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Transcrição:

Camila de Oliveira Machado Gustavo Gomes de Sá Joanna Cecília Silva Ribeiro Mariana Regis Jansen Professor Dr. Paulo R. Margotto Escola Superior de Ciências da Saúde(ESCS)/SES/DF

Relato do Caso ID: MPE, masculino, 3 meses (15/10/2004), natural e procedente de Rondônia. QP: Mãe refere que o bebê não ganha peso, desde o nascimento. HDA: Mãe relata que desde o primeiro mês de vida a criança não ganha peso, procurou assistência médica em Jarú (RO), tendo diagnóstico de desidratação. Foi hidratada e permaneceu internado por 2 dias. Sem melhora do quadro e apresentando polaciúria, polidipsia e ausência de suor e lágrimas, foi encaminhado a Porto Velho, onde permaneceu internado por um mês, com diagnóstico de ITU, desidratação e anemia. Tratado com soro, hemotransfusão e antibiótico. Após realização de US/TC renal, foi diagnosticado nefrocalcinose, sendo encaminhado ao Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF

Relato de Caso Ao exame: (12/04/2005) Peso: 3,8 Kg Estatura: 56 cm Desnutrição Grau II (Gomez P/I = 63,33% ) FR: 30 ipm, FC: 120 bpm BEG, hipocorado +/4, desidratado +/4, eupneico, acianótico, anictérico e afebril. ACV: Bulhas normofonéticas, ritmo cardíaco regular, em 2T, sem sopros ou extrassístoles. Pulsos palpáveis e simétricos em MMSS e MMII. AP: Respiração tóraco-abdominal, murmúrio vesicular fisiológico, sem ruídos adventícios. Abdômen: Globoso, normotenso, fígado palpável a 4cm do RCD, Traubre livre, RHA +.

Exames Anteriores Ecografia Renal: 11/03/05 Aumento importante da ecogenicidade das pirâmides renais, compatível com nefrocalcinose. Eletrólitos urinários: 4/4/2005 Ca: 7,8 mg% Mg: 1,4 K: 35,5 meq/l Na: 14 meq/l

Exames Anteriores DATA 31/mar 3/abr ph 7,1 7,23 PCO2 42,1 21,9 PO2 182... HCO3 13 9 BE -16-16 SatO2...... DATA 31/mar 3/abr Na 141 140,9 K 2,15 4,53 Cl 109 113,6

Interpretação dos exames 31/03/2005: acidose metabólica descompensada; 03/04/2005: acidose metabólica parcialmente compensada; Hipocalemia; Hipercloremia.

DATA 7/4/2005 8/4/2005 9/4/2005 10/4/2005 11/4/2005 12/4/2005 Hm 3,66 3,62...... 4,21... Hg 11,9 11...... 11,3... Ht 31 30,5...... 36... plaquetas 471.000 569.000...... 192.000... leuc... 11.000...... 6.700... segmentados... 54...... 74... bastões... 6...... 4... linfócitos... 39...... 20... monócitos... 1...... 1... eosinófilos............ 0... basófilos.................. uréia 15... 21 21...... creatinina 0,3... 0,3 0,3...... sódio 134 134 135 135 141 140 potássio 2,9 5 3,1 3,8 3,2 3,1 cloretos 108 102 109... 128 115 cálcio 9,58 9,5......... 10,1 Magnésio 1,77 1,7 1,4 1,4...... Fósforo 4,96 5,8 5 5...... FA...... 662 662...... VHS 10 10............

Gasometria: DATA 7/abr 8/abr 9/abr 10/abr 11/abr 12/abr ph 7,39......... 7,17 7,12 PCO2 30......... 16 37 PO2 87......... 113 35 HCO3 18......... 5 12 BE -6......... -22-17 SatO2............ 97 49

Interpretação dos exames 07/04/2005: Acidose metabólica compensada; 11/04/2005: Acidose metabólica parcialmente compensada; 12/04/2005: Acidose metabólica descompensada.

Ânion gap 12/04/2005 Ânion gap= (Na + K) (HCO3 + Cl) = (140 + 3,1) (12 + 115) = (143,1) (127) = 16,1 meq/l normal

EAS: 12/04/05 Densidade: 1010 ph:7,5 Proteínas: + Células: 3 p/c Leucócitos: 10 p/c Hemácias: Raras Flora: escassa Muco: - Cálcio: 1,5 Creatinina: 23,6

Definição: Função tubular renal diminuída com função glomerular normal. Caracteriza-se por acidose metabólica hiperclorêmica, por hipofosfatemia, acompanhada de osteomalacia, por hipocalemia e nefrocalcinose.

Etiologia: Existem três tipos de ATR: ATR distal (Tipo 1) ATR proximal (Tipo 2) ATR Tipo 4

Tipo 1: 1. Sind. Metabólicas: hipertireoidismo com nefrocalcinose, hiperparatireoidismo primário com nefrocalcinose. 2. Drogas; 3. Hipergamaglobulinemias; 4. Cirrose; 5. Rim em esponja; 6. Sind. Geneticamente Transmitidas: galactosemia, intolerância à frutose, doença de Fabry;

Tipo 2: 1. Alteração dos metabolismo das proteínas: Sind. Nefrótica, Amiloidose da Sínd. Sjögren. 2. Drogas, metais pesados; 3. Sind. Metabólicas: defic. de vit. D, hiperparatioidismo secundário; 4. Doença medular cística; 5. Sind. Genéticas.

Tipo 4; 1. Hipoaldosteronismo hiporreninêmico; 2. Drogas: AINEs e ieca;

Fisiopatologia: Tipo 2: incapacidade de reabsorção de bicarbonato a partir do filtrado glomerular leva a uma acidose hiperclorêmica. Distingue-se da ATR tipo 1 pela a capacidade de acidificar normalmente a urina durante a acidose espontânea ou induzida pelo cloreto de amônio. Tipo 4: esta associada ao hipoaldosteronismo ou à hipo-responsividade tubular renal aos mineralocorticóides.

Fisiopatologia: Tipo 1: defeito na secreção de íons hidrogênio para a urina tubular distal (retenção).em consequência, o ph urinário é alto, por causa da retenção de hidrogênio e da perda de bicarbonato.

A acidose crônica reduz a reabsorção tubular de cálcio, causando hipercalciúria e hiperparatireoidismo secundário leve. A excreção urinária de citrato é baixo, pois a acidose e a hipocalemia estimulam a reabsorção tubular de citrato. A hipercalciúria, a urina alcalina e os baixos níveis urinário de citrato causam os cálculos de fosfato de cálcio e nefrocalcinose.

Quadro Clínico: - Fraqueza, pela perda de potássio; - Alterações da marcha e dores musculares devido à osteomalacia (nos adultos); - Restrição de crescimento nas crianças devido ao raquitismo. - Doenças ósseas devido a perda de material ósseo pela acidose e produção inadequada de vit.d. - Poliúria e hipocalemia pois o rim não conserva potássio ou concentra a urina.

Diagnóstico: - Acidose metabólica com ânion-gap normal e um ph urinário simultâneo maior que 5,5. - A osteomalacia ou o raquitismo e os cálculos de fosfato de cálcio ou nefrocalcinose apoiam o diagnóstico, embora não esteja presentes em todos os casos.

Diagnóstico laboratorial: - Hipercloremia; - Bicarbonato situado entre 12 a 20mEq/l; - Hipofosfatemia; - Cálcio sérico normal ou ligeiramente baixo; - Hipocalemia; -Urina: densidade baixa ou fixa, glicosúria, cetonúria ou proteinúria.

Deve- se suspeitar de acidose tubular renal se os pacientes apresentam acidose hiperclorêmica associada com nefrocalcinose ou grave hipocalemia. Com esses achados deste caso, diagnosticou-se acidose tubular renal.

Evolução: A morte pode sobrevir em crianças por insuficiência renal progressiva.

Tratamento: - Reposição de bicarbonato e interrupção do progresso da osteomalacia ou do raquitismo. - Bicarbonato VO de 4 a 6g (48 a 72 meq) ou solução de Shohl. - Dieta rica em cálcio e vit.d para pacientes com osteomalacia ou raquitismo.

Obrigada!!!