MERCADO DE BATATA NO BRASIL: análise de produção, importação e preços 1

Documentos relacionados
Comércio de hortaliças entre Brasil e Argentina.

VARIAÇÃO ESTACIONAL DE PREÇOS DA MAMONA NO PARANÁ INTRODUÇÃO

Desempenho Recente e Perspectivas para a Agricultura

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado

O IBGE divulgou a pouco o primeiro prognóstico para a safra de 2011: Em 2011, IBGE prevê safra de grãos 2,8% menor que a de 2010

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Soja - Análise da Conjuntura Agropecuária. Novembro 2015 PARANÁ

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FEIJÃO NO BRASIL DE Paulo Roberto Vieira de ALMEIDA¹; Alcido Elenor WANDER² INTRODUÇÃO

PARANÁ CONTINUA SENDO O MAIOR PRODUTOR DE GRÃOS

Tabela 1. Raiz de mandioca Área colhida e quantidade produzida - Brasil e principais estados Safras 2005/06 a 2007/08

Milho: preços elevados mesmo com super-safra norte-americana

Boletim Ativos do Café - Edição 15 / Dezembro 2013 Preços do café intensificam a descapitalização na cafeicultura brasileira em 2013

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

DEPEC Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos FEIJÃO OUTUBRO DE 2015

MERCADO DE TRIGO CONJUNTURA E CENÁRIO NO BRASIL E NO MUNDO

5º anúncio Agosto de 2015

O indicador do clima econômico piorou na América Latina e o Brasil registrou o indicador mais baixo desde janeiro de 1999

AGROMENSAL CEPEA/ESALQ Informações de Mercado

ÍNDICE DE CONFIANÇA DOS PEQUENOS NEGÓCIOS NO BRASIL. ICPN Outubro de 2015

O AGRONEGÓCIO DO PALMITO NO BRASIL:

Pesquisa da EPAMIG garante produção de azeitonas

Boletim Econômico. Federação Nacional dos Portuários. Sumário

PA02 IBGE Área plantada nas regiões do Brasil com lavouras anuais.

AGROINDÚSTRIA. O BNDES e a Agroindústria em 1998 BNDES. ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 1 Gerência Setorial 1 INTRODUÇÃO 1.

Milho Período: 16 a 20/03/2015

O que esperar do mercado de leite no Brasil e no mundo

TRIGO Período de 02 a 06/11/2015

Desempenho da Agroindústria em histórica iniciada em Como tem sido freqüente nos últimos anos (exceto em 2003), os

O Impacto da seca na produção de alimentos em São Paulo

Cesta básica volta a subir em Novembro

Milho Período: 11 a 15/05/2015

MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

A N A I S D O E V E N T O. 12 e 13 de Novembro de 2014 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

Boletim Novembro 2014

Potencial Econômico dos Clientes dos Corretores de Seguros Independentes do Estado de São Paulo Francisco Galiza

CEASAMINAS UNIDADE GRANDE BELO HORIZONTE OFERTA DE ALHO EM AGOSTO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

1. Seu município enfrenta problemas com a seca? 44 Sim... 86% 7 Não... 14%

INFORMAÇÕES SOBRE CAFÉ NO ESPÍRITO SANTO HISTÓRICO:

SOCIOECONÔMICOS 10 2 ASPECTOS INTRODUÇÃO PRODUÇÃO E CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO

ALGODÃO EM MATO GROSSO JULHO/15

EVOLUÇÃO DO PIB SETORIAL E TOTAL DAS CIDADES DE HORIZONTINA, TRÊS DE MAIO, SANTA ROSA E SÃO MARTINHO

redução dos preços internacionais de algumas commodities agrícolas; aumento dos custos de

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

Monitoramento da Cultura de Cana-de-Açúcar no Estado de São Paulo

CONTEXTO & PERSPECTIVA Boletim de Análise Conjuntural do Mercado de Flores e Plantas Ornamentais no Brasil Março 2011

Saúde. reprodutiva: gravidez, assistência. pré-natal, parto. e baixo peso. ao nascer

Custo da Cesta Básica aumenta em todas as cidades

ANÁLISE DA PRODUÇÃO MENSAL DE BEBIDAS

Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil

Pesquisa Mensal de Emprego. Abril 2011

PERFIL SETORIAL E TENDÊNCIAS DOS MERCADOS DE HORTÍCOLAS E FRUTAS NO RS, NO BRASIL E NO MUNDO

A crise atual da agricultura brasileira e da gaúcha* Este texto faz uma análise da evolução recente da agricultura brasileira e da gaúcha, baseada

BOLETIM CUSTOS E PREÇOS Abril de 2014

Valor da Cesta Básica aumenta em 12 cidades

MARGENS ESTREITAS PARA O PRODUTOR DE ALGODÃO

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

A atividade agrícola e o espaço agrário. Prof. Bruno Batista

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

Lista de Revisão do Enem 3ª Semana

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Universidade do Pampa campus Dom Pedrito Seminários Prof. Alicia Ruiz. Soja. Acadêmicos:Quelem Martins, Ricardo Carneiro, Renan Régio

Indústria avícola paranaense

AGROMENSAL CEPEA/ESALQ Informações de Mercado

ALGODÃO EM MATO GROSSO AGOSTO/15

Maçã: Balanço mundial (em mil toneladas métricas)

Em janeiro, preço da cesta só cai em duas capitais

Anita de Souza Dias Gutierrez Engenheira agrônoma Centro de Qualidade em Horticultura / 27

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO - ECA NÚCLEO DE PESQUISAS ECONÔMICO-SOCIAIS NUPES

Preços de alimentos básicos continuam em alta

Sumário Executivo. Amanda Reis. Luiz Augusto Carneiro Superintendente Executivo

ALGODÃO 2ª SAFRA NA SAFRA 14/15 DEZEMBRO - ANO 6 - EDIÇÃO 67

Variação Estacional de Preços de Cebola nos CEASAs de Minas Gerais

Valor da cesta básica diminui em 15 cidades

Assunto: falta de recursos do governo federal para agricultura do Paraná

Ordenamento Territorial para Expansão da Cana-de-açúcar no Brasil Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar

Projeções de custos e rentabilidade do setor sucroenergético na região Nordeste para a safra 2013/14: o desafio de sobrevivência dos fornecedores


APRESENTAÇÃO DO PROJETO PÚBLICO ALVO

MAPA ESTATÍSTICO DA CA- FEICULTURA BRASILEIRA

REGIONAL CENTRO-OESTE

Implantação de unidades de observação para avaliação técnica de culturas de clima temperado e tropical no estado do Ceará Resumo

Monitoramento da Cultura de Cana-de-Açúcar no Estado de São Paulo

Cesta básica tem alta moderada na maioria das capitais

AGROMENSAL CEPEA/ESALQ Informações de Mercado

INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Cana de açúcar para indústria: o quanto vai precisar crescer

Uso da biotecnologia garante US$ 3,6 bilhões à agricultura brasileira, aponta novo estudo da ABRASEM

Milho - Análise da Conjuntura Agropecuária

Respostas das questões sobre as regiões do Brasil

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

TRIGO Período de 12 a 16/10/2015

Cesta básica de Porto Alegre registra queda de 4% em junho de 2014

Energia, tecnologia e política climática: perspectivas mundiais para 2030 MENSAGENS-CHAVE

Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária RETROSPECTIVA DE 2012 E PERSPECTIVAS PARA 2013

Setor de Panificação e Confeitaria

Saúde Suplementar em Números


INSTITUIÇÃO EXECUTORA:

Transcrição:

MERCADO DE BATATA NO BRASIL: análise de produção, importação e preços 1 Waldemar Pires de Camargo Filho 2 Humberto Sebastião Alves 3 1 - APRESENTAÇÃO E OBJETIVO 12 3 A batata (Solanum tuberosum, L.), originária da América do Sul, é o produto olerícola de maior expressão como alimento no mundo, sobretudo na Europa. Em 2, a produção mundial foi de 37,44 milhões de toneladas, com a Europa participando com 42,4%, Ásia 39,2%, América do Norte e Central 9,1%, América do Sul 4,7% e África 4,1%. O Brasil é o principal produtor na América do Sul, com cerca de 1% do total mundial (FAO, 2) 4. Parte significativa da produção de batata é consumida como alimento processado em domicílio e restaurantes. A batata processada e seus derivados tiveram crescente importância no final do século XX. No Brasil, com o Plano Real, que teve início em 1994, foi significativa a quantidade importada do Hemisfério Norte e também da Argentina, devido à relação real/dólar na economia. Os tubérculos in natura, oriundos da Argentina, representaram quantidades decrescentes devido a problemas fitossanitários, enquanto a quantidade importada de batata-semente da Europa cresceu significativamente no mesmo período. No período 199-1999, o País expandia a fronteira agrícola em direção ao planalto brasileiro, o que constituiu em mais uma variável a influenciar no abastecimento nacional e pressionar a produção paulista, que é a segunda maior do País. O objetivo deste estudo é descrever a produção de batata, a composição das safras durante o ano no Brasil e a participação regional 1 Cadastrado no SIGA NRP165 e registrado no CCTC IE- 56/4. 2 Engenheiro Agrônomo, Mestre, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola. 3 Economista, Assistente Técnico de Pesquisa Científica e Tecnológica do Instituto de Economia Agrícola. 4 FOOD AGRICULTURAL ORGANIZATION - FAO. Production Yearbook. Roma, v. 56, 2. no abastecimento, bem como as quantidades importadas em 3 e 4. Nesse contexto, será realizada também análise da variação bianual de preços no mercado atacadista de São Paulo, com a finalidade de verificar sua influência na área a ser cultivada e na quantidade produzida nas diversas safras e regiões. 2 - METODOLOGIA As informações sobre área e produção do Brasil e de regiões brasileiras foram obtidas de publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 5. Os dados estatísticos de preços e safra do Estado de São Paulo foram obtidos de Informações Econômicas (CASER et al. 4 6 ). As quantidades importadas foram obtidas do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC, 4) 7. Os preços e quantidades do mercado atacadista de São Paulo são da Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP, 4) 8. Para análise de preços calculou-se o padrão estacional bianual baseado no método da média móvel geométrica centralizada, descrito em Hoffmann (198) 9. Camargo e Camargo Filho (1986) 1 5 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS- TICA - IBGE. Levantamento Sistemático da Produção. Rio de Janeiro, jan. 5. 6 CASER, D. V. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do estado de São Paulo, ano agrícola 3/4, junho de 4. Informações Econômicas, São Paulo, v. 34, n. 8, p. 114-115, ago. 4. 7 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E CO- MÉRCIO EXTERIOR - MDIC/SECRETARIA DO COMÉRCIO EXTERIOR - SECEX. Disponível em: <www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 4. 8 BOLETIM MENSAL DA CEAGESP. São Paulo, 4. Disponível em: <www.ceagesp.com.br>. 9 HOFFMANN, R. Estatística para economistas. São Paulo: Pioneira, 198. 39 p. 1 CAMARGO, A. M. M. P. de; CAMARGO FILHO, W. P. de. Comportamento dos preços de olerícolas nos

72 analisaram o comportamento de preços para os seguintes produtos: batata, cebola, cenoura, repolho e tomate, considerando os entrepostos atacadistas em diversas regiões do Brasil no período 1977-83. Definiram o padrão estacional anual para os produtos e calcularam a relação quantidade-preço no mercado atacadista. Concluíram que os produtos analisados possuem forte resposta de produção aos preços, ou seja, preços altos recebidos na safra anterior ou na época de plantio proporcionam aumento da área plantada e conseqüentemente da produção obtida que aumenta a afluência aos entrepostos. Em conseqüência disso, a análise de preços no mercado atacadista de batata exige que se avalie sua estacionalidade anual e também a bianual, pois a maioria das hortaliças possui alta resposta de produção aos preços. A influência dos preços sobre a área plantada e a quantidade produzida é definida pelos economistas como efeito da teoria da teia de aranha. O comportamento da quantidade produzida e preços foram verificados também em estudo que analisou os preços e a quantidade comercializada no Mercado Central de Buenos Aires (MCBA) quando Camargo Filho e Mazzei (1996) 11 avaliaram a biestacionalidade da quantidade e preços naquele mercado atacadista para alho, batata, cebola e tomate. 3 - PRODUÇÃO BRASILEIRA: época e regiões Para avaliar a representatividade regional de safras e estados produtores de batata utilizaram-se informações de dois anos. A produção anual média brasileira de batata, no biênio 3-4, foi de 2.965 mil toneladas por ano, obtida em três épocas de cultivo. Durante o ano as três safras são desenvolvidas concatenadas, sendo que cada região desenvolve dois cultivos predominantes (Tabela 1). A batata é produzida no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do País, o que influencia na conjuntura de mercado, pois há transferência da produção de Minas Gerais e do Paraná mercados atacadistas e fluxo de produção regional no Brasil, 1977-83. São Paulo: IEA, 1986. 79 p. (Relatório de Pesquisa, 9/86). 11 CAMARGO FILHO, W. P. de; MAZZEI, A. R. A produção e os preços de hortaliças no mercosul. Informações Econômicas, São Paulo, v. 26, n. 12, p. 43-58, dez. 1996. para o mercado atacadista de São Paulo, que recebe do próprio Estado, além de quantidade significativa de outros estados. Outros estados do Sul, do Nordeste e do Centro-Oeste consomem suas produções regionalmente, não as enviando a São Paulo. No abastecimento brasileiro, por ordem de importância, aparecem os Estados de Minas Gerais (37%), São Paulo (26%) e Paraná (23%). Esses três estados produzem mais de 86% do total nacional em três safras e participam do a- bastecimento de todas as regiões metropolitanas no Brasil, sendo balizadores na formação de preços. No Sudeste brasileiro, a safra de inverno tem importância estratégica por anteceder a maior safra que é a das águas (colhida de novembro a março). No caso do cultivo de inverno, o plantio é realizado em São Paulo e Minas Gerais; como é estação de poucas chuvas e irregulares o cultivo é realizado com irrigação e as quantidades regionais produzidas dentro do Estado são diferenciadas. A primeira safra de batata, chamada das águas, participou com 46,9% do total em 3-4, com plantio no início do ano agrícola (julho-agosto) e desenvolvimento por toda a primavera. Assim, a colheita pode se estender até março, ou final do verão no Sudeste e Sul brasileiro. A segunda safra, ou da seca, participou com 3,9% do total produzido. O plantio é realizado no primeiro trimestre do ano e pode ser colhido até julho. As Regiões Sul e Sudeste produziram 5% cada uma na safra das águas (primeira safra). Devido ao regime pluviométrico diferenciado, no Nordeste é produzida apenas a segunda safra, que responde por 12,6% do total nacional. O plantio da batata de inverno, ou terceira safra, que é cultivada apenas em São Paulo e Minas Gerais, é realizado no trimestre abril-junho, com a colheita de agosto a outubro. 4 - IMPORTAÇÃO BRASILEIRA DE BATATA A cadeia agroindustrial da batata no setor produtivo possui segmento a montante para o fornecimento de insumos, máquinas e sementes. Possui atividade específica de multiplicação de tubérculo-sementes importadas, visando ao abastecimento das lavouras para produção de batata para consumo.

73 TABELA 1 - Área Cultivada e Produção de Batata, por Região e por Safra, Brasil, 3 e 4 Safra Área (ha) Produção (t) Sudeste (t) Sul (t) Nordeste (t) 3 4 3 4 3 4 3 4 3 4 1ª safra 75.849 72. 1.437.97 1.441.299 726.31 733.451 711.876 77.415 - - 2ª safra 47.972 45.928 925.254 928.78 488.84 5.59 338.28 282.263 95.876 149.936 3ª safra 23.67 2.236 683.842 513.415-513.415 - - - - Total 147.428 138.364 3.47.3 2.883.422 1.214.871 1.747.375 1.5.84 989.678 95.876 149.936 Fonte: IBGE. Levantamento Sistemático da Produção. Rio de Janeiro, set. 4. Em 3, foram importadas 2.126 toneladas de batata-semente. O principal país a- bastecedor do mercado brasileiro foi Holanda (68%), seguido de Chile e Canadá (35%) e o restante ficou distribuído entre outros quatro países europeus e Argentina. As batatas frescas ou refrigeradas são pouco importadas em razão dos aspectos fitossanitários que podem disseminar pragas e doenças na cultura. Em 3, o País importou cerca de 2.73 toneladas do produto procedentes da Argentina, Uruguai e Holanda. Na década de 199, a importação de batata processada (palito e chips) foi a grande concorrente da bataticultura brasileira. Apenas no período 1994-97 (início do Plano Real) a quantidade média importada anualmente foi de 11.15 toneladas, conforme Camargo Filho et al. (1999) 12. Em 3, foram internalizadas no Brasil 76.582 toneladas de batata processada; e até julho de 4 alcançou 49.957 toneladas, ou seja, o equivalente a 65% do ano anterior, evidenciando que o sistema agroindustrial de batata e o governo brasileiro necessitam criar políticas direcionadas à industrialização de tubérculos como forma de agregar valor e proporcionar emprego e renda aos produtores de batata no Brasil. O Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF) do IBGE 13 indicou que na região metropolitana de São Paulo, em 1974/75, consumia-se em domicílio 16,6kg de batata per capita/ano, em 1987/88 caiu para 13,3kg e em 1995/96 para 6,9kg per capita/ano: esses dados, além de mostrar declínio no consumo de tubércu- 12 CAMARGO FILHO, W. P. de et al. Mercado de batata: ações integradas na cadeia produtiva. Informações Econômicas, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 7-23, jan. 1999. 13 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA- TÍSTICA - IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares: consumo alimentar domiciliar per capita. Rio de Janeiro, 1998. 16 p. los in natura em domicílio, mostra a importância crescente das refeições fora do lar e o aumento do consumo de batata processada, palito, purê, cozidas, chips e fritas. 5 - ANÁLISE DE PREÇOS No mercado atacadista de São Paulo, a batata comercializada, lavada ou não-lavada, é classificada por tamanho e separada por variedade e aptidão culinária (frituras ou massas). Predominam tubérculos graúdos aptos ao consumo, sendo que o valor do tubérculo depende desses atributos. As variedades comuns para massas são: Ágata, Caesar, Spunta e aquelas regionais do Sul brasileiro. Esse grupo de cultivares apresenta menor preço, em média, em relação às variedades para fritura. O preço médio desses tubérculos no período 1998-3 foi de R$2,/saco de 5kg e a quantidade média comercializada anualmente foi de 7.476 toneladas. As figuras 1 e 2 apresentam a estacionalidade bianual de preços e quantidades comercializadas no Entreposto Terminal de São Paulo da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (ETSP-CEA- GESP). Observa-se na figura 1 que nos anos com final ímpar os preços do primeiro semestre foram maiores que a média, ao passo que ocorreu o inverso em anos com final par, quando os preços em média foram menores no primeiro semestre. A estacionalidade da quantidade comercializada foi mais acentuada (Figura 2). A batata para fritura tem maior teor de fibras e sólidos solúveis, o que confere melhor qualidade para esse fim. Além disso, tornou-se costume lavar os tubérculos para limpeza e evidenciar a beleza da casca (pele), que não deve ter manchas (resultado de doenças) ou alfinetes

74 15 Preço R$21, sc.5kg Ano par Preço R$19,2 sc.5kg Índice 1 5 Índice de preço Média mensal Figura 1 - Variação Estacional Bianual do Preço de Batata Comum Comercializada no ETSP-CEAGESP, 1998-3. 15 Quantidade 5.739,37/t Quantidade 5.996,62/t Índice 1 5 Índice de quantidade Média mensal Figura 2 - Variação Estacional Bianual de Quantidade de Batata Comum Comercializada no ETSP-CEAGESP, 1998-3. causados por picadas de pragas. Na produção desses tubérculos os bataticultores gastam excessivamente defensivos químicos (agrotóxicos) que podem contaminar o meio ambiente e prejudicar a saúde do consumidor e o patrimônio do produtor. A lavagem dos tubérculos consome água, que é um bem precioso, além de diminuir o tempo de prateleira da mercadoria. As variedades mais freqüentes de batata para fritura são: Bintje, Baraka, Mondial, Monalisa, Omega e Asterix. São mais valorizadas que aquelas para massa ou cozimento. As figuras 3 e 4 ilustram a estacionalidade bianual de preços e quantidade de batata lisa no ETSP-CEAGESP. O preço médio desse tipo de tubérculo no período em análise foi de R$27,63 por saca de 5kg. Observa-se que os preços nos anos com final ímpar foram maiores no primeiro semestre e nos anos com final par houve depressão de preços no bimestre julho-agosto. A quantidade média de batata lisa (beneficiada ou lavada) no ETSP-CEAGESP, no período estudado, foi de 1.812 toneladas por ano. Quanto às quantidades comercializadas observa-se que são díspares, não apresentando padrão estacional (Figura 4). Os preços de batata no segundo semestre de 3 foram baixos e continuaram nesse nível até maio de 4. A partir de junho e até agosto de 4 os preços atingiram preços acima da média histórica, reflexo da retração da área cultivada. 6 - A PRODUÇÃO DA SECA E DE INVERNO EM 5 A tabela 1 mostra a reavaliação da produção de batata em 4, baseada nos dados do IBGE de 3, conforme levantamento desta mesma fonte realizado em junho de 4. O desempenho das safras de batata no ano agrícola 3/4 indicou redução de 8,1% na área de

75 24 Índice 16 12 Preço R$27,1/sc.5kg Ano par Preço R$28,15/sc.5kg 8 4 Índice de preço Média mensal Figura 3 - Variação Estacional Bianual do Preço de Batata Lisa Beneficiada Comercializada no ETSP-CEAGESP, 1998-3. 24 16 Quantidade 982,85t Quantidade 849,8/t Ano par índice 12 8 4 Índice de quantidade Média mensal Figura 4 - Variação Estacional Bianual de Quantidade de Batata Lisa Beneficiada Comercializada no ETSP-CEAGESP, 1998-3. cultivo e 7% da quantidade produzida, relativamente à 2/3. Nas Regiões Sul e Sudeste houve reduções em razão do quadro financeiro obtido em 3. A produção da safra das águas, que geralmente finaliza em março, praticamente mantevese estável. A safra da seca, encerrada em julho de 4, teve redução de 2% relativamente à anterior. A safra de inverno sofreu redução de 28%. No Estado de São Paulo, os municípios de Vargem Grande do Sul e Casa Branca na região de São João da Boa Vista cultivam 7% da batata de inverno do Estado de São Paulo, a segunda maior safra das águas. Enquanto no sudoeste Paulista (Itapetininga e Tatuí), o cultivo principal é o da seca e a safra de inverno é minoritária (cerca de 3. hectares). Essa região já finalizou a colheita da seca de julho e deve colher a safra de inverno no período setembro-dezembro. A região de São João da Boa Vista teve seu cultivo de inverno dividido em dois períodos devido às chuvas. Assim, a primeira parte (cerca de 3%) já iniciou colheita em julho de 4 e a segunda parte, que é maior, deve iniciar colheita ao final de setembro de 4 14. No trimestre maio-julho de 4, ocorreram precipitações pluviométricas em excesso no Nordeste e Sudeste brasileiros. Em seguida, no trimestre agosto-outubro houve forte estiagem no Sudeste e Sul, que preocupou os bataticultores devido à falta de água para irrigação das lavouras e à irregularidade na precipitação pluviométrica na primavera e no verão, com isso a safra de inverno estava atrasada, ao mesmo tempo em que a safra das águas estava em expansão, com esse encontro de safras, o mercado ficou bem abastecido. Dessa maneira, o abastecimento brasileiro no primeiro semestre de 5 deverá ocorrer normalmente com as safras da seca e de inverno. 14 HORTIFRUTI-BRASIL. Piracicaba, v. 3, n. 28, set. 4.

76 7 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES O abastecimento brasileiro depende da produção do Sul e Sudeste, além da batata importada. Os preços no período 1998-4 tiveram relativa estabilidade; no entanto, ocorreu excesso de produção em algumas safras (épocas) devido ao aumento exacerbado da área cultivada e ao uso de nova variedade de batata do grupo comum, de fácil cultivo, que, entretanto, não foi bem aceita pelo consumidor. Além disso, houve excesso de produção desse cultivar, proporcionando baixa de preços, aliada ainda à crise de demanda no mercado de alimentos em 3, causando prejuízos ao setor produtivo e proporcionando retração de área plantada em 4. A área cultivada e a produção para o abastecimento do mercado de batata no Brasil, de março a julho de 5, dependerão do resultado financeiro dos produtores na safra das águas de 4, além disso, os preços aquecidos nas safras da seca e de inverno de 4 poderão estimular o aumento do plantio nas safras correspondentes de 5. Como sugestão cabe lembrar aos bataticultores brasileiros em cada região a necessidade de exigir dos governos federal e estaduais medidas de política agrícola que organizem as safras regionalmente para valorização da economia nacional, definindo a área a ser cultivada, visando produção compatível ao mercado na época que pretende abastecer, e direcionar essa produção à região e depois aos grandes centros consumidores. Além disso, é necessário promover o processamento e classificação dos tubérculos por variedade e tamanho na região de produção, estimular a industrialização da batata brasileira, que são formas de agregação de valor ao produto, inclusive porque há demanda reprimida de batata processada: cozidas, purê, fécula, frita e chips.