PROCEDIMENTOS DE RADIOTERAPIA PARA TUMORES DE CABEÇA E PESCOÇO Gizele Cristina Ferreira 1, Jéssica Leite Fogaça 1,, Michel de Campos Vettorato 1, Marco Antônio Rodrigues Fernandes 2 1 Aluno de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (UNESP de Botucatu) 2 Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (UNESP de Botucatu) 1 INTRODUÇÃO A palavra câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas (INCA, 2014). O diagnóstico do câncer nem sempre é realizado no estágio inicial da doença, pois ao procurar um médico, o paciente ainda não sabe a natureza da sua doença, sendo assim, não procura um especialista. Na maioria das vezes, os diagnósticos de câncer são feitos por médicos não oncologistas, evidenciando a importância desses profissionais no controle da doença (SALVAJOLLI, 2013). O diagnóstico é feito por meio do exame físico e/ou exame de imagem, seguido de biópsia da lesão e análise anatomopatológica. Nenhum tratamento para câncer de cabeça e pescoço pode ser realizado sem que se tenha confirmação, pela biópsia, do tipo exato do tumor. Não só para o câncer de cabeça e pescoço, mas para todos os tipos de câncer. A conduta terapêutica depende do tipo do câncer, do seu estádio e da idade do paciente, isto é válido para praticamente todos os tipos de câncer. (IBCC, 2015). O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea (só para leucemia). Em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade (FERNANDES, 2010). A radioterapia é um método terapêutico que utiliza radiações ionizantes com objetivo de atingir as células neoplásicas impedindo sua multiplicação, e induzindo a morte celular (FERNANDES, 2011). A radioterapia pode ser realizada de duas modalidades diferentes: a teleterapia e a braquiterapia. Na braquiterapia a fonte de radiação é colocada em contato com a lesão
ou mesmo no seu interior. Na teleterapia a fonte está situada a uma certa distância do tumor, correspondendo à 100,0 cm nos equipamentos irradiadores do tipo acelerador linear clínico, ou 80,0 cm no caso das Unidades de Telecobaltoterapia (FERNANDES, 2010). A etapa inicial, antes de se iniciar o ciclo radioterápico do paciente, consiste no planejamento e simulação dos campos de radiação. Neste momento, o paciente é encaminhado para um equipamento de raios X que possui todas as articulações de ângulos de gantry, de mesa e colimador similares com os recursos dos equipamentos de teleterapia. O médico, juntamente com o físico médico e o tecnólogo de radioterapia, irão obter todas as informações dos parâmetros radiométricos dos feixes de radiação a serem usados no tratamento do paciente. Os tumores da região anatômica da cabeça e pescoço correspondem à segunda maior patologia, em pacientes do sexo masculino, tratada no Setor Técnico de Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu HC-FMB. Este fato indica a necessidade de iniciativas dos profissionais envolvidos na assistência radioterápica que possam contribuir para a melhoria da qualidade dos procedimentos realizados no Setor. Devido a isso, esse trabalho propôs descrever os parâmetros radiométricos de procedimentos radioterápicos para tumores de cabeça e pescoço do HC-FMB. 2 DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO No serviço de radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HC-FMB), existem dois tipos de aparelhos de teleterapia que são utilizados na rotina dos procedimentos de assistência dos pacientes, um acelerador linear da marca Varian, modelo CLINAC 2100 C, o qual oferece duas energias de feixes de raios X de megavoltagem (6,0 MV e 10,0 MV) e cinco feixes de elétrons (4 MV, 6 MV, 9 MV, 12 MV e 15 MV). Este equipamento está dotado de um sistema de colimação de multi lâminas (multileaf) com 26 pares de lâminas, as quais são capazes de ajustar o formato do campo de tratamento de maneira que conformacione a lesão e proteja os tecidos sadios circunvizinhos. A maioria dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço é tratada com a energia de fótons de raios X de 6,0 MV. O outro equipamento de teleterapia do HC-FMB é uma Unidade de Telecobaltoterapia da marca GE/CGR/MEV, modelo Alcyon II. A fonte radioativa de cobalto-60 emite raios gama com energia média de 1,25 MV e meia-vida física de 5,27
anos, o que representa um decaimento radioativo de cerca de 1,1% ao mês. A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2006) proíbe o uso destas fontes radioativas quando o rendimento do equipamento estiver abaixo de 50 cgy/min (centigrays por minuto) na geometria de referência de dosimetria, valor este que deverá ser atingido em aproximadamente 2,5 anos, ocasião na qual deverá ser providenciada outra fonte de telecobaltoterapia, ou haverá a interrupção do uso deste equipamento. No planejamento e tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, o paciente é posicionado na mesa do aparelho em decúbito dorsal, sua cabeça é apoiada em um suporte para cabeça e pescoço que permite imobilizar a extensão da coluna cervical de acordo com a proposta de tratamento. A máscara termoplástica possibilita um posicionamento personalizado, rápido e seguro do paciente. Um afastador de ombro é utilizado para se garantir que o ombro e braços não sobreponham o campo de tratamento na região cervical e sejam irradiados desnecessariamente (SCAFF, 2010). O paciente será liberado para o tratamento após a aquisição dos parâmetros geométricos e radiométricos dos feixes e campos de radiação planejados e os cálculos físicos para determinação da dose e do tempo de exposição de cada campo de tratamento. As dimensões dos campos irradiados variam de acordo com a localização, tamanho e estágio clínico do tumor. Para um tumor de palato mole, o tamanho do campo a ser irradiado é de aproximadamente de 13,0 cm x 13,0 cm; enquanto um tumor de amigdala o tamanho do campo de radiação é de 13,5 cm x 13,5 cm. O procedimento de radioterapia pode ser realizado por duas técnicas de posicionamento diferentes: a técnica de isocentro e a técnica de distância fonte pele (DFPe). No HC-FMB, para os casos de tumores de cabeça e pescoço tratados no acelerador linear, aplica-se a técnica de isocentro. Nesta técnica a distância da fonte de radiação ao centro do tumor é mantida constante e igual a 100,0cm. Para os casos tratados no equipamento de telecobaltoterapia opta-se pela técnica de DFPe, em que a distância da fonte de radiação até a pele do paciente é mantida constante e igual a 80,0cm (PELLIZON, 2010). A maioria dos casos de cabeça e pescoço tratados no HC-FMB utiliza 3 campos de radiação, denominados campos: cérvico-facial direito, campo cérvico-facial esquerdo e campo de fossa supraclavicular. A dose diária de radiação é de 180 cgy ou 200 cgy (KHAN, 1998). Na região cérvico-facial são realizadas 35 sessões totalizando uma dose
de em torno de 6300 cgy a 7000 cgy, no entanto é extremamente importante observar que a região da medula cervical não pode ultrapassar os 4500 cgy, então na 25ª aplicação deve-se fazer a redução dos campos no sentido de se colimar a região da coluna cervical, o que implica um novo planejamento dos campos de tratamento. No campo de fossa supraclavicular a dose total preconizada é de 4500 cgy. A energia do feixe de radiação aplicada é de 6,0 MV. Técnicas avançadas de radioterapia como a IMRT (Radioterapia por Intensidade Modulada de Feixe) e a radioterapia tridimensional conformacionada, permitem a liberação de altas doses de radiação e maior preservação dos tecidos sadios vizinhos (KHAN, 2003). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento dos parâmetros radiométricos e geométricos dos feixes e dos campos de radiação podem contribuir para orientar a equipe que assiste os doentes. É muito importante que os profissionais atuantes nesse setor estejam em perfeito aperfeiçoamento profissional para atender a qualquer tipo de procedimento radioterápico e permitindo incentivo em pesquisas que possam contribuir para otimização do serviço. Novas técnicas de radioterapia aplicadas para tratamentos de tumores de cabeça e pescoço, com o uso de IMRT (Radioterapia por Intensidade Modulada de Feixe), têm demonstrado resultados terapêuticos expressivos frente aos procedimentos convencionais que são desenvolvidos no HC-FMB. 4 REFERÊNCIAS FERNANDES, M. A. R., CORREA, C. Análise do Desempenho de Centro de Radioterapia de Pouco Recurso - Importância da Continuidade e Qualidade do Atendimento. Revista Brasileira de Cancerologia. v.57, p.24-24, 2011. FERNANDES, M. A. R. Radioterapia - princípios gerais e resultados importantes na assistência oncológica. Universitas (Araçatuba). v.3, p.221-239, 2010. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa 2014: incidência do câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro. Acessado em 07/09/2015. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf. SALVAJOLI, J. V.; SOUAHAMI, L.; FARIA, S. L. Radioterapia em Oncologia. Editora Atheneu 2ª edição São Paulo, 2013.
SCAFF, L. A. M., Física na Radioterapia A Base Analógica de uma Era Digital. Editora Projeto Saber. São Paulo. 2010. KHAN, F.M. POTISH, R.A. (Eds). Treatment Planning in Radiation Oncology. Lippincott Williams and Wilkins, Philadelphia, PA.1998. PELIZZON, A.C.A., et al. Rotinas e Condutas em Radioterapia. EditoraLemar. São Paulo. 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE CONTROLE DE CÂNCER (IBCC). São Paulo. acessado em 12 set. 2015 www.ibcc.org.br.