AS RODAS DE LEITURA COMO EXPERIÊNCIA SIGNIFICATIVA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR

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Transcrição:

AS RODAS DE LEITURA COMO EXPERIÊNCIA SIGNIFICATIVA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR Resumo Letícia Queiroz de Carvalho Instituto Federal do Espírito Santo Vitória/ES Soraya Ferreira Pompermayer mestranda Profletras Ifes Vitória /ES O presente trabalho objetiva apresentar análises parciais de uma pesquisa em andamento que busca compreender se as rodas de leitura contribuem para a formação do leitor e propiciam experiências significativas com o texto literário. As reflexões apresentadas nesse texto são oriundas da aplicação de um projeto alocado no terreno das práticas da leitura, cujo foco incidiu sobre a inserção, no ambiente escolar, das chamadas Rodas de Leitura ou círculo de leitura, ancorado por teorias contemporâneas da literatura, da leitura e nos conceitos de narração e experiência em Walter Benjamin. É uma pesquisa qualitativa, com observação participante. Realizada com 10 (dez) alunos do 5º ano do ensino fundamental I, do turno vespertino, em uma escola pública estadual, localizada na Barra do Jucu, município de Vila Velha, região metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo. Ao todo foram 6 (seis) rodas de leitura, sendo que em três delas houve a participação de escritores capixabas como leitores-guia, com a duração de 1h30 minutos cada. Foram aplicados questionários individuais, os caderninhos de perguntas e resposta, a fim de colher informações sobre o perfil dos participantes, sua vivência quanto à leitura, quantidade de livros lidos, tipos de leitura que mais agrada e expectativas sobre o projeto, além da utilização de entrevistas semiestruturadas com os outros sujeitos envolvidos: a professora da turma e o gestor da escola. Ao final de cada roda, o aluno participante produziu um texto narrando a sua experiência durante a mesma. Alguns dados obtidos com estas reflexões, geradas na dinâmica das práticas, são considerados capazes de subsidiar um trabalho mais profícuo para o fomento à formação do leitor. PALAVRAS-CHAVE: Roda de leitura. Experiência. Formação do leitor. INTRODUÇÃO Este trabalho situa-se no campo das investigações sobre a leitura no Brasil, detendo-se sobre a questão do incentivo e da formação de leitores literários. Para Cagliari (1994, p. 25), "o objetivo fundamental da escola é desenvolver a leitura para que o aluno se saia bem em todas as disciplinas, pois se ele for um bom leitor, a escola cumpriu em grande parte a sua tarefa". No entanto, em se tratando de leitura, o Brasil ocupa uma das últimas posições. A situação é crítica. O último levantamento do Programa de Avaliação Internacional de estudos (PISA), de 2006, considerado o mais importante do mundo em educação e realizado a cada três anos comprova isso (Juchum, 2006). Na média, os estudantes brasileiros conseguem apenas localizar informações ou reconhecer temas de um texto. Levando em consideração esse contexto, alguns questionamentos despertam atenção: De que modo o espaço denominado rodas de leitura é motivador 4656

2 para outras leituras? Qual a relação entre essa estratégia e a formação do leitor do texto literário? O objetivo geral da pesquisa foi investigar se as rodas de leitura propiciam experiências significativas com o texto literário e contribuem para formar o leitor do texto literário. Para tanto, optamos por uma pesquisa qualitativa com observação participante. Num primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico, a partir de publicações e artigos científicos que oferecessem a contribuição de diferentes autores para a fundamentação teórica e análise do tema. Posteriormente, deu-se início às oficinas/rodas. Foram aplicados questionários individuais, os caderninhos de perguntas e respostas, a fim de colher informações sobre o perfil dos participantes, sua vivência quanto à leitura, quantidade de livros lidos, tipos de leitura que mais agrada e expectativas sobre o projeto, além da utilização de entrevistas semiestruturadas com os outros sujeitos envolvidos: a professora da turma e o gestor da escola. Ao final de cada roda, o aluno participante produziu um texto, um relato sobre sua experiência durante a mesma. O Projeto Vem pra Roda Optamos por trabalhar com uma turma de 5º ano do ensino fundamental I, no turno vespertino, na biblioteca da escola e na sala de informática. Foram realizadas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Marcílio Dias, situada no bairro Barra do Jucu, no município de Vila Velha/ES, seis oficinas com um grupo de dez alunos, com faixa etária entre 10 e 11 anos, sendo que em três delas houve a participação de escritores capixabas como leitores-guia, com a duração de 1h30 minutos cada. O Projeto tem como atividade central as rodas de leitura, momentos em que os participantes se reúnem para ler e comentar as leituras feitas, sob a coordenação de um orientador, o chamado leitor-guia. As atividades de escuta e leitura são seguidas de observações e comentários dos participantes sobre o autor, o material lido, as relações deste com outras obras e com a realidade etc. Essas atividades estão organizadas, de forma a desenvolver habilidades de leitura antes, durante e depois da leitura (SOLÉ, 1998), orientadas pela concepção de leitura, não apenas como decodificação, mas como compreensão, interação entre texto e leitor e como réplica ao discurso do autor. Em todas as Rodas, basicamente, esta sequência foi seguida: 1) apresentação de todos na Roda; 2) motivá-los para a leitura do texto literário, utilizando sempre uma estratégia a 4657

3 partir do texto guia escolhido para aquele dia. 3) o texto/ livro era distribuído e, com todos sentados em roda, no círculo, a magia se iniciava, isto é, começava a leitura; 4) depois o leitor-guia estabelecia o diálogo, o compartilhar de experiências que emergiam do texto lido. Quase sempre a leitura inicial levava à leitura de mais um texto, geralmente do mesmo autor. A identificação com os livros nas estantes da biblioteca era imediata; os alunos de pronto reconheciam outros livros do mesmo autor e/ou de mesma temática. 5) após a troca de experiências eram convidados a produzir um pequeno relato sobre sua participação; 6) sorteio de livros encerrava a Roda. Alguns Resultados Vale destacar que dentre os cerca de 30 (trinta) relatos de alunos destacaremos duas falas - relatos escritos - referentes a duas rodas de leitura. O primeiro relato foi produzido no dia 06/07/2015, durante a primeira roda de leitura. Eu gostei muito da história da Clarice. A tia Soraya contou a história todinha pra gente. Eu gostei da parte que a galinha Clarice botou cinco ovos e que cada um quer ser uma coisa. Tipo o Totonho ele queria ser lutador de MMA. Eu acho feio os galos lutarem até se matar. Não gostei de algumas partes da história, mais foi legal. (ALUNO JOÃO i ) Nesse dia, o texto escolhido para ser lido na roda foi Clarice, do livro Saudades de Clarice do escritor capixaba Francisco Aurélio Ribeiro. A identificação das crianças foi imediata, todos falaram que tinham um animal e dessa história vieram outras, agora contadas por eles. A fala revela uma retomada da experiência social com a leitura, resgatando a experiência coletiva, visto que Totonho é um galo de briga, e o aluno João se expressa dizendo achar feio os galos lutarem até se matar. Logo, quando esta história foi narrada deixou de ser uma experiência solitária e passou a ser um ato coletivo no qual outras experiências foram trocadas. O segundo relato foi produzido no dia 09/07/2015, durante a segunda roda de leitura. Ela contou com a participação do escritor capixaba Francisco Aurélio Ribeiro que foi o leitor-guia. O escritor leu duas histórias do seu livro Fantasmas da Infância. Eis o relato: Eu gostei muito de vim na biblioteca e conhecer o escritor, o Francisco Aurélio Ribeiro, ele é muito legal, contou histórias muito legal da infância, o que aconteceu com ele, foi engraçado vim para biblioteca. Todos gostaram de ouvir a xxxxx falar daqui da Barra do Jucu, todo mundo rio... (ALUNO JONAS) 4658

4 Percebemos nessa fala que a experiência de estar no espaço da biblioteca foi prazerosa e a identificação com as histórias narradas pelo escritor, além da oportunidade de conhecê-lo. Novamente, a leitura foi uma experiência coletiva que motivou o diálogo e outras narrativas, pois o aluno frisou como gostou de ouvir o que a colega Yasmin narrou foi a história de um personagem da Barra do Jucu, como na história lida pelo escritor evidenciando o fato de que ela fala daqui da Barra do Jucu, o lugar onde vivem. No final, os alunos pediram para ser lida mais uma história. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Projeto Vem pra Roda! não se configurou como a solução, vale frisar, mas como uma das alternativas de contribuição no sentido de disseminar práticas de leitura do texto literário possíveis no cotidiano escolar, de ressignificação mesmo de práticas e, por que não, reinvenção da escola. Nesse processo, escola e comunidade são fundamentais, visto que somente através dessa parceria e diálogo pequenas rupturas no cotidiano se farão; faz-se imperioso conectarmo-nos com um contexto mais amplo se desejamos mudanças. Considerando essa perspectiva, a priorização de uma leitura do texto literário, através das rodas de leitura, se configura como uma das alternativas possíveis de reinvenção e de se relacionar com o mundo. É possível, ainda, reconhecemos, avançar nas análises, entretanto, procuramos registrar até aqui, num breve percurso, alguns dados para o subsídio a práticas leitoras, que envolvem a leitura de literatura, no universo da escola. Referências CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. 2 ed. São Paulo: Scipione, 1994. JUCHUM, M. Concepções de Leitura Inerentes à Prova Brasil Versus Concepções de Leitura de Professores do Ensino Fundamental. 2009. 102 f. Dissertação (Mestrado em Letras) Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Santa Cruz do Sul RS. RIBEIRO, Francisco Aurélio. Saudades de Clarice vinte crônicas e uma fábula. Vitória: Formar, 2004.. Fantasmas da Infância. 2 ed. Vitória: Grafer/IHGES, 1998. SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6 ed, Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 4659

5 i Optou-se por utilizar nomes fictícios, tanto dos alunos como da professora regente, com base no fato de que tal omissão em nada prejudica a análise feita. 4660