Dr. Ricardo Paul Kosop. Médico Infectologista Prof. Clínica Médica Universidade Positivo Preceptor Residência Médica em Infectologia HNSG

Documentos relacionados
Uso profilático de Antimicrobianos em Cirurgia. Adilson J. Westheimer Cavalcante Sociedade Paulista de Infectologia

Definir Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS); Definir e classificar a Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC);

PRINCIPAIS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Hermes R. Higashino DMIP/HCFMUSP

INFECÇÃO E CIRURGIA. V SEMANA BRASILEIRA DO APARELHO DIGESTIVO de Agosto de Rio Centro-RJ

Profilaxia cirúrgica Como estamos no século XXI?

Prof. Diogo Mayer Fernandes Técnica Cirúrgica Medicina Veterinária

3. Preparo do paciente antes da cirurgia Profilaxia antimicrobiana peri operatória Equipe cirúrgica Técnica cirúrgica 6

IRAS: Infecção do Sítio Cirúrgico e Prevenção. Magda de Souza da Conceição Infectologista Outubro/2016

Controle de Infecção Hospitalar (CIH) Professor: PhD. Eduardo Arruda

Prof. Diogo Mayer Fernandes Medicina Veterinária Faculdade Anhanguera de Dourados Patologia e Clínica Cirúrgica I

INFECÇÕES RELACIONADAS A CATETERES VASCULARES

Infecções causadas por microrganismos multi-resistentes: medidas de prevenção e controle.

Informe Técnico XXXVI Outubro 2010

PLANO ESTADUAL DE ELIMINAÇÃO DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES (BMR) USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS

INDICADORES DE RESULTADOS

ROTINA DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE TRATO VASCULAR

CLASSIFICAÇÃO DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)¹ MANUAL DA CCIH. POP nº 10. Versão: 01

Tecnologias para higienização da sala cirúrgica: O que há de novo?

InFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO

Os Antibióticos - Profilaxia e Terapêutica das IACS

REPERCUSSÕES SISTÊMICAS RELACIONADOS A PROCESSOS INFECCIOSOS BUCAIS

Critérios Diagnósticos das Infecções Hospitalares

ESPAÇO ABERTO / FORUM

10 ANOS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFEÇÃO NOSOCOMIAL DA CORRENTE SANGUÍNEA ADRIANA RIBEIRO LUIS MIRANDA MARTA SILVA

FAURGS HCPA Edital 01/2014 PS 15 MÉDICO I (Controle de Infecção Hospitalar) Pág. 1

IRMANDADE SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO CARLOS

PNEUMONIA ASSOCIADA A VENTILAÇÃO MECÂNICA

DEFINIÇÕES E CONCEITOS

ENFERMAGEM BIOSSEGURANÇA. Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

PREVENÇÃO DE INFECÇÃO EM SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)

Enfª Adenilde Andrade SCIH A C Camargo Câncer Center

Microbiota Normal do Corpo Humano

PREVENÇÃO DE INFECÇÃO PRIMÁRIA DE CORRENTE SANGUÍNEA - IPCS

Programa de uso racional de antimicrobianos

INFECÇÃO EM CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

Melhores Práticas Assistenciais

Exame Bacteriológico Indicação e Interpretação

Gênero Staphylococcus Gênero Streptococcus. PDF created with pdffactory Pro trial version

Conceitos Gerais Relação Parasita Hospedeiro. Prof. Cor

DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS

INFECÇÃO HOSPITALAR. InfecçãoHospitalar. Parte 2. Profª PolyAparecida

Informações de Impressão. Informações de Impressão. Questão:

As Multifaces da Prevenção de PAV

Riscos Biológicos. Acidente Ocupacional com Material Biológico. HIV, HCV e HBV

Cefazolina + 2g 4/4h 1g 8/8h 48h a 5 dias Clindamicina + 600mg 6/6h 600mg 6/6h. (conforme. (conforme

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Infecção do sítio cirúrgico. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

PNEUMONIA ASSOCIADA A VENTILAÇÃO MECÂNICA (PAV)

ANTIBIOTICOTERAPIA NO TRAUMA:

Infecções primárias de corrente sanguínea

SÉPSIS E CIRURGIA CARLOS MESQUITA. Hospitais da Universidade de Coimbra Cirurgia 3 Novembro, 2006

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Controvérsias: FIM da vigilância para MRSA, VRE, ESBL

Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar. Hospital 9 de Julho 2010

Sistema Epimed Monitor CCIH

Pediatrics and International Child Health 2013;33(2):61-78

SUPERBACTÉRIAS: UM PROBLEMA EMERGENTE

ANTIBIOTICOPROFILAXIA PRT.SESA.002

OPAT Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy

Abscesso abdominal. Colégio Brasileiro de Cirurgiões XXVII Congresso Barasileiro de Cirurgia Belo Horizonte, 08 a 12 de Julho de 2007

Glicopeptídeos Cinara Silva Feliciano Introdução Mecanismo de ação

Critérios diagnósticos: quais são as principais mudanças?

OCORRÊNCIA DE INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO EM CIRURGIAS ORTOPÉDICAS REALIZADAS EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO OESTE DO PARÁ

FORMULÁRIO TERMO DE CONSENTIMENTO CIRURGIA PLÁSTICA: ORELHAS - OTOPLASTIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

BIOSSEGURANÇA EM CLASSES HOSPITALARES

Precaução padrão x contato: qual a diferença em relação à tratamento dos dispositivos no CME

Tratamento da ITU na Infância

Porque devemos nos preocupar com indicadores associados a cateteres intravasculares periféricos

Recensão da Portaria 930/92 do Ministério da Saúde sobre a classificação do potencial de contaminação da ferida cirúrgica

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO RISK FACTORS AND PREVENTION OF SURGICAL SITE INFECTION

IDENTIFICAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE BACTERIANA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA

Tópico 9 Prevenção e controle de infecções

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS EM GERMES MULTIRRESISTENTES

PROTOCOLO DE TRATAMENTO ANTIMICROBIANO EMPÍRICO PARA INFECÇÕES COMUNITÁRIAS, HOSPITALARES E SEPSE

NEUTROPENIA FEBRIL. Rafael Henrique dos Santos. Fortaleza, 27 de Março de 2017

PERFIL DE PACIENTES PEDIÁTRICOS COM DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO APÓS CIRURGIA ORTOPÉDICA

PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA PAV IMPORTÂNCIA, PREVENÇÃO CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E NOTIFICAÇÃO

PROTOCOLO ANTIBIOTICOPROFILAXIA CIRURGICA- UHSJQ

BEPA 2012;9(106):15-23

Infecções por Gram Positivos multirresistentes em Pediatria

COMPLICAÇÕES PÓS CIRURGIAS GINECOLÓGICAS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Informativo da Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR PREVENÇÃO DAS INFECÇÕES ASSOCIADAS A CATETER INTRAVASCULAR

TÍTULO: INFECÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO DE CIRURGIAS PELO POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prevenção e controlo de infeção e de resistências a antimicrobianos

TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA EM ODONTOPEDIATRIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Melhores Práticas Assistenciais

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA. Antibioticos e resistência bacteriana a drogas

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

MANUAL DO PACIENTE Dr. Paulo Vicente

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Transcrição:

Dr. Ricardo Paul Kosop Médico Infectologista Prof. Clínica Médica Universidade Positivo Preceptor Residência Médica em Infectologia HNSG 16/08/2017

Considerando o disposto nas resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM 1595/00 de 18/05/2000) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA 120/2000 de 30/11/2000): Bayer MSD Lab CK

Ao final desta apresentação você será capaz de: 1) Entender a patogênese das ISCs 2) Identificar fatores de risco 3) Classificar as ISCs 4) Uso racional da profilaxia antimicrobiana 5) Princípios do tratamento

Os 5 Ds da Antibioticoterapia DIAGNÓSTICO correto DROGA certa (sítio / patógeno) DOSE certa DURAÇÃO certa (menos é mais!) DE-ESCALONAMENTO O paciente certo, com a droga certa, na dose certa, pelo tempo mais breve e com o menor espectro possível

JC, 45 anos,, médico Previamente hígido; nega alergias Artroscopia diagnóstica de ambos os joelhos (= lesão meniscal por esporte) Sem intercorrências (tempo Cx prolongado) Profilaxia com Cefazolina 2g 1h pré-incisão Corticoide intra-articular no intra-op Alta no 1 PO com cefalexina VO por 5 dias

3 PO sinais flogísticos em joelho E Dor, calor, rubor, edema Joelho D sem alterações Punção articular Aspecto turvo Leuc 70.900/mm3 (84% PMN) Glicose 14 Prot 3,7 LDH 2370 Enviado para bacteriscopia e culturas Procedimentos de limpeza Cx Sinovectomia + lavagem articular Nova limpeza

Qual a classificação desta ISC? Quais os fatores de risco (possivelmente) implicados? Qual o patógeno esperado? A profilaxia antimicrobiana foi adequada? O tratamento foi adequado?

Infecção do Sítio Cirúrgico (ISC) 1ª IRAS nos países em desenvolvimento ( LMICs ) 11,8/100 procedimentos (1,2 23,6) 2ª IRAS ( HICs ) 9,5% Colorretal 3,5% Revascularização do miocárdio 2,9% cesarianas 1,4% colecistectomias Global Guidelines for the Prevention of Surgical Site Infection, WHO - 2017

Um paciente com ISC tem: >60% de necessitar de UTI 15x readmissão hospitalar em 30 dias +6,5 dias internamento ~us$3000/infecção Germe MDR = mortalidade maior Até 40-60% das ISCs = EVITÁVEIS Infect Control Hosp Epidemiol. 20:725-730 1999 Global Guidelines for the Prevention of Surgical Site Infection, WHO - 2017

ORGANISMO CAUSADOR = presente no sítio de incisão Microbiota endógena Contaminação exógena (instrumental, ambiente, profissionais) Disseminação hematogênica FATORES Paciente Patógeno (virulência) Procedimento Métodos de prevenção

Microbiota Mandell, Douglas and Bennett s Principles and Practice of Infectious Diseases 8 th ed, 2015 http://www.wright.edu/~oleg.paliy/images/research/human%20gut%20microbiota.jpg

PACIENTE PATÓGENO PROCEDIMENTO CIRURGIÃO Hiperglicemia Tabagismo Infecção remota Desnutrição Obesidade Corticoide Internação prévia Colonização Fatores de virulência Tamanho do inóculo Resistência a antimicrobianos Tempo cirúrgico Tricotomia Preparo de pele Hipotermia Hipoxemia ATB profilaxia Tráfego na sala Fluxo de ar Drenos Próteses Técnica cirúrgica Quebra técnica asséptica Microperfurações na luva Comportamento Cultura Estado de saúde Infect Control Hosp Epidemiol. 20:725-730 1999 Global Guidelines for the Prevention of Surgical Site Infection, WHO - 2017

Equação do Risco de Infecção Cirúrgica (RIC)

Primeiros 30 dias (90 dias) Se prótese = até 1 ano (ANVISA,2017 = 90 dias ) Drenagem (pus) Cultura (+) Drenagem (pus) Deiscência Sinais sistêmicos Cultura (+) Drenagem (dreno) Sinais sistêmicos Cultura (+) Abscessos órgão/espaço

I. LIMPA sem sinais inflamatórios; sem invasão trato respiratório, alimentar, genital ou urinário; fechamento primário <2-3% II. III. LIMPA-CONTAMINADA invasão controlada (trato respiratório, digestivo, genital ou urinário); sem contaminação. CONTAMINADA trauma recente; quebra grosseira de técnica asséptica; derramamento grosseiro secreção gastrointestinal; inflamação aguda não purulenta 4-10% >10-20% IV. INFECTADA traumática antiga, tecido desvitalizado, infecção estabelecida, perfuração de vísceras >40-50% ANVISA, 2017 CDC Guideline for the Prevention of Surgical Site Infection, 2017

Limpa = PELE Cocos gram positivos (S. aureus* MSSA/MRSA, S. epidermidis*, S. pyogenes) Limpa-Contaminada = VÍSCERA OCA/MUCOSA Microbiota do trato gastrointestinal (Enterobactérias, Anaeróbios - B. fragillis, Candida spp.) Genitourinário (Enterobacterias, Enterococcus spp, Contaminada / Infectada = AGENTE INFECÇÃO Microbiota endógena Patógenos externos (nosocomial, ambiente...) Raros Micobactérias de crescimento rápido (MNTs), Fungos filamentosos, Nocardia spp. CDC Guideline for the Prevention of Surgical Site Infection, 2017 Mandell, Douglas and Bennett s Principles and Practice of Infectious Diseases 8 th ed, 2015

CONCEITOS FUNDAMENTAIS Complementa a técnica asséptica Indicação correta (= benefício estabelecido) Cobertura da microbiota residente Posologia eficaz Início 30-60 min ANTES da incisão Repique extra (2x meia vida e/ou perda sanguínea súbita 1,5 L) Ajuste de dose no obeso Suspensão ao término da cirurgia (máx. 24h) Segurança Custo

Janela profilática = concentração máxima de ATB no momento da cirurgia Processo inflamatório no pós-op ATB Sem ganho prolongando-se o tempo (2, 3, 5, 7 dias..) Mandell, Douglas and Bennett s Principles and Practice of Infectious Diseases 8 th ed, 2015

Repique de dose Mandell, Douglas and Bennett s Principles and Practice of Infectious Diseases 8 th ed, 2015

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Am J Health-Syst Pharm Vol 70 Feb 1, 2013

Controle do foco (Source control) Debridamento tecido desvitalizado Drenagem (pus, secreções, coleções) Coleta de culturas Secreção / líquidos biológicos / hemoculturas Antibioticoterapia Empírica Guiada Conhecer a microbiota do serviço!

3 PO sinais flogísticos em joelho E Dor, calor, rubor, edema Joelho D sem alterações Punção articular Aspecto turvo Leuc 70.900/mm3 (84% PMN) Glicose 14 Prot 3,7 LDH 2370 Enviado para bacteriscopia e culturas Procedimentos de limpeza Cx Sinovectomia + lavagem articular Nova limpeza

ATB empírico Vancomicina + Cefepime Microbiologia Gram = BGNs Klebsiella pneumoniae Boa evolução no pós-op 2º debridamento = culturas negativas ATB total = 3 semanas Descalonado cefalo 3ª G

1) Entender a patogênese das ISCs 2) Identificar fatores de risco 3) Classificar as ISCs 4) Uso racional da profilaxia antimicrobiana 5) Princípios do tratamento

INFECTO.KOSOP@GMAIL.COM