O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES DAS VIVÊNCIAS DO PIBID PARA FORMAÇÃO ACADÊMICA Autora: Yara Braz Vieira¹ Co-autor (as): Naíse Valéria



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Transcrição:

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES DAS VIVÊNCIAS DO PIBID PARA FORMAÇÃO ACADÊMICA Autora: Yara Braz Vieira¹ Co-autor (as): Naíse Valéria Guimarães Neves² Maria de Lourdes Mattos Barreto² RESUMO: A partir da promulgação da Lei n º 9.394, 20/12/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação Infantil tornou-se a primeira etapa da Educação Básica. Por tal motivo existe na Universidade Federal de Viçosa, na cidade de Viçosa Minas Gerais o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência PIBID para a área da educação infantil. Em abril de 2014 foi iniciado o trabalho das bolsistas na creche, que pertence a Escola Municipal Padre Francisco José da Silva, situada no bairro Nova Viçosa da cidade de Viçosa MG. Foi possível perceber no período de observação que as crianças não tinham muito contato com atividades lúdicas. Dessa forma planejamos atividades que estinguem as crianças, sendo prazerosa para elas, mas que conseguissem atingir os objetivos propostos nos eixos norteadores da Educação Infantil. Através das atividades lúdicas as crianças estabeleceram relações elas e o mundo, passam a perceber a existência dos outros, estabelecem relações sociais, constroem conhecimento e se desenvolvem integralmente. Buscando sempre colocar em prática aquilo que foi visto em teoria na sala de aula, trabalhando o cuidado e a educação de forma indissociável. O presente artigo tratará das experiências vivenciadas a partir da inserção das bolsistas do PIBID de Educação Infantil em instituições publica. Essas experiências possibilitam um ganho no que diz respeito à formação acadêmica dos graduandos, além de ser rica em proporcionar a vivência em ambientes diferentes possibilitando realizar a ligação entre teoria e prática, ampliando as possibilidades de construção do conhecimento e desenvolvimento das crianças. Palavras chave: Educação Infantil; Lúdico; Desenvolvimento-Aprendizagem. 1. INTRODUÇÃO O processo de aprendizagem e construção de conhecimento está presente em todas as fases da vida. A infância caracteriza-se por ser a fase das brincadeiras, então porque não construir conhecimento através das brincadeiras, jogos, em fim, de atividades lúdicas, divertidas e significativas? Afinal, isso está garantindo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

2 O brincar é a forma como a criança satisfaz seus desejos, seus interesses, suas necessidades, expressa e lida com suas emoções, consolida a cultura da qual faz parte, estabelece relações sociais e compreende o mundo. Dessa forma, o lúdico é tido como a forma mais eficaz de realizar atividades educacionais com as crianças, principalmente criança da educação infantil. Este artigo relata experiências vivenciadas no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID/ Educação Infantil, que tem como finalidade apoiar a iniciação à docência de estudantes de licenciatura em Educação Infantil, aprimorando a formação docente, possibilitando aos estudantes despertarem interesse para as instituições educacionais públicas, contribuindo para a elevação do padrão de qualidade da educação básica. O objetivo desse artigo é evidenciar a importância do lúdico no contexto educacional, a partir da descrição das experiências no PIBID/EIN, fomentando a necessidade de professores e licenciandos da área da educação básica (re)conheçam o papel das atividades lúdicas na construção do conhecimento e no desenvolvimento integral das crianças. Para tanto iremos abordar os seguintes temas: educação infantil e as múltiplas linguagens, lúdico no contexto da educação infantil e o papel do professor. 2. A EDUCAÇÃO INFANTIL E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS De acordo com o art. 29 da Lei n º 9.394, 20/12/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, a Educação Infantil tornou-se a primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, moral, motor, cognitivo e social complementando a ação da família e da comunidade. O atendimento das crianças dessa faixa etária ocorre em creches e pré-escolas, e estas instituições devem considerar a criança como sujeita do processo de educação, trabalhando o cuidado e a educação de forma indissociável para que seja possível alcançar o que é tido como a finalidade desta etapa educacional. Na educação infantil podem-se encontrar três ênfases na organização dos conteúdos: as múltiplas linguagens, o jogo e os projetos. No entanto, as diferentes linguagens são consideradas o principal eixo norteador, pois é ele que permeia os outros organizadores do currículo, como o jogo e as diferentes áreas de conhecimento, como pode ser verificado no que propõe os referenciais curriculares.

3 As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio de brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidos e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças utilizam as mais diferentes linguagens exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópias da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. (BRASIL,1998, v. 1, p. 21). O trabalho com as múltiplas linguagens na Educação Infantil é de grande importância para o desenvolvimento da criança desta faixa etária. Trabalhar com múltiplas linguagens é considerar cada criança como única, possibilitando a elas a construção de diferentes formas de explicar e se entender no ambiente escolar. Assim, acredita-se que as crianças poderão ter um encontro com si próprio, interagir com o outro e com o mundo que a cerca, através das diferentes linguagens, que proporcionam múltiplas formas de ser, dizer e sentir, de se expressar e de repensar o mundo a sua maneira. Segundo Faria e Dias (2007), citado por Fontes (2013), algumas linguagens são consideradas significativas e devem ser trabalhadas na educação infantil. São elas: linguagem oral e escrita, linguagem corporal/movimento, o brincar como linguagem, linguagem matemática, conhecimentos relativos à sociedade e à natureza, artes visuais, musica e movimento. O trabalho com estas linguagens deve ser realizado de forma prazerosa, buscando instigar as crianças e possibilitando que elas construam conhecimento e desenvolvam-se integralmente. 3. O LÚDICO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL A infância é a fase das brincadeiras e por meio destas a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e desejos, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade. O brincar é uma atividade saudável que promove o desenvolvimento, a aprendizagem, a criatividade e auxilia no processo educacional, proporcionando à criança construir e estabelecer relação entre o eu e o mundo. Alguns autores relacionam o lúdico com o jogo, sendo o jogo uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, dotadas de um fim em si mesmo,

4 acompanhado de um sentido de tensão, de alegria e de consciência de ser diferente da vida cotidiana. Isto é, o jogo é dotado de regras que podem ou não ser mudadas pelos indivíduos que dele participam e a partir de tal as crianças tem espaço para expressar seus sentimentos, ideias, medos, angústias e desejos. Os termos jogo, brinquedo e brincadeira estão entrelaçados e podem ser definidos no dicionário Larousse (1982), citado por Dallabona (2004), como: Jogo - ação de jogar; folguedo, brinco, divertimento. Brinquedo - objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira; Brincadeira - ação de brincar, divertimento. Brincadeira é o simples fato de brincar; jogo é tido como uma forma de brincar em que pode envolver regras, podendo estas já fazer parte do jogo ou serem definidas pelos próprios participantes no momento da atividade; brinquedo é usado com o objetivo de brincar; já a atividade lúdica abrange os conceitos anteriores de forma ampla. Ao tratar dos jogos Piaget caracterizava-os em três estruturas, jogo de exercício, jogo simbólico e os jogos de regras, sendo que cada uma desta esta relacionada a um estágio do desenvolvimento. O jogo de exercício presente, no estágio sensório motor, de 0 a 2 anos caracteriza-se pela repetição, a criança realiza uma mesma ação várias vezes pelo simples prazer que aquilo desperta, pelo egocentrismo presente neste estágio as crianças não tem interesse em relacionar-se com outras crianças. De 2 a 6 anos a criança encontra-se no estágio pré-operatório tendo o jogo simbólico como característico, onde o símbolo implica a representação de um objeto ausente, o jogo de faz de conta. Assim como no jogo de exercício no jogo simbólico, as crianças tem apenas a si mesmas como expectadoras, não havendo intenção em estabelecer comunicação com os outros. A função do faz de conta é satisfazer o eu pela transformação do que é real naquilo que é desejado. A terceira categoria é composto pelo jogo de regras, característico do estágio operatório concreto, supõem, necessariamente, relações sociais ou interindividuais e tem início a partir dos sete anos. A regra é imposta pelo grupo. Os jogos são transmitidos de geração em geração. Através das atividades lúdicas a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos outros, estabelece relações sociais, constrói conhecimento e desenvolve-se integralmente. Esse caráter lúdico esta relacionado às crianças, cabendo ao professor planejar a atividade com intencionalidade, tendo em

5 vista o estágio de desenvolvimento que as crianças se encontram, considerando a cultura, para que assim possa ser desenvolvida a atividade e então avaliada. De acordo com LDB de 1996, Seção II, Art.31 na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Ao pensar em atividades lúdicas deve-se planeja-las fazendo com que não percam o caráter lúdico, para as crianças, e que atinjam os objetivos que foram propostos pelo professor. Essas atividades devem instigar as crianças possibilitando seu desenvolvimento e aprendizagem, de maneira significativa. Outro ponto relevante é o momento da avaliação, que ao ser desenvolvida deve ser avaliada e também o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, verificando se atingiu os objetivos e manteve o interesse das crianças. O brincar é uma atividade básica para as crianças, assim como a nutrição, a habitação, a saúde e a educação, pois o brincar interfere diretamente no seu desenvolvimento integral. Por meio das atividades lúdicas é possível solucionar problemas que nos rodeiam, satisfazer desejos, além de auxiliar na saúde facilitando o crescimento, sendo também uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros. Para Piaget (1975), citado por Dallabona (2004), o desenvolvimento não é linear mas sim evolutivo e nesse trajeto a imaginação se desenvolve. Uma criança que brinca revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, seu modo de aprender e entrar em relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos, desenvolvendo, também, capacidade para determinado tipo de conhecimento e dificilmente se perde essa capacidade. Ao brincar também ocorre a formação de conceitos e a partir desta formação que se dá a verdadeira aprendizagem. A contação de histórias, assim como os jogos, brinquedos e brincadeiras, se encaixam como atividade lúdicas que proporcionam às crianças possibilidade de se desenvolver e construir conhecimento. Escutar histórias é o inicio da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e compreensão do mundo. Ouvindo histórias a criança pode descobrir outros tempos, lugares, modos de agir, sentir emoções. Referente à educação, entende-se o educar ludicamente um ato planejado de formar cidadãos comprometidos, capazes de solucionar problemas e felizes. Para

6 Dallabona (2004), essa forma de educação consiste em seduzir os seres humanos para o prazer de construir conhecimento, resgatando o verdadeiro sentido da palavra escola, local de alegria, prazer intelectual, satisfação, desenvolvimento e aprendizagem. Portanto, o brincar pode ser tido como sinônimo de aprender, pois ao contrário de que se pode pensar, o brincar gera um espaço para pensar, sendo que a criança avança no raciocínio, desenvolve o pensamento, estabelece contatos sociais, compreende o meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, conhecimentos e criatividade. 4. PAPEL DO PROFESSOR Ao se tratar da educação com um caráter lúdico o professor desempenha um papel fundamental neste processo, pois para atingir esse fim é necessário repensar o conteúdo e a prática docente. Cabe ao professor planejar atividades de modo a contribuir para que as crianças possam desenvolver integralmente e construir conhecimento de forma autônoma. Em um contexto escolar, esse processo de aprendizagem muitas vezes é enfatizado no ensino dos conteúdos, de modo que as respostas são apresentadas prontas para a criança. Barreto (2012) afirma que o desafio dos professores está em deixar que as crianças aprendam, a partir da consolidação dos esquemas, para que estruturas mais amplas e complexas sejam formadas. O educador deve ter ciência da importância do lúdico no contexto educacional e, assim, planejar atividades que despertem o interesse das crianças, mas que atinjam os objetivos propostos, visando o desenvolvimento integral das crianças. Ao planejar uma atividade deve-se, principalmente, conhecer o grupo de crianças, pensando em atividades que estejam de acordo com a faixa etária, ou seja, conhecendo os limites e possibilidades do período de desenvolvimento em que as crianças se encontram, sendo desafiadores e que propiciem a interação e diferentes possibilidades de ação. O professor também deve saber trabalhar com a singularidade de cada criança, integrando-a ao grupo, afinal deve-se pensar em quem se está educando, qual a sua vivência e individualidade, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e criativos com condições para desenvolver, inventar e serem capazes de cada vez mais ampliar seu domínio cognitivo. O professor deve ser mediador do processo de desenvolvimento e aprendizagem, utilizando o lúdico como instrumento do processo de desenvolvimento e aprendizagem.

7 Como a educação é intencional, deve elaborar os objetivos para a intervenção, no processo de planejamento, execução e avaliação do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças e da sua ação educativa. 5. VIVENCIANDO O LÚDICO: DESCREVENDO A EXPERIÊNCIA NO PIBID Em abril de 2014 foi iniciado o trabalho, PIBID/EIN na creche de uma Escola Municipal de Viçosa, MG. A creche funciona em uma casa alugada, longe da sede da instituição a que pertence, sendo que o espaço físico oferece inúmeras limitações para o funcionamento de uma instituição de atendimento a criança, por se tratar de um local escuro, com pouca ventilação e que não possui um espaço aberto que funcione como área externa. São atendidas cerca de 60 crianças de 2 e 3 anos de idade, divididas em três salas, sendo uma localizada no térreo da casa atendendo crianças de 2 anos de idade e outras duas salas no primeiro andar, atendendo crianças de 3 anos. Este relato de experiência descreve atividades que foram realizadas na sala que atende cerca de 20 crianças de três anos de idade. Ao iniciar as observações e os primeiros contatos com as crianças foi possível perceber que elas não estavam habituadas a realizar atividades que tivessem um caráter lúdico. Mesmo havendo jogos, histórias e materiais para realizarem atividades lúdicas eles praticamente não eram utilizados, não fazendo parte do planejamento. Posteriormente apresentamos a proposta de trabalho à professora explicando a atuação do bolsista do PIBID, mostrando o interesse em planejar atividades para serem desenvolvidas junto às crianças, buscando o trabalho integrado entre a bolsista e a professora responsável pela sala, que se mostrou muito disposta a receber novas ideias e propostas para atividades. Desta forma iniciou-se o planejamento de atividades que instigassem as crianças, proporcionando construir conhecimento e desenvolver integralmente e que fossem dotadas de objetivos a serem alcançados, inseridas no eixo das múltiplas linguagens. Muitas dessas atividades utilizaram recursos disponíveis na própria creche, como jogos manipulativos, blocos, tintas, pinceis, giz de cera, livros de história e outros foram emprestados do acervo de materiais que o PIBID oferece. As crianças não tinham o costume de realizar pinturas sem que a professora estipulasse o que era para ser pintado e quais cores deviam ser utilizadas, então foi planejada e desenvolvida uma atividade de pintura livre (figura 4) na qual as crianças

8 tinham liberdade para explorar a criatividade fazendo as formas, desenhos e utilizando as cores que quisessem. A atividade foi planejada para ser realizada com o uso de pinceis, tendo como objetivo explorar a coordenação motora fina, mas algumas crianças preferiram manipular a tinta, sentido a textura, algo que não era possibilitado a elas. Alguns jogos também foram planejados, como o de blocos, que tinha como objetivo trabalhar a linguagem matemática (figura 1). As crianças iam agrupando os blocos ou construindo torres com os mesmo e então questionávamos sobre quantos blocos elas tinham em mãos ou quantos foram necessários para a construção que elas estavam realizando, fazendo a contagem junto com as crianças, explorando número e quantidade, espaço e forma, grandezas e medidas. Dentre as atividades planejadas foi realizado contação de história (figura 2) e a fala da professora acabou surpreendendo, pois ao terminar a narrativa as crianças tiveram a oportunidade de explorar o material e então a professora expôs que não tinha o costume de contar história para as crianças por acreditar que elas não mantivessem o interesse e confessou ter certo receio em deixá-las manusear os livros por acreditar que estes acabariam sendo danificados. Então essa atividade foi planejada e desenvolvida algumas outras vezes para ressaltar a importância da contação de histórias e as possibilidades de suscitar o imaginário, ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, encontrar outras ideias para solucionar questões entre tantos outros benefícios que as histórias proporcionam e deixar com que as crianças recontem proporcionando interagir com os colegas. A partir de então começou a ser realizada contações de histórias utilizando recursos diferentes como fichas, flanelógrafos, fantoches, simples narrativas, entre outras formas. Pela creche funcionar em uma casa alugada sem espaço aberto sentiu-se a necessidade de realizar uma atividade onde as crianças explorassem, principalmente, a coordenação motora grossa. Dessa forma foi proposto realizar atividades em uma praça que fica em frente a casa onde a creche funciona. Planejou-se realizar um circuito com pneus, mas a maioria das crianças se interessaram em descer um barranco que fica ao lado da praça (figura 3), então pedimos algumas caixas de papelão aos mercados próximos para as crianças utilizarem facilitando o deslocamento. A atividade foi tão interessante que a professora buscou realizá-la outras vezes. Ao avaliar as atividades percebemos que mesmo que elas tenham sofrido algumas mudanças no momento do desenvolvimento, os objetivos estipulados no

9 planejamento foram alcançados, proporcionando o desenvolvimento e possibilitando a aprendizagem das crianças. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse relato de experiência procurou mostrar a importância de atividades lúdicas na educação infantil, relatando experiências vivenciadas por uma bolsista de iniciação a docência, mostrando que a ludicidade é de extrema relevância para o desenvolvimento integral das crianças. O lúdico proporciona a criança desenvolvimento sadio e harmonioso. As atividades que foram planejadas e desenvolvidas com as crianças apresentaram um caráter lúdico fazendo com que as mesmas se mantivessem imensamente interessadas em participar. Através do planejamento e da forma como foram desenvolvidas as atividades verificou-se o trabalho com as múltiplas linguagens, possibilitando o desenvolvimento cognitivo, moral, social, físico-motor e afetivo, buscando, assim, alcançar os objetivos propostos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). O professor que reconhece a importância do lúdico na vivência educacional e utilize atividades lúdicas possibilita a construção de um conhecimento que proporciona às crianças desenvolverem cognitivamente como, também nos aspectos afetivo, social, moral, físico e motor. O desenvolvimento e a aprendizagem ocorreram através da interação com outras crianças, e ao enfrentarem situações-problema que possibilitaram a busca de soluções para os mesmos entre outras tantas possibilidades que as atividades com caráter lúdico podem oferecer. Portanto, foram levadas atividades que fossem lúdicas para as crianças, por estar ciente da relevância da ludicidade no desenvolvimento físico, motor, afetivo, cognitivo, social e moral das mesmas. Entendem-se como lúdicas as atividades que propiciam a experiência completa do movimento, associando o ato, o pensamento e o sentimento. A criança se expressa, assimila conhecimentos e constrói a sua realidade quando está praticando alguma atividade lúdica. Ela também espelha a sua experiência, modificando a realidade de acordo com seus gostos e interesses. Desta forma o trabalho relatado neste artigo interferiu de forma relevante em relação a formação docente e, também, em relação a instituição onde as atividades foram desenvolvidas por possibilitar que a professora tenha percebido a importância do

10 lúdico e suas diversas possibilidades em relação a construção do conhecimento e possibilidades de aprendizado das crianças. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Maria de Lourdes Mattos. O jogo e a criança. Notas de aula. Viçosa: UFV, 2012.. Fundamentos da Teoria Piagetina. Notas de aula. Viçosa: UFV, 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 2010. 5 ed.. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília, 1998. v.1 DALLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Schmitt. O Lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de Divulgação. Santa Catarina, v. 1, nº 4, p. 1-13, jan/mar. 2004. FONTES, Maria José de Oliveira. Planejamento em Educação Infantil. Notas de aula. Viçosa: UFV, 2012. Sobre os autores: ¹ Graduanda do curso de licenciatura em Educação Infantil na Universidade Federal de Viçosa e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência. ² Professora do curso de licenciatura em Educação Infantil na Universidade Federal de Viçosa e coordenadora do subprojeto Educação Infantil do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência. ANEXO:

11 Figura 1. Atividade de blocos, cujo um dos objetivos é trabalhar a linguagem matemática. Figura 2. Contação de história de fichas. Futebol dos Animais crianças recontando.

12 Figura 3. Atividade, de circuito, realizada na praça em frente a instituição. Crianças optaram em escorregar no barranco. Figura 4. Pintura livre com o objetivo de estimular a coordenação motora fina.