MASTOCITOMA ATIPICO EM FELINO: RELATO DE CASO Jéssica Ribeiro MAGALHÃES¹, Jéssica Bueno GUIMARÃES², Jacqueline de Brito PAIVA², Leiny Paula de OLIVEIRA³, Marina Pacheco MIGUEL 4 1 Residente em Clínica, Cirurgia e Anestesiologia de Pequenos Animais, Universidade Federal de Goiás, jessicarmedvet@gmail.com 2 Residente em Clínica, Cirurgia e Anestesiologia de Pequenos Animais, Universidade Federal de Goiás 3 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás 4 Professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás Resumo O mastocitoma é uma neoplasia originária dos mastócitos, com maior prevalência em cães do que em gatos. A raça mais acometida é o Siamês e a idade é superior a quatro anos. Existem duas formas de mastocitoma felino: a visceral e a cutânea. A primeira envolve o baço e intestino, geralmente o prognóstico é de reservado a ruim. A segunda acomete a pele e o subcutâneo, geralmente com tumores solitários, com predileção pelas regiões da cabeça e do pescoço. Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás Regional Jataí, um felino, macho, castrado, raça Siamês, com dois anos de idade, apresentando nódulos dérmicos de surgimento espontâneo, primeiro na região lateral das costelas e depois na região cervical. Realizou-se exame histopatológico e observou-se células grandes, com citoplasma abundante, anisocitose acentuada e nucléolos proeminentes. Algumas células neoplásicas apresentavam granulações eosinofílicas intracitoplasmáticas, na coloração azul de Toluidina a metacromasia foi discreta. Os achados permitiram o diagnóstico de mastocitoma felino cutâneo atípico. Palavras-chave: felinos, siamês, tumores cutâneos Keywords: felines, siames, cutaneous tumour Introdução Os mastócitos são células de núcleo pequeno, esférico e central e de difícil observação por estarem, frequentemente, encobertos por grânulos citoplasmáticos (ZORN, 2004). São encontrados predominantemente na pele, conjuntiva, mucosa intestinal e vias aéreas, constituindo a primeira linha de defesa do hospedeiro (BOYCE, 2010). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0711
O mastocitoma felino é o segundo tumor cutâneo mais diagnosticado em gatos e tem etiologia desconhecida, mas há estudos que indicam predisposição genética nos gatos siameses (BLACKWOOD et al., 2012). Ao contrário do mastocitoma canino, a classificação e o prognóstico do mastocitoma felino ainda não são definidos (DOBROMYLSKYJ, 2013). O mastocitoma, em gatos, é classificado em forma cutânea ou visceral, sendo a forma cutânea mais comum (DOBROMYLSKYJ, 2013). O mastocitoma visceral é mais comum em gatos que nos cães e ocorre preferencialmente no baço e intestino, sendo comum metástase, com prognóstico reservado a ruim. O mastocitoma cutâneo apresenta-se como nódulo dérmico solitário ou múltiplo com ulceração superficial, firme, bem circunscrito, plano e pruriginoso (LITSTER e SORENMO, 2006). Esta forma pode ser classificada em dois tipos: típico e atípico. O mastocitoma típico ainda é subdividido em forma bem diferenciada e pouco diferenciada (DOBROMYLSKYJ, 2013). Segundo Dobromylskyj (2013), a forma diferenciada corresponde a 60% dos casos e está associada a um comportamento benigno. Na avalição histopatológica, ao contrário do mastocitoma canino, poucos eosinófilos são visualizados, sendo os linfócitos mais comuns. A forma pouco diferenciada ou pleomórfica é menos comum, representa 28% dos casos e é clinicamente mais maligno. Nesta forma, as células se infiltram mais profundamente na derme e tecido subcutâneo, e são pleomórficas com núcleo excêntrico e nucléolo proeminente (BLACKWOOD et al., 2012; DOBROMYLSKYJ, 2013). A forma atípica é considerada mais rara, sendo relatada principalmente em gatos Siameses jovens. As lesões geralmente são pequenas, com nódulos múltiplos e podem regredir espontaneamente (DOBROMYLSKYJ, 2013). O diagnóstico de mastocitoma felino é obtido por meio de exame histopatológico e sugere-se a aplicação de colorações especiais para grânulos de mastócitos para confirmação diagnóstica. As colorações mais utilizadas são o Azul de Toluidina e Giemsa, mas também o c- Kit pode auxiliar no diagnóstico por ser um marcador celular específico para mastócitos. Além disso, a ultrassonografia abdominal, a radiografia torácica e a citologia auxiliam no diagnóstico. O prognóstico é dado de acordo com o tipo histológico e o índice mitótico, além da presença de vários tumores está correlacionada a um prognóstico desfavorável ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0712
(DOBROMYLSKYJ, 2013). Assim, este trabalho visa relatar um caso de mastocitoma cutâneo atípico em um gato. Relato de Caso Um felino, da raça Siamês, com 2 anos de idade, macho, castrado foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás Regional Jataí, apresentando nódulos dérmicos de surgimento espontâneo e crescimento em aproximadamente 30 dias. A primeira lesão apresentava cerca de 2 centímetros de diâmetro e surgiu na região lateral esquerda das costelas. Outro nódulo foi verificado com aproximadamente 1 centímetro de diâmetro na região cervical que apresentavase aderido no local próximo à veia jugular. Os nódulos não eram ulcerados, eram indolores, não pruriginosos e hiperêmicos. Foi realizada citologia aspirativa por agulha fina com resultado de Tumor de Células Redondas. Optou-se pela nodulectomia com ampla margem de segurança do nódulo lateral. O material foi fixado em formalina tamponada a 10% e encaminhado para exame histopatológico. A microscopia evidenciou densa proliferação celular na região dérmica profunda, apresentando formato nodular, pouco delimitado, sem cápsula fibrosa, com células neoplásicas infiltrando regiões próximas aos bordos cirúrgicos. As células estavam entremeadas por discreto estroma fibroso e com citoplasma abundante, eosinófilo, pouco delimitado. Foi observada acentuada anisocariose e anisocitose (acentuado pleomorfismo) com aumento da relação núcleo/citoplasma, células com nucléolo evidente e binucleado. Nos bordos da lesão e infiltrando o tecido dérmico foram visualizados mastócitos proliferados e bem diferenciados, agrupados, que foram, positivos na coloração por Azul de Toluidina. Foram vistas 2 a 3 figuras de mitose por campo (aberrantes), além de agregados de linfócitos e plasmócitos e, principalmente, moderado infiltrado de eosinófilos. Diante destes achados, foi diagnosticado mastocitoma felino cutâneo atípico. O tratamento, para o referido animal, foi cirúrgico. Discussão A proliferação exacerbada e anormal de mastócitos no gato tem sido estudada, porém ainda não foi possível definir um sistema de graduação histológico indicativo de prognóstico (LAMM et al., 2009). Em um estudo realizado por Carneiro ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0713
et al. (2010), a maioria dos felinos diagnosticados com neoplasia, eram sem raça definida seguidos dos Siameses. No mastocitoma felino, a faixa etária frequentemente acometida é superior a 4 anos e não há predisposição sexual. Contudo, a maioria dos gatos Siameses são jovens machos, com idade média de 2,4 anos (GROSS et al., 2005; VIANA, 2014). Assim, o animal do presente relato apresenta raça, idade média e sexo esperados para o surgimento da neoplasia. Em levantamento realizado por Rafael (2011), a cabeça foi o local frequentemente afetado (39,47% dos casos), seguida de tronco (28,95%) e pescoço (10,53%). Na maioria dos casos (63,16%), os nódulos apresentavam menos de 2 centímetros. A forma atípica de mastocitoma felino é incomum e representa um desafio de diagnóstico para o patologista (RAFAEL, 2011). Esta forma apresenta células não encapsuladas, com citoplasma eosinofílico e amplo, além de infiltrados mistos de linfócitos, plasmócitos e eosinófilos (GROSS et al., 2005). Estes achados, além da positividade discreta pela coloração com Azul de Toluidina, confirmam o mastocitoma atípico (SABATTINI e BETTINI, 2010), o que foi realizado no presente caso. Conclusão O histórico e o exame histopatológico permitiram confirmar o caso de mastocitoma cutâneo atípico em um gato da raça Siamês. Referências BLACKWOOD, L.; MURPHY, S.; BURACCO, P.; DE VOS, J. P.; DE FORNEL- THIBAUD, P.; HIRSCHBERGER, J.; KESSLER, M.; PASTOR, J.; PONCE, F.; SAVARY-BATAILLE, K.; ARGYLE, D. J. European Consensus Document On Mast Cell Tumours In Dogs And Cats. Veterinary and Comparative Oncology, Reino Unido, v. 10, n. 3, p. 1 29, 2012. BOYCE, A. B. Mast cells as sentinels of inflammation. In SERHAN, C.N.; WARD, P.A.; GILROY., D.W. (Eds.). Fundamentals of inflammation. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. p. 65-73. CARNEIRO, A. T.; GARCIA, D. D. R. M.; BERGAMO, F. M. M. Estudo Epidemiológico dos Casos de Neoplasias de Cães e Gatos Atendidos no Hospital ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0714
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