Gaudencio Barbosa R4 CCP Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço HUWC - UFC

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Transcrição:

Gaudencio Barbosa R4 CCP Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço HUWC - UFC

Paratiroidectomia total com autotransplante (PTx + AT) e paratiroidectomia subtotal (SPTx) combinadas com timectomia são procedimentos estabelecidos em pacientes com hiperparatiroidismo secundário não controlado

PTx + AT reduz o risco de hiperparatiroidismo persistente ou recorrente se comparado a SPTx Fragmentos de paratireoide no local do enxerto podem necessitar de 6 meses ou mais para um funcionamento adequado

Hipoparatiroidismo permanente é definido como hipocalcemia persistente necessitando de suplementação de cálcio e vitamina D por mais de 6 meses pós cirurgia Risco de aproximadamente 1% após PTx inicial e 30% após re-intervenções devido a hiperparatiroidismo recorrente ou persistente

Os níveis de PTH recomendados pelos guidelines atuais para pacientes em doença renal crônica estágio 5 são de 150-300 pg/ml (prevenção de doença óssea adinâmica) Em caso de hipoparatiroidismo persistente ou recorrente deve-se realizar novo autotransplante com tecido de paratireoide autólogo criopreservado

O autotransplante pode ser realizado no momento da PTx (sincrônico) ou em outro momento (metacrônico) Autotransplante metacrônico tem sido associado a uma menor taxa de sucesso em relação ao sincrônico Taxa de funcionalidade do autotransplante sincrônico excede 80% e o metacrônico varia entre 17 e 83%

O objetivo deste estudo foi avaliar a experiência da instituição com autotransplante metacrônico, analisar o papel da criopreservação no tratamento do rhpt e determinar para quem e quando a criopreservação de tecido paratiroideano é necessária

Banco de dados prospectivo de pacientes submetidos a paratiroidectomia por rhpt de 1976 a 2011 foi avaliado apenas nos pacientes submetidos a autotranspante metacrônico Indicações foram hipoparatiroidismo com PTH não mensurável ou abaixo do limite normal com hipocalcemia mesmo com suplementação de cálcio e vitamina D

Processo de criopreservação padronizado: tecido fresco retirado e colocado em solução salina a + 4⁰C. Após confirmação de tecido paratiroideano por exame de congelação, em condições estéreis, o tecido é dividido em fragmentos de 1 mmᶟe então colocado em solução de criopreservação RPMI 1640, DMSO e soro autólogo a uma temperatura de + 4⁰C. A partir dai 40-60 partículas são colocadas em frascos e levadas a um freezer programado para resfriar 1 ⁰C/min até -80 ⁰C deixando-as até 4-24h, sendo depois transferidas para armazenamento com nitrogênio líquido a -196 ⁰C

Antes do implante a viabilidade é testada no setor de patologia para determinar a proporção de tecido necrótico e viável e teste para avaliar infecção Quando a taxa de necrose está abaixo de 50% e sem contaminação o tecido é descongelado a 37 ⁰C e lavado cinco vezes com solução 80% RPMI e 20% soro autólogo fresco e preservada em gelo

O PTH é medido um dia antes do autotransplante e 4 semanas após. O acompanhamento é realizado pelo ambulatório de nefrologia PTHi tem valor de referencia de 11-65ng/dl e cálcio total sérico varia normalmente de 2,2-2,7mmol/ml

Das 883 cirurgias de paratireoide, 210 foram reoperações para rhpt recorrente ou persistente ou hipoparatiroidismo persistente. Destas, 121 (57,6%) foram submetidas a re-exploração do pescoço e 89 (42.4%) no local do enxerto. Dos últimos 89, 74 (83.1%) foram submetidos a redução do enxerto e 15 (16,9%) receberam autotransplante metacrônico sendo analisados posteriormente

A média de tempo entre a cirurgia e o autotransplante foi de 23.3 meses Em quatro semanas após autotransplante metacrônico o cálcio subiu de 2.0 para 2.1 e o PTH subiu de 3.7 para 39.7 em média Após seguimento de 78 meses em média, o cálcio foi de 2.2 e o PTH foi de 97.5 Nenhum dos 15 pacientes necessitou de reoperação

Autotransplante sincrônico e metacrônico são procedimentos bem estabelecidos O reimplante autólogo de tecido de paratireoide criopreservado está indicado para evitar suplementação de cálcio e/ou vitamina D a longo tempo em caso de hipoparatiroidismo persistente

Apesar de publicações relatarem taxa de sucesso do autotransplante metacrônico mais baixo do que o sincrônico, todos os casos de enxerto metacrônico neste estudo estavam funcionantes O alto sucesso observado neste estudo pode ser explicado devido ao exame microbiológico e histopatológico realizado antes o implante e do rígido protocolo de preservação e descongelamento do tecido criopreservado

Em caso de implante com taxa de necrose de 0%, apenas 20 fragmentos de tecido com 1 mm3 são necessários. Caso não haja avaliação histopatológica prévia ao implante, recomenda-se 30-40 fragmentos de tecido a serem implantados O Tempo mais apropriado de reimplante é difícil de definir

Níveis de PTH baixos acompanhados de necessidade constante de suplementação de cálcio e vitamina D para manter a normocalcemia por mais de 6 meses após paratiroidectomia são consideradas indicações para reimplante

Devido a falta de dados confiáveis para preditores de pacientes que desenvolverão hipoparatiroidismo pós-operatório, criopreservação é desejável para todos os pacientes que serão submetidos a paratiroidectomia A criopreservação deve ser realizada pelo menos em pacientes com suspeita de ressecções incompletas, reoperações e em casos de paratiroidectomia total sem autotransplante

O beneficio do reimplante para pacientes com hipoparatiroidismo persistente é a prevenção de doença óssea adinâmica e não necessidade de reposição continua de cálcio e vitamina D Boas técnicas de congelação e descongelação, bem como analise préoperatória elaborada para seleção do tecido são essenciais para o sucesso do reimplante