2017 5 a edição revista, ampliada e atualizada
CAPÍTULO 3 Princípios do Direito Tributário 3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Nos preceitos do artigo 150, I, da CF, nenhum tributo será instituído ou aumentado, a não ser por meio de LEI! Consoante o artigo 97, 1º, do CTN, considera-se majoração de tributo a modificação da base de cálculo de forma a torná-lo mais oneroso. A mera atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo NÃO constitui majoração de tributo, nos ditames do artigo 97, 2º, do CTN, podendo ser realizada em decorrência de simples Decreto. Contudo, se a atualização monetária ocorrer com índices superiores ao oficial, não se tem uma mera atualização de valores, e sim uma majoração da base de cálculo disfarçada, e por isso, nesse caso, o instrumento normativo necessário será a Lei. Nesse sentido, podemos mencionar a Súmula nº 160 do STJ. É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. PARTE 1 TEORIA DIREITO MATERIAL 3.1.1 Atenuação do princípio da legalidade Todos os tributos estão sujeitos ao princípio da legalidade, isto é, só podem ser instituídos ou majorados por meio de lei. Conquanto a Lei Maior, em seu artigo 153, 1º, prevê alguns impostos que podem ter as alíquotas alteradas, inclusive majoradas, desde que observados os limites e as condições estabelecidos em lei, em virtude de ato do Poder Executivo, o que se dá comumente por decreto presidencial. São eles: i) Imposto sobre a Importação (II); ii) Imposto sobre a Exportação (IE); iii) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); iv) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF).
26 OAB (1ª e 2ª fases) DIREITO TRIBUTÁRIO Josiane Minardi O artigo 177, 4º, I, b, da Constituição Federal também possibilita ao Poder Executivo reduzir e restabelecer as alíquotas da CIDE COMBUSTÍVEL, por intermédio de ato próprio, no caso, o decreto presidencial. O artigo 155, 4º, IV, c, da Carta Magna permite ao Poder Executivo reduzir e restabelecer as alíquotas do ICMS, incidência monofásica, nas operações com combustíveis e lubrificantes previstos em lei complementar federal. 3.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente. Fica proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, II, da CF). 3.3 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrarem tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado (art. 150, III, a, da CF). O Código Tributário Nacional prevê três exceções ao princípio da irretroatividade, segundo se verifica nos artigos 106, I e II e 144, 1º. Primeira possibilidade: quando aludir à lei expressamente interpretativa e desde que não comine penalidade (art. 106, I, do CTN); Segunda possibilidade: a lei tributária poderá retroagir se discorrer sobre ato NÃO definitivamente julgado: a) se deixar de defini-lo como infração; b) quando não abordá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado falta de pagamento de tributo; c) caso lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática (art. 106, II, do CTN). Em direito tributário considera-se penalidade como MULTA! Terceira possibilidade: previsão no artigo 144, 1º, do CTN: em se tratando de lançamento tributário, lei que instituir novos critérios de apuração ou fiscalização, ampliando os poderes de investigação das autoridades administrativas.
Cap. 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 27 3.4 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE O tributo que for instituído ou majorado em determinado exercício financeiro (coincide com o ano civil, inicia no dia 1º de janeiro e se encerra no dia 31 de dezembro) somente poderá ser exigido no próximo exercício e desde que tenham transcorridos 90 dias da data da publicação da lei que houver instituído ou majorado o tributo (art. 150, III, b e c, da CF). Ocorre, todavia, que nem todos os tributos precisam respeitar o princípio da anterioridade, visto que existem várias exceções a ele. Elas estão elencadas nos artigos 150, 1º, 155, 4º, IV, c e 177, 4º, I, b e 195, 6º, todos da Constituição. Tributos que não precisam aguardar o próximo exercício e nem os 90 dias. Podem ser cobrados: IMEDIATAMENTE! Imposto Extraordinário de Guerra (IEG); Empréstimo Compulsório de Guerra ou Calamidade Pública; Imposto sobre Importação (II); Imposto sobre Exportação (IE); Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Tributos que não precisam aguardar o próximo exercício, mas precisam respeitar os 90 dias, para serem exigidos. IPI; Casos de redução e restabelecimento das alíquotas da CIDE Combustível e do ICMS Combustível (arts. 155, 4º, IV, c e 177, 4º, I, b, da CF; Contribuição Social (art. 195, 6º, da CF). Tributos que devem respeitar o princípio da anterioridade do exercício, mas não precisam obedecer aos 90 dias. IR; Alteração de Base de cálculo do IPTU e do IPVA. PARTE 1 TEORIA DIREITO MATERIAL Ressalta-se que os princípios da anterioridade do exercício e nonagesimal, previstos no artigo 150, III, b e c, da CF devem ser observados apenas nas hipóteses de instituição e majoração de tributo. Assim, se houver modificação do prazo de pagamento do tributo, ainda que seja para antecipar a data, como não se trata, nesse caso, de instituição ou majoração de tributo, não será necessário o respeito a tais princípios. O STF publicou a súmula vinculante nº 50 sobre essa matéria: SV nº 50 Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. 3.5 PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO O princípio da vedação ao confisco, disposto no artigo 150, IV, do Texto Maior, estabelece que o tributo não pode inviabilizar o direito de propriedade.
28 OAB (1ª e 2ª fases) DIREITO TRIBUTÁRIO Josiane Minardi Para saber se o tributo tem ou não efeito confiscatório, deve-se analisar a soma de todos os tributos devidos pelo contribuinte e não apenas aquele isolado. Conforme entendimento do STF, as multas tributárias também devem respeitar o princípio do não confisco. Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. MULTA. VEDAÇÃO DO EFEITO DE CONFISCO. APLICABILIDA- DE. OFENSA AO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. 1. Nos termos da jurisprudência da Corte, o princípio da vedação ao efeito de confisco aplica-se às multas. 2. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que não se aplica a restrição do art. 97 da Constituição Federal quando o acórdão recorrido apenas interpreta legislação infraconstitucional, sem declarar sua inconstitucionalidade. Precedente. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE nº 851059 AgR/RN, Rel. Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, julgado em 01/03/2016, acórdão eletrônico DJe-049, divulg. 15/03/2016, public. 16/03/2016). 3.6 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO O princípio da liberdade de tráfego está previsto no artigo 150, V, da CF e veda os Entes Federativos de instituírem tributos interestaduais ou intermunicipais que visem estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, ressalvada, contudo, a exigência do pagamento de pedágio pela utilização das vias conservadas pelo Poder Público. Ressalta-se que o STF recentemente, ao julgar a ADI nº 800, compreendeu que o pedágio não apresenta natureza tributária, trata-se de preço público. 3.7 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA Consoante reza o artigo 151, I, da Carta Magna, o princípio da uniformidade geográfica veda a União: Instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. 3.8 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA O princípio da capacidade contributiva é basilar do direito tributário e está preceituado no artigo 145, 1º, da Constituição:
Cap. 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 29 Art. 145. ( ) 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Segundo o princípio da capacidade contributiva, o cidadão tem o dever de contribuir na exata proporção da sua capacidade econômica, ou seja, da sua eficácia para suportar o encargo fiscal. A capacidade contributiva também poderá ser aplicada nos tributos indiretos (IPI e ICMS, por exemplo), por aplicação do princípio da seletividade. A seletividade é a tributação conforme a essencialidade do bem, isto é, quanto mais essencial for o bem, menor será a tributação. No caso do IPI e do ICMS, verifica-se a aplicação da capacidade contributiva por decorrência do consumo. O fato de o sujeito, por exemplo, comprar um iate demonstra que terá uma boa capacidade econômica e por isso terá eficácia contributiva, assim poderá pagar mais imposto. 3.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DAS ISENÇÕES HETERÔNOMAS A União não pode conceder isenção para tributos que não estejam em sua competência tributária, consoante estabelece o artigo 151, III, do Texto Maior, sob pena de violar o princípio do pacto federativo. Assim, só pode conceder isenção de determinado tributo o Ente Federativo que tem competência para a sua instituição. Quando um Ente Federativo diferente daquele que detém a competência para instituir o tributo concede a isenção, tem-se a isenção heterônoma. Como dito anteriormente, a isenção heterônoma é vedada no Brasil, mas há exceções: 1) ISS sobre serviços prestados no exterior: o artigo 156, 3º, II, da Lei Magna prevê a possibilidade de a União, por lei complementar, conceder isenção do ISS nas exportações de serviços. O artigo 2º, I, da LC nº 116/2003 versa sobre a referida isenção. 2) Tratados e Convenções Internacionais: o Supremo Tribunal Federal tem o posicionamento pacífico de que os Tratados e Convenções Internacionais PODEM conceder isenções de tributos estaduais e municipais, visto que a União, ao celebrar o tratado, não se mostra como pessoa política de Direito Público Interno, mas como pessoa política internacional. Para melhor compreensão, veja ementa do STF sobre o assunto: PARTE 1 TEORIA DIREITO MATERIAL DIREITO TRIBUTÁRIO. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 DO ACOR- DO GERAL DE TARIFAS E COMÉRCIO. ISENÇÃO DE TRIBUTO ESTADUAL PREVISTA EM
30 OAB (1ª e 2ª fases) DIREITO TRIBUTÁRIO Josiane Minardi TRATADO INTERNACIONAL FIRMADO PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. ARTIGO 151, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ARTIGO 98 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE ISENÇÃO HETERÔNOMA. RECURSO EXTRAORDINÁ- RIO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A isenção de tributos estaduais prevista no Acordo Geral de Tarifas e Comércio para as mercadorias importadas dos países signatários quando o similar nacional tiver o mesmo benefício foi recepcionada pela Constituição da República de 1988. 2. O artigo 98 do Código Tributário Nacional possui caráter nacional, com eficácia para a União, os Estados e os Municípios (voto do eminente Ministro Ilmar Galvão). 3. No direito internacional apenas a República Federativa do Brasil tem competência para firmar tratados (art. 52, 2º, da Constituição da República), dela não dispondo a União, os Estados-membros ou os Municípios. O Presidente da República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas como Chefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, inc. III, da Constituição. 4. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE nº 229096, Rel. Ministro Ilmar Galvão; Relator(a) p/ Acórdão: Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 16/08/2007, DJe-065, divulg. 10/04/2008, public. 11/04/2008, ement. v. 02314-05, p. 00985; RTJ, v. 00204-02, p. 00858; RJTJRS, v. 45, nº 275, 2010, p. 29-42). 3.10 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO QUANTO À PROCEDÊNCIA OU DESTINO O artigo 152 caput da CF veda aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão da procedência ou destino. Para memorizar! Nas provas de exame de ordem, os princípios que mais têm sido cobrados são: legalidade, isonomia, irretroatividade, anterioridade do exercício, anterioridade nonagesimal, não confisco, uniformidade geográfica e capacidade contributiva. Não há exame de ordem sem ao menos uma questão sobre princípios tributários, por isso, na hora da prova, sugere-se lembrar do macete LUCIIANA : L egalidade art. 150, I, da CF U niformidade geográfica art. 151, I, da CF C apacidade contributiva art. 145, 1º, da CF I sonomia art. 150, II, da CF I retroatividade art. 150, III, a, da CF A nterioridade do exercício art. 150, III, b, da CF N ão confisco art. 150, IV, da CF A nterioridade nonagesimal art. 150, III, c, da CF