A FORMAÇÃO DOCENTE: UMA ANÁLISE SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA NO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA Resumo Adriane Martinhuk Kutzmy 1 - UNICENTRO Leandro Lemos de Jesus 2 - UEPG Fernanda Byczkovski 3 -SEED Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas. Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente trabalho tem por objetivo trazer o resultado de uma análise sobre alguns elementos que permeiam o processo de formação docente de licenciatura em Geografia do Campus Irati Universidade Estadual do Centro Oeste. Diante da importância da teoria e da prática no curso de licenciatura, têm surgido inúmeras reflexões sobre como fazê-las caminharem juntas para concretizar o que fundamenta o curso, formar a identidade profissional docente. A formação da identidade docente envolve um conjunto de situações e reflexões que não são imediatas, mas construídas ao longo de anos, desse modo, muitas vezes o ingressante em um curso de licenciatura, encontra inúmeras incertezas. Entendemos que o estágio supervisionado é um dos momentos mais significativos da formação, o licenciando é conduzido à imersão no contexto escolar e mobilizado a olhar sobre essa realidade a partir de uma nova posição, e ao mesmo tempo é instigado a pensar sobre esse espaço a partir da perspectiva do ensino de Geografia. Ao refletir sobre a problemática do estágio supervisionado buscamos fundamentos teóricos em autores que abordam as relações entre teoria e prática na formação inicial assim como a formação da identidade profissional do professor. Esta etapa inicial é complementada pela análise das representações de alunos iniciantes e concluintes de licenciatura em Geografia da UNICENTRO-Campus Irati sobre o estágio supervisionado que se inicia com atividades de observação e conclui-se com a atuação no ensino fundamental e médio. Concluímos que a experiência de observar, agora com um olhar de futuro profissional docente, e atuar através do estágio supervisionado propõem ao licenciando o início da construção da sua identidade profissional docente. Consideramos também nesse processo a importância de as disciplinas no curso de licenciatura estarem orientadas no sentido conduzir os acadêmicos a um contínuo confronto e diálogo entre a teoria e a prática. 1 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO). Mestranda do programa de Pós-Graduação em Geografia da UNICENTRO, Campus CEDETEG, Guarapuava-PR. E-mail: adrianemartinhuk@yahoo.com.br. 2 Graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa-PR. E-mail: leandrolemos_19@hotmail.com.. 3 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO e professora efetiva da SEED/PR. fer_bitty@yahoo.com.br ISSN 2176-1396
4818 Palavras-chave: Estágio. Educação. Formação. Professor. Introdução O presente trabalho vem fazer uma análise da relevância da teoria e prática na formação acadêmica de licenciatura, bem como fazer reflexões sobre a construção da identidade profissional do professor, visto que, a formação docente não se constitui somente nos bancos acadêmicos, no qual se procura fazer a interação entre o conhecimento científico, a prática abordada e praticada nos estágios curriculares supervisionados, mas é sem dúvida uma formação contínua que vai além da graduação em licenciatura. Nesta perspectiva os cursos de licenciatura, aqui em específico a curso de Geografia, mobilizam os alunos a conhecer uma infinidade de conhecimentos e a vivenciar uma série de experiências tanto sobre a Geografia científica, as temáticas e conceitos concernentes ao seu campo disciplinar, quanto às teorias que fundamentam o ensino de Geografia. Além de possibilitar também aos alunos a inserção em projetos de iniciação à pesquisa em Geografia ou projetos de extensão envolvendo a comunidade. Essas atividades buscam promover condições para que os indivíduos dêem início ao processo de construção profissional. O ser professor se desenvolve e se transforma ao longo da carreira, no entanto, as raízes desde processo estão imersas na formação inicial. A estrutura dos cursos de Licenciatura em Geografia então em torno de disciplinas específicas dos mais diversos campos da ciência geográfica, de disciplinas relacionadas ao ensino geral e da Geografia, e as disciplinas de estágio supervisionado no ensino fundamental e médio. Dessa forma, compreende-se que o esperado é que ao final do curso o acadêmico tenha domínio sobre o conhecimento disciplinar, sobre os processos de ensino e aprendizagem e sobre as condições do ambiente onde desenvolverá a profissão. Diante disso, Sanches (2010 p. 91-92) esclarece que as pesquisas sobre saber docente tem demonstrado que: [...] a simples soma de conhecimentos e habilidades, como numa equação matemática: conhecimentos específicos + conhecimentos pedagógicos + breve experiência no estágio supervisionado = um bom professor, típica da organização curricular predominante nos cursos de licenciatura, é insuficiente para alcançar os resultados que se espera.
4819 De acordo com o autor embora o conhecimento pedagógico e o conhecimento disciplinar sejam complementares, eles se apresentam separados na formação, eles só seriam unidos pelo futuro professor durante as atividades desenvolvidas nas disciplinas da prática de ensino e do estágio supervisionado. Sanches (2010, p. 91) coloca que essa articulação ou desarticulação, que tem acompanhado historicamente a formação e a prática do professor dessa disciplina, é um fator limitante aos propósitos de uma educação geográfica de qualidade e promotora da cidadania. Isso ocorreria porque este professor teria dificuldades em transformar o conteúdo disciplinar em conhecimento geográfico para ensinar (SANCHES, 2010, p. 91). O que podemos considerar como dificuldades em criar pontes entre o conhecimento produzido pela ciência geográfica e o saber prévio dos alunos. No curso de Licenciatura em Geografia da UNICENTRO Campus de Irati, a observação da sala de aula inicia no segundo ano da graduação, para coleta de dados na disciplina de Prática de Ensino I visando um primeiro contato com a realidade escolar, porém o licenciando não pode interferir nas atividades docentes, somente observar. Ao atuar nas atividades de estágio durante o terceiro e quarto ano da graduação se tem início o trabalho com alguns temas e conteúdos em sala, para uma grande parte dos acadêmicos essas serão as primeiras experiências efetivas em sala de aula. Essa habilidade de transformar os conteúdos para torná-los mais compreensíveis é indispensável para desenvolver um trabalho de qualidade na escola, no entanto, não é um processo rápido, mas sim um processo que se desenrola a partir da experiência e do exercício profissional. No entanto, esse aprendizado pode e deve ser iniciado já na formação inicial, sendo necessário um diálogo mais efetivo entre as disciplinas de cunho específico e as disciplinas sobre o ensino de Geografia. Sanches (2010) aponta que o distanciamento entre as disciplinas específicas e as disciplinas relacionadas ao ensino em Geografia na licenciatura, acaba gerando um impacto na formação e a consequente dificuldade em transpor didaticamente os conteúdos em sala de aula. Ou seja, há uma dificuldade na articulação entre os conhecimentos de cunho científico aos conteúdos e conhecimentos prévios dos alunos. Além dessas dificuldades disciplinares, os licenciados ingressantes têm encontrado incertezas em relação à profissão e a área de atuação. O encontro com a ideia de que agora não é mais o aluno e sim o professor em formação acaba trazendo insegurança em relação às práticas de observação e estágio, que consequentemente devem ser entendidas como um primeiro contato com a futura profissão. E que esse é um processo de aprendizagem e não a
4820 definição final da identidade profissional docente, pois essa se concretiza com o passar dos anos. Sendo assim, buscar-se-á analisar o quanto a teoria e a prática são indissociáveis na elaboração de conceitos e no desenvolver da atividade docente desde a graduação, através do estágio supervisionado. Assim como, também é relevante esse primeiro contato para a construção e elaboração de conceitos juntamente com os saberes epistemológicos e os saberes do cotidiano, obtidos através das relações entre acadêmico, professor, alunos e comunidade escolar, ou seja, o contato estabelecido ao mesmo tempo com a realidade acadêmica e escolar, através do estágio, que posteriormente se tornaram elementos fundamentais na construção da identidade profissional docente. A importância da teoria e prática andarem juntas A teoria e a prática são elementos fundamentais e indissociáveis no processo de formação docente, é o momento que permite aos acadêmicos em licenciatura viver a realidade escolar, ou seja, momento de praticar a transposição do seu conhecimento teórico, transformando e intervindo de acordo com a realidade educativa. Dessa forma, a junção da teoria e da prática possibilita a construção de conceitos que vão além de dados e informações, conceitos estes que passam a serem elaborados a partir das relações e conexões estabelecidas, na interação entre o conhecimento científico transposto na academia, experiências práticas e o conhecimento construído a partir das vivências cotidianas e dos alunos. O conhecimento teórico propõe, um conhecimento antecipado de uma realidade que ainda não existe, sendo um instrumento para a prática, ou práxis, trazida por Marx como o momento da atitude entre a teoria/prática pelo ser humano para transformar a natureza e a sociedade (PIMENTA, 1995). Pimenta (1995, p. 6) ressalta ainda que: a atividade teórica é que possibilita de modo indissociável o conhecimento da realidade e estabelecimento de finalidades para a transformação. Mas para produzir tal transformação não é suficiente a atividade teórica; é preciso atuar praticamente. Dessa forma, torna-se clara a importância da conexão entre a teoria, que dispõem através do conhecimento acadêmico uma visão epistemológica que não é encontrada na escola, e a prática, que se estabelece através do contato com a realidade do cotidiano escolar. Neste contexto a sintonia de ambas no decorrer da licenciatura resulta na formação de um
4821 profissional docente mais preparado para a transposição do conhecimento, para a interligação das duas realidades (acadêmica e escolar) resultando na formação de alunos pensantes e críticos. Para concretizar esta interligação entre as duas realidades, a ação vinda através da prática propõe ao acadêmico e ao futuro profissional docente, segundo Pimenta e Lima (2008, p. 42) expor: [...] seu modo de agir e pensar, seus valores, seus compromissos, suas opções, seus desejos e vontades, seus conhecimentos, seus esquemas teóricos de leitura do mundo, seus modos de ensinar, de se relacionar com os alunos, de planejar e desenvolver seus cursos. Assim, percebe-se a importância da associação que se faz da teoria e da prática no momento do estágio, no período da formação docente, e também nas práticas escolares que certamente vem enriquecer não só a produção do conhecimento pessoal, mas principalmente do conhecimento a ser ensinado, assim como contribui para a construção da identidade profissional do professor. A construção da identidade profissional do professor A profissão docente acaba sendo bastante complexa, visto que não é uma profissão somente com a titulação, precisa ser construída diante de um contexto epistemológico, crítico e prático. Nesta perspectiva, a profissão docente tem na prática uma profunda e exigente reflexão, sempre sustentada em uma teoria, a qual não permite pensar a prática somente pela prática, mas atribuir a ela uma teoria que oriente o fazer e o ser professor (FREIRE, 1981).Neste sentido, Barreiro e Greban (2006, p.22) dizem que: a articulação da relação teoria e prática é um processo definidor da qualidade da formação inicial e continuada do professor, como sujeito autônomo na construção da sua profissionalização docente, porque lhe permite uma permanente investigação e a busca de respostas aos fenômenos e as contradições vivenciadas. Diante do exposto, é possível perceber que a identidade profissional do professor já começa a ser construída deste as primeiras experiências entre a teoria dos bancos acadêmicos e também da prática nos estágios supervisionados. Além deste processo de construção profissional inicial, o professor também constrói sua identidade juntamente com o coletivo
4822 nas relações educacionais e por meio da sua estrutura teórica, conforme as ideias de Dubar (1997, p.13): [...] a identidade humana não é dada, de uma vez por todas, no ato do nascimento: constrói-se na infância e deve construir-se sempre ao longo da vida. O indivíduo nunca constrói {sua identidade} sozinho: depende tanto dos julgamentos dos outros, como das suas próprias orientações. [Assim] a identidade é produto de sucessivas socializações. Por conseguinte, percebe-se que a profissão docente e a edificação da identidade profissional do professor estão sempre em movimento, construção e transformação, desde o momento da graduação onde acontece a descoberta e a opção pela profissão até o cotidiano da realidade escolar que não só exige, mas expressa constates transformações e adaptações. Sobre alguns pontos desta perspectiva, Pimenta, (1999, p.19) diz que: a identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão, da revisão constante, dos significados sociais da profissão, da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, Da construção de novas teorias. Constrói-se, também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente em seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor. Assim como a partir de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros agrupamentos. Diante disso, nota-se que a identidade docente se constrói sob vários pontos e experiências vivenciadas com outras disciplinas dentro e fora da universidade, com a interação entre lugares, espaços e saberes. O estágio curricular supervisionado, neste sentido, aparece como uma forma e lugar de se edificar e refletir sobre a construção e o fortalecimento da identidade do professor (PIMENTA; LIMA, 2008). Nesta perspectiva, Buriolla (1999, p. 10) afirma que o estágio é o lócus onde a identidade profissional é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente e sistematicamente com esta finalidade. Assim sendo, pode-se compreender que o estágio tem essencial importância na formação e construção de fundamentos e de bases da profissão docente, pois, a partir deste momento é que se inicia o contato com a profissão e consequentemente se dá sua consolidação enquanto professor.
4823 A importância do estágio curricular supervisionado na formação do professor O estágio curricular supervisionado na escola aparece como um campo de atuação do futuro professor em formação é um espaço que propõe ao acadêmico o contato mais próximo com a realidade no âmbito escolar pela qual detêm sua formação. Além disso, é momento de aprender a colocar em prática o seu conhecimento epistemológico com o conhecimento do cotidiano dos alunos. Além de aprender com a prática do estágio curricular supervisionado, Pimenta e Lima (2008, p. 43) apontam que: no estágio dos cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros professores compreendam a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como alternativa no preparo para sua inserção profissional. Dessa forma, o estágio curricular supervisionado não só contribui para o conhecimento e contato com a prática, mas principalmente, para a finalidade pela qual o curso de licenciatura está proposto, que é formar professores a partir da análise, da proposta de novas formas de educação e também do senso crítico. Assim o estágio vai além do componente curricular e passa a ser uma parte importante no corpo de conhecimentos da formação de professores (PIMENTA; LIMA, 2008). Seguindo esta ideia da importância do estágio na formação de professores, Kenski (2003, p.49) coloca que: o estágio [...] e a partir daí, a construção de nosso próprio modelo de ação docente em um processo complexo de integrações entre experiência e conhecimento teórico - prático, é um dos caminhos para se alcançar a nossa própria identidade e autonomia de ação. Sob a contribuição do estágio curricular supervisionado na formação profissional Torre e Olivieri (1983, p. 43) destacam que será tanto mais rico o estágio de participação quanto mais variadas forem as situações que envolver. É nesta etapa que o futuro professor auxilia na execução das atividades da classe onde está estagiando. Estas diferentes situações trazidas pelos autores irão contribuir ainda mais para sua formação e experiência profissional, pois através destas diferenciadas abordagens o acadêmico perceberá as mais diferentes problemáticas e consequentemente pensar em soluções que melhor contribuam para a formação do conhecimento de acordo com as diferentes circunstâncias vivenciadas.
4824 Objetivos do estágio curricular supervisionado O estágio supervisionado além de fazer parte da formação curricular do professor de Geografia, também possibilita um maior contato com a realidade pela qual o futuro profissional será inserido, possibilitando assim uma convivência com o cotidiano escolar e com seus sujeitos (FONTANA e GUEDES-PINTO, 2002). O estágio curricular supervisionado também traz a possibilidade do acadêmico não só observar, mas diagnosticar as formas de como conduzir uma aula, questionar e investigar este espaço escolar onde se constrói a identidade do professor. Dessa forma Miranda (2008, p. 18) diz que: a experiência no cotidiano escolar contribui para a construção da identidade profissional do estagiário, fazendo com que futuramente ele assuma determinadas posturas e consolide suas ações e intenções. Por meio de critérios, objetivos e subjetivos, nesse momento de sua trajetória acadêmica os futuros professores e pedagogos estão fazendo escolhas. Diante disso, o estágio curricular supervisionado não se atribui somente a confrontação dos seus saberes acadêmicos com os saberes do espaço escolar, mas atua na contribuição e afirmação da escolha pela profissão (PIMENTA; LIMA, 2004). Dessa forma, esse momento de prática dos acadêmicos tem entre seus objetivos contribuir para que a teoria e a prática aconteçam juntas e se completem, construindo conceitos e conhecimentos tanto no âmbito acadêmico, como no espaço escolar, e também tem um papel fundamental na construção da identidade profissional do professor. O estágio curricular supervisionado para os acadêmicos de Geografia O curso de Licenciatura em Geografia da UNICENTRO Campus de Irati oferece o Estágio Supervisionado como componente curricular no terceiro e quarto ano da graduação para o Ensino Fundamental e Médio com carga horária de 136 horas, respectivamente, e no segundo ano os acadêmicos realizam observações para coleta de dados na disciplina de Prática de Ensino I visando um primeiro contato com a realidade escolar. Para entendermos o ponto de vista dos licenciandos com relação ao estágio, devemos ressaltar que a formação de profissionais reflexivos e pesquisadores apresentam-se mais presentes na dinâmica da transformação social, que resultam na necessidade do professor estar apto para compreender melhor a realidade escolar.
4825 Diante disso Passini (2007) coloca a importância do estágio supervisionado em relação a sua capacidade de proporcionar um melhor entendimento para a contextualização e investigação da carreira docente, além de proporcionar aos alunos uma reflexão em torno do ensino, da prática e da realidade escolar e preparando-os para compreender e atuar sobre as diversas situações e realidades cotidianas da prática docente. Diante dos questionários realizados com os alunos ingressantes no curso de Licenciatura em Geografia no ano de 2011 sobre a importância do estágio supervisionado no curso de Geografia, pode-se perceber que os iniciantes consideram o estágio importante, porém ao mesmo tempo verem no estágio o momento crucial para identificar se é realmente a profissão que desejam seguir. Assim se expressam os alunos A e B: impacto é importante, pois dá tempo de desistir (risos) (aluno A). sim. É uma forma de preparação e de extrema importância para enfrentar a profissão e ver se é isso mesmo que eu quero (aluno B). E diante de outra visão alguns afirmam que o estágio é importante por de certa forma preparar para a futura profissão e ao mesmo tempo é uma etapa para compreender a verdadeira realidade escolar. preparação para a profissão, uma experiência, para ver os erros para depois melhorar na atuação (aluno A). vai se preparar, ter mais experiência para quando for pra sala de aula estar mais preparado (aluno B). Neste contexto é possível perceber a visão superficial tida pelos licenciandos ingressantes em relação ao estágio e a sua real importância para a formação docente, assim como a grande incerteza sobre a carreira profissional que realmente querem seguir. Neste sentido Ribeiro e Santos (2012) colocam que alguns [...] só poderiam ter certeza de sua escolha no segundo ano do curso, ou ainda estão neste processo de adaptação e que ainda não têm exatamente consciência do que a formação profissional lhes proporcionará. Este processo de transição do Ensino Médio e adaptação a graduação em licenciatura, gera dificuldades e uma nova realidade em relação ao ensino. Os conteúdos abordados durante a graduação exigem maiores reflexões, diferente dos conteúdos e textos do Ensino Médio. Inicia-se um processo de busca por instigar os acadêmicos a percepção das formas como a Geografia produz interpretações sobre a realidade a partir do estudo do espaço. Neste momento, deparara-se com termos desconhecidos pertencentes ao discurso próprio da ciência,
4826 além de se deparar também com diversos conceitos, leituras e debates com níveis de abstração muitas vezes superior ao que se estava habituado na escola. Ao indagarmos a mesma questão sobre a importância do estágio, os alunos concluintes apresentam outra opinião, na qual relatam que: o estágio me pôs diante da realidade escolar, que o professor mesmo diante de um sistema fechado e burocrático deve fazer o possível para dar uma aula boa e fazer o possível para que seus alunos aprendam. Além dos questionários aplicados em 2011, analisamos os relatórios finais de conclusão de curso produzidos pelos acadêmicos formandos do ano de 2014. Estes reafirmam que: a disciplina de estágio supervisionado torna-se fundamental para a formação de professores de Geografia conscientes do seu papel de educador, pensando o Ensino de Geografia e sua relação entre teorias científicas e práticas educacionais (Aluno C). Neste contexto, já é possível observar que o estágio curricular supervisionado e a disciplina de estágio supervisionado são vistas de formas distintas, e os concluintes já conseguem apresentar uma percepção em relação à importância para sua formação profissional, a qual para os alunos ingressantes no curso de Geografia ainda se apresenta bastante confusa. Além das confirmações referentes à relevância dos estágios, nos relatórios os concluintes expressam indagações e conclusões referente a teoria e a prática no curso de licenciatura, visto que a licenciatura não é composta somente pelas disciplinas relacionados ao estágio, mas por um conjunto de disciplinas que abordam outras áreas de abrangência fundamentais para a formação do profissional docente. O conteúdo teórico exposto no decorrer da formação mantém relação com a área da formação profissional, no entanto, nem sempre são ligadas diretamente a prática, e para que isso aconteça, surgem algumas conclusões em seus relatórios de conclusão de curso refletindo acerca dessa formação, como ressalta o aluno D: acreditamos que também os professores universitários devem repensar sempre suas metodologias de ensino, e permanecer em constante reflexão acerca da formação de professores, pois eles são o alicerce para que a Geografia Escolar e a Geografia Científica estejam de fato unidas, e proporcionando uma formação ímpar de sujeitos pensantes e críticos que farão a diferença na educação de crianças e jovens ativos e reflexivos na sociedade contemporânea. Diante de reflexões como esta, torna-se mais claro a ideia de que jamais pode-se esquecer do objetivo principal da licenciatura, que é a formação docente. Essa formação é um
4827 processo de construção, que se inicia a partir do momento do acesso e permanência no curso de licenciatura e não acaba com o fim dela, permanece em constante aperfeiçoamento do profissional, seja ele profissional da Educação Básica ou do Ensino Superior. Assim sendo, verificamos que os ingressantes no curso de licenciatura ainda não possuem um amadurecimento suficiente para compreender a importância do estágio curricular supervisionado, e que para os concluintes o estágio é essencial, tanto para o contato com a realidade como para o amadurecimento profissional. Considerações Finais O presente trabalho buscou analisar a importância da teoria e da prática na formação do profissional docente, tendo como base a prática através do estágio curricular supervisionado visto pelos acadêmicos ingressantes e concluintes. Notaram-se diversas posições e reflexões em torno da articulação da teoria e da prática e a sua importância em um curso de Licenciatura em Geografia, o qual tem por objetivo formar um docente consciente e reflexivo quanto aos seus compromissos enquanto um profissional. Dessa forma acreditamos na necessidade de um constante amadurecimento em relação às propostas disciplinares nos cursos de Licenciatura em Geografia e a sua possível aplicabilidade, em relação a prática docente. Pois vale lembrar que, além da compreensão do objeto de estudo da Geografia, os futuros professores licenciados em Geografia, devem aprender a construir uma relação direta entre a teoria e a prática, que será essencial para a sua profissão docente. REFERÊNCIAS BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. BURIOLLA, Marta Alice Feiten. O estágio supervisionado. São Paulo: Cortez, 1999. DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto (Portugal): Editora LDA, 1997. FONTANA, Roseli Aparecida Canção; GUEDES-PINTO, Ana Lúcia.Trabalho escolar e produção de conhecimento. In: NETO, A. S.; MACIEL, L. S. B. (Org). Desatando os nós da formação docente. Porto Alegre: Mediação, 2002. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1981.
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