproximadamente 45% provenientes dos PALOP e a aumentar os de países do leste da Europa), é necessário preparar os Serviços para a possibilidade do aumento da incidência de doenças que há já algum tempo não aparecem na população Portuguesa ou que são muito raras (ex. malária crónica). Por outro lado os residentes de outras nacionalidades podem necessitar de apoio específico, nomeadamente por doenças mentais consequentes à necessidade de adaptação a uma nova cultura. O aumento de residentes provenientes de outros países representa também um desafio para se manterem, e quando possível, melhorarem as coberturas vacinais, pois só assim será possível garantir a manutenção da imunidade de grupo, mesmo com a entrada de novos residentes não vacinados. As doenças oncológicas são um ónus muito grande, quer em termos humanos, para os doentes oncológicos e as respectivas famílias, quer em termos de recursos consumidos no diagnóstico, tratamento e prestação de cuidados. Na região Norte a taxa de mortalidade por tumores do aparelho respiratório e digestivo foi superior ao global nacional. Dos tumores do aparelho digestivo, a taxa de mortalidade por tumor do estômago foi a maior, no entanto esta taxa está a decrescer enquanto a taxa de mortalidade por tumor do cólon apresenta uma evolução crescente. Por outro lado, verificaram-se diferenças entre distritos. Nos distritos de Braga e Viana do Castelo os tumores do estômago apresentam especial relevância, enquanto no distrito de Vila Real são os do cólon que apresentam maior razão padronizada de mortalidade. O tumor do estômago foi o responsável por maior número de anos potenciais de vida perdidos pelo que deverá dar-se prioridade à intervenção nos determinantes destes tumores e à sua detecção precoce. Nas mulheres, o cancro da mama é o terceiro cancro em anos potenciais de vida perdidos. O rastreio, utilizando o método da mamografia, permite a detecção de cancros em fase precoce, e a eficácia do tratamento permite o aumento da esperança de vida das doentes em muitos desses casos. O cancro do colo do útero também pode ser rastreado de modo a minimizar as suas consequências; o teste de Papanicolau é o método utilizado no rastreio. Os benefícios dos programas de rastreio só podem ser alcançados se a cobertura for elevada em todos os grupos alvo definidos, assim a

utilização esporádica dos métodos indicados para o rastreio não permite alcançar a efectividade desejada. Relativamente às doenças infecciosas, das quais destacamos a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana e a tuberculose, verifica-se que a incidência de SIDA na região Norte tem continuado a subir, tendo ultrapassado o nível nacional em 2001, assumindo a transmissão por via sexual (hetero e homo) e a transmissão vertical uma grande Importância. Em face do aumento da incidência e da diminuição da mortalidade, os serviços de saúde (cuidados diferenciados e continuados) devem preparar-se para um aumento da prevalência e consequente aumento da necessidade de cuidados de saúde. Paralelamente deverá ser feito um investimento na promoção de conhecimentos e na mudança de comportamentos. Os resultados do estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses realizado em 1998 e 2002 revelam que os adolescentes da região Norte estavam menos informados relativamente às formas de contágio, e apresentavam uma atitude menos tolerante para com as pessoas portadoras do VIH que a manter-se, poderão contribuir para o aumento da incidência. No que se refere à tuberculose, a incidência na região Norte é muito elevada, particularmente no distrito do Porto. Sendo necessário investir na identificação e tratamento precoce dos casos, no acompanhamento do cumprimento dos tratamentos prescritos e no rastreio dos contactos. Os dados revelam a necessidade de abordagem integrada da tuberculose e da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, em conjunto com outros problemas de saúde (ex.: toxicodependências) e de uma abordagem que envolva todos os sectores da saúde e os diferentes níveis de cuidados. As causas de mortalidade mais relevantes em Portugal têm como principais determinantes comportamentos passíveis de intervenção, como o consumo de tabaco, o abuso do álcool, dietas pouco saudáveis, a condução rodoviária de risco, toxicodependência e a inactividade física. Os indicadores relativos aos determinantes de saúde apontam para a importância de valorizar estratégias activas de promoção da saúde e de prevenção da doença. O aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade que os dados recolhidos permitem estimar, indicam que o aumento da mortalidade por diabetes mellitus que se verificou entre 2000 e 2002, na região Norte, como a nível nacional, pode vir a acentuar-se. Dado que a mortalidade é a consequência extrema, o incremento observado na mortalidade, permite supor que a morbilidade associada a esta patologia está também em crescendo, implicando aumento dos custos em saúde

e uma redução da qualidade de vida dos pacientes. Esta hipótese é extensível a outras patologias crónicas, nomeadamente às doenças cardiovasculares, para as quais a obesidade é um factor de risco reconhecido. Dos dados apresentados sobre a ingestão alimentar verifica-se que o consumo de fruta, hortaliças e legumes parece estar a decrescer e é inferior ao recomendado. Por outro lado, os adolescentes apresentam consumos elevados de refrigerantes, doces e produtos de pastelaria. Estes dados em conjunto com a falta de hábitos regulares da prática de exercício físico, particularmente no sexo feminino, podem condicionar o aumento das doenças crónicas, nomeadamente as cardiovasculares e o cancro. Assim, é essencial que se criem incentivos a uma alimentação mais saudável e à prática de exercício físico, de modo a obterem-se mudanças de comportamento que possam contribuam para a redução da obesidade nesta população. Também a intervenção para redução do número de fumadores e de novos fumadores é essencial para melhorar os indicadores de saúde, particularmente para impedir o previsível aumento da incidência de doenças crónicas. Apesar do relevo dado a estes factores, a promoção da saúde deve ser abordada de modo a integrar os vários determinantes de saúde. Verifica-se que na região Norte alguns indicadores melhoraram, no entanto, existe ainda um largo campo de acção. O desenvolvimento de intervenções preventivas, baseadas na evidência científica, e aplicáveis na região Norte, podem diminuir uma parte importante da morbilidade e mortalidade observadas.