O sistema nervoso é o meio que possibilita a rápida comunicação entre o cérebro e os



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17 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O sistema nervoso é o meio que possibilita a rápida comunicação entre o cérebro e os diferentes tecidos e órgãos do corpo. (ROBERGS e ROBERTS, 2002, p. 77). Anatomicamente, o sistema nervoso inclui o sistema nervoso central (SNC), composto pelo encéfalo e medula espinhal, e o periférico, que é formado por rede ramificada de nervos que cobrem todos os tecidos do corpo. Um nervo periférico contém fibras nervosas aferentes, que transmitem informações sensoriais para o SNC, e eferentes, que transmitem os sinais originados no SNC para a periferia (GUYTON, 1988). Do ponto de vista funcional, o sistema nervoso pode ser dividido em controle involuntário ou voluntário (ROBERGS e ROBERTS, 2002). O controle involuntário do corpo, ou sistema nervoso autônomo (SNA), é composto de duas subdivisões que o nosso corpo usa para regular as funções das células, tecidos e órgãos o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso parassimpático (SNP) (ROBERGS e

18 ROBERTS, 2002). Estes sistemas em geral atuam de forma antagônica, mas não independente, colaborando e trabalhando harmonicamente para a manutenção da constância do meio interno (LOURES et al., 2002). O SNA é ativado sobretudo por centros localizados na medula espinhal, no tronco cerebral, no hipotálamo e porções do córtex cerebral. Também opera freqüentemente por meio de reflexos viscerais, ou seja, sinais sensoriais que através dos gânglios autonômicos desses centros, provocam respostas reflexas reguladoras aos órgãos efetores (LOURES et al., 2002). O sistema vascular e a respiração, especificamente, são controlados, principalmente, por áreas da substância reticular do bulbo raquidiano e da protuberância (GUYTON, 1988). As diferenças básicas entre o SNS e o SNP são a distribuição anatômica distinta das fibras nervosas, os efeitos quase sempre antagônicos e as diferentes substâncias transmissoras hormonais, secretadas pelas terminações neurais desses dois componentes (GUYTON, 1988). Os nervos periféricos simpáticos, junto com os nervos espinhais, têm origem nos segmentos torácicos e nos dois primeiros segmentos lombares da medula espinhal. As fibras simpáticas deixam a medula pelas raízes anteriores do nervo espinhal e se ligam às cadeias simpáticas, uma a cada lado da coluna vertebral, de onde se distribuem por todo o corpo. A maioria das terminações simpáticas secreta noradrenalina, que exerce os diversos efeitos simpáticos sobre o corpo. São funções simpáticas: controlar o grau de vasoconstrição da pele (o que permite controlar a perda de calor), controle da intensidade da sudorese pelas glândulas sudoríparas, controle da freqüência cardíaca (FC), controle da pressão sangüínea arterial, inibição das secreções e dos movimentos gastrintestinais e aumento do metabolismo na maior parte das células do corpo (GUYTON, 1988). O SNP tem origem em diversos nervos cranianos e, também, em segmentos sacrais da medula espinhal. Entretanto, suas fibras se originam principalmente no décimo par de nervos cranianos, que é o nervo vago, por isso os fisiologistas freqüentemente se referem ao tônus

19 parassimpático como tônus vagal. As fibras parassimpáticas nos nervos vago e glossofaríngeo controlam a FC, a secreção salivar, a secreção gástrica, a secreção pancreática e muitas das contrações da parte superior do tubo gastrintestinal; as fibras parassimpáticas no nervo oculomotor controlam a focalização dos olhos e a dilatação das pupilas; e as fibras parassimpáticas de origem sacral, controlam o esvaziamento da bexiga e do reto. Todas as terminações parassimpáticas secretam acetilcolina (GUYTON, 1988). Os impulsos, normalmente, são transmitidos de forma contínua por todas as fibras do SNS e SNP, constituindo o tônus simpático e parassimpático. Devido a esse tônus continuado, os vasos sangüíneos estão sempre parcialmente contraídos, de modo que as fibras simpáticas os podem fazer contrair ainda mais ou podem fazer com que se dilatem, em função, respectivamente, do aumento e da diminuição da estimulação. Esse princípio é aplicável tanto ao SNS quanto ao SNP e é responsável por alto grau de eficiência, bem maior do que seria possível de outro modo (GUYTON, 1988). ROBERGS e ROBERTS (2002, p. 148), explicam o mecanismo da regulação cardíaca pelo SNA: A freqüência de contrações cardíacas (freqüência cardíaca) é controlada por alterações neurais e hormonais à descarga intrínseca do nodo sinusal (nodo SA) do coração. A inervação parassimpática faz com que esse tecido nervoso torne-se hiperpolarizado, retardando assim a ocorrência do potencial limiar necessário para propagar um potencial de ação, causando uma taxa mais lenta de descarga e uma freqüência cardíaca mais lenta. Por outro lado, a estimulação simpática causada pela secreção neural de noradrenalina ou pela estimulação hormonal pela noradrenalina e adrenalina circulantes aumenta a permeabilidade da membrana ao sódio, reduzindo o tempo para atingir o potencial limiar e aumentando a freqüência de descarga do potencial de ação. A estimulação simpática também aumenta a excitabilidade do nodo atrioventricular (nodo AV), resultando em um atraso menor na propagação do potencial de ação através do nodo AV e para o miocárdio ventricular. Normalmente, a atividade cardíaca é reduzida pelo SNP durante o repouso, para que o coração descanse, conservando suas reservas; sem esses períodos de repouso, o coração

20 ficaria esgotado muito antes do que acontece normalmente (GUYTON, 1988). A estimulação simpática sobre o coração é necessária quando a pessoa é submetida a situações estressantes, como exercício, doença, calor excessivo e outras condições que exigem um fluxo sangüíneo muito rápido pelo sistema circulatório. A atuação simpática sobre o coração é um mecanismo de reserva, para fazer com que o coração contraia com extremo vigor, sempre que necessário (GUYTON, 1988). 2.2 VARIABILIDADE DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA A variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) corresponde às oscilações do tempo entre os batimentos cardíacos, e é um indicador da ação do SNA sobre o coração. A relevância clínica da VFC foi reconhecida pela primeira vez em 1965 quando Hon e Lee notaram que distress fetal era precedido de alterações nos intervalos entre os batimentos antes de qualquer mudança apreciável ocorrer na própria FC (TASK FORCE, 1996). Em 1981, Akselrod et al. introduziram a análise espectral para avaliar quantitativamente o controle cardiovascular batimento a batimento, contribuindo para o entendimento do comportamento autonômico nas flutuações dos intervalos R-R no registro da FC (PAGANI et al.; POMERANZ et al., apud TASK FORCE, 1996). No final da década de 80 confirmou-se que a VFC era um forte e independente preditor de mortalidade após um infarto agudo do miocárdio (KLEIGER et al., apud TASK

21 FORCE, 1996). Hoje sabe-se que a diminuição da VFC, como exclusivo fator de risco, envolve um surpreendente espectro de desordens com implicações na mortalidade in-útero e no período de infância até à mortalidade geriátrica; desde o cancro a doenças cardiovasculares passando pelas desordens auto-imunes e de origem comportamental; também as infecções por HIV/AIDS até a adição de drogas e delinqüência juvenil. Nenhum outro fator de risco por si só esteve tão implicado de forma tão convincente e em um tão vasto conjunto de condições (DARDIK, 2006). A VFC também pode ser influenciada por condições não patológicas, como atividade física e diferentes padrões respiratórios. (BERNARDI et al.; SANDERSON et al., apud BERNARDI et al., 2000). A simples atividade mental e verbal é a capaz de afetar a VFC, através da mudança na freqüência respiratória (BERNARDI et al., 2000). A VFC também é sensível ao stress e à mudança de posição corporal (DARDIK, 2006; TASK FORCE, 1996). As modulações do tônus simpático e parassimpático do SNA agem sobre o nodo SA, alterando o comportamento da FC (TASK FORCE, 1996). O aumento da atividade parassimpática diminui a FC, pela liberação da acetilcolina. O aumento da atividade simpática eleva a FC, pela liberação de noradrenalina (BERNE e LEVY, apud LIMA e KISS, 1999). A acetilcolina, liberada nos terminais nervosos vagais, é removida tão rapidamente que ocorrem variações rítmicas na FC. Inversamente, a noradrenalina, liberada pelos terminais simpáticos, é removida lentamente e por isso não é capaz de provocar oscilações rítmicas da FC (LIMA e KISS, 1999). Então, a VFC é atribuída quase inteiramente às oscilações da atividade parassimpática (BERNE e LEVY, apud LIMA e KISS, 1999), sendo assim um indicador da atividade vagal sobre o coração (EKBERG; FOUAD et al., apud LIMA e KISS, 1999). A atividade das fibras simpáticas para o coração aumenta durante a inspiração,

22 enquanto a atividade das fibras vagais aumenta na expiração (LIMA e KISS, 1999). Em indivíduos saudáveis, em repouso, os intervalos R-R são bastante irregulares, sobretudo pela predominância vagal na modulação cardíaca (NAKAMURA et al., 2005). Com o exercício e o aumento da FC, os intervalos R-R tendem a diminuir, inicialmente mais pela retirada vagal, e depois pelo aumento da atividade simpática (GALLO et al., apud ALONSO et al., 1998). A amplitude de variação da VFC de repouso varia conforme a idade e o estado de treinamento (TULPPO et al., apud LIMA e KISS, 1999). De acordo com Dardik (2006), parece que a VFC é um marcador dinâmico e cumulativo relativo à carga (stress): Marcador Dinâmico de Carga: a VFC parece ser sensível e receptiva ao stress agudo. Em condições laboratoriais, a carga mental incluindo a tomada de decisões complexas e tarefas de discursar em público têm demonstrado baixar a VFC. Marcador de Desgaste Cumulativo: foi demonstrado que a VFC declina com o avanço da idade. Há uma retirada vagal a longo prazo resultante da sobreatividade do sistema simpático. Contrastando, tem sido demonstrado que a atividade física praticada regularmente aumenta a VFC, presumivelmente devido ao fato de aumentar o tônus vagal (MEDEIROS et al. apud NAKAMURA et al., 2005). A prática regular de exercícios respiratórios também já demonstrou diminuir a atividade simpática ou aumentar o tônus vagal (BHARGAVA et al., 1988; TELLES et al., 1994). Jahnke (2006), afirma que a ativação parassimpática pode ser consciente, através da respiração lenta e profunda, combinada com a intenção de relaxar.

23 2.2.1 Análise da Variabilidade da Freqüência Cardíaca As variações da FC podem ser analisadas de inúmeras formas, tanto no domínio da freqüência, como no domínio do tempo (TASK FORCE, 1996). No domínio da freqüência, a análise espectral da FC, através do eletrocardiograma (ECG), utiliza principalmente dois componentes, HF -alta freqüência- (0.15-0.50 Hz), que está associado à atividade vagal e LF -baixa freqüência- (0.05-0.15 Hz), associado à atividade simpática (RAGHURAJ et al., 1998). A razão LF/HF representa o equilíbrio autônomico, porém, deve ser associada a uma análise da respiração, pois a diminuição da freqüência respiratória pode aumentar o componente LF, imitando uma ativação simpática (BERNARDI et al., 2000). A plotagem de Poincaré avalia o comportamento da FC no domínio do tempo e é utilizada pelo cardiofreqüencímetro Polar, modelo S810i, para o cálculo da VFC. Nessa técnica, cada intervalo R-R é plotado em gráfico cartesiano em função do intervalo R-R anterior, ajustam-se os pontos a uma reta e calcula-se o desvio padrão a (STDA), que expressa a tendência do conjunto de intervalos R-R analisados; o desvio padrão b (STDB), expressa a variabilidade instantânea dos intervalos R-R sem influência de tendências (LIMA e KISS, 1999; NAKAMURA et al., 2005). O STDB é uma medida que remove a tendência de redução dos intervalos R-R inerente à elevação da FC (LIMA e KISS, 1999). De acordo com as especificações do cardiofreqüencímetro Polar, modelo S810i, este monitor detecta a distância em milisegundos, entre a onda R de um batimento e a onda R do próximo, com o objetivo de contruir um dispersograma ou permitir a análise espectral no domínio do tempo do comportamento cardíaco do usuário, permitindo o estudo da VFC (PROXIMUS, 2006).

24 2.3 YOGA E PRANAYAMA A história do Yoga está indissoluvelmente ligada à história da Índia e surge paralelamente ao hinduísmo, há aproximadamente seis mil anos. O primeiro yogi provavelmente tenha sido tomado pela sede de conhecer-se, no mais profundo e absoluto sentido da palavra, buscando um estado de não condicionamento, também conhecido por samadhi. Essa vontade nasce do inconformismo, da sede de transcender a miséria existencial inerente a todo ser humano, e de eliminar os intermédios entre si próprio e o sagrado. (KUPFER, 2006b). Yoga significa união; a união do corpo com a mente e da mente com a alma (IYENGAR, 2001a). A milenar obra hindu Hatha Yoga Pradipika, diz que o Yoga é pranavrtti-nirodha acalmar as flutuações da respiração. O Yoga Sutras de Patanjali (aforismos sobre Yoga) afirma que Yoga é chitta-vrtti-nirodha acalmar as flutuações da mente. Não há absolutamente diferença entre eles; ao controlar a respiração, você está controlando a consciência e, ao controlar a consciência, você dá ritmo à respiração (IYENGAR, 2001a). Prana é energia; ayama é a expansão dessa energia. Iyengar (2001a, p. 179) descreve o prana: Energia cósmica, energia individual, energia sexual, energia intelectual: todas essas são prana. O prana é universal. Permeia o indivíduo como também o universo, em todos os níveis. Tudo que vibra é prana: calor, luz, gravidade, magnetismo, vigor, poder, vitalidade, vida, eletricidade, respiração, espírito todos são formas de prana. Prana é o eixo da roda da vida. Todos os seres nascem e vivem por meio dele e, quando morrem, sua respiração individual se dissolve no seio da respiração cósmica. É potente em todos os seres e o motor primeiro de toda atividade. Pranayama é o controle perfeito da energia vital por meio da respiração. O ar é a

25 manifestação externa do prana. O hábito de respirar corretamente deve ser estabilizado pela prática regular de pranayama. Na maioria das pessoas a respiração é irregular. Se alguém pode controlar o prana, pode controlar as forças do universo. O yogi também pode controlar a presença da manifestação onipresente, de onde todas as coisas têm origem, considerando magnetismo, eletricidade, gravitação, coesão, correntes nervosas, forças vitais ou vibrações mentais, de fato todas as forças do universo, físicas e mentais (SIVANANDA, 1997). Um yogi, através do pranayama, pode, em alguns estágios, controlar funções ditas involuntárias do seu corpo e finalmente, controlar manifestações do prana até mesmo fora do seu corpo (BIJLANI, apud SUBBALAKSHMI et al.,2005). O termo pranayama designa os exercícios respiratórios do Yoga. O pranayama possui um efeito muito poderoso sobre a fisiologia e o sistema respiratório. Entretanto, a verdadeira finalidade do pranayama é controlar as flutuações do pensamento (KUPFER, 2006a). Em termos fisiológicos, pranayama é a prática voluntária do controle da respiração, e consiste na consciente inalação, retenção e exalação do ar (JERATH et al., 2006). Inalação é uma ativa expansão do tórax pela qual os pulmões são inflados com ar fresco. Exalação é um recolhimento normal e passivo do tórax, pelo qual o ar viciado é exalado e os pulmões esvaziados. Retenção é uma pausa ao final de cada inalação e/ou exalação (IYENGAR, 2003). A respiração pode ser alta ou respiração clavicular, onde os músculos relevantes no pescoço ativam principalmente as partes altas dos pulmões; intercostal ou respiração média, onde apenas as partes centrais dos pulmões são ativadas; baixa ou respiração diafragmática, onde as porções mais baixas dos pulmões são ativadas principalmente, enquanto as porções alta e central permanecem menos ativas (é a respiração que adotamos durante o sono); e respiração completa, onde toda a área pulmonar é utilizada na sua máxima capacidade (IYENGAR, 2003). Pranayama pode assumir padrões de respiração muito complexos, mas a essência da

26 prática é a respiração lenta e profunda (SUBBALAKSHMI et al., 2005). Em virtude de fazer parte dos três planos - fisiológico, psíquico e prânico -, a respiração é um dos atos mais importantes de vida. É por seu intermédio que logra-se acesso a todos eles. Por outro lado, ela é o único processo fisiológico duplamente voluntário e involuntário. Se quisermos, podemos acelerar, retardar, parar e recomeçar o ritmo respiratório. É possível fazê-la mais profunda ou superficial. A respiração é a porta de entrada para o reino proibido do SNA (HERMÓGENES, 2006). 2.3.1 Fisiologia da respiração Para entender porque as práticas respiratórias podem ser tão transformadoras, é importante saber um pouco sobre a fisiologia da respiração. A respiração é um processo complexo que envolve três diferentes estágios. O primeiro estágio move oxigênio para dentro do corpo, atravessando as membranas pulmonares e chegando à corrente sangüínea. Ao mesmo tempo em que o oxigênio passa dos alvéolos pulmonares para a corrente sangüínea, o dióxido de carbono, um resíduo produzido pelo processo metabólico, se move em direção oposta e é expelido do corpo pela exalação. As células vermelhas do sangue carregam oxigênio fresco através do sistema circulatório, preparando o corpo para o segundo estágio da respiração, onde as moléculas de oxigênio atravessam as membranas das células vermelhas em direção a todas as outras células do corpo, para que ocorra o terceiro estágio, a respiração intracelular. Nesse estágio, as células fazem uso do oxigênio para crescer, reparar e replicar, ou em outras palavras para manutenção da vida (LASATER, 2006).

27 2.3.2 Respiração completa do Yoga A respiração completa utiliza toda a capacidade pulmonar. Normalmente, utiliza-se apenas um terço dos pulmões, não promovendo a saúde e a energia que se teria se a respiração fosse realizada com o órgão todo (HERMÓGENES, 2006). A respiração completa envolve a base, a parte média e o ápice pulmonar, seguindo três fases. O ar deve encher os pulmões de baixo para cima, começando passivamente pela região abdominal, sem contração ou dilatação voluntária do baixo ventre. A partir de então, o processo deve ser dirigido. Agora, voluntariamente atuando com os músculos respiratórios, o praticante vai fazer o pulmão trabalhar em sua total capacidade, utilizando a respiração intercostal (alargamento da caixa torácica) e clavicular. Na exalação, o processo é inverso, o praticante deve esvaziar os pulmões de cima para baixo. Ao final da expiração, o abdômen deve estar recuado e a massa pulmonar, sem qualquer ar. Normalmente, o iniciante apresenta dificuldades para fazer a respiração voluntária, pois a musculatura é frágil, ou ainda, talvez o indivíduo nem saiba como recrutar estes músculos. Por esse motivo, os asanas, ou posturas psico-físicas do Yoga, preparam o corpo e a mente para a respiração completa.

28 2.4 EFEITOS DA PRÁTICA DE YOGA E PRANAYAMA A prática de Yoga é um legado da cultura indiana à humanidade. Há milênios os yogis já sabiam, pela observação experimental, sobre o funcionamento do corpo e os efeitos fisiológicos de suas práticas. Apenas recentemente os ocidentais começaram a entender seu vasto potencial e benefícios à saúde (MAHAJAN e BABBAR, 2003). A meta do Yoga é aquietar a mente, buscar um estado meditativo pleno. Os benefícios físicos seriam como a conseqüência de uma busca maior; contudo corpo e mente estão intimamente relacionados, uma vez que a saúde integral depende do equilíbrio entre estas duas instâncias. Mais do que nunca, sabemos que aquilo que pensamos tem efeito direto sobre nossas células; assim como desordens no corpo físico afetam nossa qualidade mental. Quando existe a perfeita harmonia entre corpo e mente, atingimos a auto realização. Os obstáculos para se atingir esse fim se fazem presentes na indisposição fisica e mental. Quando nossa condição física não é perfeita, isso causa um desequilíbrio no nosso estado mental; [...] a prática de Yoga ajuda-nos a superar esse desequilíbrio. As posturas (asanas) do Yoga podem curar transtornos físicos e a instabilidade do corpo. A respiração irregular -indicativa de stress- é aliviada pela prática de pranayama (IYENGAR, 2001b, p. 10). A prática regular de alongamentos, torções, flexões, e inversões movimentos básicos dos asanas fortalecem ossos, músculos, massageiam as vísceras, ativam as glândulas, mobilizam e liberam as articulações, favorecendo a circulação e a respiração e aumentando a energia (IYENGAR, 2001b). A prática de asanas e pranayamas melhora o fluxo sangüíneo para todas as células do corpo, revitalizando as células nervosas. Este fluxo fortalece o sistema nervoso e sua capacidade de resistir ao stress (IYENGAR, 2001b).

29 O pranayama nos proporciona uma alternativa de alívio verdadeiro para os problemas de ansiedade, angústia e outras enfermidades de nosso sistema nervoso e circulatório (PONCE, 2000). Um praticante de pranayama não apenas respira, mas ao mesmo tempo, coloca sua atenção no ato de respirar, induzindo à concentração e afastando as preocupações causadoras do stress e confusão mental. Normalmente a utilização do oxigênio não é suficiente para aliviar o stress e o desgaste da vida moderna. A ciência do pranayama ensina como reduzir o ritmo da respiração e do coração, incrementando ao mesmo tempo, a quantidade de oxigênio que entra nos pulmões. Quando há diminuição do ritmo respiratório, também diminui o ritmo metabólico do corpo. As células descansam e acontece o verdadeiro relaxamento, atenuando assim, a carga de trabalho do sistema simpático e conservando-se energia. A mente se mantém alerta para regular o ritmo respiratório. A parte frontal do cérebro, o sítio da atividade intelectual, descansa, produzindo um completo relaxamento neurofisiológico. O descanso que se produz com uma boa prática de pranayama equivale a quatro horas de sono (PONCE, 2000). Pranayama é reconhecido por melhorar a função pulmonar e o perfil cardiovascular e reduzir o consumo de oxigênio por unidade de trabalho. Por reduzir os fatores de risco associados com doença cardiovascular, tem demonstrado que não é apenas terapêutico, mas também preventivo (BIJLANI et al.; YARDI apud JERATH et al., 2006). Pranayama demonstrou melhorar a plasticidade neural e alterar o processo de informação, fazendo deste um possível tratamento para desordens psicológicas e stress ou melhorando o perfil psicológico (HARINATH et al.; BROWN e GERBARG apud JERATH et al., 2006). Uma grande melhora no QI e adaptação social foi observada em crianças com retardo

30 mental após um treino de Yoga incluindo pranayama (UMA et al. apud JERATH et al., 2006). Sudarshan Krya Yoga, que inclui pranayama, tem sido usado como uma intervenção de saúde pública para o tratamento pós-traumático do stress e doenças relacionadas a este, depressão, abuso de substâncias e reabilitação de criminosos, pela sua habilidade em melhorar o bem-estar, humor, atenção, foco mental e tolerância ao stress. Em conjunto com outras técnicas do Yoga, pranayama tem demonstrado diminuir os sintomas da síndrome do intestino irritado através de um aumento da atividade parassimpática do trato gastrointestinal e reduzindo os efeitos do stress (BROWN e GERBARG; TANEJA et al. apud JERATH et al., 2006). Pranayama tem sido mencionado como um possível tratamento para os sintomas da epilepsia e tem demonstrado melhorar a plasticidade do controle motor, indicando que pode ter aplicabilidade em programas de reabilitação (TELLES et al. apud JERATH et al., 2006). A inibição do SNS tem demonstrado melhorar a imunidade em várias formas de meditação (COLLINS e DUNN; DAVIDSON et al. apud JERATH et al., 2006). Uma vez que pranayama é conhecido por diminuir a dominância simpática do SNA, é provável que este tenha efeitos benéficos sobre o sistema imunológico similares à meditação (VELKUMARY e MADANMOHAN; BHARGAVA et al. apud JERATH et al., 2006). Efeitos a curto prazo da prática de pranayamas lentos, incluem diminuição no consumo de oxigênio, diminuição da FC e pressão sangüínea e aumento da amplitude de ondas theta, registradas no eletroencéfalograma (EEG) (AUSTIN apud JERATH et al., 2006). A diminuição da freqüência respiratória pode melhorar a sincronia das ondas cerebrais e ativar as ondas delta (BUSEK e KEMLINK apud JERATH et al., 2006). Este aumento da amplitude theta e ondas delta, é indicativo de um estado parassimpático (JERATH et al., 2006). Existem quatro principais tipos de ondas cerebrais que correspondem a diferentes

31 estados de consciência, e podem ser detectadas pelo EEG: beta (atividade), alpha (relaxamento), theta (meditação) e delta (sono) (MEGABRAIN, 2006). Bernardi et al. (2001), demonstraram que a prática yogi de vocalizar mantras (sons sagrados), diminui a taxa respiratória a aproximadamente seis vezes por minuto, sincronizando com uma flutuação natural da pressão sangüínea, conhecida como ondas de Mayer. Em 1876, Mayer descreveu este ciclo de dez segundos, que se acredita estar relacionado às atividades vagais e simpáticas, geradas por um sistema oscilante do SNC na medula ou possivelmente pela interação da resposta simpática barorreflexa e da resposta vagal às mudanças respiratórias na pressão sangüínea (BROWN e GERBARG, 2006). A sincronia da respiração com o inerente ritmo cardiovascular, equilibra o SNS e o SNP, e aumenta a VFC e a sensibilidade barorreflexa (BERNARDI et al., 2001). A freqüência respiratória de um indivíduo normal é de catorze a dezoito respirações por minuto; de um indivíduo cansado, aproximadamente trinta; e a de um atleta, entre oito e nove respirações por minuto (DUARTE, 2006). Uma baixa taxa respiratória (seis vezes por minuto) tem geralmente efeitos favoráveis nas funções cardiovasculares e respiratórias e aumenta a arritmia respiratória sinusal (ARS), o barorreflexo arterial, oxigenação do sangue e a tolerância ao exercício (BERNARDI et al.,1998, 2001). Em falhas cardíacas crônicas, reduz a sensibilidade exagerada do quimiorreflexo respiratório e regulariza a respiração. A respiração lenta deve reduzir os efeitos deletérios da isquemia miocárdia, além de proporcionar serenidade e bem-estar (FRIEDMAN e COATS apud BERNARDI et al., 2001). Estes efeitos resultam, ao menos em parte, da sincronia entre os ritmos centrais respiratórios e cardiovasculares e são mediados, provavelmente, pela modulação da atividade autonômica tanto no nível central, quanto periférico (BERNARDI et al., 2001).

32 De acordo com Jerath et al. (2006), existem vários mecanismos químicos e nãoquímicos que podem ser a explicação para os efeitos fisiológicos decorrentes da prática de pranayama. Estes autores formularam a hipótese de que existe um mecanismo do pranayama em nível celular que integra respiração e resposta parassimpática. Pranayamas de ritmo lento geram sinais inibitórios e corrente hiperpolarizada pelos tecidos neurais e não-neurais através do alongamento mecânico dos tecidos durante a inspiração e retenção do ar. Esses impulsos inibitórios em cooperação com a corrente hiperpolarizada inicia a sincronização dos elementos neurais no SNC, sistema nervoso periférico e tecidos circundantes, finalmente modificando o equilíbrio autonômico em direção a uma dominância parassimpática. Já foi sugerido que o pranayama equilibra o SNA através de sinais inibitórios induzidos pelo alongamento dos músculos abdominais (especificamente o diafragma) e até terminações nervosas no nariz (AUSTIN apud JERATH et al., 2006). Apesar de muitos estudos mostrarem que pranayama é uma técnica benéfica, existem alguns estudos que indicam possíveis riscos especialmente associados com exercícios respiratórios de ritmo rápido (JERATH et al., 2006). Se feita inapropriadamente, a respiração rápida pode causar hiperventilação e pode hiperativar o SNS, o que pode estressar o corpo (TELLES et al., 1996). Pneumotórax já foi atribuído à técnica de pranayama conhecida como kapalabhati (alta freqüência respiratória) em um estudo de caso (JOHNSON et al. apud JERATH et al., 2006). Alguns estudos demonstraram que a respiração profunda similar ao pranayama de ritmo lento pode agitar sintomas de hiperatividade bronquial. Atividade parassimpática induzida pela respiração profunda está correlacionada com hiperatividade bronquial em asmáticos (KALLENBACH et al. apud JERATH et al., 2006). De acordo com Iyengar (2001b), pranayama não é respiração profunda. A respiração

33 profunda tensiona os músculos faciais, torna o crânio e o couro cabeludo rígidos, contrai o peito e aplica força externa para inalar e exalar. Isso enrijece as fibras do pulmão e do peito, impedindo o fluxo livre de prana pelo corpo. No pranayama, as células do cérebro e os músculos faciais permanecem relaxados e receptivos, e a respiração é suave, sem movimentos bruscos. O praticante fica consciente da expansão gradual dos órgãos respiratórios, e sente a respiração alcançando as partes mais remotas dos pulmões (IYENGAR, 2001b). É evidente que a terminologia gera discordância quanto ao real significado da palavra profunda, uma vez que muitos autores descrevem a respiração pranaiâmica como lenta e profunda, caracterizando uma respiração completa, que atinge toda superfície pulmonar. Segundo Bijlani, um padrão respiratório lento e profundo é econômico porque reduz o espaço morto anatômico e leva ar fresco por toda área pulmonar, em contraste com uma respiração superficial, que refresca apenas parte dos pulmões (BIJLANI apud SUBBALAKSHMI et al., 2005). Quando Iyengar (2001b), diz que pranayama não é respiração profunda, provavelmente quer dizer que a respiração não é forçada, porém suave e completa, assim como afirma Hermógenes (2006), quando diz que não se deve entender a respiração voluntária como uma respiração forçada a ponto de quase arrebentar com a exagerada pressão interna causada pela superventilação, o que só tem acarretado distúrbios nervosos e pulmonares. Suavidade é uma das características marcantes de todo exercício yogi, completa Hermógenes. Os riscos associados à prática de pranayama possivelmente estão relacionados com a falta de experiência do praticante. De acordo com o Yoga Sutras de Patanjali, o pranayama deve ser introduzido somente após o total domínio dos asanas, quando o corpo já está mais firme e livre de tensões, e o prana pode circular livremente sem esforço. Contudo, para Ponce (2000), renomado professor de Yoga chileno, técnicas simples, noções de pranayama, podem

34 ser ensinadas inclusive aos principiantes. Os quadros que seguem sintetizam os benefícios fisiológicos, psicológicos e bioquímicos, respectivamente, da prática de Yoga e pranayama. O quadro quatro apresenta uma comparação da prática de Yoga com a prática de um exercício convencional.

35 Estabiliza o equilíbrio do SNA, com uma tendência do domínio parassimpático, diferindo da usual dominância simpática induzida por situações estressantes. Diminui a FC Diminui a taxa respiratória Diminui a pressão sangüínea Aumenta a resistência galvânica da pele (GSR) Aumenta as ondas theta e delta do EEG Aumenta a eficiência cardiovascular Aumenta a eficiência respiratória Normaliza a função gastrointestinal Normaliza a função endócrina Melhora a função de excreção Aumenta a flexibilidade articular e músculo-esquelética Melhora a postura Aumenta a força e a resistência Aumenta o nível de energia Estabiliza o peso Melhora a qualidade do sono Aumenta a imunidade Diminui a dor Quadro 1 Benefícios fisiológicos da prática de Yoga e pranayama. Fonte: Lamb, 2006a.

36 Aumenta a consciência geral do indivíduo Melhora o humor e a sensação de bem-estar Melhora a auto-aceitação e auto-confiança Melhora as relações sociais Diminui a ansiedade e a depressão Diminui a hostilidade Melhora as funções psico-motoras: destreza e habilidades finas, coordenação entre olhos e mãos, tempo de reação para decidir, sensatez, percepção da morte, equilíbrio, integração dos movimentos corporais. Melhora as funções cognitivas: atenção, concentração, memória, eficiência de aprendizado. Quadro 2 Benefícios psicológicos da prática de Yoga e pranayama. Fonte: Lamb, 2006a.. O perfil bioquímico melhora, indicando um efeito anti-stress e antioxidante, importantes na prevenção de doenças degenerativas e envelhecimento precoce. Diminui os níveis de glicose, sódio, triglicerídios, colesterol LDL, catecolaminas. Aumenta os níveis de colesterol HDL, hormônios colinérgicos, ATPases, hematócritos, hemoglobinas, linfócitos, tiroxina, oxitocina, prolactina e os níveis de oxigênio no cérebro. Quadro 3 Benefícios bioquímicos da prática de Yoga e pranayama. Fonte: Lamb, 2006a.

37 YOGA Domínio do SNP Domínio das regiões sub-corticais do cérebro Movimentos dinâmicos e estáticos lentos Estabilização do tônus muscular Baixo risco de dano muscular e ligamentar Baixo consumo calórico Esforço minimizado, relaxamento Energizante ( a respiração é regular) Atividade equilibrada de toda a musculatura Não-competitivo, orientação no processo Consciência interna (o foco é na respiração e no auto-conhecimento) Infinitas possibilidades de crescimento pessoal EXERCÍCIO Domínio do SNS Domínio das regiões corticais do cérebro Movimentos rápidos e forçados Aumento da tensão muscular Risco maior de dano muscular e ligamentar Moderado a alto consumo calórico Esforço é maximizado Fatigante (o coração é sobrecarregado) Uso repetitivo das mesmas áreas musculares Competitivo, orientação no objetivo Consciência externa (o foco é alcançar a linha de chegada etc.) Fator frustante (por não obter um resultado desejável) Quadro 4 Comparação da prática de Yoga com a prática de um exercício convencional. Fonte: Lamb, 2006a.

38 2.5 RESPIRAÇÃO UNILATERAL Há muito existem técnicas de pranayama que envolvem respiração exclusiva por uma das narinas, ou respiração unilateral. Estas técnicas influenciam a atividade autonômica diferentemente de acordo com a narina utilizada. No Yoga acredita-se que existem canais energéticos no corpo, por onde circula a energia vital, ou prana. Os três principais canais, ou nadis, são ida, pingala e susumna. No plano fisiológico, pingala corresponde ao SNS; ida, ao SNP; e susumna, ao SNC. (IYENGAR, 2001a, p. 188). De acordo com a sabedoria yogi, o equilíbrio das nadis ida e pingala, leva ao despertar da energia kundalini (contraparte estática do prana), que ascende por susumna. Em termos fisiológicos, o equilíbrio dos sistemas simpático e parassimpático, leva ao perfeito funcionamento do SNC, promovendo a saúde plena do indivíduo. O sol é o produtor de energia, e pingala é conhecido pelos yogis como surya-nadi, o canal do sol. Começa no plexo solar. Ida é chandra-nadi, o canal da lua, e se origina no cérebro. A frieza atribuída à ida na Hatha Yoga Pradipika é explicada, pela ciência médica moderna, em virtude de sua ligação com o hipotálamo, que é o centro responsável pela manutenção da temperatura estável do corpo. Assim, o hipotálamo é o plexo lunar, do qual desce ida, assim como pingala ascende de sua base no plexo solar (IYENGAR, 2001a, p. 188). Nos antigos textos indianos de Yoga, descreve-se o fluxo de ar pelas narinas sob a forma de energia, chamado de swara. Quando a respiração flui pela narina direita, circula por surya-nadi e quando flui pela narina esquerda, circula por chandra-nadi (RAGHURAJ e TELLES, 2003). Porém, enquanto permanecerem impurezas nas nadis ida e pingala, o prana não poderá entrar no canal central, susumna. Desta forma, o yogi não conseguirá alcançar o estado

39 de samadhi (HOMEM, 2006). Em termos fisiológicos, enquanto não houver equilíbrio entre o SNS e o SNP, o ser humano não atingirá a saúde perfeita. Na técnica conhecida por surya anuloma viloma pranayama (SAV), a inspiração e a expiração são feitas somente pela narina direita; já no chandra anuloma viloma pranayama (CAV), a respiração é feita pela narina esquerda. Estas técnicas, assim como a respiração por narinas alternadas (nadisodhana), são capazes de purificar as nadis ida e pingala, equilibrando o SNA, se utilizadas e executadas apropriadamente. O swara é polarizado: pela narina direita passa a corrente positiva (Há) e pela narina esquerda, a corrente negativa (Tha). Há representa o calor e Tha representa o frio. Enquanto SAV aquece, CAV resfria o corpo (IYENGAR, 2003). Os antigos yogis já explicavam como swara muda em intervalos regulares e mencionavam que certas atividades deveriam ser realizadas de acordo com a dominância do fluxo de ar por ida ou pingala. Quando o ar circula por ida, o indivíduo deveria realizar atividades passivas, como cultivar a terra ou se dedicar às práticas devocionais. Quando o ar circula por pingala, deveriam ser realizadas atividades mais enérgicas, como escalar montanhas, controlar um elefante ou um cavalo. Quando o ar circula por susumna, qualquer atividade deveria ser evitada (SHIVA SWARODAYA apud RAGHURAJ & TELLES, 2003). Atualmente, sabe-se que a mucosa nasal é um dos tecidos mais abundantemente inervados pelas fibras simpáticas e parassimpáticas do SNA. Grande fluxo de ar ou descongestionamento em uma narina é regulado pela dominância da atividade simpática na mucosa nasal deste lado. Congestionamento ou fluxo de ar diminuído na outra narina é mantido pela dominância parassimpática. Este ciclo perdura por uma média de duas a três horas, e então alterna-se a dominância nasal (RICHARDS, 2006). Das fossas nasais, a que mais freqüentemente funciona mal é a esquerda, por onde se

40 faz a inspiração da corrente negativa Tha. "Certos biologistas contemporâneos consideram precisamente como uma das causas e igualmente um dos principais sintomas do envelhecimento, a insuficiência de ionização negativa nos fenômenos humanos. (KERNEIZ apud HERMÓGENES, 2006). Muitos autores já propuseram que o ciclo nasal é parte de um ritmo fisiológico geral, conhecido como Ciclo Básico de Repouso-Atividade (BRAC). A dominância da narina esquerda estaria associada com a fase de repouso do BRAC, enquanto a dominância da narina direita estaria associada com a fase ativa do BRAC (FRYE e DOTY, 2006). A fase de repouso, por sua vez, está associada à atividade parassimpática ou à fase anabólica do metabolismo, enquanto a fase ativa está associada à atividade simpática ou à fase catabólica do metabolismo (JAHNKE, 2006). Mohan (1996), observou que a atividade simpática era menor durante a dominância da narina esquerda, do que na direita. 2.6 PRANAYAMA E CONTROLE AUTONÔMICO Em virtude da dificuldade do mundo ocidental em entender e aceitar o conceito de prana ou energia vital, existe uma forte tendência em explicar os efeitos do Yoga através dos mecanismos do sistema nervoso (JAHNKE, 2006). A prática de exercícios respiratórios, como pranayamas, é conhecida por alterar a função autonômica, promovendo mudanças na atividade simpática e parassimpática

41 (VELKUMARY e MADANMOHAN, 2004). Tanto efeitos da prática de pranayamas a curto ou longo prazo indicam uma alteração dinâmica do sistema autônomo (JERATH et al., 2006). Diferentes formas de pranayama provocam diferentes e algumas vezes opostas reações nos sujeitos (JERATH et al., 2006). Variáveis como qual narina está sendo utilizada, velocidade da respiração, períodos de retenção do ar e tempo de prática, provocam diferentes efeitos fisiológicos no praticante. A prática dos pranayamas pode ser energizante, equilibradora ou relaxante (FERRAZ, 2006). Algumas técnicas de pranayama demonstraram melhorar as funções autonômicas por uma diminuição da atividade simpática ou pelo aumento do tônus vagal (TELLES, 1994). Outras aumentam a atividade simpática ou diminuem a parassimpática (RAI e RAM; TELLES e DESIRAJU apud VELKUMARY e MADANMOHAN, 2004). Já foi demonstrado que kapalabhati pranayama, ou respiração de ritmo rápido, aumenta o tônus simpático ou diminui o parassimpático (RAGHURAJ et al., 1998). Velkumary e Madanmohan (2004), não encontraram diferenças significativas na FC basal, após três meses de prática de kapalabhati, presumindo que não houve mudança no tônus parassimpático. Pranayamas de ritmo lento demonstram uma forte tendência a melhorar ou balancear o funcionamento do SNA, através da ativação parassimpática (JERATH et al., 2006). Entretanto, pranayamas de ritmo lento, caracterizados por curtos períodos de retenção do ar (22,2% do ciclo respiratório), demonstraram aumentar o consumo de oxigênio (e a taxa metabólica), indicativo de ativação simpática; enquanto pranayamas de ritmo lento, caracterizados por períodos longos de retenção do ar (50,4% do ciclo respiratório), diminuíram o consumo de oxigênio (TELLES e DESIRAJU, 1991). Song e Lehrer apud Jovanov (2006), relataram que uma freqüência respiratória de

42 quatro respirações por minuto produzia as maiores amplitudes na VFC, enquanto que freqüências ainda menores (três respirações por minuto) geravam amplitudes mais baixas. Velkumary & Madanmohan (2004), observaram um aumento da atividade parassimpática e diminuição simpática, após três meses de prática de pranayamas de ritmo lento por narinas alternadas (nadisodhana pranayama), com períodos de retenção que correspondiam a 33,3% do ciclo respiratório. Raghuraj et al. apud Subbalakshmi et al. (2005), também reportaram que nadisodhana pranayama aumenta a atividade parassimpática. Friedell, em 1948, observou os efeitos de nadisodhana em onze pacientes com angina; todos os pacientes sentiram alívio nos sintomas e puderam descontinuar o uso de nitroglicerina após a prática contínua da respiração por narinas alternadas (SHANNAHOFF- KHALSA e KENNEDY, 1993). Shannahoff-Khalsa e Kennedy (1993), sugerem que nadisodhana tem um efeito balanceador sobre o controle autonômico do coração. Subbalakshmi et al. (2005), investigaram os efeitos imediatos da prática de vinte minutos de nadisodhana pranayama, com períodos mínimos de retenção (um a dois segundos). Os resultados revelaram que esta técnica rapidamente altera as respostas cardiovasculares, diminuindo a FC e a pressão sistólica, evidenciando um melhor controle parassimpático do coração. O tempo para resolução de problemas aritméticos simples também diminuiu, sugerindo uma melhor capacidade para lidar com situações estressantes. Existem fortes evidências de que a respiração unilateral pela narina direita aumenta o tônus simpático geral do corpo (SHANNAHOFF-KHALSA e KENNEDY, 1993). Telles et al. (1996), encontraram que SAV aumenta a atividade simpática em diferentes subdivisões de inervação do SNS. Stancak et al.; Raghuraj et al. apud Velkumary e Madanmohan (2004), observaram

43 que SAV aumenta o tônus simpático ou diminui o parassimpático. Telles et al. (1994), demonstraram que SAV, CAV ou nadisodhana pranayama, aumentam a taxa basal de consumo de oxigênio indicativa da descarga simpática da medula adrenal. Contudo, esse aumento só foi significativo para SAV. Contraditoriamente, CAV demonstrou aumentar a GSR, interpretada como uma redução na atividade simpática. Jain et al. (2005), não encontraram diferenças marcantes entre os efeitos da respiração unilateral pela narina direita (RND) e pela narina esquerda (RNE), entretanto relatam haver uma dominância da atividade parassimpática provocada pelos dois padrões respiratórios. Atualmente, além da respiração unilateral do Yoga, os cientistas começaram a utilizar a respiração unilateral forçada (RUF) para investigar o comportamento do SNA (RAGHURAJ e TELLES, 2003). Os efeitos da RUF sobre as funções autonômicas já demonstraram ser similares aos efeitos da respiração unilateral do Yoga (SHANNAHOFF-KHALSA; TELLES et al. apud NAVEEN et al., 1997). Alguns estudos têm descrito os efeitos da RUF na atividade autonômica, identificando ou não, as diferenças entre gêneros. Um estudo descreveu que, especialmente em homens, a pressão intraocular cai significativamente durante a RUF tanto pela narina direita, quanto pela esquerda, enquanto nas mulheres as mudanças não são conclusivas. Os autores sugeriram que este efeito (que indica dominância do SNS), pode estar relacionado com o fato dos homens apresentarem maior atividade simpática, enquanto nas mulheres o estrogênio está associado com inibição do SNS (KOÇER et al., apud RAGHURAJ & TELLES, 2003). Dane et al. apud Raghuraj e Telles (2003), reportaram que a RUF por qualquer narina aumentava significativamente a pressão sangüínea sistólica em homens e a FC em ambos os sexos, indicando dominância simpática.

44 Alguns autores têm afirmado que a RUF pela narina direita causa vagotomia funcional e a RUF pela narina esquerda causa simpaticotomia (BACKON et al. apud RAGHURAJ e TELLES, 2003). Backon et al. apud Raghuraj e Telles (2003), encontraram uma vagotomia funcional induzida por RUF pela narina direita, diminuindo a pressão intraocular em pacientes com glaucoma aberto e fechado, independente do sexo. Beckon et al. apud Shannahoff-Khalsa e Kennedy (1993), também investigaram sujeitos normais e encontraram diminuição da pressão intraocular durante RUF pela narina direita e aumento durante a RUF pela narina esquerda. Realizaram-se experimentos para investigar os possíveis efeitos da alteração do ciclo natural de dominância nasal, no padrão de atividade do EEG nos dois hemisférios cerebrais, utilizando-se a RUF (RICHARDS, 2006). Werntz et al. (1987), relataram que a RUF produz um relativo aumento na amplitude do EEG no hemisfério cerebral contralateral, tanto pela narina descongestionada, quanto pela narina congestionada, evidenciando a possibilidade de um tratamento não-invasivo para psicopatologias onde a disfunção cerebral lateralizada tem demonstrado ocorrer. Esquizofrenia está associada com disfunção no hemisfério cerebral esquerdo; a depressão e outras desordens afetivas estão associadas com disfunção no hemisfério direito. Casos de mudanças agudas de personalidade também são acompanhados por uma imediata mudança da dominância nasal (RICHARDS, 2006). Block et al. (1989), investigaram como a RUF influencia a performance espacial e verbal, e encontraram respostas diferentes para homens e mulheres destros. Homens têm uma melhora na performance espacial durante a respiração forçada pela narina direita, e uma melhor performance verbal quando respiram pela narina esquerda. Já as mulheres tiveram apenas melhora da performance espacial, durante a respiração forçada pela narina esquerda.

45 Os autores sugerem que as diferenças dentro e entre os sexos devem existir porque a respiração unilateral ativa diferentemente os dois hemisférios cerebrais, e portanto, facilita a performance, ou porque a tentativa do cérebro em controlar o ciclo nasal interfere unilateralmente com a performance. Raghuraj e Telles (2003), sugerem mais pesquisas para investigar até onde os efeitos da respiração unilateral são gênero-específicos ou não. Na maioria das pessoas o hemisfério cerebral esquerdo é dominante para a linguagem. Em condições atípicas, canhotos podem revelar uma dominância do hemisfério direito para a linguagem (CAUSEOF, 2006). Jella e Shannahoff-Khalsa apud Subbalakshmi et al. (2005), obtiveram resultados que validam a informação acima: a RUF pela narina esquerda induz a uma dominância do hemisfério direito do cérebro e melhora as habilidades espaciais, enquanto a RUF pela narina direita induz uma dominância do hemisfério esquerdo e habilidade verbal melhorada. Backon apud Shannahoff-Khalsa e Kennedy (1993), demonstraram que a RUF pela narina direita aumentava significativamente a glicose sangüínea, enquanto a RUF pela narina esquerda diminuía. Sabe-se que a estimulação simpática provoca rápida degradação do glicogênio, liberando glicose para o sangue (GUYTON, 1988). Shannahoff-Khalsa e Kennedy (1993), investigaram os efeitos da RUF sobre o coração, utilizando freqüência respiratória lenta (seis respirações por minuto) e rápida (duas a três respirações por segundo). Os resultados demonstraram que a RUF pela narina direita aumenta a FC, enquanto a RUF pela narina esquerda diminui a FC, seguindo o padrão respiratório lento e independente da dominância nasal. O experimento com freqüência respiratória rápida também indica um aumento da FC maior durante a RUF pela narina direita, se comparado à RUF pela narina esquerda.

46 2.7 PRANAYAMA E VARIABILIDADE DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA Raghuraj et al. (1998), investigaram os efeitos imediatos de nadisodhana pranayama na VFC, através da análise espectral, e não encontraram mudanças significativas após a prática. Jovanov (2006), observou a resposta da VFC durante a prática de dez ciclos de nadisodhana pranayama com a freqüência de uma respiração por minuto, sendo dez segundos para inalação, vinte segundos para retenção com pulmões cheios, vinte segundos para exalação e dez segundos para retenção com os pulmões vazios. Os resultados revelaram um decréscimo significativo na média dos intervalos R-R de 959.3 para 904.1m/s durante a prática; e após esta, a média aumentou significativamente para 998.98m/s. A taxa respiratória após o exercício caiu para 4.3 respirações por minuto, comparada às 5.5 respirações por minuto antes do início do teste. A razão LF/HF praticamente não mudou durante o exercício, mas aumentou significativamente após este. Também houve aumento significante na ARS, após o exercício se comparada ao estado inicial. De acordo com Jovanov (2006), a freqüência do componente ARS recai sobre o componente de alta freqüência (HF) da VFC para uma taxa respiratória de mais de nove respirações por minuto. Taxas respiratórias mais lentas geram picos de potência no componente de baixa freqüência (LF) da VFC. Na análise de Jovanov (2006), antes do exercício o componente espectral dominante era o LF (70% da potência total da VFC), o que é considerado normal, pois o sistema simpático-vagal modula a FC dentro de uma banda de freqüência que varia de 0,1Hz a 0.4Hz, independente do estado clínico dos indivíduos; durante o exercício, o componente VLF

47 (muito baixa freqüência) dominava com 80%, devido, segundo o autor, a freqüência respiratória muito baixa; e depois do exercício volta a dominar o componente LF (88%). A potência do componente HF diminuiu significativamente durante o exercício e se manteve baixa após este, porém um pouco maior que durante o exercício. A média da FC aumentou durante o exercício e voltou a baixar após este. Apesar das mudanças significativas nos seus componentes (VLF, LF e HF), a potência total da VFC não mudou significativamente durante e após o exercício. O autor explica que a principal razão para este fato é que mudanças dramáticas da FC durante a inalação e a exalação são seguidas de períodos relativamente quietos durante a retenção com os pulmões cheios e início da exalação. Jovanov (2006), dividiu as fases da respiração de acordo com as mudanças na FC e VFC: 1. Inalação (0 a 12 segundos): 1.a. Inalação abdominal (0 a 5,5 segundos) estimula o nervo vago e rapidamente altera a FC; 1.b. Inalação torácica e clavicular (5,5 a 12 segundos) envolve esforço adicional; explosão simpática e aumento da FC. Sem esta fase a FC cairia exponencialmente até o início da próxima fase. 2. Retenção com pulmões cheios (12 a 30 segundos) produz apenas pequenas variações na VFC, principalmente na banda LF. A média da FC nesta fase é de aproximadamente 55bpm. 3. Exalação (30 a 50 segundos): 3.a. Exalação clavicular seguida por exalação torácica (30 a 43 segundos) estas fases são muito similares à fase 2 descrita acima; 3.b. Exalação abdominal (43 a 50 segundos) gera rápido