Marketing digital e a nova era de serviços on demand 1

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Transcrição:

Marketing digital e a nova era de serviços on demand 1 Bruno Nascimento FERREIRA 2 Fernando Antônio Batista dos Santos JUNIOR 3 Mariana da Cunha MARQUES 4 José Riverson Araújo Cysne RIOS 5 Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE Resumo Com o surgimento de novas tecnologias e novas formas de consumo, as empresas precisam de estratégias inovadoras para adequar suas relações comunicacionais com a nova geração. Tendo como referencial teórico a teoria da Cauda Longa de Chris Anderson e o Marketing Digital, faremos um estudo de caso da empresa Netflix por meio da análise da relação entre a empresa e seus clientes em sua página oficial do Facebook durante a proposta de divulgação da série Stranger Things no mês de agosto de 2016, período no qual as postagens referentes à série tiveram grande repercussão nas redes sociais no cenário brasileiro. Palavras-chave: consumo; marketing; Netflix; on demand; publicidade. Introdução O advento da internet trouxe transformações em diversos âmbitos da vida social, dentre eles, a forma como trabalhamos, nos comunicamos e também em nossas relações comerciais. Com a informação cada vez mais rápida, os consumidores foram desenvolvendo novas práticas e costumes diversificados, possuindo gostos cada vez mais plurais e uma postura cada vez mais crítica diante das estratégias de compra e venda. 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática de Publicidade e Propaganda, da Intercom Júnior XIII Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do ICA-UFC, email: brruno.naascimento@gmail.com. 3 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do ICA-UFC, email: ofernandosantosjunior@gmail.com. 4 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do ICA-UFC, email: marianadacunhamarques@gmail.com. 5 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Publicidade e Propaganda do ICA-UFC, email: riverson.rios@yandex.com. 1

Partindo dessa realidade, as empresas tiveram que repensar suas estratégias de marketing para algo que estivesse para além do tradicional processo de comunicação massificado, trabalhando em estratégias pautadas na relação com seus clientes por meio de um processo mais direto e emocional, desenvolvendo uma proximidade com o consumidor, empenhada não só em conquistar o cliente, como também em se manter presente na memória do seu público. Diante desta sociedade voltada para o mundo virtual, novos hábitos de consumo também foram surgindo, como os serviços on demand e streaming. On demand significa ter a possibilidade de consumir inúmeros programas de entretenimento, quando você quiser e onde você quiser, sem intervalos comerciais. Streaming, por sua vez, é uma maneira inovadora de transmissão instantânea de dados. Por causa do streaming, podemos assistir filmes, seriados ou videoclipes sem precisar baixá-los antes. Uma das empresas que ofertam esses tipos de serviços, sendo líder no mercado, é a Netflix. A Netflix oferece filmes e séries, possui uma comunicação baseada na interação entre a empresa e os seus consumidores, tendo mais de 53 milhões de assinantes no mundo inteiro, conquistando cada vez mais seguidores nas redes sociais, por sua relação de marketing digital pautada no relacionamento. Assim, o presente trabalho tem como objetivo compreender o processo de marketing digital pautado no relacionamento da Netflix, utilizando como exemplo a divulgação de sua série original Stranger Things em sua página oficial no Facebook durante o mês de agosto de 2016. Stranger Things é uma série americana de ficção científica, produzida e distribuída pela Netflix. Ela se passa nos anos 80, possuindo diversos elementos temáticos da década, que vão desde a trilha sonora, figurino, roteiro, etc, até referências explícitas aos filmes clássicos da década. Deste modo, pretendemos entender como se dá o processo de comunicação do marketing digital da Netflix, analisando como ele se diferencia dos demais meios de comunicação tradicionais, como a televisão, criando uma relação íntima com os clientes. Assim, discutiremos sobre as estratégias utilizadas pela Netflix que lhe permite se aproximar do seu público tendo metodologia o estudo de caso a Netflix, analisando a repercussão da campanha promocional da série Stranger Things em sua página oficial do facebook, durante o mês de agosto de 2016. 2

Assim, em um primeiro momento, faremos um panorama sobre as transformações no mercado no mundo da informação e o desenvolvimento do novo perfil de consumidor diante desse novo cenário. Em seguida, iremos abordar sobre os novos serviços on demand, posteriormente, apresentaremos um breve histórico da Netflix e, por fim, faremos uma análise do esquema de comunicação da Netflix, tecendo uma relação entre os conceitos do marketing digital e o conceito da cauda longa, tendo como case a divulgação da série Stranger Things Um novo consumidor e as novas estratégias de comunicação De acordo com Kotler (2010), há algum tempo atrás, a tendência mercadológica era voltada exclusivamente para o produto. Acreditava-se que o sucesso de um negócio era fruto exclusivo da qualidade do negócio ou serviço em si. Assim, a principal função das empresas era aumentar cada vez mais a qualidade de seus produtos em uma produção em massa a fim de conquistar cada vez mais clientes fiéis. Entretanto, com o desenvolvimento das novas tecnologias, a indústria se deparou com indivíduos com mais informações e mais possibilidades de escolha. Se antes a tendência do mercado do século XX era focada em produtos de massa, o século XXI mostrou um cenário múltiplo e diversificado. As gerações contemporâneas, sempre conectadas pela internet, passaram a valorizar novas experiências,possuindo um perfil mais dinâmico e imediatista, com uma postura mais crítica e diversificada. Assim, observou-se que o diferencial das marcas não estava somente no que era oferecido em si, mas sim intrinsecamente na relação construída entre o que era vendido com quem consome. Na publicidade tradicional, entre o estímulo da mensagem de venda e a ação de se dirigir a uma loja para a efetivação da compra, vários imprevistos ou influências de outras pessoas podem acontecer para alterar a decisão de compra. Na rede, é como se o consumidor visse o comercial de tv, pudesse dar um toque no controle remoto e ser transportado imediatamente para o ambiente da loja para efetivar a compra. (...) o processo é imediato. (BRANDÃO 2000, p. 5) A ascensão do mundo virtual trouxe uma nova realidade para a sociedade. Desta forma, muito tem-se discutido sobre o desafio das indústrias em trabalharem com um cliente dinâmico e crítico ao invés do produto em si. Assim, surge o conceito de Marketing de experiências. 3

Através do marketing de experiências a comunicação emocional diferenciará uma marca da concorrência enquanto criará expectativas no consumidor, portanto, é necessário que a promessa da comunicação seja garantida ou superada e, para tal, é necessário abordar a ideia de empresa experiencial, que tem no seu âmago a oferta continuada de experiências de consumo. ( AGOSTINHO, 2013, P. 11) Desta forma, as empresas passaram a investir na construção de suas relações com seus consumidores, partindo de como seus produtos ou serviços eram percebidos consciente ou inconscientemente após o contato com o cliente. Segundo Natália Leandro (2016), existem três estratégias principais as empresas devem aplicar: o marketing de experiência, o digital experience e o customer experience management. Todas as vezes que um consumidor interage com alguma marca através de uma tecnologia, eles estão participando de uma experiência digital. E uma experiência digital de sucesso é aquela que consegue conectá-lo ao conteúdo que ele está procurando de forma clara e consistente. Já o customer experience management (gerenciamento de experiência do consumidor) é responsável por oferecer aos clientes experiências relevantes e mensurá-las. Ele é a gestão da experiência do consumidor, objetivando melhorar a pré-venda, as políticas de pós-vendas e a fidelização de clientes. Marketing de Experiência: muito utilizada por lojas físicas e eventos, o objetivo dessa estratégia é a criação de uma experiência rápida, porém ainda memorável para o cliente; Digital Experience: a experiência duradoura deve ser alcançada por meios digitais a fim de facilitar para o cliente no momento de interagir com a empresa. É uma forma de agilizar e otimizar os serviços oferecidos, salvando tempo para o cliente; Customer Experience Management: o objetivo é o estabelecimento de uma área interna que vai estudar e oferecer uma experiência consistente em todos os tipos e etapas de interação entre o cliente e a empresa. Essa última estratégia merece um cuidado maior, pois ela é uma prática que consiste em alcançar e exceder a expectativa do cliente para aprimorar sua lealdade e satisfação. Exceder as expectativas se trata de conhecer o cliente a ponto de criar e personalizar interações para criar uma relação de lealdade e despertar nele o desejo de recomendar a empresa a amigos. (LEANDRO, 2016) Para Uhde e Rios (2016) as possibilidades dadas pelo marketing digital são infinitas, pois não só possibilita uma atração mais forte e envolvente de novos clientes, como também permite trabalhar com uma diversidade maior do mercado utilizando estratégias que se adaptem às características de interação do público com as mídias, como serviços on demand e streaming, abarcando um número de consumidores mais 4

amplo de forma mais precisa se comparado ao marketing tradicional, focado simplesmente no bom relacionamento com os clientes. Serviço on demand e streaming O serviço é caracterizado como Streaming (fluxo de mídia) quando dados, em sua maioria de forma multimídia, são distribuídos em uma rede por meio de pacotes através da Internet. Segundo Jorge (2016) as plataformas que oferecem esse serviço permitem que seus clientes escolham exatamente os programas que desejam assistir e quando querem assistir. O diferencial do streaming é a facilidade de não necessitar ocupar espaço no disco rígido, pois as informações não são armazenadas nos computadores daqueles que usufruem desta tecnologia. On Demand (sob demanda) significa ter a disponibilidade de assistir aos programas que você quer ver, quando quiser. O consumidor que consome serviços on demand é aquele que está disposto a pagar para não ter intervalos comerciais na sua programação. Crescimento da Netflix e decaída das outras mídias Segundo Ladeira (2013) a empresa Netflix teve seu início em 1997 a partir da parceria entre os americanos Hastings e Marc Randolph. Inicialmente, a empresa trabalhava com o aluguel de filmes pelo correio por uma taxa fixa para clientes nos Estados Unidos. A partir de 2007, a Netflix passou a oferecer uma lista de filmes e séries para exibição online. Assim, a empresa foi conquistando cada vez mais clientes com o serviço VOD (Video On Demand), conquistando o cenário brasileiro em 2011, já com o serviço streaming. Em contraponto, vimos cada vez mais uma decadência dos tradicionais meios de comunicação, tendo um forte recuo nas assinaturas de TVs pagas em 2015, segundo a Anatel. Apesar de ser um grande meio de comunicação, a televisão tem cada vez mais perdido adeptos, passando por uma crise em sua audiência. Em contraponto a isso, a sociedade está investindo cada vez mais em redes sociais e conteúdos online. A praticidade, rapidez, escolha personalizada e mobilidade são fatores que fazem com que serviços como a Netflix acabem conquistando ainda mais seguidores. 5

E através desta nova forma de distribuição, nós demonstramos que aprendemos a lição (...):dê às pessoas o que elas querem, quando querem, na forma que elas querem, a um preço razoável e elas muito provavelmente vão pagar pelo conteúdo, ao invés de roubar. (SACCOMORI, 2015, p.59) Além disso, tendo um vasto repertório de filmes e séries não só atuais, como também clássicos que foram sucessos da TV, a Netflix investe em um conteúdo múltiplo, baseado não só nos hits, mas nas escolhas que agradam a nichos com gostos diversos. Esta diversidade acaba agregando um número cada vez maior de clientes, fenômeno denominado por Anderson (2006) como Cauda Longa. Segundo o autor, "[...] quase todos queremos mais do que apenas hits. As preferências de todas as pessoas em certos pontos se afastam da tendência dominante. Quanto mais exploramos as alternativas, mais somos atraídos pelas variantes." (ANDERSON, 2006, p. 2) Assim, ao se utilizar dessa estratégia, a empresa cada vez mais ganha destaque, expandindo seu mercado. Case Stranger Things Cauda Longa é nada mais que escolha infinita. Distribuição abundante e barata significa variedade farta, acessível e ilimitada o que por sua vez, quer dizer que o público tende a distribuir-se de maneira tão dispersa quanto as escolhas. Sob a perspectiva da mídia e da indústria do entretenimento dominantes, essa situação se assemelha a uma batalha entre os meios de comunicação tradicionais e a internet. Mas o problema é que, quando as pessoas deslocam sua atenção para veículos online, elas não só migram de um meio para o outro, mas também simplesmente se dispersam entre inúmeras ofertas. Escolha infinita é o mesmo que fragmentação máxima. (ANDERSON, 2006, p.179) Stranger Things é uma série original da Netflix, do gênero ficção científica/suspense, criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer. A série é situada nos anos 80 e possui diversos elementos temáticos que fazem referência à época, que vão desde a trilha sonora, constituída a partir de inspirações musicais da época, até referências explícitas no roteiro sobre as obras de Steven Spielberg e Stephen King, por exemplo. A primeira temporada conta com apenas oito episódios, todos disponibilizados simultaneamente na Netflix no dia 15 de julho de 2016. Para divulgar o lançamento da série Stranger Things, a Netflix compartilhou em sua fanpage oficial no Facebook dois vídeos principais, como estratégia de marketing. 6

Figura 1 - Pôster de divulgação da primeira temporada da série. O primeiro vídeo de divulgação da série tem por título Nenhum mundo é mais invertido que os anos 80. #StrangerThings. Publicado no dia 3 de agosto de 2016 na fanpage oficial da Netflix no Facebook, o vídeo nos mostra um quarto cheio de objetos típicos da década de 80, período em que a série se passa. Entre os objetos presentes no quarto filmado, no final do vídeo nos deparamos com a boneca da Xuxa, fazendo menção à lenda popular de que a boneca continha poderes paranormais. Assim, o vídeo obteve 1,3 milhões de visualizações, com 25 mil reações, sendo sucesso de repercussão. A Netflix conseguiu conquistar 9.209 compartilhamentos e 4,1 mil comentários, como podemos observar na figura 2. 7

Figura 2 - Primeiro vídeo de divulgação do lançamento da série Stranger Things. 6 Já o segundo vídeo tem por título Xuxa e o baixinho que sumiu, lançado em 04 de agosto de 2016. No vídeo, a personagem Eleven sintoniza a televisão no programa da apresentadora Xuxa. Caracterizada conforme o seu programa dos anos 80, ela passa a ler a carta fictícia de Joyce, personagem da série que está a procura do seu filho Will, também pertencente à série. Até o dia 18/01/2017, o vídeo contava com 13 mil visualizações, 191 mil reações, 60 mil comentários e 141.280 compartilhamentos na fanpage oficial da Netflix no Facebook, como podemos ver na figura 3. 6 Disponível em: https://www.facebook.com/strangerthingsbr/videos/1393407097341682/ 8

Figura 3 - Segundo vídeo de divulgação do lançamento da série Stranger Things. 7 Além de fazer uma relação com a temática da série, os vídeos viralizaram pois traziam de volta a sensação nostálgica de um assunto bastante discutido na época. Apesar de ser uma produção norte-americana, a empresa pesquisou referências dos anos 80 do Brasil e lançou os vídeos que tiveram grande repercussão nas redes sociais. A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. Nem todos os participantes são criados iguais. (JENKINS, p.30, 2009) Como podemos observar, a comunicação da Netflix é muito baseada nas experiências e vivências de seus próprios clientes. Além de pegar referências culturais 7 Disponível em: https://www.facebook.com/strangerthingsbr/videos/1394199200595805/ 9

dos seus consumidores, pelo diálogo interativo e íntimo, eles também acabam colocando os seus clientes como protagonistas do processo. Segundo Mello, Longo e Fortim (2016) o consumidor deixa de ser um mero sujeito passivo do mercado de massa e passa a ter um papel de consumidor colaborativo, contribuindo para o pensamento coletivo e deixou de ser um ser isolado para ser parte da sociedade. Além disso, outro fator importante que se destaca nesse caso é a utilização de uma linguagem jovem, simples e bem humorada. A utilização da Xuxa com assuntos polêmicos, como a boneca com espírito, a utilização do número 666 e a menção de tocar o disco da artista, deixaram a postagem mais dinâmica e bem-humorada, aproximando o público alvo que reagiu positivamente, pois o vídeo referente postado no YouTube teve um total de 98% no seu índice de aprovação. Isso denota que a empresa possui referências atuais e que despertam o interesse do seu público. Considerações finais O presente artigo pretendeu analisar a forma de comunicação utilizada pela Netflix, tendo como a base o marketing digital de relacionamento, focando em um case de divulgação da série Stranger Things em sua página oficial do facebook. Desta forma, vimos que o diferencial da Netflix está no fato de que ela transforma sua fanpage em uma ferramenta de comunicação com o seu usuário, falando a linguagem dele e se adaptando às novidades do mercado de maneira instantânea. Assim, observamos que a empresa se utiliza dos conceitos presentes no marketing digital de relacionamento, desenvolvendo um trabalho pautado no cliente e em suas relações, criando uma conexão íntima e profunda com seus consumidores. Além disso, podemos observar o que Jenkins (2009, P. 29) denomina de fluxo de conteúdos nos quais múltiplos suportes midiáticos, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e o comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação vão construindo uma relação baseada nas interações e na busca das experiências marcantes de entretenimento que desejam. Assim, segundo o autor, o consumo tornou-se um processo coletivo, no qual, cada vez mais a tendência do mercado é aproveitar dessa inteligência coletiva para atuar no mercado cada vez mais complexo e diversificado, estreitando laços com o cliente. 10

Com isso, consideramos que a empresa tem se destacado por estar constantemente aproveitando do repertório cultural do seu público para relacionar suas as temáticas presentes em suas produções com os conteúdos e falas dos seus consumidores, resultando em trabalhos alinhados com as experiências e vivências dos clientes, consolidando uma relação pautada no relacionamento com o cliente. Todavia, consideramos que o assunto é um fenômeno novo e profundo em questões diversas que poderão ser trabalhadas em produções futuras, abordando a divulgação das campanhas e seu desempenho, como também outras questões que envolvem a produção e as possibilidades de comunicação e interação que o ambiente online permite, tendo como foco a construção, distribuição dos produtos audiovisuais e a sua repercussão na sociedade. REFERÊNCIAS ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do mercado de massa ao mercado de nicho. São Paulo: Campus, 2009. AGOSTINHO, Pedro Filipe Lopes. Marketing de Experiências: Comunicar Emoções e Sensações Através de Experiências de Consumo: Caso Biosotis. Coimbra, 2013 JENKINS, Henry. Cultura da convergência: a colisão entre os velhos e novos meios de comunicação / Henry Jenkins ; tradução Susana Alexandria. 2a ed. São Paulo : Aleph, 2009. JORGE, Anna Carolina Gonçalves Barreiro Passos. A Nova Publicidade: Anúncios na Era Netflix. XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul - Curitiba - PR, 2016. KOTLER, Philip. Marketing 3.0: As forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. LADEIRA, João Martins. Negócios de audiovisual na internet: uma comparação entre Netflix, Hulu e itunes-appletv, 2005-2010. Revista Contracampo, Niterói, v. 26, n.1, p. 145-162, 2013. LEANDRO, Nathália. Customer Experience ou Experiência do Cliente: o que é? Disponível em: http://satisfacaodeclientes.com/customer-experience-ou-experiencia-do-cliente-o-que-e/ Acesso em 12/01/2017 MARIANO, Bruna Maiara Xavier. Produção, distribuição e interação: um estudo sobre o Netflix e a nova dinâmica de consumo audiovisual. Porto Alegre, RS, 2015. 11

MELLO, Ana Barbara de. LONGO, Antonio. FORTIM, Ivelise. Séries mais assistidas no Netflix e motivos de identificação. São Paulo, SP, 2016. UHDE, Diandra Aparecida Silva. RIOS, José Riverson Araújo Cysne. Comportamento do consumidor contemporâneo e marketing digital: O posicionamento da Netflix no facebook. XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste Caruaru - PE, 2016 12