Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade

Documentos relacionados
Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade

Resolução Computacional de Problemas de Contagem:

2 Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade 6

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

Grade Curricular do Curso de Graduação em Engenharia de Computação

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DO NORTE DE MINAS GERAIS CAMPUS MONTES CLAROS 1 PERÍODO

Comparação de Desempenho entre o Método dos Elementos de Contorno com Integração Direta e o Método dos Elementos Finitos em problemas de Poisson

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO MATRIZ CURRICULAR MATUTINO Fase N.

Resolução Computacional de Problemas Matemáticos

Matemática: sua natureza e seu ensino

CURSO VOCACIONAL SECUNDÁRIO 2º ANO TÉCNICO COMERCIAL NRº DO PROJETO: ENSINO SECUNDÁRIO OBJETIVOS - REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA DE UMA FUNÇÃO

Um modelo do Método dos Volumes Finitos com malha não estruturada

6.Elaboração de algoritmos...13

Monte Carlo Method. Peter Frank Perroni. December 1, Monte Carlo Simulation

Caminhos de Amizades pelo Facebook: Dualidade Computacional entre Curto e Longo

Figura 4.2: Matriz Curricular

UM PORTAL COM ATIVIDADES PARA O ENSINO DE ESTATÍSTICA

Caminhos de Amizades pelo Facebook:

Instituto de Matemática e Estatística, UFF Março de 2011

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO CADAVAL

MATEMÁTICA NÍVEL MÉDIO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA CAMPUS CAJAZEIRAS COORDENAÇÃO DO CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA


Cuidado! Use com responsabilidade.

Capítulo 1. INTRODUÇÃO

Resolução Analógica de Problemas Geométricos

Modelagem e Avaliação de Desempenho. Pós Graduação em Engenharia Elétrica - PPGEE Prof. Carlos Marcelo Pedroso 2016

Um algoritmo pseudo-periférico genérico para a heurística de Snay


POLINÔMIOS ORTOGONAIS CLÁSSICOS

Introdução à Matemática Discreta

Noções de Simulação. Ciências Contábeis - FEA - Noturno. 2 o Semestre MAE0219 (IME-USP) Noções de Simulação 2 o Semestre / 23

Teoria de probabilidade - objetiva descrever e prever as características de populações infinitas

3 Definições. 3.1 Processos Estocásticos e Processo de Wiener

1 Introdução 1.1. Motivação

Desvendando o futuro: Matemática Computacional

a complexidade no desempenho de algoritmos

6 Estudo de Casos: Valor da Opção de Investimento em Informação por Aproximação com Números Fuzzy 6.1. Introdução

Seleção de Atributos 1

Aprendizado de Máquina (Machine Learning)

Solução Numérica de Equações Diferenciais Parciais Implícitas de Primeira Ordem

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS - Grupo 500. Planificação Anual /Critérios de avaliação. Disciplina: MACS 11º ano 2014/2015

Biomatemática - Prof. Marcos Vinícius Carneiro Vital (ICBS UFAL) - Material disponível no endereço

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA COMISSÃO DE GRADUAÇÃO DE ESTATÍSTICA

Sumário. 2 Índice Remissivo 12

Introdução à Engenharia de Sistemas

Máquinas de Turing para construção: Foram encontrados dois modelos que se destacaram em nossas pesquisas.

Probabilidades. Wagner H. Bonat Elias T. Krainski Fernando P. Mayer

Disciplina: Prof. a Dr. a Simone Daniela Sartorio de Medeiros. DTAiSeR-Ar

COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DATAS DAS AVALIAÇÕES DO PERÍODO LETIVO 2017/1

ANEXO I SEQÜÊNCIA ACONSELHADA DE DISCIPLINAS Ciência da Computação

MA12 - Unidade 17 Probabilidade

Projeto CONDIGITAL Probabilidade Guia do Professor

COMPUTAÇÃO SIMBÓLICA NO ENSINO MÉDIO COM O SOFTWARE GRATUITO GEOGEBRA

Introdução aos Números Pseudo-aleatórios. Profa. Dra. Soraia Raupp Musse

Orientações de Inscrição nas Unidades Curriculares. da Licenciatura em Informática

DOCUMENTO DE ADEQUAÇÃO MESTRADO EM ENGENHARIA INFORMÁTICA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA PEÇA B

Estatística (MAD231) Turma: IGA. Período: 2017/2

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

Como modelar o comportamento de um sistema? MAB-515

Matriz de Referência da área de Matemática Ensino Médio

AULA 5 - Independência, Combinatória e

Grade Curricular do Curso de Graduação em Engenharia de Controle e Automação

Desenvolvimento de Algoritmos. Slides elaborados pela Prof(a). Simone do Rocio Senger de Souza ICMC/USP

1.3 Outras definições de probabilidade

Vamos resolver problemas?

Planificação a médio e longo prazo. Matemática B. 11º Ano de escolaridade. Total de aulas previstas: 193. Ano letivo 2015/2016

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

Cálculo Numérico. Aula 4 Zeros de Funções /04/2014. Prof. Rafael mesquita Adpt. por Prof. Guilherme Amorim

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS IFMG

Física Estatística Computacional

O Problema dos 3 Potes d água

Exame de Ingresso. Física Aplicada Física Computacional. Segundo Semestre de 2015

Sexta Lista: Geração de Números Pseudo-Aleatórios e Método de Monte Carlo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

LINGUAGEM ALGORÍTMICA

2. Complexidade de Algoritmos

Estatística e Modelos Probabilísticos - COE241

MATEMÁTICA 1ºANO Ementa Objetivos Geral Específicos

MATRIZ DA PROVA DE EXAME

Curso Profissional de Nível Secundário

Introdução aos Métodos Numéricos

étodos uméricos DERIVAÇÃO NUMÉRICA Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

Tópicos Avançados em Algoritmos

Estatística e Modelos Probabilísticos - COE241

Curso de Educação e Formação Empregado de Restaurante/Bar 1º Ano. Planificação Anual de Matemática

1 Introdução 1.1. Motivação

Estatística Aplicada. Prof. Carlos Alberto Stechhahn PARTE I ESPAÇO AMOSTRAL - EVENTOS PROBABILIDADE PROBABILIDADE CONDICIONAL.

Sistema de Controle Acadêmico. Grade Curricular. Curso : MATEMÁTICA

Estatística e Modelos Probabilísticos - COE241

MÉTODOS NUMÉRICOS APLICADOS À ENGENHARIA

Aprendizado de Máquina (Machine Learning)

Faculdade do Centro Leste 1º PERÍODO DE ENGENHARIA OPÇÃO A NOTURNO /2

Prof.Letícia Garcia Polac. 26 de setembro de 2017

Transcrição:

Trabalho apresentado no III CMAC - SE, Vitória-ES, 2015. Proceeding Series of the Brazilian Society of Computational and Applied Mathematics Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade Lúcio Souza Fassarella 1 Departamento de Matemática Aplicada, UFES, São Mateus, ES Resumo. Neste artigo discuto brevemente a essência de uma proposta para a resolução de problemas de probabilidade através de simulações computacionais de ensaios aleatórios, tendo em perspectiva sua aplicação no ensino de matemática. Além das definições básicas, apresento dois exemplos simples que ilustram a técnica. Palavras-chave. Probabilidade, Simulação Computacional, Ensino de Matemática 1 Introdução Os computadores liberam a matemática do mundo real do cálculo manual, permitindo que ela possa ir mais rápido e mais longe do que jamais alguém poderia ter imaginado. Agora, é vital que a educação matemática também incorpore essa automação. Conrad Wolfram (Tradução livre) Vivemos uma era em que o uso do computador está bastante difundido em diversos setores da sociedade, e mesmo em nossas próprias vidas. Dadas suas amplas potencialidades, é natural pensarmos no emprego do computador na educação, particularmente na educação matemática. Consonante, o uso da informática tem sido uma das fortes tendências em Educação Matemática e vem ganhando espaço cada vez maior nas práticas pedagógicas [1]. O uso do computador no ensino da matemática é especialmente promissor devido à Matemática ter como essência a elaboração e resolução de problemas conforme disse Paul Halmos num famoso artigo em 1980: Eu acredito que os problemas são o coração da Matemática e espero que nós professores, nas aulas e seminários e nos livros e artigos que escrevermos, enfatizemos isso cada vez mais, e que treinemos nossos estudantes a serem melhores elaboradores e solucionadores de problemas do que nós mesmos somos. [2] (Tradução livre) Neste artigo discuto a abordagem algorítmica para resolução de problemas de probabilidade pela simulação computacional de ensaios aleatórios denominada simplesmente 1 lucio.fassarella@ufes.br DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-1 2015 SBMAC

2 resolução computacional de problemas de probabilidade. A ideia está fundada diretamente na interpretação frequentista das probabilidades, o que suscita a expectativa de que esta abordagem pode realmente ajudar os estudantes a compreender melhor a teoria das probabilidades, além de ampliar sua capacidade para interpretar e resolver problemas específicos. O uso do computador na resolução de problemas matemáticos pode ocorrer de duas formas diferentes, pelo menos: (i) como ferramenta auxiliar para executar algoritmos preestabelecidos utilizados numa estratégia de resolução concebida sem o subsídio do computador ou (ii) como instrumento cognitivo que nos permite conceber estratégias de resolução alternativas. Talvez não seja essencial distinguir essas duas formas de usar o computador na prática, até porque elas podem colaborar, se sobrepor ou se confundir em diversas situações; entretanto, ilustro as ideias com dois exemplos: o computador é usado como ferramenta auxiliar na resolução numérica de uma equação de quinto grau através de um algoritmo genérico (tal como o método de Newton), enquanto ele é usado como instrumento cognitivo na investigação das propriedades de uma configuração geométrica mediante um software de geometria dinâmica. Chamo de abordagem algorítmica a tentativa de resolver um problema pela elaboração de um algoritmo específico, cuja execução gera a solução exata ou uma aproximação arbitrariamente próxima da solução exata. A abordagem algoritmica é um caso especial do uso do computador como instrumento cognitivo que geralmente também o aplica como ferramenta auxiliar (para implementar os algoritmos-solução obtidos). Trabalhos recentes indicam a relevância do uso do computador ou da computação simbólica no ensino de Probabilidade: Graças à abundância de computadores de baixo custo, agora temos a oportunidade de melhorar o ensino de matemática em uma frente vastamente mais ampla e interessante, que irá melhorar a importância da matemática aprendida pelos alunos. Por exemplo, com a ajuda do método de Monte Carlo, e programas como o Mathematica, a Probabilidade pode assumir um lugar proeminente na Matemática Escolar. [Nesse caso,] eliminamos a opressora dificuldade com os cálculos combinatórios. [Além disso,] medidas importantes relacionadas com a distribuição normal (de Gauss) e outras distribuições exponenciais [também] podem ser abordadas pelo método de Monte Carlo, tornando essa parte da matemática não mais complicada do que [mera] contagem. [4, p.3] (Tradução livre) Embora a abordagem pareça mais indicada para o Ensino Médio ou Superior, uma pesquisa realizada com o objetivo de investigar as contribuições que a inserção da tecnologia pode trazer à educação estocástica e que teve como questão descobrir como os recursos tecnológicos podem ser úteis para a construção de novos conhecimentos da Estocástica no Ensino Fundamental chegou à seguinte conclusão: Tornou-se evidente que a inserção de tais recursos gera conhecimentos mais amplos e precisos, porém exige do professor um conhecimento teórico- DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-2 2015 SBMAC

3 metodológico muito mais aprofundado sobre o assunto. Além disso, os resultados destacaram a importância da simulação e do processo de interação na educação estocástica. [3, p.6] A estrutura do artigo é a seguinte: na Seção 2 defino genericamente a resolução computacional de problemas de probabilidade, na Seção 3 discuto dois exemplos e na Conclusão apresento alguns comentários. 2 Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade Preliminarmente esclareço que simulação computacional de um ensaio aleatório significa usar um gerador de números pseudo-randômicos para selecionar um elemento de um conjunto finito dado. Aqui, denoto por Random (U) a simulação computacional de um ensaio aleatório em U. A resolução computacional para o caso de um problema que se resume a determinar a probabilidade de um evento E num espaço amostral finito U no qual todos os elementos são igualmente prováveis, pode ser esquematizada em quatro etapas: 1. definir o espaço amostral U de modo adequado para realizar ensaios pseudo-ramdômicos; 2. caracterizar o evento E por um conjunto finito de propriedades em U; 3. realizar uma sequência finita N de simulações de ensaios aleatórios em U, contando o número n de vezes nos quais os ensaios resultam num elemento do evento E; 4. calcular a probabilidade de E pelo quociente p (E) = n N. Naturalmente, pode-se escrever um pseudo-algoritmo para calcular a probabilidade de E utilizando a função característica de E (viz., o teste que determina se um elemento de U pertence a E): { 1, u E ε (u) = 0, u U \ E, Explicitamente, o algoritmo-solução do problema é dado por (N é o número de ensaios a serem realizados): Algoritmo-solucão 1: Entrada: U, ε, N; 2: n = 0 3: Para i = 1 até i = N faça 4: Se ε (Random (U)) = 1 então n = n + 1; 5: Retorne: n/n DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-3 2015 SBMAC

4 Destaco que a execução desse algoritmo-solução não resulta no valor exato da probabilidade de E, mas numa aproximação cujo erro pode ser arbitrariamente reduzido aumentando o número N de ensaios. Usando Estatística, pode-se determinar o número necessário de ensaios para que, com uma probabilidade arbitrariamente alta, o erro da estimativa seja menor do que uma margem previamente estabelecida. Entretanto, não desenvolvo esse tópico nesta breve exposição. Nos exemplos que seguem ilustro concretamente a abordagem, utilizando com adaptações o algoritmo-solução genérico proposto acima. No primeiro exemplo calculo uma probabilidade simples, enquanto no segundo resolvo um problema de probabilidade condicional. Em ambos os casos, considero somente espaços de probabilidade finitos nos quais todos os elementos são igualmente prováveis. 3 Exemplos 3.1 O problema dos aniversários coincidentes Problema: Dado um inteiro m 2, qual é a probabilidade de um grupo de m pessoas possuir pelo menos duas pessoas que fazem aniversário num mesmo dia (supondo que todas as possíveis datas de aniversário sejam igualmente prováveis)? Resolução Considere que o ano possui 365 dias e associe biunivocamente cada dia do ano a um número entre 1 e 365, o espaço amostral do problema é o conjunto U de todas as sequências de m números entre 1 e 365 cada termo representando o dia do aniversário de uma determinada pessoa do grupo. O evento em questão é o subconjunto de todas as sequências de U que possuem pelo menos dois termos iguais. Denotando por ε : U {0, 1} a função que para u U retorna 0 se a sequência u não possui termos iguais e 1 se a sequência u possui pelo menos dois termos iguais, pode-se escrever o seguinte algoritmo-solução: Algoritmo-solucão 1: Entrada: m, N; 2: U = {sequências com m números entre 1 e 365} 3: n = 0; 4: ε : U {0, 1}, ε (u) = 5: Para i = 1 até i = N faça 6: Se ε (Random (U)) = 1 então n = n + 1; 7: Retorne: n/n { 0, se u não possui termos iguais, 1, se u possui pelo menos dois termos iguais; Este algoritmo foi programado no software Mathematica e retornou os seguintes resultados para N = 10000 simulações em cada caso: para m = 2, a probabilidade computada foi 0.0022 (o valor exato é 1/365 0.0027); DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-4 2015 SBMAC

5 para m = 3, a probabilidade computada foi 0.0089 (o valor exato é 1/365 + 2 364/365 2 0.0082); para m = 10, a probabilidade computada foi 0.1152 (o valor exato fica para o leitor determinar...). 3.2 O problema da retirada de bolas nas gavetas Problema: Um móvel tem três gavetas iguais. Em uma gaveta há duas bolas brancas, em outra há duas bolas pretas, e na terceira há uma bola branca e outra preta. Abrimos uma gaveta ao acaso e tiramos uma bola ao acaso sem olhar a segunda bola que está na gaveta. A bola que tiramos é branca. Qual é a probabilidade de que a segunda bola que ficou sozinha na gaveta seja também branca? Resolução Represente uma bola preta por 0 e uma bola branca por 1 e considere que as três gavetas têm igual probabilidade de serem escolhidas (antes de realizar a primeira retirada); assim, defina o espaço amostral com elementos igualmente prováveis por U = {a, b, c}, a = {(0, 0)}, b = {(0, 1), (1, 0)}, c = {(1, 1)}. Pode-se pensar nos ensaios em duas etapas (como descreve o problema): primeiro escolha aleatoriamente uma das gavetas a, b ou c; se a escolha resultar em a ou c, não é necessário fazer nova escolha para determinar a cor da bola que será retirada primeiro (ela será necessariamente preta no caso de a e branca no caso de c); entretanto, se o resultado da escolha da gaveta for b, então realize uma escolha aleatória em {0, 1} para determinar qual é a cor da primeira bola retirada (e também da segunda, consequentemente). Assim, numa sequência de ensaios aleatórios em U, a informação de que a primeira retirada resultou numa bola branca é levada em conta simplesmente desprezando todos os ensaios que resultam na gaveta a ou resultam na gaveta b com o subsequente ensaio aleatório em {0, 1} resultando em 0. Naturalmente, é necessário contar separadamente o número de ensaios válidos (aqueles que correspondem à primeira bola retirada ser branca) dos ensaios que resultam no evento em questão (aqueles que correspondem à escolha da gaveta c). Algoritmo-solucão 2 1: Entrada: N; 2: n = 0; m = 0; 3: Para i = 1 até i = N faça 4: x = Random (U), 5: Se x = b e Random {0, 1} = 1 então m = m + 1, Se x = c então m = m + 1, n = n + 1; 6: Retorne: n/m 2 Destaco que este algoritmo não utiliza a função ε definida na Seção 2; entretanto, algo similar está implícito nas condições de contagem dos índices m e n. DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-5 2015 SBMAC

6 Este algoritmo foi programado no software Mathematica e retornou os seguintes resultados para N = 1000, N = 10000 e N = 100000 simulações, respectivamente: 0.6736, 0.6792 e 0.6642. A resposta exata do problema é 2/3 0.6666. 4 Conclusão Neste artigo, apresento uma abordagem para resolver problemas de probabilidade usando o computador que alinha-se à tendencia atual de usar a computação simbólica na educação matemática e que pode facilmente ser integrada às metodologias de ensino denominadas Resolução de Problemas e Investigação Matemática. Naturalmente, a resolução computacional não substitui a resolução analítica dos problemas de probabilidade, mas constitui uma abordagem alternativa que eventualmente é mais fácil ou mais atraente de ser implementada. Destaco duas vantagens da resolução computacional: a primeira consiste dela contornar problemas intermediários de combinatória; a segunda, consiste numa padronização das resoluções dos problemas de probabilidade, dada pelo algoritmo-solução genérico definido na Seção 2. Dentre as perspectivas futuras para o desenvolvimento deste trabalho, está a realização de pesquisas de campo para avaliar o efeito da aplicação da abordagem no aprendizado de probabilidade. Referências [1] M. de C. Borba, R.S.R. da Silva e G. Gadanidis, Fases das Tecnologias Digitais em Educação Matemática, Editora Autêntica, (2014). [2] P. Halmos, The Heart of Mathematics, The American Mathematical Monthly, vol. 87(7), 519 524, (1980). [3] L. O. Souza, A Educação Estatística no Ensino Fundamental e os recursos tecnológicos, Dissertação de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul, (2009). [4] J.J. Uhl and D. Woods, The crisis we face and how to try to deal with it, Symbolic Computation and Education, Chapter 1, World Scientific, (2007). DOI: 10.5540/03.2015.003.02.0129 020129-6 2015 SBMAC