EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAR E O FAZER NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES Lucilene Aline da Rosa 1 Jéssica de Góes Bilar 2 Daniela Medeiros 3 Resumo: Este texto se situa nos debates presentes no contexto educacional atual relacionado às práticas e concepções inclusivas. Pretende, diante disso, fazer uma breve reflexão sobre os estudos acerca da educação inclusiva na formação inicial de professores, mais especificamente no curso de licenciatura plena em Química do Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul. Parte do pressuposto que a educação inclusiva enfrenta dificuldades para incluir sem excluir os diferentes sujeitos que compõem o ambiente escolar, e isto começa dentro da sala de aula, quando o professor diz não estar preparado para atender a diversidade de alunos com necessidades educacionais especiais. Neste sentido, o texto baseia-se em estudos realizados na disciplina de Educação para a Diversidade e Inclusão (ofertada no curso de Química Licenciatura Plena) juntamente com o envolvimento em projetos de extensão vinculados ao Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NAPNE) do Instituto. Tal projeto visa realizar atividades por meio de diferentes recursos e métodos capazes de potencializar as aprendizagens dos estudantes envolvidos, desenvolvendo assim, as suas habilidades intelectuais. Consideramos que estas ações proporcionam aos futuros professores uma importante experiência diante o contato com estudantes que necessitam de um trabalho diferenciado. Percebemos, também, que estes espaços e propostas são um meio de pensar e fazer a formação inicial dos futuros docentes e isso vai desde discussões feitas nas disciplinas voltadas para a Educação Especial até a prática inclusiva realizada por meio de projetos e visitas em escolas, buscando saber como que acontece esta ação de inclusão, e como os professores lidam com esta realidade. Palavras-chave: Educação Inclusiva; Desafios; Formação Inicial de Professores. Introdução Sabe-se da dificuldade da inserção de indivíduos com necessidades educacionais especiais dentro do ambiente escolar, visto que muitos professores dizem não estar preparados para lidar com estes indivíduos, pois não possuem uma formação adequada. Além disso, os demais estudantes também parecem encontrar dificuldades em se relacionar com os mesmos. Com base nisso, o processo de inclusão de sujeitos com necessidades educacionais especiais no contexto educacional tem apontado um cenário de dificuldades e inquietações, 1 Aluna do terceiro semestre no Curso de Licenciatura em Química; Bolsista do NAPNE; Instituto Federal Farroupilha, Campus São Vicente do Sul/RS; E-mail: lucilene.alinedarosa29@gmail.com. 2 Aluna do terceiro semestre no Curso de Licenciatura em Química; Instituto Federal Farroupilha, Campus São Vicente do Sul/RS; E-mail: jessicaiffsvs@gmail.com. 3 Docente de Educação Especial do Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul; Doutoranda em Educação/Unijuí; E-mail: daniela.medeiros@iffarroupilha.edu.br. 1
tanto por parte dos professores envolvidos, como por parte dos próprios alunos, tenham eles alguma necessidade educacional especial ou não. Os primeiros (professores), por vezes, atribuem suas limitações à falta de formação inicial e, os alunos, parecem se debater nas questões de convívio e relacionamento. Mesmo estando na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no Capítulo V; Art. 59 do Parágrafo I, onde se refere que os sistemas de ensino assegurarão currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, ainda parece haver resistências e dificuldades dentro da escola. A educação inclusiva enfrenta desafios para incluir sem excluir estes estudantes, e isto começa dentro da sala de aula, pois mesmo com a disciplina de Educação para Diversidade e Inclusão presente no curso de licenciatura em Química, será que os futuros professores estarão mesmo preparados para lidar com a diversidade que se encontra no ambiente escolar? Diante deste cenário, de dúvidas, dificuldades e marcos legais, este texto tem como objetivo refletir sobre a importância dos estudos e discussões sobre educação inclusiva na formação inicial de professores, mais especificamente no curso de licenciatura em Química do Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul /RS. Deste modo, pretende-se pensar no papel do futuro docente frente às diversidades que compõem o cenário escolar atual. Tal estudo e reflexão se dá partir da disciplina específica de Educação para Diversidade e Inclusão, ofertada e realizada no segundo semestre de 2015, a qual nos proporcionou um olhar mais voltado para as questões inclusivas dentro do ambiente escolar. Assim, despertando-nos o interesse pela inclusão, o que nos levou a uma visita em algumas escolas de Santa Maria/RS 4, buscando saber como que acontece esta ação de inclusão, e como os professores lidam com esta realidade. Após esta experiência, fora pensado em um projeto de extensão vinculado ao Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NAPNE) do Instituto, onde o envolvimento se tornou assíduo e de grande comprometimento. Desenvolvimento Com base nas últimas reformulações políticas e educacionais, a inclusão passa a caracterizar as práticas escolares, deixando de lado perspectivas e ideias integracionistas 4 Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser; APAE Santa Maria/RS; e Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Hylda Vasconcellos. 2
baseados na lógica da normalidade e homogeneização. Com isto, se tornou necessário repensar o currículo que constitui a formação inicial de professores, visto que em tal proposta (inclusiva) todos são chamados a colaborar para a inserção, envolvimento e participação de todos os alunos. Em tal perspectiva, os cursos de licenciatura plena do Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul/RS 5 inseriram na grade curricular dos mesmos uma disciplina que objetiva pensar na diversidade que há no ambiente escolar, construindo um espaço de estudo e reflexão e, com isso, preparando melhor os futuros docentes para esta realidade. Esta disciplina foi inserida primeiramente no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, no ano de 2008, e, logo em seguida, no Curso de Licenciatura em Química, no ano de 2010. Com o passar do tempo, a mesma obteve uma maior carga horária, passando de 36 horas para 72 horas, no ano de 2014. Para Vargas (2013) as vivências e aprendizados de cada sujeito se dão de forma diferente, visto que cada um possui sua visão de mundo, com base nas associações que estabelece. Deste modo, segundo a autora, aquilo que serve para alguns, não necessariamente servirá para outros. Além disso, a de se considerar que [...] a escola baseada em uma política de Educação Inclusiva (EI) necessita desenvolver políticas, culturas e práticas que valorizam o contributo ativo de cada aluno para a construção de um conhecimento construído e partilhado e desta forma atingir a qualidade acadêmica e sócio cultural sem discriminação (RODRIGUES, 2006, p. 2). Diante destas questões que configuram o cenário educacional atual, buscamos refletir sobre tal assunto (educação inclusiva) a partir das práticas vivenciadas no curso de licenciatura plena em Química, mais especificamente na disciplina de Educação para Diversidade e Inclusão e, também, no envolvimento direto com projetos vinculados ao NAPNE do referido Instituto. Assim, durante a disciplina de Educação para Diversidade e Inclusão, cursada no segundo semestre de 2015, no curso de licenciatura em Química, foi realizada uma discussão sobre a importância da diversidade e inclusão, bem como a elaboração de planos de aula para alunos com necessidades educacionais especiais voltados para o ensino de Química, além de textos que foram discutidos em sala de aula para melhor compreensão, e relatos de algumas experiências que os estudantes já poderiam ter vivenciado. 5 Atualmente o Instituto Federal Farroupilha campus São Vicente do Sul possui dois cursos de Licenciatura Plena: Química e Ciências Biológicas. 3
Junto aos estudos realizados na referida disciplina (Educação para Diversidade e Inclusão) se deu a continuidade da prática junto ao Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NAPNE) por meio da participação em um projeto de extensão que está em andamento no primeiro semestre de 2016. Esta atividade é desenvolvida com alunos que possuem necessidades especiais das redes municipal e estadual do município de São Vicente do Sul/RS, e acontece todas as segundas à tarde. Este projeto visa potencializar o processo de inclusão escolar dos alunos a partir dos espaços e materiais disponíveis no campus e do trabalho realizado pelos profissionais e alunos envolvidos, já que o mesmo dispõe de recursos que seriam necessários para atender estes estudantes. Este projeto surgiu da necessidade do município e suas dificuldades em potencializar o processo de inclusão deste grupo de alunos, os quais atualmente ainda frequentam uma classe especial. Diante de tal demanda e dos objetivos do próprio Instituto, busca-se estabelecer parcerias entre a Instituição e as escolas da rede municipal e estadual do município proporcionando outros espaços e práticas que favoreçam a construção de saberes relevantes para sua inclusão escolar e social. Através da elaboração de um projeto maior, vinculado à área das Ciências/Química, são realizadas atividades que buscam desenvolver a linguagem, habilidades motoras, relacionamento social, interação, alfabetização, percepção e uso dos cinco sentidos, raciocínio lógico, entre outros. Para isso, utilizamo-nos de diferentes materiais e recursos, sejam eles visuais, sonoros ou táteis, os quais não objetivam ser usados como reforço daquilo que é trabalhado na escola, mas sim, como uma complementação curricular que se usa de outros recursos e métodos capazes de potencializar as aprendizagens destes estudantes. Diante disso, compreendemos que [...] a mudança geradora de uma educação inclusiva é um dos grandes desafios da educação de hoje porque imputa à escola a responsabilidade de deixar de excluir para incluir e de educar a diversidade dos seus públicos, numa perspectiva de sucesso de todos e de cada um, independentemente da sua cor, raça, cultura, religião, deficiência mental, psicológica ou física (SANCHES, 2005, p.128). Assim, podemos perceber que os estudos realizados na disciplina Educação para Diversidade e Inclusão apresentam novos sentidos e significados a partir do envolvimento com o referido projeto. Percebemos nestes espaços e propostas um meio de pensar e fazer nossa formação inicial na área da licenciatura. Entendemos que os estudos realizados em tal disciplina, junto aos fazeres que acontecem neste semestre por meio da inserção no referido Projeto transformam nossos olhares e concepções sobre o processo de ensino/aprendizagem, 4
colocando-nos em movimento de contínuo pensar sobre a atuação docente e os significados daquilo que vivenciamos na formação inicial. Consideramos então, que cabe ao educador adaptar sua aula para atender os seus estudantes sempre levando em conta suas necessidades, dificuldades e o seu tempo de aprendizagem. Para Vygotsky (1995) uma criança deficiente não é menos desenvolvida, é uma criança desenvolvida de modo diferente, e como qualquer criança o deficiente apresenta um desenvolvimento de caráter único (BORGMANN, 2008, p. 3). E é com base nisso, na concepção das diferenças, tempos e subjetividades de cada estudante que baseamos nossos fazeres enquanto futuros docentes. Considerações finais Sabe-se que a inclusão se fundamenta em concepções teóricas e metodológicas de educação de qualidade para todos, em uma perspectiva de diversidade e respeito às diferenças. Assim, em face das mudanças propostas, cada vez mais tem sido reiterada a importância da preparação de profissionais e educadores, em especial do professor de classe comum, para o atendimento das necessidades educativas de todas as crianças, com ou sem deficiências (SANT ANA, 2005, p.227). A partir dos estudos e práticas realizadas na disciplina de Educação para Diversidade e Inclusão juntamente com a inserção no projeto de extensão em andamento no NAPNE, percebemos que se faz de grande relevância estes momentos e espaços de estudo e reflexão. Consideramos, a partir disso, que a inserção de estudantes com necessidades educacionais especiais no ambiente escolar pode potencializar tanto o desenvolvimento do mesmo (dentro e fora da escola), assim como as experiências e concepções docentes. Acreditamos que experimentar tais situações (de estudos e práticas) já na formação inicial também constitui experiências inclusivas para o futuro docente que, por meio de estudos e práticas participa de atividades inclusivas durante a formação inicial. Ratificamos, junto a isso, que tal estudo não se esgota neste ciclo de estudos, mas encontra neste espaço curricular um importante lugar para reconfigurar a ação docente e, consequentemente, os espaços escolares. Entendemos que a disciplina de Educação para a Diversidade e Inclusão, se tratada de forma isolada, ainda ocupa um espaço pequeno no currículo dos cursos de licenciatura, especialmente se considerarmos a complexidade do assunto. Sendo vista e tratada de forma isolada, constituir-se-á de forma frágil e pouco significativa ao futuro docente. No entanto, 5
percebemos que o envolvimento dos alunos em outros momentos de pensar e fazer a educação inclusiva, sejam eles projetos de pesquisa e/ou extensão, se configuram como importantes e capazes de ressignificar os estudos realizados na referida disciplina. Referências BORGMANN, Marta Estela. Desenvolvimento humano: implicações na educação da pessoa com necessidades educacionais especiais (PNEE). Material desenvolvido para a disciplina de Diversidade e Educação Inclusiva da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Ijuí, 2008. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, 5ª edição, 2010. RODRIGUES, David. Inclusão e Educação: doze olhares sobre a Educação Inclusiva. S. Paulo. Summus Editorial. 2006. SANCHES, Isabel. Compreender, Agir, Mudar, Incluir. Da investigação-ação à educação inclusiva. Revista Lusófona de Educação, 5, 127-142, 2005. SANT ANA, Izabella Mendes. Educação inclusiva: concepções de professores e diretores. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 2, p. 227-234, mai./ago. 2005. VARGAS, Roberta Vieira de. Os desafios de incluir sem excluir. Revista O Professor. Ed. 17, 2013. 6