EQUIPES MULTIDISCIPLINARES E AS RELAÇÕES DE GÊNERO, DIVERSIDADE E SEXUALIDADE: COMO OS/AS PROFESSORES/AS LIDAM COM ESTA INTERAÇÃO

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Transcrição:

EQUIPES MULTIDISCIPLINARES E AS RELAÇÕES DE GÊNERO, DIVERSIDADE E SEXUALIDADE: COMO OS/AS PROFESSORES/AS LIDAM COM ESTA INTERAÇÃO POPOV, Cleber G. MAIO, Eliane Rose O presente trabalho, um recorte teórico inicial da dissertação de mestrado, se destina a compreender como os/as professores/as das equipes multidisciplinares lidam e conceituam os temas que envolvem a gênero, diversidade e sexualidade no ambiente escolar estadual no município de Maringá/PR. Os debates e abordagens acerca da sexualidade, identidade, gênero e preconceito mostram-se necessários e urgentes no diálogo da prática cotidiana dos espaços pedagógicos e familiares. Atualmente os conceitos de identidades, conforme afirma Louro (2000, p.9), justificam a necessidade de diálogo. A autora afirma que [...] somos sujeitos de muitas identidades. Essas múltiplas identidades sociais podem ser, também, provisoriamente atraentes e depois, nos parecer descartáveis; elas podem ser então rejeitadas e abandonadas. Somos sujeitos de identidades transitórias e contingentes. Portanto, as identidades sexuais e de gênero (como todas as identidades sociais) têm caráter fragmentado, instável, histórico e plural [ ] As mudanças próprias do período da adolescência estão associadas a um processo de transitoriedade entre a infância e a vida adulta e essas podem ser descobertas nas diversas vivências individuais ou coletivas dos/as educandos/as, ocorrendo em situações e momentos de consentimentos, de dúvidas e conflitos. Neste sentido, a sexualidade, vista pela ótica contemporânea, reúne uma série de fatores que devem ser observados, analisados, considerados e/ou refutados no ambiente escolar, de maneira a contribuir para tornar consciente o/a cidadão/ã de seus direitos, deveres, obrigações e atribuições junto aos seus pares, num processo contínuo, mutável e infindável. As manifestações de sexualidade nos/as adolescentes são frequentes em inúmeros ambientes, inclusive o escolar. Inicialmente ocorre em um processo de 1

imitação de determinado modelo, seja ele familiar, doméstico ou cultural. Dificilmente os/as professores/as conseguem aproveitar essas situações, de maneira a orientar esse/as alunos/as que explicitamente buscam um determinado conhecimento. Butler (2003, p.147) nos ajuda a problematizar essas questões que envolvem a sexualidade, quando afirma que O corpo não é um lugar sobre o qual uma construção tem lugar, é uma destruição que forma o sujeito. A formação desse sujeito implica o enquadramento, a subordinação e a regulação do corpo. Ela implica igualmente o modo sobre o qual esta destruição é conservada na normatização. Observamos que o acesso às informações sobre a sexualidade está cercado de mitos e tabus, definidos por Furlani (2003 p. 133) como um conjunto de práticas sexuais que ao mesmo tempo em que recebem uma carga de informações estereotipadas e distorcidas da verdade, reúnem também forte preconceito e discriminação social - entre estes masturbação, virgindade, homossexualidade e bissexualidade. Por esta visão a sexualidade pode ser atraente e interessante pelas dúvidas que possam envolvê-la, ou preconceituosa, estigmatizada e enganosa, devido aos processos de estereotipagem que provocam divergências frequentemente anunciadas pelos/as jovens. Deparamo-nos, no ambiente escolar, com relatos de professores/as que repreendem ou advertem os/as alunos/as que acessam e/ou tecem comentários sobre vídeos, revistas e outras fontes que contenham algum teor sexual. Nestes momentos, raramente observamos um plano de trabalho que possa orientar ou ajudar, restando as atitudes de advertência ou punitivas. Assim, a escola a deixa de assumir o seu papel na orientação adequada dos alunos/as. Louro (2008, p.19) discute as transformações relacionadas à sexualidade quando escreve que são inerentes à história e a cultura de um povo: transformações são inerentes à história e à cultura, mas nos últimos tempos, elas parecem ter se tornado mais visíveis ou tem se acelerado. Proliferaram vozes e verdades. Novos saberes, novas técnicas, novos comportamentos, novas formas de relacionamento e novos estilos de vida foram postos em ação e tornaram evidente uma diversidade cultural que parecia não existir. Cada vez mais perturbadoras, essas 2

transformações passaram a intervir em setores que haviam sido, por muito tempo, considerados imutáveis, trans-históricos e universais. Observamos que estas mudanças influenciaram os comportamentos e as formas de relacionamento devido à inquietude que o acesso às informações vem provocando. Alterações em nossa sociedade como visibilidade de gêneros e condutas sexuais, dentre outras, não ocorrem no processo de ensino-aprendizagem com a mesma velocidade. Neste contexto, faz-se necessária a atuação da escola no intuito de orientar e informar os/as jovens. A adolescência é frequentemente acompanhada de dúvidas, descobertas e complexidades nos âmbitos emocional, orgânico e cultural. Ocorrem alterações corporais significativas envolvendo a sexualidade, como manifestações da libido, desejos e anseios. É uma fase de conhecimento e contemplação do próprio corpo e de outros, que incide diretamente sobre a individualidade e a conduta sexual, tornando necessário o diálogo aberto com os/as adolescentes. Goellner (2003, p.31) afirma que um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. Portanto, na realização do projeto, analisamos o que influencia direta ou indiretamente a formação individual dos/as adolescentes, pela possibilidade dos trabalhos com os professores de diversas áreas nas equipes multidisciplinares. Com esse projeto pretendemos verificar os conceitos trabalhados com os/as alunos/as sobre os temas ligados à sexualidade, diversidade e gênero por meio de entrevistas semiestruturadas que serão realizadas com os coordenadores das equipes multidisciplinares dos colégios estaduais no município de Maringá. Processo que se torna útil nas discussões sobre sexualidade, pois somente conhecendo as percepções e ideias que cada indivíduo possui sobre o tema será possível encaminhar as discussões e intervenções. Pretendemos, também, analisar a compreensão dos/as alunos/as com relação às discussões de diversidade e gênero e o que pode ser feito para melhorar os aspectos desta temática. O trabalho consistirá em pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo realizada com entrevistas semiestruturadas junto às pessoas que coordenaram as Equipes Multidisciplinares, objetivando uma ampla abordagem sobre sexualidade, gênero e diversidade. 3

Durante a atividade docente sempre surgem questionamentos de alunos/as referentes aos mais diversos assuntos envolvendo sexualidade humana. Paralelo surge as dificuldades culturais dos/as professores/as para lidarem com as questões de diversidade, gênero e sexualidade em sala de aula. Com isso, podemos observar, além da curiosidade explícita e despreparo dos adolescentes, questões relacionadas ao tema Mito Sexual (FURLANI, 2003, p. 18), que pode ser compreendido como o conjunto de concepções errôneas e falácias criadas a partir de rumores, superstições, fanatismo ou educação sexual falha. Percebendo a necessidade de orientações e diálogos sobre assuntos referentes às questões de sexualidade, propomos um projeto cuja metodologia de abordagem do assunto possibilite levantamento de dados, referente ao trabalho das equipes multidisciplinares nos anos de 2012 e 2013 que além de contemplarem as premissas das leis 10.639/2003 e 11.645/08 permitem a abordagem das questões de gênero, diversidade sexual, sexualidade e violência contra a Mulher. Dessa maneira buscamos quais foram os assuntos trabalhados pelos diferentes professores nesses períodos, de que forma foram trabalhados em sala, e como ocorreram as discussões entre os membros das equipes. Para acesso aos dados, será protocolado junto ao Núcleo Regional de Educação, uma solicitação de autorização das pesquisas com as escolas e a divulgação dos dados produzidos nos Dossiês que estão alocados na plataforma digital da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Os momentos de discussões coletivas que ocorreram nas equipes multidisciplinares dificilmente aconteceriam de forma sistematizada em outras oportunidades, devido a um conjunto de fatores como assuntos pré-estabelecidos, proximidade entre os/as professores/as, conteúdos, considerados específicos por disciplinas/áreas de conhecimento, dentre outros, que dificultam a necessidade de expressar-se. Porém como aponta Maio (2011, p. 199), ao discorrer sobre projetos adequados de educação sexual: [...] a reflexão sobre educação sexual atualmente existente, considerando cada pessoa em sua singularidade e inserção cultural; o fornecimento de informações e organização de espaços para reflexões 4

e questionamentos sobre sexualidade; o necessário esclarecimento sobre os mecanismos sociais de repressão sexual a que estamos condicionados; a ajuda às pessoas, para que possam obter uma visão mais positiva da sexualidade; a ênfase ao aspecto social e cultural, a partir do coletivo, sem perder de vista o indivíduo, mas não tendo caráter de aconselhamento psicoterápico individual, isolado de um contexto histórico. Apoiados nas considerações acima, acreditamos na necessidade de um projeto sobre sexualidade a ser desenvolvido no ambiente escolar de maneira coletiva, gradativa e construtiva, com discussões e debates a serem realizados nos grupos de professores buscando aspectos relevantes no âmbito social e cultural, com o intuito de produzir, sistematizar e disseminar informações e conhecimentos que proporcionem e garantam o suporte da formação de cada docente. A principal motivação para desenvolvermos este projeto apoia-se na mistura de dúvidas e necessidades de conhecimento que o tema proporciona na formação dos/as professores/as e poderiam ser aproveitadas pelos no cotidiano escolar, que acabam ficando em segundo plano. Os educadores poderiam utilizar-se das mais diferentes possibilidades, tais como discussões, debates e situações problemas, para que as abordagens possam ser realizadas, porém dificilmente as fazem. Considerando a narrativa de Louro (2008 p.18), a construção de gênero e das sexualidades dá-se através de inúmeras aprendizagens e práticas, insinuam-se nas mais distintas situações, é empreendida de modo explícito ou dissimulado por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais. É um processo minucioso, sutil, sempre inacabado. Nada há de puramente natural e dado em tudo isso: ser homem e ser mulher constituem-se em processos que acontecem no âmbito da cultura. A realização desse projeto prevê o levantamento de dados referentes aos trabalhos realizados pelas equipes multidisciplinares nos anos de 2012 e 2013 considerando os questionamentos que surgiram durante os encontros e as intervenções que foram consideradas necessárias e realizadas pelas equipes multidisciplinares. Com relação à área de Gênero e Sexualidade, nossas referências são Guacira Lopes Louro (2000), Eliane Rose Maio (2011) e Jimena Furmani (2003). Conforme a 5

realização do projeto, mais autores/as que discutem a sexualidade humana, gênero e suas relações poderão ser citados/as a fim de enriquecer o nosso trabalho. Louro observa e contrapõe a ideia de sexualidade natural considerando uma análise de Foucault (Apud LOURO 2000, p.16), a sexualidade, afirma Foucault, é uma invenção social, uma vez que ela se constitui historicamente, a partir de múltiplos discursos sobre o sexo: discursos que regulam, que normatizam, que instauram saberes, que produzem verdades. Sua definição de dispositivo sugere a direção e a abrangência do nosso olhar. Toda a estrutura e organização da escola na atualidade, como a organização por turmas/séries, passou por um processo de construção histórica, sendo este uma extensão e até reflexo do modelo de sociedade em que vivemos. Este padrão social/escolar é questionado por Louro (2012, p. 68) quando afirma que currículos, normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem, materiais didáticos, processo de avaliação são, seguramente, loci das diferenças de gênero, sexualidade, etnia, classe são construídos por essas dimensões e, ao mesmo tempo, seus produtores. Todas essas dimensões precisam ser colocadas em questão. É indispensável questionar não apenas o que ensinamos, mas o modo como ensinamos e que sentidos nossos/as alunos/as dão ao que aprendem. Apoiados nessas considerações questionamos as formas de como e o que ensinamos e devemos considerar a importância dos temas apresentamos no projeto para efetivamente conseguirmos alcançar sentido de relevância para os/as participantes. Acreditamos que os questionamentos dentro dos grupos de trabalho possam proporcionar o crescimento individual e coletivo dos/as alunos/as e, desta maneira, cada pessoa possa tornar-se um agente disseminador e questionador destes temas junto aos/às demais alunos/as nos contextos que estão inseridos fora dos encontros, de tal forma que a amplitude do projeto acabe tornando-se estendida. Portanto, a realização de um projeto que discuta sexualidade no ambiente escolar deve possuir esse conjunto de mesmos fatores e considerações, buscando a compreensão desse processo transitório, instável e, principalmente, plural. Louro (2000, p.26) argumenta que não podemos atribuir à escola 6

o poder nem a responsabilidade de explicar identidades sociais, muito menos de determiná-las de forma definitiva. É preciso reconhecer, contudo, que suas proposições, suas imposições e proibições fazem sentido, têm elementos de verdade, constituem parte significativa das histórias pessoais. É verdade que muitos indivíduos não passam pela instituição escolar e que essa instituição, resguardadas algumas características comuns, é diferenciada internamente. As sociedades urbanas acreditam na escola enquanto espaço de desenvolvimento, criando os mais diversos tipos de mecanismos para enviarem os filhos e as filhas à instituição e que lá permaneçam alguns anos. O projeto torna-se viável devido ao interesse dos alunos, curiosidade sobre os temas, conhecimentos superficiais e cotidianos. Poderemos, assim, promover uma discussão concisa, coerente e sem marcas de preconceito, sexismo ou posicionamento de classes, possibilitando a formação individual e crítica dos participantes. O trabalho, como já mencionado, será orientado conforme os referenciais teóricos e as entrevistas semiestruturadas com as pessoas que estiveram como coordenadoras das equipes nos anos de 2012 e 2013. Os dados e análises de pesquisa envolvem teorias, mas também pessoas e, por isso, o procedimento será conduzido à Comissão de Ética, da Universidade Estadual de Maringá, a fim de que sejam preservados os direitos éticas, morais e legais em relação à pessoa, como se observa no próprio documento emitido pela referia Universidade: de acordo com a Resolução 196/96-CNS/MS, toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa, cabendo à Instituição onde se realizam pesquisas, a constituição e manutenção do CEP. A missão primordial do CEP é garantir a salvaguarda dos direitos e da dignidade dos sujeitos de pesquisa. Além disso, o CEP contribui para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento institucional e no desenvolvimento social da comunidade. Contribui ainda, para a valorização do trabalho desenvolvido pelo pesquisador, por meio do reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada. (BRASIL, 2007 p. 11) Ao investigar as escolas estaduais, especificamente os/as coordenadores/as das Equipes Multidisciplinares, do município de Maringá/PR e seus trabalhos referentes à temática proposta dentro das Equipes Multidisciplinares, pretende-se mapear a 7

quantidade que trabalhou com elas, mas também dimensionar quais as justificativas para se trabalhar com a sexualidade, diversidade e gênero no ambiente escolar. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam. Juventude e Sexualidade. Brasília: UNESCO, 2004. BARBOUR, Roseline. Grupos Focais. Porto Alegre: Artmed, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Manual operacional para comitês de ética em pesquisa / Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. 4. ed. rev. atual. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/manual_operacional_miolo.pdf> acesso em 04 de maio de 2015. BUTLER, Judith. Problemas de Gênero Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FURLANI, Jimena. Mitos e Tabus da Sexualidade Humana. São Paulo: Autêntica, 2003. GOELLNER, Silvana V. A produção cultural de um corpo. In: LOURO, Guacira Lopes. Corpo, Gênero e Sexualidade Um debate contemporâneo na Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. p. 30-42. GOMES, E. S; BARBOSA, E. F. A técnica de grupos focais para obtenção de dados qualitativos. Instituto de pesquisa e Inovações Educacionais. São Paulo: Educativa, 1999. LOURO, Guacira Lopes. O corpo Educado - Pedagogia da Sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Proposições. Campinas, v. 19, n. 2, mai/ago 2008. p. 17-23 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf>. Acesso em: 30 set. 2013. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis/RJ: Vozes, 2012. MAIO, Eliane Rose. O nome da Coisa. Maringá PR: Unicorpore, 2011. 8

SEVERINO, Antônio J. Metodologia do Trabalho Científico: 23 ed. São Paulo: Cortez 2007. 9