JOSE RICARDO PORTO GOMES SISTEMA DE PAGAMENTOS FLUXO E TIMING NO CASO BRASILEIRO



Documentos relacionados
Unidade III. Mercado Financeiro. Prof. Maurício Felippe Manzalli

Sistema de Pagamentos Brasileiro

Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB

Unidade III. Operadores. Demais instituições financeiras. Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros

Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) Aspectos Jurídicos Relevantes

Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)

AVISO Nº 01/2009 de 24 de Março

Evolução do SFN. 1. Primeiro Período: MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS. 3. Terceiro Período: Segundo Período:

Curso de CPA 10 CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL ANBIMA SÉRIE


atividade a prática de operações de arrendamento As sociedades de arrendamento mercantil são

A competência privativa da União para legislar está listada no art. 22 da CF.

Mirae Asset Securities (Brasil) C.T.V.M. Ltda

IPC Concursos CEF Questões I SFN, CMN, BCB e CVM Material com as questões incorretas justificadas.

Exercício para fixação

Aula 06: Moedas e Bancos

Sistema de Pagamentos Brasileiro

AULA 3. Disciplina: Mercado de Capitais Assunto: Introdução ao SFN. Contatos: Blog: keillalopes.wordpress.

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL INSTITUIÇÕES. Lei 4.595/64 FINANCEIRAS COLETA INTERMEDIAÇÃO APLICAÇÃO CUSTÓDIA

POLÍTICA DE INVESTIMENTOS

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS

Atualidades do Mercado Financeiro

RESOLUÇÃO Nº 4.263, DE 05 DE SETEMBRO DE 2013 Dispõe sobre as condições de emissão de Certificado de Operações Estruturadas (COE) pelas instituições

Nova Estrutura de Dados de Crédito

CONHECIMENTOS BANCÁRIOS. Prof. Rodrigo O. Barbati

Legislação e regulamentação cambial (principais alterações)

OPERAÇÕES DE CÂMBIO. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

Administração Financeira e Orçamentária I

O que é o Mercado de Capitais. A importância do Mercado de Capitais para a Economia. A Estrutura do Mercado de Capitais Brasileiro

Princípios de Finanças

Como funciona o Sistema Financeiro Nacional. José Reynaldo de Almeida Furlani Junho de 2013

Este regulamento está em vigor a partir do 11/07/2007 (inclusive) substituindo e cancelando o anterior

RELATÓRIO SOBRE A GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL NO BANCO BMG

Este regulamento está em vigor a partir do 11/07/2007 (inclusive) substituindo e cancelando o anterior

EMPRÉSTIMO DE ATIVOS

MANUAL DE GERENCIAMENTO DO RISCO DE LIQUIDEZ

Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras

AULA 02. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Subsistema Operativo I

BANCOS INTERMEDIÁRIOS CORRETORES DE CÂMBIO

Iniciantes Home Broker

AULA 04. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Subsistema Operativo III

Sistema de Informações de Crédito do Banco Central Solidez para o Sistema Financeiro Nacional Facilidades para os tomadores de empréstimos

Unidade II. Mercado Financeiro e de. Prof. Maurício Felippe Manzalli

1.8. Cartões emitidos para pagamento de benefícios ou repasse de programas sociais devem ser considerados?

Sustentabilidade nas instituições financeiras Os novos horizontes da responsabilidade socioambiental

Impactos da nova regulação de meios de pagamento para o setor supermercadista Em 3 aspectos principais: aceitação, emissor e empregador

ANÁLISE DO EDITAL DE AUDIÊNCIA PÚBLICA SDM Nº 15/2011 BM&FBOVESPA

TUTORIAL ACESSO AO SISTEMA DE TRANSFERÊNCIA DE RESERVAS STR. Dezembro/2014

Gerenciamento de Riscos Risco de Mercado

154 a SESSÃO DO COMITÊ EXECUTIVO

Pagamentos de varejo e canais de atendimento. Detalhamento para o envio de informações

Descrição da Estrutura de Gerenciamento Risco de Mercado -

Gerenciamento de capital e ICAAP

O Sistema Financeiro Nacional

LÂMINA DE INFORMAÇÕES ESSENCIAIS SOBRE O K1 FUNDO DE INVESTIMENTO EM COTAS DE FUNDOS DE INVESTIMENTOS MULTIMERCADO

ADMIRAL MARKETS UK LTD POLÍTICA DE EXECUÇÃO NAS MELHORES CONDIÇÕES

ATIVO Explicativa PASSIVO Explicativa

* (Resumo executivo do relatório Where does it hurts? Elaborado pela ActionAid sobre o impacto da crise financeira sobre os países em

Gerenciamento do Risco de Crédito

Relatório de Gerenciamento de Riscos. Informações Adicionais e. Dados Quantitativos

CONVITE À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS INOVAÇÃO EM FINANCIAMENTO

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE RISCO DE LIQUIDEZ. 1 Objetivo. 2 Diretrizes. 2.1 Princípios para Gerenciamento do Risco de Liquidez

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE RISCO DE MERCADO

Sistema Financeiro e os Fundamentos para o Crescimento

Gerenciamento de Riscos Risco de Liquidez

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O CÁLCULO DA TAXA CDI E TAXA OVER DE JUROS?

Produto BNDES Exim Pós-embarque Normas Operacionais. Linha de Financiamento BNDES Exim Automático

Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGC (DPGE)

LÂMINA DE INFORMAÇÕES ESSENCIAIS SOBRE O VIDA FELIZ FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CNPJ / OUTUBRO/2015

POLÍTICA DE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS BB SEGURIDADE PARTICIPAÇÕES S.A.

Principais termos e condições dos empréstimos do BIRD

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS INTERPRETAÇÃO TÉCNICA ICPC 06. Hedge de Investimento Líquido em Operação no Exterior

ENTIDADES AUTO-REGULADORAS DO MERCADO ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

Abordagem de Processo: conceitos e diretrizes para sua implementação

LÂMINA DE INFORMAÇÕES ESSENCIAIS SOBRE O SPINELLI FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CNPJ / SETEMBRO/2015

SUPER CURSO DE CONHECIMENTOS BANCÁRIOS E SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL SIMULADO 01 - BACEN e CMN Professor: Tiago Zanolla

NBC T Subvenção e Assistência Governamentais Pronunciamento Técnico CPC 07

Módulo 11 Corretora de Seguros

Pagamentos de Varejo e Canais de Atendimento. Dados Estatísticos 2012

Banco Mercedes-Benz RISCO DE MERCADO E LIQUIDEZ Base: Janeiro 2014

Mercado de Câmbio. Mercado de câmbio é a denominação para o mercado de troca de moedas.

CAPÍTULO I - CADASTRO DE PARTICIPANTES E INVESTIDORES 1. Aspectos gerais 1.1 Apresentação de documentos

Produto BNDES Exim Pós-embarque Normas Operacionais. Linha de Financiamento BNDES Exim Automático

Cartilha de Câmbio. Envio e recebimento de pequenos valores

Economia e mercado financeiro

4º Trimestre / 15

Estrutura de Gerenciamento de Capital

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A CONTABILIDADE PÚBLICA E A CONTABILIDADE GERAL

FICHA CADASTRAL MIRAE ASSET

PORTARIA MPS N 170/2012 DE 25 DE ABRIL DE 2012 IMPLEMENTAÇÃO DE COMITÊ DE INVESTIMENTOS E OUTROS CONTROLES

MANUAL DE NORMAS CERTIFICADO REPRESENTATIVO DE CONTRATO MERCANTIL DE COMPRA E VENDA A TERMO DE ENERGIA ELÉTRICA

COMO INVESTIR NO MERCADO A TERMO MERCADOS

Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS JOSÉ RICARDO PORTO GOMES SISTEMA DE PAGAMENTOS FLUXO E TIMING NO CASO BRASILEIRO RECIFE PE 2010

JOSE RICARDO PORTO GOMES SISTEMA DE PAGAMENTOS FLUXO E TIMING NO CASO BRASILEIRO Trabalho apresentado como requisito para dissertação do curso de Mestrado Profissional em Economia, Investimentos e Empresas na Universidade Federal de Pernambuco Orientador: José Lamartine Távora Júnior RECIFE PE 2010

Gomes, José Ricardo Porto Sistema de pagamentos fluxo e timing no caso brasileiro / José Ricardo Porto Gomes. - Recife : O Autor, 2010. 76 folhas : fig., quadro, gráf., abrev. e siglas. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Economia, 2010. Inclui bibliografia e anexo. 1. Sistema especial de Liquidação e Custódia (Brasil). 2. Balanço de pagamentos (Brasil). 3. Instituições financeiras (Brasil). 4. Mercado financeiro. 5. Capital de risco. I. Título. 336.7 CDU (1997) UFPE 332.1 CDD (22.ed.) CSA2010-076

A Deus, por sempre caminhar de mãos dadas comigo e à minha mãe, por seu amor incondicional, dedicação e preces.

AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores do Curso de Mestrado que dedicaram esforços para nos proporcionar melhores ensinamentos. Em especial para os Professores Francisco Ramos e Hermínio Ramos que extrapolaram neste ponto. Aos colegas do Curso por tantos momentos de luta e alegria. Várias madrugadas frias, estudando, trocando emails, preparando-se para nossas provas e trabalhos. Ao antigo colega de curso de graduação em Economia, Aljohn Farias, hoje no Banco Central do Brasil, que proporcionou acesso à base de dados necessários para elaboração deste trabalho, explicações sobre o processo operacional do SPB e suportou dezenas de ligações em vários dias e horários para esclarecer minhas dúvidas. Agradeço em especial à Priscilla Martins, minha namorada, que sempre me deu força para concluir este Curso, especialmente nesta reta final, me motivando e fazendo encontrar tempo onde não existia.

O verdadeiro valor das coisas é o esforço e o problema de as adquirir. (Adam Smith)

RESUMO O presente trabalho trata da análise do fluxo de recursos e timing dos pagamentos através do Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB, após a reestruturação do mesmo em 22.04.2002, comparando-o com o Sistema de Pagamentos nos EUA (Fedwire). Mostra os diversos conceitos de risco tratando mais detalhadamente o risco sistêmico que foi o grande objetivo da reestruturação do Sistema de Pagamentos Brasileiro em 2002. Em seguida explica com detalhes como funciona de uma forma geral o Sistema de Pagamentos Brasileiro, Sistema de Transferência de Reservas e todo o sistema de Câmaras de Liquidação, apresentando todo o volume atual de negócios. Na revisão de literatura detalha o artigo The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfers de James McAndrews e Samira Rajan que é o texto principal do trabalho para comparação com o Sistema de Pagamentos Brasileiro. Conclui que Brasil e EUA têm semelhanças em alguns pontos, mas que a forma como está estruturado nosso sistema de pagamentos permite um maior gerenciamento de risco e de liquidez no mercado. Por fim, apresenta as recomendações e os novos trabalhos desenvolvidos pelo BACEN para aperfeiçoar o Sistema de Pagamentos Brasileiro. Palavras-chave: 1. Sistemas de liquidação. 2. Sistema de Pagamentos. 3. Reservas Bancárias. 4. Risco sistêmico.

ABSTRACT This paper deals with the analysis of resource flows and timing of payments by the Brazilian Payment System - BPS, after restructuring in 22.04.2002, comparing it to the Payment System in the U.S. (Fedwire). It shows the different concepts of risk case in more detail the systemic risk was the major objective of the restructuring of the Brazilian Payment System in 2002. Then explain in detail how the Payments System, Reserve Transfer System and the whole system of Clearing Houses Interbank Payments System work, presenting all the current volume of business. In the literature review detail the "The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfers" by James McAndrews and Samira Rajan, which is the main text of the job for comparison with the Brazilian Payments System. It concludes that Brasil and USA have similarities in some points, but the way we structure our payment system allows for greater risk management and liquidity in the market. Finally, it presents the recommendations and the new work developed by the Central Bank in Brazil to improve the Payments System. Keywords: 1. Settlement Systems. 2. Payments System. 3. Bank Reserves. 4. Systemic Risk.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Arranjo geral dos sistemas de liquidação...34 Figura 2 STR grade horária...37 Figura 3 Visão geral do mercado de títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira...40

LISTA DE QUADROS Quadro 1 Estrutura do Sistema Financeiro...20 Quadro 2 Características de sistemas selecionados de transferências de fundos de grandes valores em 1995...41 Quadro 3 Evolução Anual de Pagamentos através do STR...57 Quadro 4 Poder de compensação em sistemas de liquidação 2007...61 Quadro 5 Redesconto Intradia Período 2002-2008...62

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 31/07/09 a 31/08/09...53 Gráfico 2 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 23/09/09 a 23/10/09...54 Gráfico 3 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 15/01/10 a 17/02/10...54 Gráfico 4 Média diária das transações via Fedwire por hora do dia...55 Gráfico 5 Distribuição das transações efetuadas pelo Fedwire por tamanho de pagamentos...56 Gráfico 6 Valor médio diário das transações efetuadas pelo Fedwire por hora do dia...56 Gráfico 7 Evolução Anual de Pagamentos através do STR...57 Gráfico 8 STR Pagamentos Histograma da média do período de 31/07/09 a 31/08/09...58 Gráfico 9 STR Pagamentos Histograma da média do período de 23/09/09 a 23/10/09...58 Gráfico 10 STR Pagamentos Histograma da média do período de 15/01/10 a 17/02/10...59

Gráfico 11 Participação percentual das fontes de recursos utilizada nas transferências de fundos no Fedwire...59 Gráfico 12 Contribuição em US$ das fontes de recursos utilizada nas transferências de fundos no Fedwire...60 Gráfico 13 Redesconto Intradia Período 2002-2008...61

LISTA DE ABREVIATURAS Andima Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (www.andima.com.br) BCB Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br) BCBS Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia BIS Bank for International Settlements (www.bis.org) BM&FBOVESPA Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (www.bmfbovespa.com.br) BVRJ Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (www.bvrj.com.br) CBLC Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (www.cblc.com.br) CETIP Câmara de Custódia e Liquidação (www.cetip.com.br) CHIPS Clearing House Interbank Payments System CIP Câmara Interbancária de Pagamentos (www.cip-bancos.org.br) COMPE Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis CVM Comissão de Valores Mobiliários (www.cvm.gov.br) FED Federal Reserve LBTR liquidação bruta em tempo real LDL liquidação diferida por valor líquido RSFN Rede do Sistema Financeiro Nacional (www.rsfn.net.br) RTGS Real-Time Gross Settlement RTM Rede de Telecomunicações para o Mercado (www.rtm.net.br) SELIC Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SILOC Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito SITRAF Sistema de Transferência de Fundos SOMA Sociedade Operadora do Mercado de Ativos (www.somativos.com.br) SPC Secretaria de Previdência Complementar (www.mpas.gov.br/08.asp) STN Secretaria do Tesouro Nacional (www.stn.fazenda.gov.br) STR Sistema de Transferência de Reservas SUSEP Superintendência de Seguros Privados (www.susep.gov.br) TecBan Tecnologia Bancária S.A. (www.tecban.com.br)

Sumário 1. INTRODUÇÃO...15 1.1-CONTEXTO...15 1.2-O PROBLEMA...16 1.3 - OBJETIVO...17 1.4 - JUSTIFICATIVA...17 1.5 - DELIMITAÇÕES DO TRABALHO...17 1.6 - ESTRUTURA DO TRABALHO...18 2. SISTEMAS MONETÁRIOS E ACORDO DA BASILÉIA...19 2.1- SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL...19 2.2 - SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL...20 2.2.1 - Banco Mundial...20 2.2.2 - Fundo Monetário Internacional...21 2.3 - ACORDO DA BASILÉIA...22 2.4 - BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS (BIS)...23 3. SISTEMAS DE PAGAMENTOS INTERBANCÁRIOS E PROVISIONAMENTO...25 DE FUNDOS...25 3.1 - SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO...25 3.1.1 - Introdução...25 3.1.2 - Aspectos Institucionais...27 3.1.2.1 - Aspectos Legais...27 3.1.2.2 - O papel dos intermediários financeiros...27 3.1.2.3 - O papel do Banco Central...28 3.1.2.4 - O papel de outras entidades públicas e privadas...29 3.1.3 - Instrumentos de pagamento utilizados por não-bancos 11...30 3.1.3.1 - Pagamentos em espécie...30 3.1.3.2 - Pagamentos sem utilização de dinheiro em espécie (non-cash)...30 3.1.3.2.1 - Transferências de crédito...31 3.1.3.2.2 - Cheques...31 3.1.3.2.3 - Cartões de crédito...31 3.1.3.2.4 - Cartões de débito...31 3.1.3.2.5 - Cartões de loja (retailer cards)...32 3.1.3.2.6 - Cartões com valor armazenado...32 3.1.3.2.7 Débitos diretos...32

3.1.4 - Sistemas de liquidação...34 3.1.4.1 - Visão geral dos sistemas de liquidação...34 3.1.4.2 - Sistemas de liquidação de transferências de fundos interbancárias...35 3.1.4.2.1 - Sistema de Transferência de Reservas STR...36 3.1.4.2.2 - Sistema de Transferência de Fundos Sitraf...37 3.1.4.2.3 - Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros...38 Papéis Compe...38 3.1.4.2.4 - Sistema de Liquidação Diferida das Transferências...38 Interbancárias de Ordens de Crédito Siloc...38 3.1.4.2.5 - Câmara TecBan...39 3.1.4.3 - Sistemas de liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário...39 3.1.5 - Rede do Sistema Financeiro Nacional RSFN...40 3.2 - SISTEMAS DE PAGAMENTOS EM PAÍSES SELECIONADOS...40 3.3 - PROVISIONAMENTO DE FUNDOS PARA PAGAMENTOS INTERBANCÁRIOS: RESERVAS BANCÁRIAS E REDESCONTO INTRADIA...44 4. REVISÃO DA LITERATURA...46 5. METODOLOGIA...51 6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS...53 6.1 - CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS RESULTADOS OBTIDOS...62 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...65 REFERÊNCIAS...67 ANEXOS...71

15 1. INTRODUÇÃO 1.1-CONTEXTO Sistema de Pagamentos pode ser considerado como o conjunto de procedimentos, regras, instrumentos e sistemas operacionais integrados, usados para transferir fundos do pagador para o recebedor e, com isso, encerrar uma obrigação (Brito, 2002). Economias de mercado dependem desses sistemas para movimentar os fundos decorrentes da atividade econômica (produtiva, comercial e financeira), tanto em moeda local quanto em moeda estrangeira. Ele é um componente indispensável do que se poderia denominar de infra-estrutura financeira, essencial para o adequado funcionamento de qualquer economia de mercado que dependa da liquidação diária de milhares de transações decorrentes das compras/vendas de bens, serviços e ativos. Desta forma, um requisito importante de um sistema de pagamentos é a certeza de liquidação de pagamentos efetuados por meio de sua rede de participantes. A transferência de fundos cursados no sistema de pagamentos deve ser final, irrevogável e incondicional. Em última análise, estas condições serão observadas quando ocorrer a transferência de fundos nas contas de reservas bancárias que os bancos comerciais mantêm no Banco Central. Além disso, duas outras características são desejáveis em um bom sistema de pagamentos: integridade e eficiência. A primeira delas refere-se ao fato de que o funcionamento do conjunto depende da operação de cada um de seus componentes, pois uma falha em cada subsistema pode comprometer o todo, colocando em risco a confiança da sociedade nos mecanismos de pagamentos, o que pode causar profundas repercussões econômicas. A eficiência diz respeito à efetividade em termos dos custos econômicos que são incorridos para a execução das funções típicas do sistema de pagamentos. Neste contexto, o presente estudo segue o proposto no texto The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfer, de autoria de James McAndrews e Samira Rajan (McAndrews & Rajan, 2000) e visa replicar um trabalho já realizado pelo FED nos EUA, ao Brasil, analisando o fluxo de pagamentos através do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

16 1.2-O PROBLEMA A literatura internacional identifica e detalha uma série de riscos a que estão expostos os participantes de sistemas de pagamentos. Os principais são: riscos financeiros; risco operacional; e risco legal, os quais, em conjunto ou separadamente, podem provocar o risco sistêmico. Os riscos financeiros básicos, aos quais os participantes dos sistemas de liquidação e pagamento estão expostos, são o de crédito e de liquidez. O primeiro decorre quase sempre da inadimplência de uma contraparte ou não honrar uma obrigação pelo seu valor total, seja no vencimento, seja em qualquer data posterior. Ele geralmente compreende risco de perda de receitas não realizadas em virtude de contratos não liquidados devido à inadimplência da contraparte (risco de custo de reposição) e, o que é mais importante, o risco de perda do valor integral da transação (risco de principal). O risco de liquidez é o risco de que uma contraparte não liquide, total ou parcialmente, uma obrigação no vencimento, mas somente numa data futura não especificada. Isto pode afetar desfavoravelmente a posição de liquidez projetada do credor. O atraso pode forçar o credor a cobrir a deficiência no fluxo de caixa mediante financiamento de curto prazo de outras fontes, o que pode resultar em perda financeira devido a custos de financiamento mais elevados ou em danos a sua reputação. O risco operacional pode ser definido como o risco no qual, deficiências em sistemas de informação ou em controles internos, possa resultar em perdas inesperadas como, por exemplo, aqueles relacionados com erros humanos ou com falhas de equipamento, programas de computadores, sistemas de comunicação, que são imprescindíveis para a liquidação dos pagamentos, causando ou aumentando os riscos de crédito ou de liquidez. O risco legal é o risco de perda decorrente de uma base legal (leis ou regulamentação) mal fundamentada, isto é, não condizente com o funcionamento dos sistemas de liquidação de títulos, principalmente no que se referem a contratos, direitos e outras garantias. Além dos demais tipos de riscos que podem afetar um sistema de pagamentos (operacional, legal, etc.), existe o risco sistêmico, fonte de preocupação cotidiana dos bancos centrais, que pode dar origem a riscos entre fronteiras. Este é o risco de que uma falha de um participante no atendimento aos seus compromissos no vencimento possa provocar falha de outros participantes. Tal problema pode resultar em dificuldades financeiras mais amplas, implicando ameaças à estabilidade dos sistemas de pagamentos e até à economia real, em casos extremos. Pela sua própria natureza, de redes de comunicação, os sistemas

17 interbancários de pagamento e liquidação são potencialmente canais institucionais importantes para a propagação de crises sistêmicas. Estes fatores têm estimulado um movimento recente no sentido de adaptação dos sistemas nacionais de pagamentos às melhores práticas internacionais. A redução do risco sistêmico tem sido, provavelmente, a principal motivação do Banco Central para proceder às modificações no sistema nacional de pagamentos, sobretudo após as inúmeras dificuldades experimentadas pelo sistema bancário brasileiro de adaptação a um ambiente de taxa de inflação civilizada (MOURA, 2000, p.08-09). 1.3 - OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo principal analisar o Sistema de Pagamentos Brasileiro no que se refere aos fluxos de recursos e timing dos pagamentos. Os resultados obtidos são comparados com o sistema adotado nos EUA, e são apontadas as eficiências, problemas e caminhos prováveis para o aperfeiçoamento no caso do Brasil. 1.4 - JUSTIFICATIVA A importância deste estudo reside no detalhamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro e como as mudanças ocorridas recentemente impactaram no controle do risco sistêmico, minimizando-o. Adotamos como caso comparativo o Sistema de Pagamentos dos EUA. Analisando os resultados encontrados, podemos perceber como as instituições financeiras podem planejar seus fluxos de caixa diários para fazer face aos pagamentos, comparando inclusive com outros países e como cada instituição financeira pode afetar não só os demais integrantes do Sistema Financeiro, mas também a economia como um todo, devido à maior disponibilidade ou retração de recursos no mercado. 1.5 - DELIMITAÇÕES DO TRABALHO Para o estudo do timing dos fluxos financeiros, utilizaremos como base o artigo de McANDREWS & RAJAN, 2000, The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfer, cujos dados foram obtidos junto ao Federal Reserve Bank of New York. Neste trabalho foram

18 utilizados dados obtidos junto ao Banco Central do Brasil (BACEN) para o período de 2002 a 2010. São comparados os resultados obtidos para o Brasil com o caso dos EUA para o período 1994-1999. Ressalta-se, entretanto, que os dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil não seguiam exatamente o mesmo padrão que os utilizados por McAndrews & Rajan, fato que pode trazer alguma dificuldade de comparação para os resultados dos dois países. 1.6 - ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está organizado em sete capítulos. No Capítulo 1 apresentamos a contextualização do assunto, o problema analisado, os objetivos, justificativa e delimitação do trabalho. No Capítulo 2 detalhamos os Sistemas Financeiros Nacional e Internacional e seus principais órgãos. Comentaremos sobre o Acordo da Basiléia, o qual foi criado para minimizar riscos sistêmicos, e o Bank for International Settlement (BIS), que é o órgão que atua como uma espécie de banco dos Bancos Centrais. No Capítulo 3 apresentaremos os Sistemas de Pagamentos Interbancários, iniciando com o detalhamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e, na sequência, o de alguns países selecionados, tais como os EUA, Japão, Reino Unido, México e Argentina. Em seguida apresentaremos como é feito o provisionamento de fundos através das Contas de Reservas Bancárias e/ou através de operações de Redesconto Intradia junto ao Banco Central do Brasil. O Capítulo 4 traz a revisão de literatura, com alguns conceitos e opiniões retiradas de trabalhos feitos no Brasil e no exterior, além de justificarmos o porquê da escolha do texto dos autores James McAndrews e Samira Rajan para fazermos nossa análise. O Capítulo 5 detalha a metodologia adotada para esta análise e sua base de cálculo. No Capítulo 6 apresentamos os resultados encontrados comparando os dois países. E no Capítulo 7 apresentamos nossas conclusões, além de fazemos algumas recomendações para o aperfeiçoamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro e sua maior abrangência.

19 2. SISTEMAS MONETÁRIOS E ACORDO DA BASILÉIA (2009). Os dados, informações e conceitos deste Tópico foram obtidos do site Wikipédia 2.1- SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O Sistema Financeiro Nacional do Brasil é formado por um conjunto de instituições financeiras voltadas para a gestão da política monetária do governo federal. É composto por entidades supervisoras e por operadores que atuam no mercado nacional e orientado por três órgãos normativos, o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC). Composição do Sistema Financeiro Brasileiro: Conselho Monetário Nacional (CMN); Banco Central do Brasil (Bacen); Operadores; Outras instituições e intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros; Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Bolsas de Mercadorias e Futuros; Bolsas de Valores; Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP); Superintendência de Seguros Privados (Susep); Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC); Secretaria de Previdência Complementar (SPC); Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

20 No quadro a seguir é mostrada a estrutura do sistema financeiro brasileiro, com indicação da área de competência de cada órgão de supervisão: Quadro 1 Estrutura do Sistema Financeiro 1 Fonte: Banco Central (2008) 2.2 - SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL 2.2.1 - Banco Mundial Sua missão principal é a luta contra a pobreza, através de financiamento e empréstimos aos países em desenvolvimento. Seu funcionamento é garantido por quotizações definidas e reguladas pelos países membros. 1 CMN - Conselho Monetário Nacional; CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados; CGPC Conselho de Gestão da Previdência Complementar; BCB - Banco Central do Brasil; CVM - Comissão de Valores Mobiliários; SUSEP - Superintendência de Seguros Privados; SPC - Secretaria de Previdência Complementar.

21 O Banco Mundial propriamente dito é composto pelo BIRD e pela AID, que são duas das cinco instituições que compõem o Grupo Banco Mundial. As cinco instituições estão estreitamente relacionadas e funcionam sob uma única presidência. São elas: BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento: O BIRD proporciona empréstimos e assistência para o desenvolvimento a países de rendas médias com bons antecedentes de crédito. O poder de voto de cada país-membro está vinculado às suas subscrições de capital, que por sua vez estão baseadas no poder econômico relativo de cada país. O BIRD levanta grande parte dos seus fundos através da venda de títulos nos mercados internacionais de capital. Juntos, o BIRD e a AID formam o Banco Mundial. AID - Associação Internacional de Desenvolvimento: Desempenha um papel importante na missão do Banco que é a redução da pobreza. A assistência da AID concentra-se nos países mais pobres, aos quais proporciona empréstimos sem juros e outros serviços. A AID depende das contribuições dos seus países membros mais ricos - inclusive alguns países em desenvolvimento - para levantar a maior parte dos seus recursos financeiros. 2.2.2 - Fundo Monetário Internacional O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que procura assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial pelo monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, através de assistência técnica e financeira. Sua sede é em Washington, DC, Estados Unidos da América. O FMI se auto proclama como uma organização de 185 países, tem como função trabalhar por uma cooperação monetária global, assegurar estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover altos níveis de emprego e desenvolvimento econômico sustentável, além de reduzir a pobreza. Tem como objetivos: Promover a cooperação monetária internacional, fornecendo um mecanismo de consulta e colaboração na resolução dos problemas financeiros; Favorecer a expansão equilibrada do comércio, proporcionando níveis elevados de emprego e trazendo desenvolvimento dos recursos produtivos; Oferecer ajuda financeira aos países membros em dificuldades econômicas, emprestando recursos com prazos limitados;

22 Contribuir para a instituição de um sistema multilateral de pagamentos e promover a estabilidade dos câmbios. Os ativos financeiros do FMI são os Direitos Especiais de Saque. Substitui o ouro e o dólar para efeitos de troca. Funciona apenas entre bancos centrais e também pode ser trocado por moeda corrente com o aval do FMI. Tendo sido criado em 1969, começou a ser utilizado apenas em 1981. Seu valor é determinado pela variação média da taxa de câmbio dos cinco maiores exportadores do mundo: França (Euro), Alemanha (Euro), Japão (iene), Reino Unido (libra esterlina) e Estados Unidos (dólar estadunidense). A partir de 1999, o euro substituiu as moedas francesas e alemãs neste cálculo. O Fundo possui hoje, aproximadamente, U$ 310 bilhões, ou DES 213 bilhões, disponíveis para empréstimo. A cotação do DES era em 16 de maio de 2005, de USD 1,49405. Através de média ponderada: soma de uma quantia específica das 4 moedas com a cotação em dólar estadunidense, com base nas taxas diárias de câmbio do mercado de Londres. 2.3 - ACORDO DA BASILÉIA Há quase duas décadas, o Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia (BCBS) introduziu padrões globais para a regulação da adequação de capital dos bancos. O Acordo de Basiléia de 1988 normalmente conhecido como Basel I 2 buscou promover a estabilidade bancária e estabeleceu requisitos mínimos (8%) de capital aos ativos de um banco, ponderados pelo risco. Desde então, isso foi adotado por quase uma centena de países e é um marco referencial na história da regulação bancária. Mas, nesses últimos anos, o setor bancário, o gerenciamento de risco e os mercados financeiros sofreram drásticas mudanças, que levaram à consecução do Acordo de Capital de Basiléia II ou, simplesmente Basel II, publicado em 2004. 2 Basel I é o termo que se refere a uma série de deliberações, que, em 1988, o BCBS publicou como um conjunto de requisitos mínimos de capital para bancos. Também conhecido como Acordo de Basiléia de 1988, foi implantado pelos países do G10 em 1992.

23 O principal fundamento do primeiro Acordo de Capital de Basiléia foi o fortalecimento da solidez e da estabilidade do sistema bancário por meio da recomendação da constituição de um capital mínimo por parte dos bancos, de forma a mitigar os riscos de insolvência das atividades bancárias. Já a Basiléia II teve como principais objetivos tornar as alocações de capital dos bancos mais sensíveis ao risco; separar o risco operacional do risco de crédito, definindo, para cada um, diferentes ponderações de capital mínimo necessário; assegurar que os requisitos regulatórios de capital estejam mais alinhados com os requisitos econômicos de capital dos bancos; e encorajar os bancos a utilizarem seus sistemas internos de gerenciamento de risco no sentido de atingirem o capital regulatório. O Basel II está baseado em três pilares mutuamente apoiados. O Pilar 1 Requisitos Mínimos de Capital propõe um cálculo diferenciado para os ativos ponderados pelo risco, com especial atenção para a diferenciação entre os riscos de crédito e os riscos operacionais. O Pilar 2 Processo de Revisão da Supervisão Bancária refere-se ao papel da supervisão da adequação de capital dos bancos e aos processos de mensuração de risco. Os reguladores nacionais devem ser responsáveis por avaliar e assegurar que os bancos utilizem processos internos de gerenciamento de risco consistentes possibilitando-os perceber riscos potenciais e atender aos requisitos mínimos de adequação de capital. O Pilar 3 Disciplina de Mercado e Transparência visa dar ao mercado a possibilidade de acessar as informações a respeito do perfil de risco e do nível de capitalização de um banco e, assim, fomentar a disciplina do mercado por meio de divulgações mais transparentes. O último pilar funciona como complemento para os dois primeiros. 2.4 - BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS (BIS) O BIS é uma organização internacional, com sede na Suíça e criada em 1930, a qual estimula a cooperação financeira e monetária internacional e serve como o banco dos bancos centrais (possui atualmente 55 bancos centrais como membros). O BIS preenche seu mandato agindo como: fórum para promover discussão e análise das regras entre os bancos centrais e entre a comunidade financeira internacional; centro de pesquisa econômica e monetária; a principal contraparte para os bancos centrais em suas transações financeiras; e como agente em conexão com as operações financeiras internacionais.

24 Em dezembro de 1999, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) publicou uma versão preliminar dos Princípios Fundamentais, buscando comentários de um universo mais amplo da comunidade financeira. Os Princípios Fundamentais são expressos deliberadamente numa forma geral, contribuindo para assegurar que eles possam ser úteis em todos os países e que sejam duradouros. Eles não representam um esquema para o desenho ou para a operação de qualquer sistema individual, mas, ao invés disso, sugerem as características principais que todos os sistemas de pagamento sistemicamente importantes deveriam satisfazer. Os Princípios Fundamentais se aplicam a sistemas de pagamento sistemicamente importantes. Um sistema de pagamento é sistemicamente importante quando, se ele fosse insuficientemente protegido contra risco, uma ruptura dentro dele poderia disparar ou transmitir distúrbios adicionais entre seus participantes, ou, de uma forma mais generalizada, rupturas sistêmicas na área financeira. A ruptura inicial poderia ser causada, por exemplo, pela insolvência de um participante. A importância sistêmica é determinada principalmente pelo tamanho ou pela natureza dos pagamentos individuais ou pelo seu valor agregado. Os sistemas que processam especificamente pagamentos de grandes valores seriam normalmente considerados sistemicamente importantes. Um sistema sistemicamente importante não necessariamente processa somente pagamentos de grandes valores; o termo pode compreender um sistema que processa pagamentos de diversos valores e que, entretanto, tenha a capacidade de disparar ou transmitir uma ruptura sistêmica em virtude de certos segmentos de seu movimento. Na prática, a fronteira entre os sistemas de pagamento que são sistemicamente importantes e aqueles que não o são não é bem definida e o banco central precisa considerar cuidadosamente onde essa fronteira deve ser estabelecida. Os Princípios Fundamentais podem também ser úteis na avaliação e na compreensão das características de sistemas que geram relativamente pouco risco sistêmico, em situações em que possa ser desejável que tais sistemas cumpram todos os Princípios Fundamentais ou alguns deles.

25 3. SISTEMAS DE PAGAMENTOS INTERBANCÁRIOS E PROVISIONAMENTO DE FUNDOS 3.1 - SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO 3.1.1 - Introdução Segundo dados e informações obtidas através do Relatório do Banco Central do Brasil elaborado pelo Deban - Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos, até meados da década de 1990, as altas taxas de inflação guiavam as mudanças no Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB e, por isso, o foco principal era o aumento da velocidade de processamento das transações financeiras. Na reforma conduzida pelo Banco Central do Brasil em 2001 e 2002, o foco foi redirecionado para a administração de riscos. O SPB passou a adotar o STR Sistema de Transferência de Reservas. Com esse sistema, operado pelo Banco Central do Brasil, o País ingressou no grupo de países em que transferências de fundos interbancárias podem ser liquidadas em tempo real, em caráter irrevogável e incondicional. Esse fato, por si só, possibilita redução dos riscos de liquidação 3 nas operações interbancárias, com conseqüente redução também do risco sistêmico, isto é, o risco de que a quebra de um banco provoque a quebra em cadeia de outros bancos, no chamado "efeito dominó". Outra alteração importante ocorreu no regime de operação das contas de reservas bancárias. A partir de 24 de junho de 2002, depois de observada uma regra de transição, qualquer transferência de fundos entre contas da espécie passou a ser condicionada à existência de saldo suficiente de recursos na conta do participante emitente da correspondente ordem. Com isso houve significativa redução no risco de crédito incorrido pelo Banco Central do Brasil. 3 Os riscos de liquidação compreendem os riscos de crédito e de liquidez, isto é, respectivamente, o risco de perda definitiva do valor total ou parcial de uma operação e o risco de a liquidação de uma operação somente ocorrer em data posterior à combinada.

26 A liquidação em tempo real, operação por operação, a partir de 22 de abril de 2002, passou a ser utilizada também nas operações com títulos públicos federais, cursadas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic, o que se tornou possível com a interconexão entre esse sistema e o STR. A liquidação dessas operações agora observa o chamado modelo 1 de entrega contra pagamento 4. A reforma de 2002, entretanto, foi além da implantação do STR e da alteração do modus operandi do Selic. Para redução do risco sistêmico, que era o objetivo maior da reforma, foram igualmente importantes algumas alterações legais. Nesse sentido, a Lei 10.214 5, de março de 2001, reconheceu a compensação multilateral nos sistemas de compensação e de liquidação e estabeleceu que, em todo sistema de compensação multilateral considerado sistemicamente importante, a correspondente entidade operadora deve atuar como contraparte central e assegurar a liquidação de todas as operações cursadas. Todas essas alterações tiveram o propósito de fortalecer o sistema financeiro, dando, assim, continuidade à reestruturação iniciada, em 1995, com o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional - Proer e, mais adiante, com o Programa de Incentivo à Redução da Participação do Setor Público Estadual na Atividade Bancária - Proes. Como se observa no início do processo o foco esteve direcionado para o fortalecimento das instituições financeiras, via fusões e transferências de controle, e para a redução da presença do setor público na atividade bancária. Nos últimos anos, o Banco Central do Brasil tem procurado atuar de forma mais intensiva também no sentido de promover o desenvolvimento dos sistemas de pagamentos de varejo, visando, sobretudo, ganhos de eficiência, relacionados, por exemplo, com o maior uso de instrumentos eletrônicos de pagamento, com a melhor utilização das redes de máquinas de atendimento automático (ATM) e de transferências de crédito a partir do ponto de venda (PDV), bem como com a maior integração entre os pertinentes sistemas de compensação e de liquidação 6. 4 A liquidação final da ponta financeira e da ponta do título ocorre ao longo do dia, de forma simultânea, operação por operação Para mais informações sobre modelos de entrega contra pagamento, ver Delivery Versus Payment in Securities Settlement Systems, BIS, setembro de 1992. 5 Lei resultante da conversão da Medida Provisória 2.115-16 (inicialmente Medida Provisória 2.008, de 14.12.99). 6 Para maiores informações, ver o Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil, BCB, de maio de 2005.

27 3.1.2 - Aspectos Institucionais 3.1.2.1 - Aspectos Legais O Conselho Monetário Nacional - CMN é o órgão formulador da política da moeda e do crédito, de acordo com a Lei 4.595 (Lei da Reforma do Sistema Financeiro Nacional), regulando o funcionamento do sistema financeiro brasileiro e atuando inclusive no sentido de promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobilização de recursos. O Banco Central do Brasil é o principal órgão executor da política traçada pelo CMN, cumprindo-lhe também, nos termos da mencionada lei, autorizar o funcionamento e exercer a fiscalização das instituições financeiras 7, emitir moeda e executar os serviços do meiocirculante. Os princípios básicos de funcionamento do sistema de pagamentos brasileiro foram estabelecidos por intermédio da Resolução 2.882, do Conselho Monetário Nacional, e seguem recomendações feitas, isolada ou conjuntamente, pelo BIS - Bank for International Settlements e pela IOSCO International Organization of Securities Commissions, nos relatórios denominados Core Principles for Systemically Important Payment Systems e Recommendations for Securities Settlement Systems. A mencionada resolução dá competência ao Banco Central do Brasil para regulamentar, autorizar o funcionamento e supervisionar os sistemas de compensação e de liquidação, atividades que, no caso de sistemas de liquidação de operações com valores mobiliários, exceto títulos públicos e títulos privados emitidos por bancos, são compartilhadas com a Comissão de Valores Mobiliários - CVM. 3.1.2.2 - O papel dos intermediários financeiros Ocupam posição de destaque no âmbito do sistema de pagamentos os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial, as caixas econômicas e, em plano inferior, as cooperativas de crédito. 7 De acordo com o ordenamento jurídico em vigor, são consideradas instituições financeiras as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

28 Essas instituições captam depósitos à vista e, em contrapartida, oferecem a seus clientes contas de depósito que são utilizadas pelo público em geral, pessoas físicas e jurídicas, para fins de pagamentos. O sistema financeiro conta com 131 instituições bancárias, totalizando cerca de 18,3 mil agências e 112,1 milhões de contas, e 1.465 cooperativas de crédito (dez/2007). Também têm papel de destaque os chamados correspondentes bancários 8, cerca de 84,3 mil no final de 2007. 3.1.2.3 - O papel do Banco Central O Banco Central do Brasil tem como missão institucional a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro. No que diz respeito ao sistema de pagamentos, nos termos da Resolução 2.882, cumpre-lhe atuar no sentido de promover sua solidez, normal funcionamento e contínuo aperfeiçoamento. Para funcionamento, os sistemas de liquidação estão sujeitos à autorização e à supervisão do Banco Central do Brasil, inclusive aqueles que liquidam operações com títulos, valores mobiliários, moeda estrangeira e derivativos financeiros 9. Como previsto na Lei 10.214, compete também à instituição a definição de quais são os sistemas de liquidação sistemicamente importantes. O Banco Central do Brasil também é provedor de serviços de liquidação e nesse papel ele opera o STR e o Selic, respectivamente um sistema de transferência de fundos e um sistema de liquidação de operações com títulos públicos. Para operacionalização de algumas de suas atribuições, o Banco Central do Brasil oferece contas denominadas reservas bancárias, cuja titularidade é obrigatória para as instituições que recebem depósitos à vista, exceto cooperativas de crédito e, opcional, para os bancos de investimento, bancos de câmbio e bancos múltiplos sem carteira comercial. 8 Atuando em nome dos bancos, os correspondentes bancários, tipicamente casas lotéricas, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos varejistas, oferecem alguns serviços bancários e de pagamentos inclusive em locais não atendidos pela rede bancária convencional. 9 Os sistemas que liquidam operações com títulos e valores mobiliários estão sujeitos também à autorização da CVM, competindo ao Banco Central do Brasil, nesse caso, com exclusividade, a análise dos aspectos relacionados com o controle do risco sistêmico. Os sistemas que liquidam títulos públicos e títulos emitidos por bancos estão sujeitos à supervisão exclusiva do Banco Central do Brasil.

29 Por intermédio dessas contas, as instituições financeiras cumprem os recolhimentos compulsórios/encaixes obrigatórios sobre recursos à vista, sendo que elas funcionam também como contas de liquidação. Cada instituição é titular de uma única conta, centralizada, identificada por um código numérico. Por determinação constitucional, o Banco Central do Brasil é o único depositário das disponibilidades do Tesouro Nacional. Também as entidades operadoras de sistemas de liquidação defasada, se considerados sistemicamente importantes, são obrigadas a manter conta no Banco Central do Brasil, para liquidação dos resultados líquidos por elas apurados. Para assegurar o suave funcionamento do sistema de pagamentos no ambiente de liquidação de obrigações em tempo real, o Banco Central do Brasil concede crédito intradia aos participantes do STR titulares de conta de reservas bancárias, na forma de operações compromissadas com títulos públicos federais, sem custos financeiros. 3.1.2.4 - O papel de outras entidades públicas e privadas Os sistemas que liquidam operações com títulos e valores mobiliários (exceto títulos públicos e títulos privados emitidos por bancos) sujeitam-se à autorização de funcionamento e à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, competência essa compartilhada com o Banco Central do Brasil. A Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro - Andima, associação civil sem fins lucrativos que congrega os interesses das instituições financeiras que atuam no mercado aberto, é a mantenedora do Selic. A Câmara Interbancária de Pagamentos - CIP, associação civil sem fins lucrativos, opera o Sistema de Transferência de Fundos Sitraf e o Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito Siloc. A Tecnologia Bancária S.A. - TecBan, empresa privada com fins lucrativos, opera a rede de auto-atendimento bancário denominada Banco24Horas, bem como uma câmara de compensação relacionada com operações de varejo. Na liquidação de operações com títulos e valores mobiliários, além do Banco Central do Brasil, que opera o Selic, e da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros S.A. - BM&FBOVESPA, tratada adiante, atuam a Câmara de Custódia e Liquidação - Cetip e a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia - CBLC. A Cetip é uma associação civil sem fins lucrativos e a CBLC, empresa privada com fins lucrativos constituída sob a forma de sociedade anônima.

30 Na compensação de cheques, tem papel de destaque o Banco do Brasil S.A., responsável pela operação da Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis Compe. Com a crescente utilização de instrumentos eletrônicos de pagamento, observada nos anos mais recentes, as empresas responsáveis por arranjos de cartões de pagamento passaram a desempenhar papel mais importante no sistema de pagamentos, com destaque para a Visa, Mastercard, American Express e Hipercard. A ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, atualmente desempenha importante papel no sistema de pagamentos, tendo em conta que, atuando como correspondente bancário 10, atende a quase todos os municípios brasileiros nos quais inexistem agências bancárias. 3.1.3 - Instrumentos de pagamento utilizados por não-bancos 11 3.1.3.1 - Pagamentos em espécie O dinheiro em espécie é usado principalmente para pagamentos de baixo valor, relacionados com as pequenas compras do dia-a-dia. Nessas situações, ele é o principal instrumento de pagamento utilizado no Brasil, respondendo por cerca de 77% dos pagamentos efetuados por pessoas físicas, conforme pesquisa efetuada pelo Banco Central do Brasil em 2007. No período 2003 a 2007, o papel-moeda em poder do público correspondeu, em média, a 39,1% do agregado monetário M1. 3.1.3.2 - Pagamentos sem utilização de dinheiro em espécie (non-cash) Pagamentos que não envolvem a utilização de dinheiro em espécie são efetuados principalmente por meio de transferências de crédito, cartões de pagamento e cheques. 10 Tipicamente, correspondentes bancários são casas lotéricas, supermercados, farmácias e outros varejistas que, atuando em nome dos bancos, entre outras coisas, recebem pagamentos e propostas de abertura de contas. 11 São considerados não-bancos as pessoas físicas e as pessoas jurídicas não-bancárias, ou, em outras palavras, todos os agentes econômicos exclusive as instituições financeiras que captam depósitos à vista.

31 3.1.3.2.1 - Transferências de crédito No Brasil, as transferências de crédito interbancárias efetuadas por não-bancos compreendem as Transferências Eletrônicas Disponíveis (TEDs) por conta de cliente, os Documentos de Crédito (DOCs), as Transferências Especiais de Crédito (TECs) e as movimentações interbancárias relacionadas com os bloquetos de cobrança. Em 2007, foram efetuadas cerca de 5,9 bilhões de transferências de crédito, totalizando cerca de R$ 14,2 trilhões (valor médio de R$ 2,4 mil por transação). 3.1.3.2.2 - Cheques O cheque continua sendo um importante instrumento de pagamento no Brasil, embora tenha havido redução em seu uso nos últimos anos, devido, principalmente, à sua substituição por instrumentos eletrônicos. Em 2007, foram emitidos cerca de 2 bilhões de cheques, no valor global de cerca de R$ 2,2 trilhões (valor médio de R$ 1.097 por cheque). 3.1.3.2.3 - Cartões de crédito Lançado no Brasil em 1956, o cartão de crédito ganhou maior importância a partir da década de 1990. A quantidade de cartões de crédito evoluiu de 44,0 milhões (média de 1 cartão para cada 4,1 habitantes), em 2003, para 117,7 milhões em 2007 (média de 1 cartão para cada 1,6 habitante), com variação da ordem de 167,3% no período (média de 27,9% a.a). Em 2007 foram efetuadas cerca de 2,2 bilhões de transações, no valor global de cerca de R$ 181,6 bilhões, com valor médio de cerca de R$ 84 por transação. No período de 2003 a 2007, as transações com cartão de crédito cresceram cerca de 99,3% em quantidade (média de 18,8% a.a). 3.1.3.2.4 - Cartões de débito Os cartões de débito podem ser utilizados principalmente em caixas automáticos de uso exclusivo (rede proprietária de um banco) ou compartilhado ou em estabelecimentos

32 comerciais que contam com máquinas apropriadas para a realização de transferências eletrônicas de fundos a partir do ponto de venda (EFTPOS Electronic Funds Transfer from the Point of Sale). No período de 2003 a 2007, a quantidade de cartões de débito evoluiu de 125,4 milhões (média de 1 cartão para cada 1,4 habitante) para 182,4 milhões de unidades (média de 1 cartão para cada 1,0 habitante), com crescimento de cerca 45,5% (média de 9,8% a.a.). Em 2007, foram efetuadas cerca de 1,7 bilhão de transações com cartão de débito, no valor global de cerca R$ 81,1 bilhões, com valor médio da ordem de R$ 49 por transação. Os pagamentos com esse instrumento, no mesmo período, apresentaram crescimento de cerca de 157,0% em quantidade (média de 26,6% a.a.). 3.1.3.2.5 - Cartões de loja (retailer cards) Os cartões de loja, emitidos principalmente por grandes redes varejistas, normalmente só podem ser usados nas lojas da rede emissora. A quantidade de cartões de loja evoluiu de 71 milhões em 2003 para 144 milhões em 2007, com crescimento de cerca de 102,8% no período (média de 19,3% a.a). Em 2007, foram realizadas cerca de 851 milhões de transações, no valor global de cerca de R$ 45,5 bilhões (valor médio da ordem de R$ 53 por transação). 3.1.3.2.6 - Cartões com valor armazenado O cartão com valor armazenado é utilizado para pagamento de serviços específicos, relacionados principalmente com o uso de telefones e meios de transporte públicos, ou compras de pequeno valor. Não estão disponíveis estatísticas relacionadas com o uso desse instrumento de pagamento no Brasil. 3.1.3.2.7 Débitos diretos O débito automático em conta, ou débito direto, é normalmente utilizado para pagamentos recorrentes, isto é, pagamentos que observam uma certa periodicidade, tais como os referentes aos serviços de água, luz e telefone. Em 2007, foram realizados cerca de 852,6 milhões de pagamentos por débito direto, no valor global de cerca de R$ 180,5 bilhões (valor médio de R$ 212 por transação). No

33 período de 2003 a 2007, os pagamentos por débito direto evoluíram cerca de 36,0% em quantidade (média de 8,0% a.a.).

34 3.1.4 - Sistemas de liquidação 3.1.4.1 - Visão geral dos sistemas de liquidação liquidação: O diagrama a seguir apresenta uma visão geral dos sistemas de compensação e de Figura 1 Arranjo geral dos sistemas de liquidação Fonte: Banco Central (2008)

35 3.1.4.2 - Sistemas de liquidação de transferências de fundos interbancárias O STR é o centro de liquidação das operações interbancárias, em decorrência da conjunção dos seguintes fatos: primeiro, por disposição legal (Lei 4.595), todas as instituições bancárias (instituições que captam depósitos à vista) têm de manter suas disponibilidades de recursos no Banco Central do Brasil; segundo, por determinação regulamentar (Circular 3.057), os resultados líquidos apurados nos sistemas de liquidação considerados sistemicamente importantes devem ter sua liquidação final em contas de reservas bancárias; e finalmente, também por disposição regulamentar (Circular 3.101), todas as transferências de fundos entre contas mantidas no Banco Central do Brasil têm de ser feitas por intermédio do STR. Transferências interbancárias de fundos são também liquidadas por intermédio do Sitraf, Siloc, Compe e Câmara TecBan. O Sitraf utiliza modelo híbrido de liquidação 12. Os demais são sistemas de liquidação diferida, com compensação multilateral. Entre esses sistemas, apenas o Sitraf é considerado sistemicamente importante. Para o suave funcionamento do sistema de pagamentos no ambiente de liquidação em tempo real implantado em 2002, três aspectos são especialmente importantes: primeiro, o Banco Central do Brasil concede crédito intradia aos participantes do STR titulares de conta de reservas bancárias. Para tanto são utilizadas operações compromissadas com títulos públicos federais, sem custos financeiros, isto é, o preço da operação de volta é igual ao preço da operação de ida; 12 Os sistemas híbridos de liquidação combinam características da liquidação líquida defasada e da liquidação bruta em tempo real.

36 segundo, a verificação de cumprimento dos recolhimentos compulsórios é feita com base em saldos de final do dia, valendo dizer que esses recursos podem ser livremente utilizados ao longo do dia para fins de liquidação de obrigações 13 ; por último, o Banco Central do Brasil, se e quando julgar necessário, pode acionar rotina para otimizar o processo de liquidação das ordens de transferência de fundos mantidas em filas de espera no âmbito do STR. 3.1.4.2.1 - Sistema de Transferência de Reservas STR O STR é um sistema de transferência de fundos com liquidação bruta em tempo real (LBTR), operado pelo Banco Central do Brasil, que funciona com base em ordens de crédito, isto é, somente o titular da conta a ser debitada pode emitir a ordem de transferência de fundos. Participam obrigatoriamente do STR, além do Banco Central do Brasil, as instituições titulares de conta de reservas bancárias e as entidades prestadoras de serviços de compensação e de liquidação que operem sistemas considerados sistemicamente importantes. As entidades responsáveis por sistemas não considerados sistemicamente importantes participam opcionalmente do STR. A Secretaria do Tesouro Nacional - STN também participa do sistema, sendo liquidadas pelo STR, entre outras, transferências de fundos relacionadas com recolhimentos de impostos ao Tesouro Nacional e com o pagamento de despesas do governo federal. Em dezembro de 2007, além do Banco Central do Brasil e da STN, o sistema contava com a participação de 131 instituições titulares de conta de reservas bancárias e cinco entidades operadoras de sistemas de compensação e de liquidação 14. O horário regular de funcionamento é das 6h30 às 18h30 (horário de Brasília), sendo que o registro de ordens de transferência de fundos a favor de cliente só é permitido até às 17h30. 13 A utilização de recursos mantidos em contas Reservas Bancárias, cujo saldo é considerado para fins de verificação do recolhimento compulsório e encaixe obrigatório relacionados com recursos à vista, independe de qualquer providência especial. Para utilização de outros recursos, registrados em outras contas de recolhimento compulsório/encaixe obrigatório, o participante precisa encaminhar ao STR ordem específica determinando a transferência dos recursos da conta em que se encontravam registrados para sua conta Reservas Bancárias. 14 Algumas entidades mantêm mais de uma conta de liquidação no STR (CIP = 2 e BM&FBOVESPA = 3).

37 A grade horária do STR é mostrada no diagrama a seguir: Figura 2 STR grade horária Fonte: Banco Central (2008) 3.1.4.2.2 - Sistema de Transferência de Fundos Sitraf O Sitraf, que é operado pela CIP, utiliza compensação contínua de obrigações (continuous net settlement). As ordens de transferência de fundos são emitidas para liquidação no mesmo dia (D), por assim dizer, "quase em tempo real". É um sistema híbrido de liquidação no sentido de que reúne características dos sistemas de liquidação diferida com compensação de obrigações (LDL) e dos sistemas de liquidação bruta em tempo real (LBTR). A participação direta no Sitraf é restrita às instituições titulares de conta de reservas bancárias, isto é, bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial, caixas econômicas e, quando for o caso, bancos de investimento e bancos de câmbio (93 participantes em dez//2007). As ordens de transferência de fundos podem ser emitidas pelos participantes no período de 7h30 às 17h. O ciclo completo de liquidação é constituído pelo ciclo principal, que se estende até 17h e cuja liquidação final, em contas mantidas no Banco Central, ocorre às 17h10, e pelo ciclo complementar, das 17h10 às 17h25 15. 15 Os participantes podem cancelar ordens de transferência de fundos remanescentes até 17h15.

38 3.1.4.2.3 - Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis Compe A Compe liquida as obrigações interbancárias relacionadas principalmente com cheques de valor inferior ao VLB-Cheque (R$ 250 mil). Além do Banco Central do Brasil, atualmente participam da Compe apenas instituições bancárias, nomeadamente os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas, totalizando 130 instituições em dez/2007. A participação nas sessões diárias é condicionada à constituição de depósito prévio no Banco Central do Brasil até 9h30 de cada dia. 3.1.4.2.4 - Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito Siloc O Siloc liquida obrigações interbancárias relacionadas com Documentos de Crédito (DOC) 16, Transferências Especiais de Crédito (TEC) 17 e bloquetos de cobrança de valor inferior ao VLB-Cobrança (R$5 mil). A liquidação é feita, com compensação multilateral de obrigações, em contas de reservas bancárias, no dia útil seguinte ao de emissão do DOC e da TEC, ou, no caso do bloqueto de cobrança, de recebimento do pagamento. Podem participar do Siloc apenas instituições titulares de contas de reservas bancárias (123 participantes em dez/2007). 16 Ordem de transferência de fundos por intermédio da qual o cliente emitente, correntista ou não de determinado banco, transfere recursos para a conta do cliente beneficiário em outro banco. A emissão de DOC é limitada ao valor de R$ 4.999,99. 17 Instrumento por intermédio do qual o emitente, pessoa física ou jurídica, ordena a uma instituição financeira que ela faça um conjunto de transferências de fundos para destinatários diversos, clientes de outras instituições, cada uma das transferências limitada ao valor de R$ 4.999,99.

39 3.1.4.2.5 - Câmara TecBan No sistema de compensação e de liquidação operado pela Tecnologia Bancária S.A. - TecBan, são processadas transferências de fundos interbancárias relacionadas principalmente com pagamentos realizados com cartões de débito nos estabelecimentos comerciais credenciados para aceitação de cartões com a bandeira Cheque Eletrônico e com saques em redes de atendimento automático de uso compartilhado, principalmente na denominada Banco24Horas. O sistema utiliza compensação multilateral de obrigações, com a liquidação final dos resultados apurados sendo feita, por intermédio do Sistema de Transferência de Reservas - STR, em contas mantidas pelos participantes no Banco Central do Brasil. Participam do sistema 31 instituições financeiras (dez/2007). Cerca de 93 milhões de cartões têm acesso ao Banco24Horas. 3.1.4.3 - Sistemas de liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário No Brasil, quase todos os títulos são desmaterializados, existindo apenas sob a forma de registros eletrônicos. O princípio da entrega contra pagamento (EcP) é observado em todos os sistemas de liquidação de títulos e valores mobiliários. No caso das operações interbancárias de câmbio, o princípio equivalente, de pagamento contra pagamento (PcP), é observado se a liquidação é feita por intermédio da Câmara de Câmbio da BM&FBOVESPA. Na liquidação de operações com títulos e valores mobiliários, o SPB apresenta certa segmentação. O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic, operado pelo Banco Central do Brasil, liquida operações com títulos públicos federais. A Câmara de Ativos da BM&FBOVESPA também liquida operações com esses títulos, segundo sistemática diferenciada. A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia - CBLC liquida principalmente operações com ações realizadas na BM&FBOVESPA e na Sociedade Operadora do Mercado de Ativos - Soma. Os títulos de dívida corporativa são liquidados principalmente por intermédio da Câmara de Custódia e Liquidação - Cetip. A BM&FBOVESPA, além da Câmara de Ativos e da Câmara de Câmbio, opera sistema de liquidação de operações com derivativos (Câmara de Derivativos).

40 O diagrama a seguir contém a visão geral do sistema financeiro brasileiro, no que diz respeito à negociação, compensação e liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário: Figura 3 - Visão geral do mercado de títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira Fonte: Banco Central (2008) 3.1.5 - Rede do Sistema Financeiro Nacional RSFN A RSFN é a estrutura de comunicação de dados, implementada por meio de tecnologia de rede, criada com a finalidade de suportar o tráfego de mensagens entre as instituições financeiras titulares de conta de reservas bancárias, as câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de liquidação, a Secretaria do Tesouro Nacional - STN e o Banco Central do Brasil, no âmbito do SPB. Essa plataforma tecnológica é utilizada principalmente para acesso ao STR e ao Sitraf. 3.2 - SISTEMAS DE PAGAMENTOS EM PAÍSES SELECIONADOS Selecionamos alguns países para comentar como estão dispostos seus sistemas de pagamentos (TRICHES E BERTOLDI, 2004). Escolhemos 3 países de economias desenvolvidas, integrantes do grupo dos dez (G-10), EUA, Japão e Reino Unido e 2

41 economias da América Latina, México e Argentina, até como forma de compararmos com o Brasil (SPB). Os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido, bem como a grande maioria dos demais países integrantes do Grupo dos Dez (G-10), introduziram nos seus sistemas de pagamentos a transferência de fundos de grandes valores, através dos Sistemas de Liquidação pelo valor Bruto em Tempo Real (LBTR), no decorrer dos anos 1980 e 1990. A adoção desse sistema é uma resposta à necessidade de uma eficaz administração de riscos nos sistemas de pagamentos. O primeiro sistema LBTR automático foi desenvolvido pelos Estados Unidos e é conhecido como Fedwire (Fedwire Funds Transfer Service). Sua versão moderna foi implantada ainda na década de 1970. Ela é baseada numa rede computadorizada de tele comunicações e processamento eletrônico de alta velocidade. A partir desse sistema, o valor médio das transações cresceu de US$ 2,9 milhões para US$ 6,1 milhões em relação ao sistema anterior, e o total de transações como proporção do produto daquele país subiu de 30,7% para 42,7%. O sistema LBTR também está presente no Reino Unido, representado pela Chaps que passou a vigorar a partir de 1984. Esse modelo de pagamentos pertence a uma rede de instituições financeiras e ao Banco Central. Nesse sistema, todos os participantes estão interconectados ao sistema interno de contabilidade em tempo real com o Banco Central. É permitido acesso direto a todos os bancos, todas as instituições de crédito, instituições depositárias, entre outros, desde que os integrantes possuam solidez financeira e conhecimentos técnicos aplicados a cada sistema, além de contas mantidas no Banco Central. Quadro 2 - Características de sistemas selecionados de transferências de fundos de grandes valores em 1995

42 No que se refere à estrutura das contas no Banco Central, há diferenças nos sistemas LBTR entre os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido. Os modelos de pagamentos podem ser divididos em dois grupos: (a) sistemas sem; e (b) sistemas com fornecimento de crédito intradia ao longo do expediente diário pelo Banco Central. No Boj-net, o Banco Central japonês não fornece crédito intradia. As ordens de transferência descobertas, e.g., são rejeitadas e devolvidas ao banco remetente. No entanto, o papel de oferecer recursos para cobrir a necessidade de liquidez nos intervalos de Liquidação Diferida pelo valor Líquido (LDL) no sistema Boj-net é desempenhado pelo mercado interbancário intradia. Aliás, o mercado monetário intradia japonês é o mais desenvolvido dentre os países do Grupo dos Dez. Já nos sistemas LBTR dos EUA e do Reino Unido, os bancos centrais oferecem e permitem esse tipo de transferência. Por exemplo, se uma instituição incorrer em saque a descoberto, o Fedwire cobra um encargo baseado na média diária de saques, mas o valor a descoberto diário possui um limite predeterminado. O sistema Chaps, por sua vez, não permite saque a descoberto, mas o Banco Central oferece, em substituição, liquidez intradia, mediante contratos de recompra intradia. Ressalta-se ainda que, independentemente da disponibilidade de instrumentos de crédito intradia, os bancos centrais oferecem alguns instrumentos de financiamento. No que concerne ainda à análise dos sistemas de pagamentos dos países selecionados, nota-se que o sistema financeiro da economia mexicana e argentina tende a ser relativamente vulnerável. Tal fato decorre por conta da fragilidade das características específicas nas quais estão estruturados os sistemas de pagamentos. Por exemplo, a partir da década de 1980, o México implementou um conjunto de reformas no sistema financeiro determinantes para sua inserção no contexto internacional. Em 1994, o Banco do México modificou seu sistema de pagamentos adotando o LBTR, com o objetivo de substituir os cheques de altos valores e diminuir os riscos de crédito ao público. Na realidade, o LBTR comporta o Sistema de Pagamentos Eletrônicos de Uso Ampliado (SPEUA), ao qual apenas os bancos têm acesso para realizar pagamentos de altos valores com liquidação ao longo de um dia, e o Sistema Interativo para Depósitos de Valores (SIDV), utilizado na liquidação das transações de valores por meio do mecanismo de Entrega Contra Pagamento (ECP). O Banco do México tem a propriedade e opera os dois sistemas, os quais exigem que as transações sejam liquidadas mediante a existência de saldo disponível nas contas dos participantes envolvidos. A estrutura de pagamentos, no México, também comporta sistemas LDL, em que o Centro de Compensação Bancária presta serviços de compensação de cheques com cobertura em todo o país e realiza a compensação diferida de pagamentos eletrônicos. O Sistema de

43 Câmaras (Sicam) operado pelo Banco do México compensa os pagamentos processados pela Cecoban sempre na manhã seguinte ao movimento ocorrido, por meio de confronto de informações ainda de forma manual. O Banco Central da República Argentina (BCRA), por sua vez, redefiniu os sistemas de pagamentos no país em 1996, passando a introduzir um sistema LBTR como o Meio Eletrônico de Pagamentos. Além disso, a compensação das transações monetárias de baixos e de altos valores passou a ser realizada por câmaras eletrônicas de compensação (CEC), administradas pelo setor privado. Essas câmaras têm a função de prestar serviços de compensação de instrumentos de pagamentos às instituições e entidades financeiras associadas, além das condições de segurança, infra-estrutura de telecomunicações e planos de contingência. O sistema Meio Eletrônico de Pagamentos permite que as instituições autorizadas realizem transferências em tempo real por meio de suas contas correntes no Banco Central. Desde 1997, existem duas Câmaras Eletrônicas de Compensação privadas de baixos valores ou de valores de terceiros: a ACHSA e a Compensadora Eletrônica S.A. (Coelsa). Ambas são autorizadas pelo Banco Central argentino a compensarem eletronicamente cheques e outros documentos, débitos diretos e transferências de baixos valores. Essas câmaras estão interligadas para remeterem as transações entre as instituições financeiras filiadas. As Câmaras Eletrônicas de Compensação de altos valores ou câmaras de compensação de valores de instituições financeiras também são representadas por duas câmaras: (i) a Interbanking, que começou a operar em 1998, prestando serviços de liquidação LDL para os bancos e serviços de transferência eletrônica de fundos para empresas, e (ii) a Provincaje, que entrou em funcionamento em 2000, fornecendo os mesmos serviços para o interbancário. A análise dos sistemas de pagamentos e do comportamento dos meios de pagamento em relação ao PIB dos países selecionados permite afirmar que as economias desenvolvidas apresentam sistemas financeiros e sistemas de pagamentos relativamente mais avançados, além de maiores participações percentuais dos meios de pagamento sobre o PIB, que as economias em desenvolvimento.

44 3.3 - PROVISIONAMENTO DE FUNDOS PARA PAGAMENTOS INTERBANCÁRIOS: RESERVAS BANCÁRIAS E REDESCONTO INTRADIA Segundo Brito (2002), após as alterações do Sistema de Pagamentos Brasileiro em 22 de Abril de 2002, a dinâmica de administração do caixa das instituições foi dramaticamente alterada. Atualmente, todos os pagamentos dos diversos agentes econômicos são finalizados via moeda corrente ou compensação bancária, e apenas instituições financeiras realizam transações com liquidação em Reserva Bancária. Assim, o saldo em reserva só se altera em função das operações com títulos públicos e operações em reserva (compromissadas e CDI- Reserva) contratadas no próprio dia, ou por frustração de algum lançamento previamente contratado. Os demais lançamentos, como por exemplo, das operações de câmbio, são previamente conhecidos. As operações com clientes pressupõem liquidação via compensação bancária no início e no vencimento para quase todos os produtos. Exceções seria desencaixe de numerário e compras de títulos públicos, situações não muito freqüentes e em que a reserva bancária é considerada na formação de preço. As áreas responsáveis por títulos públicos e Reservas Bancárias (mesas de open) realizam suas operações baseadas em informações produzidas por outra, usualmente chamada de Gestão da Liquidez ou similar. Atualmente, estas áreas têm um dia inteiro para produzir um saldo de Reservas Bancárias projetado para o dia seguinte, capturando informações de diversas fontes, algumas prévias, outras definitivas. Dado o alto grau de automação dos processamentos e a experiência acumulada por muitos anos de prática, onde as coisas aconteceram quase sempre da mesma forma, as prévias são confirmadas com poucas alterações. Isso traz um conforto para os operadores, que podem utilizar o dia todo para realizar transações em Reserva Bancária. Com as alterações vislumbradas surgirá uma nova figura na estrutura organizacional dos bancos, o grupo de pilotos da reserva. A principal atribuição dessa equipe será apurar continuamente o saldo em Reserva e monitorar, se possível de maneira antecipatória, os lançamentos vindos das clearings. Deverão ser consultados antes de qualquer movimentação a débito em Reserva, seja para atender solicitação de clientes ou compra de títulos públicos (ALAN BRITO, 2002, p.81). Serão responsáveis, também, pela administração das filas internas de lançamentos, seja no STR ou nas clearings. (JORDÃO, 2001, p.3-5). O atual ambiente de registro e liquidação das operações com Reservas Bancárias e títulos públicos, o Selic, é um sub-sistema do STR, com novas funcionalidades. Uma destas é a possibilidade de os bancos obterem Reserva Bancária diretamente do Banco Central via

45 redesconto de títulos públicos federais, quando intradia a custo zero e por prazos maiores conforme as condições da época (hoje o redesconto com garantia de títulos custa Selic+6%aa). (JORDÃO, 2001, p.3). O saldo na conta Reserva Bancária é composto pelo Compulsório sobre Depósitos à Vista (só podem compor o saldo da conta Reservas Bancárias em até 42%, caso apresente uma média nos últimos 10 dias úteis, menor do que 80% destes 42%, a instituição pagará multa o saldo é verificado às 18h30, diariamente) + Compulsório sobre Poupança (20% sobre o volume depositado na poupança + 10% no caso de bancos de maior volume de depósitos). A autoridade monetária pode alterar esses valores de acordo com as necessidades das políticas econômica, fiscal e monetária do país. Os bancos tiveram que passar a ser mais seletivos na avaliação de crédito de seus clientes e, sobretudo, de seus parceiros bancários. Passaram a reavaliar a liquidez de sua posição de passivos, com o intuito de não descasar seu fluxo de caixa, afinal a recomposição da liquidez de uma instituição financeira pode significar custos de oportunidade razoavelmente elevados, dependendo das condições de funcionamento do mercado monetário. No final do dia os bancos tem que zerar sua posição de redesconto intradia, sem custos, no Banco Central. Para isso, utilizam-se dos recursos recebidos e, caso não seja suficiente, utilizam-se de operações de troca de títulos públicos entre si, com spread, por um dia. Sendo assim, os bancos possuem 3 fontes básicas de recursos para efetuar seus pagamentos diários: Reservas Bancárias (compulsórios sobre depósito à vista e poupança), Redesconto (intradia através de venda de títulos públicos) e Empréstimos Interbancários (quando prazo maior ou igual a 1 dia).

46 4. REVISÃO DA LITERATURA Conforme citado no início do Capítulo 1, Sistema de Pagamentos é o conjunto de procedimentos, regras, instrumentos e sistemas operacionais integrados, usados para transferir fundos do pagador para o recebedor e, com isso, encerrar uma obrigação (Brito, 2002). Economias de mercado dependem desses sistemas para movimentar os fundos decorrentes da atividade econômica (produtiva, comercial e financeira), tanto em moeda local quanto em moeda estrangeira. Desta forma, um requisito importante de um sistema de pagamentos é a certeza de liquidação de pagamentos efetuados por meio de sua rede de participantes. Assim, duas características são desejáveis em um bom sistema de pagamentos: integridade e eficiência. E, a estas características, estão associados alguns tipos de risco, tais como o risco sistêmico, principal fonte de preocupação dos bancos centrais. Greenspan (apud FERNANDO PUGA, 1999) afirma que é a falta de liquidez ou a insolvência do sistema bancário que transforma aparentes pequenos desequilíbrios na economia em uma situação de crise. Para mitigar o risco sistêmico desenvolveu-se em 1988 o Acordo da Basiléia, ou Basel I, o qual serviria para mensurar e padronizar requerimentos mínimos de capital nos países do G-10. Para Mendonça (2004), os reguladores utilizam-se largamente da ferramenta de adequação de capital de forma a garantir a solvência das instituições e a solidez do sistema bancário. Desde então, isso foi adotado por quase uma centena de países, mas, com o passar dos anos, o setor bancário, o gerenciamento de risco e os mercados financeiros vinham sofrendo drásticas mudanças, que levaram à consecução do Acordo de Capital de Basiléia II ou, simplesmente Basel II, publicado em 2004. Segundo Fabi et al. (2005), o acordo de 2004 não refletia consistentemente as mudanças no risco e, como conseqüência, poderia subestimar riscos e superestimar a adequação de capital dos bancos, além de criar incentivos para investimentos de alto risco. Bystrom (2003) afirma que a abordagem do novo acordo é um exemplo do interesse crescente dos reguladores nas forças que regem os mercados. Na visão de Puga (1999), até antes da implantação do Plano Real, no início de julho de 1994, não existia um arcabouço institucional que prevenisse o sistema financeiro brasileiro contra riscos de uma crise financeira. Carvalho (2003) afirma que as autoridades regulatórias brasileiras deveriam desenvolver políticas visando modernizar os sistemas de análise de crédito e de gerenciamento de risco, especialmente porque as combinações atuais de risco estão

47 profundamente alteradas. Segundo esse autor, o Novo Acordo da Basiléia apresenta disposições definidas exatamente em função desse cenário. Fundamentalmente, o dia 22 de abril de 2002 marcou o início de uma nova fase no SPB, com o funcionamento do Sistema de Transferência de Reservas, STR. A nova postura comportamental exigida pelo sistema foi a principal mudança com relação ao foco anteriormente adotado, vigente na década de 1990, centrado na redução dos prazos de transferência, em um ambiente de inflação crônica, para o de gerenciamento de riscos, onde, por determinação legal, exigiu-se que as principais câmaras de compensação e de liquidação atuassem como contraparte central e assegurassem a liquidação de todas as operações cursadas, ressalvados os riscos do emissor. Para Ribeiro (2003) a reestruturação do Sistema de Pagamentos Brasileiro conseguiu já no seu primeiro ano, reduzir os riscos associados à compensação e à liquidação de operações, adequando o sistema aos padrões das economias desenvolvidas, reduzindo o risco sistêmico, diminuindo a exposição do BACEN. Para Kahn e Roberds (1998) a liquidação diferida líquida (LDL) traz vantagens financeiras no custo de manutenção de reservas, porém aumenta o risco chamado moral hazard, pois as instituições financeiras sabem que podem dispor de créditos concedidos intradia junto ao Banco Central, caso não apresentem saldos para efetuar seus pagamentos. Com isso, a LDL aumenta o risco de default das instituições financeiras. Hughes e Mester (1998) encontraram evidências de economias de escala em quaisquer tamanhos de banco, afirmando que os bancos economizam com o capital financeiro usado para minimizar os riscos e para sinalizar solidez para o mercado e economizam com o custo de sistemas de gerenciamento de risco. Araújo (2002) afirmou que o novo SPB introduz regras claras de atuação para os integrantes do SFN e para o BCB, definindo os riscos dos participantes. Biassoto e Bessada (2004) evidenciaram que o crescimento dos riscos associados ao desenvolvimento dos mercados motivou o aprimoramento dos sistemas de pagamento e ressaltaram que o novo SPB reforçou a redução do risco sistêmico em função da fluidez e do volume cursado no STR (transita 1 PIB a cada 7 dias). Para Moreira (2002), o SPB modificou muitos aspectos das inter-relações financeiras entre os participantes. A própria definição de sistema de pagamentos como um conjunto de regras, instrumentos e procedimentos que possibilita transferências de dinheiro e de ativos financeiros entre pessoas, empresas, governo e instituições financeiras dá idéia da dimensão das reformas. Sua expectativa é de que haja um aumento da concentração no setor bancário, tendo em vista que o SPB trará mais liberdade de ação aos bancos detentores de grandes reservas. Estes garantem

48 uma vantagem competitiva, já que podem liquidar um volume maior de operações, atraindo, por conseqüência, novos clientes. Para Triches e Bertoldi (2004), a reestruturação do SPB não modificou quantitativamente no período de 2002 a 2004 o comportamento dos meios de pagamento mais restritos, mas modificou o perfil de utilização dos instrumentos de pagamento no país. Houve um crescimento do uso dos débitos e créditos diretos, dos cartões de crédito e de débito e a diminuição do uso de cheques, principalmente de grandes valores. Para estes autores, o Brasil continua sendo, comparativamente a outros países, um grande usuário de instrumentos de pagamento tradicionais, mas com clara tendência a uma forte expansão dos pagamentos por meios eletrônicos. Nosso intuito neste trabalho é fazer uma análise comparativa entre os sistemas de pagamentos no Brasil e nos EUA, considerando o novo SPB (através do STR, já explicado no Capítulo 3) e o FEDWIRE, que explicaremos com mais detalhes nos próximos parágrafos. Segundo LEINONEN & SORAMÄKI, 2003, a infra-estrutura necessária para executar os sistemas de pagamentos, tem crescido gradualmente em todo o Mundo, transformando-se em uma complicada rede interativa de sistemas, que transferem valores e títulos, tanto a nível doméstico como internacional. A integração desses sistemas tem resultado em interdependências críticas. Objetivos típicos para planejamento de sistemas de pagamento incluem: baixo risco da contraparte (agentes envolvidos) não cumprir o contratado; rapidez nas transações; baixo consumo de liquidez; e baixo custo de efetivação. Esses mesmos autores sugerem abordagens em duas direções para análise de sistemas de pagamentos: uma que procure analisar o Timing, ou seja, a data/horário dos fluxos para verificar se há momentos de pico nas transações; outra abordagem sugerida por esse autores, diz respeito à topologia dos fluxos de pagamento interbancários, o que permitirá um melhor planejamento do sistema, com identificação de possíveis gargalos, redundâncias, etc. Para analisar este Timing do fluxo de pagamentos escolhemos o texto The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfer, de autoria de James McAndrews e Samira Rajan, o qual trata do timing e do fluxo de recursos transacionados pelo Fedwire. O Fedwire é um sistema de pagamentos de grandes valores operado pelo Federal Reserve System (Banco Central Americano), ou seja, é um sistema de liquidação por tempo real bruto (RTGS-Real time gross settlement system). O Fedwire opera entre 00h30 e 18h30, diariamente (a partir de 1997, pois antes eram 10 horas de expediente). Esta extensão de horário foi feita com o intuito de atender às liquidações de operações de câmbio que ocorriam no início da manhã. Entretanto, nem o timing dos picos de atividade (final do dia) nem o padrão de outros tipos de

49 pagamentos foram alterados significativamente por esta mudança nos horários. Dois serviços estão associados com o Fedwire: o Serviço de Fundo de Transferências; e o Serviço de Valores Imobiliários escriturais. Aprofundando a análise a partir do texto, podemos perceber que dois aspectos afetam o gerenciamento de liquidez intradia dos bancos: primeiro, o timing da atividade de pagamentos dos bancos reflete o perfil da demanda de seus clientes por tais operações. Em sua grande maioria, no final do expediente bancário. Segundo, este timing reflete a resposta dos bancos à demanda imediata de pagamentos de seus clientes. Quando respondem à esta demanda, os bancos incorrem em custos mais elevados de esforço de liquidez, sacando recursos de seus limites junto ao Banco Central Americano (FED). Os autores verificaram que 25% dos pagamentos efetuados pelos bancos utilizam-se dos recursos recebidos oriundos de pagamentos efetuados por outros bancos no mesmo minuto, no horário normal, e que, no horário de pico, este percentual cresce para 40%. Percebeu-se também que os maiores volumes de pagamentos estão concentrados no final do dia (de 14h0 às 16h30). Os pagamentos são processados através de uma Câmara de Liquidação (Clearing House Interbank Payments System CHIPS). A sugestão dos autores é que os bancos fizessem uma coordenação do timing dos seus pagamentos, buscando sincronizá-los. Os bancos poderiam concentrar seus pagamentos num pequeno intervalo de tempo, retardando o atendimento à demanda de seus clientes. Isso faria com que os pagamentos se concentrassem num período curto, permitindo a sincronização. Porém estudos econômicos sugerem que os bancos raramente conseguem coordenar suficientemente para tirar vantagem total desta coordenação, mesmo tendo informação completa sobre o comportamento dos demais bancos. Podemos verificar que existe um crescimento considerável no volume de pagamentos processados com funding proveniente de pagamentos recebidos de outros bancos (recebendo no mesmo minuto do pagamento que sai) durante o período de pico no final da tarde. Verificamos ainda que no começo da manhã, os pagamentos são processados com recursos oriundos das contas dos bancos junto ao FED ou do saque das linhas de crédito junto ao FED. À medida que corre o dia, estas fontes continuam predominando, mas, quando chega o final do dia, os pagamentos recebidos passam a ter grande significância para os fluxos de saída (pagamentos enviados). Entre 16h30 e 17h30, 16% a mais nos pagamentos enviados tem como funding os pagamentos recebidos do que no horário entre 14h30 e 16h30. Como pode ser notado, o grau de sincronização dos pagamentos é menor do que o desejado, caso os bancos pudessem coordenar seus pagamentos com sucesso. Isso permitiria

50 custos menores aos bancos e um risco de exposição menor do FED. Porém este não é um problema fácil de resolver, como veremos a seguir. Algumas regras poderiam ser sugeridas como forma de forçar os bancos a coordenar melhor seus pagamentos. Por exemplo, poderiam ser criados 2 horários de sincronização, de 10 ou 20 minutos, sendo um no final da manhã, outro no início do período de pico da tarde. Dessa forma, os bancos iriam montar uma expectativa de que nestes horários eles iriam receber um grande volume de pagamentos. Por outro lado, este período curto de sincronização, exigiria um grande custo de equipamentos e sistemas para suportar esta concentração breve. Isso poderia ser mitigado se aumentassem o período de sincronização. O Banco Central dos EUA (FED) estenderia os saques durante o período de sincronização, mas não cobraria taxas por isso. Para isso, precisaria colocar limites para que os bancos não excedessem os valores seguros de saque ou que fossem exigidos colaterais, reduzindo o nível de exposição ao risco do FED. A conclusão do artigo é que 25% dos pagamentos do dia são efetuados com recursos originários dos pagamentos recebidos no mesmo minuto. Esta fonte de recurso é percebida principalmente no final do dia onde ocorre o período de pico de pagamentos, quando os grandes volumes são transacionados. Neste período o percentual cresce para 40%. Em geral 35,6% dos pagamentos tem o funding originário dos saldos das contas Reservas Bancárias junto ao Banco Central (FED), 39% tem funding nos saques em linhas de crédito junto ao Banco Central (overdrafts) e 25,4% utilizam-se dos pagamentos recebidos de outros bancos no mesmo minuto.

51 5. METODOLOGIA De acordo com o sugerido por LEINONEN & SORAMÄKI, 2003, utilizaremos como base para o desenvolvimento da nossa pesquisa, o artigo elaborado por: McANDREWS & RAJAN, 2000, que aborda o timing das transferências de fundos interbancárias. As fontes de recursos para que os bancos possam efetuar seus pagamentos são assim divididas: (a) saldo da conta que mantém junto ao FED; (b) pagamentos recebidos de outros bancos; (c) linhas de crédito junto ao FED. Se os recursos recebidos de outros pagamentos ficam muito tempo na conta de recebimentos, os autores adotam que estes recursos são considerados saldo na conta junto ao FED e não mais fazem parte do item (b) acima. Para cálculo destas fontes de recursos os autores elaboraram algumas fórmulas matemáticas. Para calcular o valor dos pagamentos realizados pelo Banco i para o Banco j no minuto t, P t ij, temos: Onde B 0 i = balanço da conta do banco, no FED, no início do dia. Estendendo a Equação acima para fluxos diários, teremos: Equação 1 Equação 2 O valor em Dólares dos pagamentos efetuados cuja fonte de recursos é a entrada de pagamentos recebidos de outros bancos, dentro do mesmo minuto: Equação 3 Decompondo a fonte de recursos dos Pagamentos Brutos no minuto t: Equação 4 All other payments consiste nos pagamentos cuja fonte de recursos provém das transferências das contas de reservas bancárias junto ao FED, mantidas pelos bancos. É importante ressaltar que este artigo citado acima decorre de pesquisas já realizadas pelo FED nos EUA. Nosso interesse seria, então, replicá-las ao caso brasileiro. Para o estudo do timing dos fluxos financeiros, utilizaremos como base o artigo de McANDREWS & RAJAN, 2000, The Timing and Funding of Fedwire Funds Transfer. Este artigo analisa o caso brasileiro com dos dados obtidos junto ao Banco Central do Brasil no período de 2002 a 2007, dois períodos no ano de 2009 (de 31/07/2009 a 31/08/2009 e de

52 23/09/2009 a 23/10/2009) e um período no ano de 2010 (15/01/2010 a 17/02/2010), e compara com o caso dos EUA, para o período 1994-1999. O BACEN não nos forneceu todos os dados do Brasil no mesmo formato do artigo do McAndrews e Rajan. Assim, trabalhamos, adicionalmente, com as informações disponíveis no site do BACEN para o período analisado. Seguindo as recomendações dos autores, nosso trabalho, seguirá os seguintes passos: Análise da distribuição do volume e quantidade de pagamentos intradia (média dos períodos de 31/07/2009 a 31/08/2009; de 23/09/2009 a 23/10/2009 e no período de 15/01/2010 a 17/02/2010) através do STR (Sistema de Transferência de Reservas) comparando com os resultados observados no artigo citado acima (Mac Andrews e Rajan); Evolução anual dos pagamentos entre 2002 (22/04/2002 em diante) e 2008; Avaliação do perfil intradia da média de pagamentos através do STR (períodos de 31/07/2009 a 31/08/2009; de 23/09/2009 a 23/10/2009 e no período de 15/01/2010 a 17/02/2010); Avaliação do nível de Redesconto intradia (período de 2002 a 2008) e comparação com os resultados observados no artigo citado acima (Mac Andrews e Rajan);

53 6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS Compararemos a seguir os resultados obtidos nas análises gráficas e de dados com relação ao Sistema de Pagamentos Brasileiro e às transações através do Fedwire, nos EUA. Os Gráficos 1, 2 e 3 trazem uma média dos pagamentos diários realizados em alguns períodos dos anos de 2009 e 2010. R$ bilhões STR - Pagamentos - Distribuição Intradia Média dos Últimos 22 dias utéis Unidades 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 Valor Quantidade Gráfico 1 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 31/07/09 a 31/08/09 Fonte: Banco Central do Brasil

54 R$ bilhões STR - Pagamentos - Distribuição Intradia Média dos Últimos 22 dias utéis Unidades 70 60 50 40 30 20 10 0 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 Valor Quantidade Gráfico 2 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 23/09/09 a 23/10/09. Fonte: Banco Central do Brasil R$ bilhões STR - Pagamentos - Distribuição Intradia Média dos Últimos 22 dias utéis Unidades 70 60 50 40 30 20 10 0 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 Valor Quantidade Gráfico 3 STR Pagamentos Distribuição Intradia Média do período de 15/01/10 a 17/02/10. Fonte: Banco Central do Brasil

55 Percebe-se que nos três períodos selecionados, o fluxo de pagamentos se concentra, no caso brasileiro, no início do dia, entre 8h00 e 13h00 quando os bancos buscam liquidar as operações junto às Câmaras de Liquidação principalmente nas operações via Cetip (empréstimos interbancários de 1 dia), de Câmbio (efetuadas em D-2) e também quando os mesmos fazem o pré-depósito diário junto ao Sitraf (transferência de Fundos). Podemos ver ainda que no início do dia a quantidade de pagamentos é pequena, mas o volume de recursos é elevado. Neste período acontecem com maior concentração operações entre os participantes do STR, bancos e BACEN. Já no final da tarde, entre 15h00 e 17h30, a quantidade de transações se eleva bastante, porém o volume já não é tão expressivo, apesar de também crescer neste período. Isso ocorre devido às operações de transferência de fundos em nome de clientes e, em parte, das operações LBTR da Cetip. Variamos os meses e o período selecionado dentro de cada mês e percebemos que o perfil de pagamentos e suas concentrações permanecem inalterados. No caso americano podemos verificar nos Gráficos 4 e 5 uma comparação da concentração de pagamentos em 3 anos selecionados pelos autores James McAndrews e Samira Rajan. Percebemos que, ao contrário do Brasil, o volume dos pagamentos se eleva no final do dia, entre 14h0 e 17h30, mas a quantidade de transações segue um perfil similar ao nosso, ou seja, no final do dia esta quantidade aumenta. Gráfico 4 Média diária das transações via Fedwire por hora do dia Fonte: James McAndrews e Samira Rajan, 2002 com base em dados do Banco Central de Nova Iorque (Federal Reserve Bank of New York).

56 Gráfico 5 Distribuição das transações efetuadas pelo Fedwire por tamanho de pagamentos. Fonte: James McAndrews e Samira Rajan, 2002 com base em dados do Banco Central de Nova Iorque (Federal Reserve Bank of New York). Nota: US$ 75 milhões representam 99% do tamanho dos pagamentos em 18 de Março de 1999. O Gráfico 5 mostra que durante grande parte do dia os maiores pagamentos acontecem em menor escala, concentrando-se no período mencionado acima, entre 14h30 e 17h30, principalmente por volta das 16h30, caindo rapidamente após este horário devido ao fechamento da Câmara de Compensação (CHIPS Clearing House Interbank Payments Systems). Podemos verificar isso também quando analisamos os pagamentos processados através do Fedwire, por Volume, exposto no Gráfico 6 abaixo: Gráfico 6 Valor médio diário das transações efetuadas pelo Fedwire por hora do dia Fonte: James McAndrews e Samira Rajan, 2002 com base em dados do Banco Central de Nova Iorque (Federal Reserve Bank of New York).

57 No Brasil podemos verificar que, após a implantação do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro, em 22/04/2002, o volume de pagamentos efetuados se elevou muito. Podemos perceber que a quantidade de transações manteve-se constante, porém o volume cresceu, graças ao maior uso do STR, migração dos recursos de cheque para meios eletrônicos e, principalmente, ao crescimento da economia nos últimos anos, proporcionando maiores volumes de negócios e, conseqüentemente, de pagamentos. Gráfico 7 Evolução Anual de Pagamentos através do STR Fonte: Banco Central do Brasil Quadro 3 Evolução Anual de Pagamentos através do STR Fonte: Banco Central do Brasil