Saúde: um direito fundamental

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Transcrição:

Saúde: um direito fundamental Os gargalos da assistência no Brasil, os problemas da gestão do SUS e os equívocos do Programa Mais Médicos Roberto Luiz d Avila Presidente do Conselho Federal de Medicina Brasília, 25 de outubro de 2013.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Será que o Estado Brasileiro por meio das suas diferentes instâncias de gestão tem assegurado aos cidadãos a oferta de um sistema de saúde que observe plenamente as diretrizes e principíos legais?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Várzea Grande - MT João Pessoa - PB

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Brasília - DF Rio de Janeiro - RJ

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Natal - RN Macapá - AP

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Porto Alegre - RS Salvador - BA

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Bom Jesus PB Hospital Salgado Filho - RJ

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Camaçari BA Carangueijos PE

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O que revelam as imagens? Manaquiri - Amazonas Tarauacá - Acre

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL impacto sobre a imagem da gestão Problema crônico A falta de acesso e de qualidade da assistência tem causado impacto negativo na avaliação dos Governos. Governo FHC (Ibope, 1998) 49% da população apontou a Saúde como principal problema do país (CNI-Ibope, 2002) 51% dos brasileiros apontou a Saúde como principal problema do país Governo Lula (Ibope, 2007) 45% dos brasileiros desaprovou programas sociais na saúde (Ibope e Instituto Trata Brasil, 2009) 49% da população apontou a Saúde como principal problema do país Governo Dilma (CNI-Ibope, 2011) 52% da população apontou a Saúde como principal problema do país (Ibope e Instituto Trata Brasil, 2012) 61% da população apontou a Saúde como principal problema do país

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Quais problemas estruturantes têm levado à avaliação negativa? 1) Subfinanciamento do SUS: redução da presença do Estado no custeio da saúde 2) Má gestão: uso inadequado dos recursos disponíveis, falta de estrutura nos serviços oferecidos 3) Ausência de políticas públicas de recursos humanos e de remuneração da rede complementar: tabelas de procedimentos defasadas e falta de estímulo aos profissionais para ingresso e permanência no SUS.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O Estado mínimo na Saúde Despesas com Saúde: Gastos nacionais divididos entre os setores públicos x privados comparados com o PIB em %(2011) Países/Descritor Brasil Canadá França Austrália Espanha Argentina China Despesas totais de saúde 17,9 (% do PIB) 8,9 11,2 11,6 9,0 9,4 8,1 5,2 Despesas privadas de saúde, (% do PIB) 4,8 3,3 2,7 2,8 2,5 3,2 2,3 Despesas públicas de saúde, (% do PIB) 4,1 7,9 8,9 6,2 7,0 4,9 2,9 Despesas públicas de saúde (% do total de despesas em saúde) 45,7 70,4 76,7 68,5 73,6 60,6 55,9 Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O Estado mínimo na Saúde Despesas do Brasil com Saúde no setor público por entes federados Em R$ bilhão corrente 17,9 Fontes: SPO/MS, SIPOS e SIAFI / Câmara dos Deputados

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Execução do orçamento do Ministério da Saúde (2001-2012) com base na dotação autorizada e valores pagos e residuais (Valores constantes IGP-DI/FGV) R$ em bilhões Ano Dotação Autorizada TOTAL PAGO* TOTAL PAGO - Dotação Autorizada 2001 64,6 57,2-7,4 2002 62,6 57,7-4,9 2003 53,1 49,4-3,7 2004 59,5 52,5-7,0 2005 63,1 52,4-10,7 2006 66,7 59,2-7,5 2007 72,9 63,4-9,5 2008 70,1 62,3-7,8 2009 78,1 69,1-9,0 2010 80,3 75,7-4,6 2011 85,7 77,8-8,0 2012 95,9 82,6-13,3 TOTAL 852,7 759,2-93,6 Fonte: SIAFI ** Inclui os restos a pagar pagos

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Ranking de investimentos da União (obras, compra de materiais e equipamentos) por Ministérios, entre janeiro e agosto/2013 R$ 29,1 bilhões foram investidos pela União. R$ 24,2 estão representados no gráfico. Fonte: SIAFI Inclui os restos a pagar pagos

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Distribuição de leitos hospitalares por Estado (2010-2013) Quase 13 mil leitos foram desativados na rede pública de saúde desde janeiro de 2010. No mesmo período, no entanto, a quantidade de leitos privados e aqueles destinados aos beneficiários de planos de saúde aumentou de 142.260 para 155.698, um acréscimo de 13.438.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Valores pagos pelo SUS aos hospitais conveniados (por procedimento), segundo levantamento de 2012? Fonte: Fehosp/CMB

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Valores pagos pelo SUS aos hospitais conveniados (por procedimento), segundo levantamento de 2012? Fonte: Fehosp/CMB

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Mau uso dos recursos disponíveis Má distribuição da rede de serviços pelo país: onde faltam médicos, também faltam dentistas, enfermeiros, hospitais, postos de saúde... As lacunas na cobertura assistencial decorrem, em parte, da carência da capacidade instalada e ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em geral, a concentração de médicos e outros profissionais da saúde acompanham o porte e o agrupamento regional da produção e da renda. -Os 38 municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes, por exemplo, concentram 48% dos postos de médicos, 36% dos dentistas, 44% dos enfermeiros, 40% dos técnicos de enfermagem e 49% dos auxiliares de enfermagem. - Os quatro estados do Sudeste, juntos, contabilizam 38% das UBS, dos hospitais gerais e dos hospitais especializados do país. Não por acaso, concentram também 56% dos médicos brasileiros.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL O impacto sobre o cidadão Não é apenas é a razão de médicos por habitantes que reflete na qualidade da assistência e nos indicadores de saúde O financiamento do setor é fundamental para obtenção de melhores resultados. Os países com melhor performance na razão médico/habitante - como Alemanha, França, Espanha, Uruguai, Argentina e Inglaterra possuem forte participação do Estado no financiamento. Os quadros a seguir comparam a situação do Brasil com outras nações, de diferentes perfis socioeconômicos, mas que mantém similaridades.

Demografia médica: a crise do Sistema Único de Saúde e a a simplificação dos problemas da saúde na ótica da gestão

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL A simplificação do problema - Para reduzir as críticas da população e o impacto negativo da crise na saúde para a imagem do Governo, os gestores buscaram o caminho da simplificação: fecharam os olhos à complexidade da assistência e reduziram o problema à máxima de que faltam médicos no país. - O Mais Médicos surge como a pseudo-solução para a falta de assistência, mas com poucas ações efetivas para preencher a lacuna da ausência de políticas públicas estruturantes, sem as quais o futuro do SUS estará comprometido. - Os principais nós residem na falta de infraestrutura física, de políticas de trabalho eficientes para médicos e outros profissionais da saúde, e, principalmente, em um financiamento limitado, que não permite novos investimentos e nem a absorção de novas demandas da sociedade.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL A simplificação do problema Entre os problemas que afetam o funcionamento do SUS estão pontos relacionados ao trabalho médico: - Concentração dos profissionais nas áreas mais desenvolvidas (capitais e litoral); - Dificuldade de fixação dos profissionais em zonas de difícil provimento (interior do Nordeste, Norte e periferias de grandes centros); -Desestímulodeingresso na rede pública; -Faltadeinvestimento em infraestrutura e políticas de recursos humanos. O Governo assegura que há falta generalizada de médicos no país: mas será que isso é verdade?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL A simplificação do problema Crescimento exponencial do contingente de médicos - O crescimento do número de médicos é maior que o a da população em geral - Em 1970, o país contava com 59 mil médicos; em 2011, tinha 372 mil (salto de 530%) - No mesmo período a população brasileira cresceu 105% Evolução da taxa de crescimento da população brasileira, da população de médicos e da razão médico/habitante, 1980 a 2010 Brasil, 2011

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL A simplificação do problema No contexto mundial, o Brasil... É o 5º país do mundo em número absoluto de médicos - à frente de 188 países. Os médicos brasileiros representam 4% da população médica mundial e 19% dos médicos de todas as Américas. Com a densidade de 1,95 médicos/1.000 habitantes, o país está acima da razão do planeta, de 1,4 médicos/1.000 habitantes. A OMS projetou a provável escassez de médicos no mundo para o ano de 2015, e concluiu que em 45 países faltarão médicos. O Brasil juntamente com EUA, Canadá e outros países das Américas e Europa não foi incluído neste grupo que, em 2015, terá número insuficiente de médicos. Os países sem médicos são quase sempre aqueles que têm maior taxa de mortalidade infantil e materna, menor expectativa de vida ao nascer e outros péssimos indicadores de saúde (o que não é o caso do Brasil).

Programa Mais Médicos Os equívocos da proposta nas perspectivas legal, orçamentária, técnica e do direito humano

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco? Sim. A reprovação dos intercambistas em exames de revalidação do diploma expõe a população atendida a médicos que não comprovaram possuir conhecimentos, preparo e competência para o exercício da Medicina no país. Resultados do Revalida 2011 e 2012 Fonte: INEP/MEC

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco? Revalida 2013 Na primeira fase, 1440 candidatos foram reprovados. Neste total, há 66 intercambistas do Mais Médicos (já em atividade no Brasil), identificados pela imprensa até o momento. IMPORTANTE RESSALTAR QUE: No Brasil, o currículo das escolas médicas prioriza a formação de médicos para responderem às diferentes necessidades da população: desde uma simples consulta até um atendimento de urgência, como emergências cardíacas, comuns nos prontossocorros. Oferecer indivíduo com perfil distinto é iludir os moradores das áreas mais carentes, pois se houver um caso grave esse médico de segunda linha terá dificuldades em agir, podendo, inclusive, causar até danos maiores.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 2- A entrada de médicos estrangeiros sem critérios coloca a assistência em situação de risco?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 3 - A exigência de revalidação do diploma de medicina é exclusividade do Brasil? Não. A exigência de revalidação é um processo que ocorre na maioria dos países como forma de assegurar à população que o profissional que chega ao país possui a formação mínima necessária para atender em consultórios e hospitais. África do Sul - Há avaliação sobre conhecimentos de ciências clínicas, saúde pública, ética e língua. Exigência de registro no serviço público (categoria clínico geral) por um período mínimo de cinco anos como praticante para requerer registro na categoria independente. Canadá - Avaliação teórica sobre conhecimentos básicos, língua (inglês ou francês), legislação e regras deontológicas. Prova prática, estágio de três meses em um hospital universitário Chile - Existe avaliação teórica com prova escrita, distribuída em 7 áreas temáticas, e prova prática, com casos reais ou simulados, distribuídos em quatro especialidades (cirurgia, obstetrícia, ginecologia e pediatria). Estados Unidos - É preciso passar num teste chamado United States Medical Licensing Examination. Aqueles que estudam fora podem escolher se fazem os exames durante o curso, direto do país onde estão, ou depois, quando se mudarem para os Estados Unidos. Inglaterra - Exigida aprovação numa prova chamada Professional and Linguistic Assessment Board Test, que avalia conhecimentos linguísticos e médicos. O candidato deve comprovar suas habilidades de diagnóstico e de comunicação com os pacientes.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 4. A importação de médicos resolveu definitivamente o problema de acesso à assistência em outros países? Não. Na Venezuela e na Bolívia, países que passaram por processos semelhantes, ainda persiste a desigualdade no acesso. A entrada sem critérios de médicos cubanos nestes países causou sérios prejuízos ao atendimento da população e à atuação dos profissionais nacionais. Inclusive, diretores da Organização Mundial da Saúde (OMS) manifestaram-se sobre o tema afirmando que a importação de médicosnãodeveservistacomopanacéiaenemserumaaçãode longoprazo. Descobrimos que esses jovens médicos cubanos não tinham treinamento suficiente e que o trabalho era muito mais político, de sensibilização do público e de propaganda do governo. Em todo esse tempo, as brigadas cubanas tiveram grandes problemas, porque muitos deles usavam este método de entrada no país para, depois, escapar da missão e ir para outros países, principalmente para os Estados Unidos. (...) O trabalho dos médicos cubanos tem sido tão desacreditado, ao ponto das pessoas pararem de procurá-los, retornando a buscar apenas os médicos bolivianos. Trecho de relato de Anibal Antonio Cruz Senzano, vice-presidente da Confemel (Região Andina) e secretário-geral do Colégio Médico de Cochabamba novembro de 2012

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL A simplificação do problema 5 - A entrada de médicos estrangeiros sem critérios fixará os profissionais nas áreas de difícil provimento? Não. Qualquer médico (brasileiro ou estrangeiro) depende de políticas públicas ue incentivem sua fixação e permanência em áreas de difícil provimento. Sem uma carreira de Estado, que exige que o Governo assegure condições de trabalho, perspectivas de progressão, educação continuada e remuneração compatível, esses movimentos nunca se completarão de forma a atender as necessidades da população. O comportamento dos médicos estrangeiros com diploma já revalidado mostra que eles seguem a mesma tendência da maioria. PERFIL DO ESTRANGEIRO REVALIDADO EM ATIVIDADE NO PAÍS Há 7.284 médicos (1,87 % dos registros) com este perfil no país; Nos Estados de SP, RJ e MG estão 44,22% dos médicos estrangeiros revalidados (16,3% residem na cidade de São Paulo); Eles são mais jovens que formados aqui (43 anos média); 65% são brasileiros, ou seja, se formaram em escolas estrangeiras; Os demais são de 53 nacionalidades. Maioria vem da América Latina Bolívia (12,9%); Peru (5,9%); Colômbia (3,8%); Cuba (3,1%) e Argentina (2,3%). Fonte: Demografia Médica no Brasil, Vol.2

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 6 - A entrada de médicos estrangeiros sem critérios traz equidade à população brasileira? Não. Trata-se de um Programa que estimula a desigualdade ao criar castas de médicos e pacientes. No caso dos cidadãos, são de segunda linha os que que moram nas periferias ou no interior e estão em situação de vulnerabilidade social ficam expostos ao atendimento de médicos sem revalidação. Por outro lado, a população esclarecida e de maior poder será atendida apenas por médicos que cumpriram as exigências da lei. Essa ilegalidade é ressaltada em setença da Justiça Federal do Acre determinou que os municípios de Porto Acre, Acrelândia, Feijó e Manoel Urbano afastassem médicos estrangeiros contratados sem diplomas revalidados. Os profissionais foram contratados com base em um compromisso dos municípios com Ministério Público Estadual, em suprir a falta de médicos na região. A seguir, um trecho da sentença.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 6 - A entrada de médicos estrangeiros sem critérios traz equidade à população brasileira?

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 7 O Programa Mais Médicos pode causar prejuízos para os cofres públicos? A Nota Técnica nº 26/2013, da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados analisou a Medida Provisória 621/13 e, dentre outros aspectos, apontou que o programa infringe a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. - Ao criar despesas sem apontar novas fontes de financiamento; - Ao prever a transferência de recursos a entidades privadas; - Por não apresentar uma estimativa de cálculo do impacto orçamentário do programa.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 7 O Programa Mais Médicos pode causar prejuízos para os cofres públicos? O VOLUME DE GASTOS DEVE SER DUAS VEZES MAIOR QUE A PREVISÃO INICIAL A "bolsa-formação" para remunerar os médicos cubanos não está isenta do recolhimento das contribuições previdenciárias. As alíquotas do INSS são de 11% (pelos contratados) e de 20% (pelo contratante). Para o governo, a despesa mensal subiu de R$ 10 mil para R$ 12 mil por médico, sobre recairão todos os encargos sociais (FGTS, seguro acidente do trabalho, salário-educação, descanso semanal remunerado, férias, abono, aviso prévio e outros) que somam 102,43% do salário. É isso que diz a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O gasto previsto para contratar 4 mil médicos cubanos pulou de R$ 511 milhões para R$ 1 bilhão (só para essas despesas). Não estão nessa conta gastos com transporte e acomodação ou adicionais por insalubridade e periculosidade. Essa estimativa é do professor José Pastore.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 8 O Programa Mais Médicos, conforme concebido, fere direitos trabalhistas e garantias individuais? Atualmente, há quatro representações contra o Governo com denúncias de ilegalidades no processo de contratação do médicos brasileiros e estrangeiros dentro do Programa Mais Médicos. Há processos em andamento no Ministério Público Federal, no Ministério Público do Trabalho, no Supremo Tribunal Federal e junto às Organizações Mundial da Saúde e Internacional do Trabalho. NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO De acordo com relatório do MPT, há fortes indícios de que o formato do programa Mais Médicos apresenta várias irregularidades. Numa análise preliminar, é apontado o desvirtuamento de uma autêntica relação de trabalho. O MPT ponderou no sentido de fazer ajustes no programa, sobretudo no caráter de prestação de serviço. A solicitação é de que a remuneração seja feita em forma de salário e não de bolsa. No caso dos cubanos, pede-se que os repasses sejam integrais.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 8 O Programa Mais Médicos, conforme concebido, fere direitos trabalhistas e garantias individuais? JUNTO AOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS O CFM apresentou denúncia formal junto à OMS e à OIT na qual aponta ilegalidades, como: Desobediência aos termos do Código Global de Prática para Recrutamento Internacional de Profissionais da Saúde da OMS, do qual o Brasil é signatário (documento foi aprovado na 63ª Assembleia Mundial de Saúde, em 21 de maio de 2010); Camuflagem do processo de contratação de mão-de-obra para atuar no atendimento direto aos pacientes travestindo-o como um suposto programa de ensino médico; Montagem de esquema de intermediação/exploração de mão-de-obra estabelecido no contrato firmado entre o Ministério da Saúde e a Opas, que receberá 5% (cinco por cento) de todo os salários dos médicos cubanos, sem justificativa ou previsão legal para tanto;

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 9 No Programa Mais Médicos, há profissionais que estão expostos a situações de desrespeito aos seus direitos humanos? Trechos do relato de Anibal Antonio Cruz Senzano, vice-presidente da Confemel (Região Andina) e secretário-geral do Colégio Médico de Cochabamba, sobre a experiência dos médicos cubanos na Bolívia novembro de 2012 Descobrimos que esses jovens médicos cubanos não tinham treinamento suficiente e que o trabalho era muito mais político, de sensibilização do público e de propaganda do governo. Em todo esse tempo, as brigadas cubanas tiveram grandes problemas, porque muitos deles usavam este método de entrada no país para, depois, escapar da missão e ir para outros países, principalmente para os Estados Unidos. Além disso, muitos deles se casaram na Bolívia, pretendendo assim deixar o regime cubano. Surgiram muitas denúncias de negligência que causaram danos à saúde da população. O trabalho dos médicos cubanos tem sido tão desacreditado, ao ponto das pessoas pararem de procurá-los, retornando a buscar apenas os médicos bolivianos. Hoje não temos um relatório preciso do número de médicos cubanos aqui na Bolívia e não há registro dos lugares onde eles estão trabalhando. Tudo não passou de uma campanha política e não um verdadeiro ato de apoio à Bolívia.

SAÚDE: UM DIREITO FUNDAMENTAL Os equívocos do Mais Médicos 9 No Programa Mais Médicos, há profissionais que estão expostos a situações de desrespeito aos seus direitos humanos? De acordo com depoimentos de autoridades médicas da Bolívia e Venezuela, os intercambistas costumam ser submetidos um Reglamento Disciplinário em suas missões. O texto divulgado ofende de forma clara a nossa atual Constituição. A partir deste documento, os médicos cubanos devem observar várias regras que contrariam os Direitos Fundamentais previstos na Carta Magna brasileira. São impedidos, por exemplo, de expressoes opiniões acerca de Cuba; não podem sair de casa após as 18 horas; não podem namorar e firmar relações com outras pessoas, especialmente àquelas que deixaram Cuba, e veda expressamente a possibilidade de trabalhar com o intuito de auferir lucro ou benefício (capítulo V, alínea a ). Não é crível que o Estado Brasileiro que é signatário de diversos tratados internacionais para a tutela dos Direitos Humanos, inclusive para a erradicação do trabalho escravo, admita essa situação, inclusive com a retenção de parte dos recursos percebidos para posterior remessa para Cuba. Até o momento, é desconhecido o acordo OPAS/Cuba sobre as regras a que estão submetidos os médicos cubanos no Brasil.

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