PROJETO ESCOLA PARA PAIS Escola Estadual Professor Bento da Silva Cesar São Carlos São Paulo Telma Pileggi Vinha Maria Suzana De Stefano Menin coordenadora da pesquisa Relator da escola: Elizabeth Silva 1 O CONTEXTO. A Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Bento da Silva Cesar situa-se no município de São Carlos, no estado de São Paulo, cidade com 220.463 habitantes segundo o IBGE (2009). A escola foi criada em 1996 e atualmente tem aproximadamente 1.200 alunos e 60 professores regentes. As notas do IDEB/2010 dessa instituição são 5,5 do 1º ao 5º ano e 5,1 do 6º ao 9º ano. Sua diretora é Cássia Olhe Lopes Nunes e a vice-diretora é Elizabeth Silva, que relatou o projeto, mas não estava presente na escola por ocasião da sessão de observação realizada em 25 de outubro de 2010. Desde 2008, a escola mantém o projeto Escola para pais que foi idealizado pela atual diretora. Esse projeto foi um dos vencedores de um concurso promovido pela EMBRAER em São Carlos. Essa empresa abriu um concurso direcionado a financiar projetos em escolas públicas em parceria com a comunidade. Várias instituições educativas da região participaram, tendo sido um dos selecionados o projeto elaborado pela EE Bento da Silva Cesar. 1 As pessoas entrevistadas autorizaram que seus nomes aparecessem no relato: Cássia Olhe Lopes Nunes (diretora), José Carlos Manffré (coordenador pedagógico) e Leidinéia Amorim Martha (mãe de 3 alunos na escola, participante da primeira turma e multiplicadora da segunda). Outros funcionários e pais também foram entrevistados, mas seus nomes não foram mencionados
AS ORIGENS Ao discorrer sobre as origens do projeto, a diretora Cássia relata que em 2007, algumas das queixas dos docentes eram de que somente participavam das reuniões de pais aqueles que tinham filhos considerados bons alunos. Já os pais dos alunos com mais dificuldades não compareciam às reuniões. Os profissionais da escola perceberam que seria importante trazer todos os pais à instituição, criando um ambiente onde pudessem conversar sobre diversos problemas, além de dar sugestões, pensando sempre na melhoria das relações e do ambiente escolar. Com esse objetivo, planejaram formas de conhecer melhor as ideias e realidade dos pais dos alunos do Bento. No decorrer de 2008, os pais e responsáveis foram convidados de várias formas para participarem de reuniões na escola. Para tanto, foram elaborados cartazes e faixas, convites impressos e até um carro de som foi contratado que ficava circulando pelo bairro, reforçando o convite à comunidade para participar das reuniões. Essas reuniões com os pais/responsáveis, professores e funcionários visavam ouvir as opiniões, conhecer os problemas da instituição e da família, debater ideias e buscar alternativas. Pretendiam, ainda, conhecer as dificuldades que os pais enfrentavam com os filhos, as insatisfações, etc. Posteriormente, buscaram indicações de leituras e deram início a estudos sobre os temas que mais apareceram. Desses encontros, surgiu a ideia de realizar um curso para pais em que essas temáticas pudessem ser aprofundadas e discutidas. Assim, foi elaborado o projeto Escola para pais que foi apresentado à EMBRAER. Após a seleção, a empresa doou R$18.000,00 à escola para que fossem adquiridos os recursos materiais e humanos necessários para desenvolvê-lo. O PROJETO Trata-se de um curso direcionado aos pais/responsáveis em que são discutidos temas como violência doméstica, gravidez na adolescência, a velhice nos dias atuais, a amamentação e a importância do diálogo familiar. Tem como objetivos: pensar a convivência no seio familiar; a responsabilidade dos pais como educadores e a formação como educadores de filhos. A vice-diretora relata que se caracteriza como um programa que abrange vários tipos de discussão sobre temas atuais: educação moral, cidadania, valores, direitos e deveres tanto do aluno quanto da família, da própria escola.
O curso é oferecido uma vez por semestre e os participantes recebem um certificado. O primeiro foi ministrado por duas psicólogas residentes na cidade e conhecidas da diretora. A ideia é que os pais e profissionais da escola fossem os multiplicadores das próximas turmas, o que vem ocorrendo desde então. Os cursos seguem a seguinte estrutura: possuem 10 encontros, sendo um por semana que dura em média 2h e em cada encontro um tema é trabalhado. Geralmente, ocorrem no período noturno ou no sábado de manhã. São utilizados procedimentos variados, tais como: aulas expositivas dialogadas, relatos de experiência, fotos, dinâmicas, jogos dramáticos, painéis, debates de filmes curtos e discussão de pequenos textos. Os títulos de cada aula de acordo com a ordem em que foram trabalhados são: 1. Você no mundo de hoje. 2. Cuidados essenciais com a criança. 3. Mãe e Pai, pessoas importantes na vida do filho.
4. Cada filho é único. 5. Como educar os filhos. 6. Sentimentos e comportamentos infantis: Medo, Ciúme, Mentira. 7. Meu filho e a escola. 8. Adolescência. 9. Sexualidade humana, manifestação do amor. 10. Confraternização Entrega de diplomas. Para convidar os pais a participarem da primeira turma foram feitos convites em gráfica que foram distribuídos na comunidade. Solicitaram, também, que algumas mães voluntárias fossem pessoalmente convidar para participar do curso principalmente os responsáveis por aqueles alunos que apresentavam dificuldades ou problemas de comportamento na escola e que raramente compareciam nas reuniões. Todavia, nem sempre esses voluntários foram bem recebidos por esses pais. Apesar desse empenho, não houve o retorno esperado, tendo pouquíssima adesão dos pais. Diante desse cenário, a escola incentivou os pais que já frequentavam a instituição no período noturno, nas aulas do EJA, para frequentarem o curso uma noite por semana. A primeira turma, com 18 participantes, foi formada por esses adultos, estudantes do EJA e por mais duas outras mães de alunos. A diretora acredita que a pouca participação é decorrente dos pais sentirem inibidos e constrangidos porque não sabem ler direito ou falar corretamente e também por não saberem como seriam recebidos pelos professores do curso. Colocou que foi preciso cuidado especial com a acolhida e com metodologia dos encontros, propiciando o debate, utilizando outras formas de participação, para que os participantes se sentissem, aos poucos, mais tranquilos e
seguros. Essa primeira turma avaliou o curso como uma experiência positiva e que deveria ser estendida a todos os pais. No segundo semestre de 2008, algumas mães que participaram da primeira turma, sendo uma delas funcionária da escola, coordenaram dois grupos com a ajuda de profissionais da escola, um aos sábados e outro às quartas-feiras à noite. No ano de 2009, quem foi a responsável foi a diretora Cássia. Em 2010, o curso foi ministrado pelo coordenador, Manffré. Algumas aulas são compartilhadas com outros colegas e/ou pais. O número de alunos em cada curso tem sido entre 13 e 16 em média. Para estimular a participação, a escola pensou em várias estratégias como, por exemplo, telefonar para os pais ou oferecer brindes como saquinhos contendo feijões (tinham ganho 50 quilos de feijão que foi dividido em pequenos sacos para dar para quem fazia o curso). Às vezes, um ou outro professor também participa de algum encontro. PRINCIPAIS RESULTADOS Leidinéia, que possui três filhos estudando na escola e foi aluna da primeira turma do curso escola para pais, acredita que mais do que conhecer a escola e a comunidade, a intenção principal do projeto era fazer com que os pais conhecessem seus filhos. Para ela, o curso foi muito significativo, foi como uma terapia em grupo, e teve como contribuição maior auxiliar os pais a ouvirem mais os filhos, pois estes têm muito a dizer e os primeiros geralmente tem pouco tempo ou vontade de ouvir, ainda mais devido à correria do dia-a-dia. Avalia os temas trabalhados como sendo muito importantes e necessários aos pais, destacando como mais relevantes os estudos sobre as drogas e sobre educação sexual. Considera que a metodologia auxiliou na compreensão dos conteúdos, mencionando, como ilustração, os jogos dramáticos em que os pais vivenciavam os papéis de filhos, como por exemplo, quando tinham que representar o papel de uma adolescente tendo que contar ao pai que estava grávida. Acrescentou que no início os pais apenas ouviam, falando muito pouco, porém, com o tempo e também pela forma como os encontros eram conduzidos, foram se sentindo mais à vontade para participar, relatar experiências e colocar questões. Ela gostaria que houvesse mais encontros; sugere um por mês, além de mais pessoas no grupo, pois isso auxiliaria a troca de experiências e a possibilidade de conhecer outras perspectivas. Leidinéia foi uma das duas mães que auxiliaram a coordenar o estudo com a segunda turma.
Além da dificuldade dos pais participarem do curso, os entrevistados também mencionam a resistência de alguns professores do EJA em liberar seus alunos (pais dos alunos do diurno) para frequentá-lo. Uma das mães considera que muitos pais não participam porque acham que não é preciso estudar para ser pai, que devem educar seus filhos como acham correto. Cássia, a diretora, avalia o projeto Escola para pais como uma experiência bem sucedida, justificando que os participantes puderam discutir diversos temas e tiveram espaço para colocar suas questões e opiniões. Menciona alguns aspectos positivos decorrentes do projeto, como o maior cumprimento de direitos e deveres das comunidades docente e discente, menor número de atos de vandalismo e, também, convívio mais harmonioso entre os alunos. Acredita que o os alunos também são atingidos indiretamente. Considera que houve uma melhoria no comportamento de algumas crianças decorrente da melhora na relação entre os pais e os filhos e ainda pelo fato de que os pais encontrarem-se mais presentes na escola e, por este motivo, terem mais acesso às informações sobre seus filhos.