O USO ESTRATÉGICO DA INTERNET NO PLANEJAMENTO DE MARKETING DAS EMPRESAS: UMA PERSPECTIVA DE EMPRESAS CATARINENSES



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Transcrição:

O USO ESTRATÉGICO DA INTERNET NO PLANEJAMENTO DE MARKETING DAS EMPRESAS: UMA PERSPECTIVA DE EMPRESAS CATARINENSES Venilton Reinert (FURB) venni@uol.com.br Jane Iara Pereira da Costa (UDESC) costajane@uol.com.br Olga Regina Cardoso (UFSC) cardosoolga@uol.com.br RESUMO: A Internet vem sendo utilizada como ferramenta pelas empresas para executar diversas atividades mercadológicas e administrativas com a finalidade de atingir objetivos traçados no planejamento estratégico. As mudanças ocorridas no mercado pós-internet têm forçado as organizações a reavaliar suas estratégias e principalmente, a maneira de fazerem seus negócios e executarem ações de marketing. Em pesquisa desenvolvida junto a empresas do Estado de Santa Catarina, buscou-se saber como elas vêm utilizando a Internet para atingir objetivos mercadológicos definidos no seu planejamento estratégico. O conjunto de informações resultantes desta investigação permitiu que fosse desenvolvido um rol de sugestões, como pressupostos de uso, que podem subsidiar o estabelecimento de políticas empresariais que visem não somente potencializar a capacidade produtiva da organização, mas também fortalecer a integração entre produtor e consumidor, de forma a repercutir positivamente nos balanços da empresa e no atendimento às necessidades e exigências do mercado. Palavras-chave: marketing; Internet; planejamento 1. Objetivos, metodologia e população A pesquisa, desenvolvida de janeiro de 2003 a junho de 2004, como parte da tese de doutorado para o Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, teve como objetivo geral avaliar o processo decisório das empresas catarinenses que utilizam estrategicamente a Internet, visando atingir seus objetivos de marketing. Verificou-se, primeiro, se as empresas estão utilizando a Internet como ferramenta para alcançar seus objetivos de marketing e, em seguida, investigou-se o que e como elas estão fazendo para adaptarem suas estruturas à nova realidade mercadológica. A investigação teve como objetivos específicos: identificar as mudanças no processo de decisão das estratégias de marketing provocadas pela introdução da Internet, levantar os critérios adotados pelas empresas para mudar seus planos de marketing a partir da introdução da Internet e os critérios utilizados atualmente para decidir as estratégias de marketing na Internet. Também objetivou analisar as ações decorrentes dos planos de marketing desenvolvidos pelas empresas com o uso da Internet e a indicação de pressupostos para avaliação do uso estratégico da Internet por empresas como meio de atingir objetivos mercadológicos. Realizou-se pesquisa descritiva, precedida de pesquisa exploratória de caráter bibliográfico. Utilizou-se o método qualitativo e a técnica de coleta de dados adotada foi a entrevista em profundidade, envolvendo profissionais que desempenham atividades nas ações de marketing, planejamento estratégico ou comercial e que têm pelo menos seis meses de atuação na empresa selecionada. Considerou-se, como população ou universo do estudo, as ENEGEP 2005 ABEPRO 3392

empresas de Santa Catarina que utilizam a Internet como ferramenta estratégica para atingir seus objetivos mercadológicos. Optou-se pelo processo de amostragem do tipo nãoprobabilístico por julgamento. Empregou-se assim a técnica de estudo de caso (multicasos), que é uma pesquisa empírica que busca analisar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real. Foram selecionadas sete empresas catarinenses, de diferentes ramos de atividade, após levantamento que indicou serem elas consideradas características do mercado estadual, já que possuem nome consolidado nos seus respectivos setores e são conhecidas por utilizar a Internet como meio de interação com o público consumidor. 2. As mudanças no processo produtivo Ao se conectarem à rede, todas as organizações pesquisadas utilizaram as informações por elas acessadas, selecionadas e monitoradas como inputs que catalisaram processos produtivos, a partir do momento em que foram transformadas em estratégias (outputs). Assim, de acordo com Slack (1997), elas realizaram um processo de produção, porque alteraram suas estratégias, pautadas nas transformações ocorridas no mercado. A pesquisa mostrou que, apesar de diferirem quanto à área de atividade, as empresas assimilaram a evolução da Internet como instrumento de trabalho de modo bastante parecido. Sentiram a necessidade de participar para não ficar atrás. As empresas confessam a prática de benchmarking a cada passo da implantação e evolução do uso, revelando que copiaram e aprenderam com erros e acertos tanto de empresas do exterior como de pioneiros no Brasil. De 1996 a 1999, as empresas utilizaram a Net de forma básica, experimental, funcionalmente primitiva. A maioria apresentava apenas uma página institucional, convencional, diferentemente do que acontecia nos países desenvolvidos. Nessa época, algumas contavam com provedores externos e apenas serviço de e-mail. A manutenção e o suporte técnico eram terceirizados, até que, lentamente, as empresas compreenderam que pelo menos a administração do site tinha de ser local, sob controle interno, para permitir maior liberdade e mobilidade. Isto levou à criação de um setor especializado nas organizações e o passo seguinte foi o desenvolvimento de website empresarial com planejamento ambicioso. De acordo com os depoimentos, hoje em dia, reuniões e discussões sobre Internet dentro das empresas já não encontram maiores resistências. Ao contrário, há um apoio cada vez maior e participativo de todos os setores. Há mesmo aqueles que passam a sensação de que a Internet é a solução de muitos de seus problemas operacionais ou logísticos. Atualmente, já existe um setor específico gerenciando esta área da Internet, quer seja via informática/cibernética, com pessoas treinadas e mantidas em constante treinamento. As empresas consideram como muito importante a chegada da Internet para a evolução de seus processos administrativos, incluindo o marketing. Porém, quanto a mudanças significativas no processo de decisão das estratégias específicas de marketing, não sentem que ela tenha causado um impacto considerável. 3. Estratégia no processo administrativo global e na perspectiva mercadológica A escolha de uma estratégia, segundo Tavares (1991, p. 166), deve corresponder à seleção da alternativa que melhor combinar tempo, risco e recursos de maneira compatível com os estilos de gestão e valores da organização para assegurar a consecução dos seus objetivos. Na análise dos dados da pesquisa com empresas catarinenses, verifica-se que o planejamento das organizações não contempla o marketing na Internet como item diferenciado, para o qual estejam previstos recursos específicos. Dentre as organizações entrevistadas, somente uma empresa tem planejamento estratégico, mas também não dá ênfase à rede. ENEGEP 2005 ABEPRO 3393

O objetivo estratégico da empresa, segundo Montgomery e Porter (1998), é encontrar uma posição no setor onde ela possa se beneficiar ou se defender de forças que atuam de forma decisiva na competição pelo mercado. Na pesquisa realizada, buscou-se entender quais as forças que conduziram as empresas a adotarem a Internet de forma estratégica. Para isso, foram elencados vários itens que pudessem ter contribuído para a entrada das empresas no cyberspace: a concorrência, o consumidor, a modernidade, o fator financeiro e a eficiência. 3.1. Concorrência - Contrariando a afirmação de Certo e Peter (1993, p.17) que o enfoque central da estratégia organizacional é como lidar satisfatoriamente com a concorrência, em nenhum momento as empresas pesquisadas consideram a concorrência como razão preponderante para se decidirem por sua entrada na Internet. Entretanto, o fato de declararem que têm sites melhores que seus concorrentes, indica que pelo menos acompanham de perto a competitividade desse meio, mantendo-se alertas ao que a concorrência está fazendo. 3.2. Consumidor - Quanto ao comportamento do consumidor de uma organização, é preciso reconhecer que, de acordo com Wind e Mahajan (2003), a Internet inverteu as prioridades do marketing e deu mais poder ao cliente. Indiscutivelmente, foi a exigência do consumidor que pesou como fator de maior significado na opção pela Internet para a maioria das empresas pesquisadas, sobretudo as retardatárias, que compreenderam que não mais poderiam furtar-se ao progresso e à evolução do relacionamento com seu público-alvo. Assim, tanto quanto o comportamento do consumidor e a concorrência, a inovação tecnológica e as mudanças por elas provocadas constituem ponto de vigília no mercado em constante transformação. 3.3. Modernidade - O fator modernidade foi, provavelmente, o que mais pesou para a maioria dos usuários, embora nem sempre de modo consciente. Ela foi apontada como força influenciadora da adesão à Internet. 3.4. Fator financeiro - Agora que a presença da empresa na Internet é importante e praticamente indispensável, o custo financeiro é visto como investimento necessário. 3.5. Eficiência - A busca da eficiência foi conseqüência e não fator de decisão para fazer uso da Internet em primeiro lugar. 4. O uso do marketing na Internet Soumitra e Segev (1999) afirmam que o sistema 4Ps (preço, produto, ponto de distribuição e promoção), a partir da utilização da Internet pelas empresas, recebeu acréscimo do C (consumidor), passando esse esquema a ser conhecido como 4Ps + C. 4.1. Produto, distribuição e preço - A ênfase no produto não é significante. Cada empresa apresenta seu produto na forma em que ele foi concebido. As empresas também não têm se preocupado em usar a Internet para configurar um novo canal de distribuição. Quanto ao preço, não houve mudanças, porque, na Internet, as empresas oferecem produtos com os mesmos preços praticados no comércio tradicional. 4.2. Composto Promocional - Perry et al (2003) mencionam que a propaganda, as relações públicas e a relação com investidores são percebidas como ferramentas básicas, não importando a área de atuação da empresa.a pesquisa aqui relatada confirma isto, porque evidencia que as empresas utilizam um pequeno percentual das possibilidades sinérgicas na Internet e desenvolvem, paralelamente, atividades promocionais do marketing tradicional para divulgar seus produtos e serviços, relacionar-se com o consumidor e informar que estão online. Esta investigação não encontrou diferenças significativas entre as formas de utilização das ferramentas de marketing e a comunicação na Internet. O CRM e a propaganda on-line aparecem como as ferramentas mais freqüentemente utilizadas, seguidas pela promoção de vendas, relações públicas e marketing direto. 4.2.1 CRM - No CRM, as empresas pesquisadas entendem que a relação com o consumidor é prioridade e que devem usar o poder da Internet para fortalecê-la, mas há maior preocupação em prospectar clientes do que em mantê-los, seja via cadastro ou rastreando informações com ENEGEP 2005 ABEPRO 3394

fonte nos e-mails. Nota-se interesse em desenvolver esse relacionamento como forma de criar a fidelidade do consumidor. As empresas reconhecem que há falta de tempo e que a estrutura comercial de suas empresas enfatiza mais o seu parceiro de negócios e, com isso, todo o esforço atualmente está dirigido ao fornecedor, ao cliente intermediário, ao franqueado. 4.2.2 Propaganda - Em sua prática cotidiana, as empresas seguem as recomendações de Belch e Belch (2001), que aconselham a trabalhar na promoção de produtos e serviços, considerando a Internet como consideram a TV, revistas, outdoors. Isto significa que elas aplicam uma multiplicidade de elementos e formatos, como banners, patrocínio, pop-ups, intersticiais, links, palavras-chave em sites de busca, e por fim, o e-mail marketing. Mas o principal meio de informação dos produtos e serviços das empresas é a comunicação off-line. A maior parte das empresas está cadastrada nos principais sites de busca. 4.2.3 Promoção de Vendas - O uso da promoção de vendas on-line não é uma constante nas estratégias mercadológicas. As técnicas mais utilizadas são os concursos e a distribuição de brindes. 4.2.4. Relações Públicas - Os resultados da pesquisa corroboram o comentário de Shel e Holtz apud Belch e Belch (2001) de que a indústria das relações públicas tem adotado a Internet muito vagarosamente, pois esta atividade parece não ser importante para as empresas catarinenses entrevistadas. O que pode ser notado é que o trabalho de CRM está substituindo o de RP. 4.2.5. Marketing direto - Todas as empresas desenvolvem marketing direto, utilizando e- mails para enviar informações específicas sobre produtos e promoções e news letters. 5. Recursos para o marketing No que se refere à alocação de recursos para o marketing na Internet, Varadarajan e Yadav (2002) explicam que, para alcançar e manter a defesa competitiva e uma posição de vantagem no mercado, a alocação estratégica de recursos é imperativa. Logo, para os autores, uma estratégia de marketing competitiva foca, também, na maneira com que a empresa aloca recursos disponíveis em marketing para facilitar o alcance e a manutenção dessa vantagem. Na pesquisa realizada, observou-se que as empresas possuem um orçamento específico para as atividades de marketing, mas qualquer atividade mercadológica que contemple a Internet ainda esbarra com orçamentos e verbas que têm de ser desviadas de outros setores e quase sempre em circunstâncias contingenciais. 6. Simbiose A redução dos custos de compra, venda e administração; a melhoria da administração da cadeia de suprimento e do gerenciamento de estoques; a ampliação do mercado e a demanda; o aumento do valor fornecido ao cliente; a melhoria da comunicação com os clientes são, de acordo com Giovannini (2001), as oportunidades abertas pelas novas tecnologias de informação (NTI), especialmente a Internet. A pesquisa buscou desvelar o uso da Internet pelas empresas catarinenses nas atividades mencionadas por Giovannini. Com base nos resultados, pode-se afirmar que é uma constante, em todas as organizações, exceto em uma, o uso da Internet para relacionamentos com intermediários fornecedores, franqueados e/ou profissionais de serviços, na operacionalização de processos de recebimento de pedidos de produtos, na organização de sistemas financeiros, de compra de matéria-prima, de faturamento e de custos, confirmando o que diz o autor. Dentre estas atividades, as referentes a b-to-b (business-to-business) são feitas através do Extranet e as administrativas internas são executadas com uso da Intranet. 7. Pressupostos para avaliação do uso estratégico da Internet por empresas ENEGEP 2005 ABEPRO 3395

Os resultados da pesquisa permitiram o entendimento de como as empresas catarinenses utilizam estrategicamente a Internet para atingir os objetivos traçados no planejamento de marketing. A partir desse entendimento, foi possível visualizar ações que, transformadas em pressupostos, possam, de maneira prática, ajudar organizações na implantação ou reformulação do seu planejamento de marketing que contemple a Internet como ferramenta estratégica. Os pressupostos aqui sugeridos são baseados em práticas comuns das organizações pesquisadas, bem como naquelas que levaram ao sucesso na sua execução. Assim, a sugestão segue os seguintes elementos: 1 O planejamento estratégico no processo administrativo: uma perspectiva mercadológica Para garantir competitividade, as empresas precisam se adaptar às novas situações mercadológicas, o que implica inovação das formas de coletar informações sobre o consumidor, a concorrência e as mudanças impostas pelos governos e pela sociedade. É importante: a) ter habilidade em reconhecer mudanças e aplicar ações para transformá-las em oportunidades, ou seja, transformar situações difíceis em saídas lucrativas para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização; b) formular estratégias, projetando e selecionando aquelas que levem à realização dos objetivos organizacionais; c) decidir qual a estratégia correta a ser adotada para cada situação, a partir do processamento e da análise de informações do mercado que conduzam a julgamentos críticos e minuciosos, d) realizar planejamento estratégico, reconhecendo as características e os potenciais da própria empresa e incluindo seu processo produtivo, sua estrutura de vendas, de pessoal, financeira e plano de marketing, e o que ela possui no momento, tais como posição no mercado, imagem da marca e relacionamento com o consumidor. Ressalta-se que o planejamento estratégico deve focar objetivos em longo prazo, definindo a missão da empresa, que conduzirá a conduta de cada um dos setores da organização. No que se refere à definição de objetivos em curto prazo, eles poderão ser definido a partir da fragmentação daqueles de longo prazo e, compondo, no âmbito mercadológico, o planejamento de marketing das organizações. 2 O planejamento de marketing Na fase atual, considerada a maturidade na aplicação da Internet, as empresas devem desenvolver atividades relacionadas à informação, comunicação, distribuição e transação (traduzidas pelo sistema 4Ps), focando o consumidor. E também devem, a partir da articulação destes elementos, estabelecer planos estratégicos de marketing na rede, com a preocupação imperativa de alocar recursos à sua disposição para alcançar e manter uma defesa competitiva e uma posição de vantagem no mercado. 3 A Internet como estratégia de marketing Recomenda-se que as empresas utilizem todas as atividades de marketing e comunicação em seus websites, da mesma forma que costumam agir no marketing tradicional, aproveitando a capacidade de sinergia entre as ferramentas promocionais. Considerando-se que o marketing on-line deve ser trabalhado sinergicamente com o marketing tradicional, disponibilizam-se, nesta discussão, informações sobre o composto de marketing utilizado na rede pelas empresas. a) Produto Como os consumidores atuais estão cada vez mais informados e exigentes, recomenda-se às empresas incrementar a atratividade de seus produtos e serviços para evitar que seus consumidores troquem de fornecedor. Quanto à interatividade com o produto, há que se considerar que as maiores oportunidades de adicioná-la estão nos itens que podem ser digitalizados. Para produtos que não podem ser digitalizados, sugere-se que a customização ENEGEP 2005 ABEPRO 3396

seja feita de maneira a permitir a interação, por exemplo, oferecendo componentes que os consumidores podem combinar para fazer um produto específico e personalizado. b) Preço - Para ganhar uma vantagem competitiva que envolva o preço de compra na Net, as empresas devem construir para as transações em rede, um valor diferenciado daqueles do mercado tradicional, a partir de estudos que orientem a aplicação de uma política de preço compatível com o mercado. c) Ponto de distribuição Para as empresas que praticam venda tradicional e usam a rede para interagir com o consumidor, aconselha-se fornecer informações por meio de um código de identificação pessoal que facilite o acompanhamento do pedido, reduza custos e agilize os processos de movimentação de mercadorias. Já para aquelas que desenvolvem vendas on-line, recomenda-se agregar valor ao produto oferecido ao consumidor, por meio da distribuição de informações sobre os produtos e melhoria da capacidade de sua plataforma, de maneira a facilitar a aquisição de produtos que podem ser baixados imediatamente. d) Promoção As organizações devem desenvolver uma comunicação mais eficiente para conquistar e manter a lealdade dos consumidores, articulando publicidade e propaganda, relações públicas, CRM, marketing direto e promoção de vendas como principais estratégias promocionais mediadas pela Internet. CRM As empresas devem focar nos consumidores certos, levando valor e fortalecendo relações com eles, com fornecedores e outros parceiros de negócio, num processo feito com uso da tecnologia. Propaganda As empresas que trabalham na promoção de seus produtos e serviços devem considerar a Internet como consideram a TV, revistas, outdoors, aplicando uma multiplicidade de elementos e formatos, como banners, patrocínio, pop-ups, intersticiais, links, e-mail marketing e palavras-chave em sites de busca, de forma a usar uma combinação textual, visual e auditiva que facilita a memorização da marca pelo consumidor. Promoção de vendas Para construir tráfego na rede, uma das estratégias que pode ser aplicada é oferecer uma chance de obter alguma coisa gratuitamente. Pode-se optar pelas seguintes técnicas: a) experimentação do produto, tanto através da amostras grátis como através do site da empresa; b) realização de loterias, caça ao tesouro e procura; c) concursos de cultura geral, de fotografias, receitas e textos; d) distribuição de camisetas, CD-ROMs, pacotes de viagem, computadores, adesivos e até dinheiro em espécie; e) utilização da promoção cooperada. Relações Públicas As empresas podem permitir, aos visitantes, baixar seus últimos comerciais para usar como proteção de tela, além de usar parte do conteúdo de seus sites para disponibilizar informações sobre a empresa, suas atividades filantrópicas, relatórios e balanços anuais. Outro procedimento importante em RP é o fornecimento de informações para a mídia, a fim de construir mensagens positivas para a empresa. Marketing direto O marketing direto pode se dar na forma de uma venda direta, um e-mail anunciando produtos, serviços ou uma promoção, ou até mesmo através da webpage da empresa, onde o consumidor possa entrar e interagir diretamente com ela.. Recomenda-se elaborar uma mailing list e explorar uma maneira inovativa para evitar que o consumidor apague a mensagem enviada. Vendas on-line Antes de se lançar no universo das vendas on-line, as empresas devem analisar a natureza do seu negócio e avaliar se o consumidor exige este tipo de serviço, observando a questão da viabilidade financeira para verificar o custo/benefício. Business-to-business É imprescindível para satisfazer as exigências atuais do mercado que as organizações atualizem seu sistema tecnológico, investindo na aquisição de hardwares e softwares de vanguarda para tornar cada vez mais eficientes suas redes interna (Intranet) e externa (Extranet). O business-to-business deve permitir que pedidos on-line ENEGEP 2005 ABEPRO 3397

sejam encaminhados diretamente pelo consumidor intermediário, que deve ser informado sobre como, quando e onde ele receberá o produto por meio de comunicação via Internet. 9. Conclusões As empresas pesquisadas sentiram a mesma necessidade de adotar a Internet como instrumento de trabalho de modo semelhante à experiência de empresas do exterior. Neste contexto, a incorporação da Internet à rotina empresarial provocou mudanças consideráveis no mercado. De 1996 a 1999, as empresas de Santa Catarina a utilizaram como ferramenta estratégica de forma básica, experimental. Atualmente, elas se esforçam para decidir qual as melhores estratégias a serem adotadas. Verifica-se, no entanto, que a contemporaneidade do uso da Internet por essas empresas não as leva a contemplarem, em seus planejamentos, o marketing na Internet como estratégia como item diferenciado para o qual estejam previstos recursos específicos, mas elas possuem planos ambiciosos de manter este meio de comunicação atualizado e atraente. Em se tratando do uso estratégico da ferramenta pelas empresas, percebe-se um fato interessante: qualquer atividade mercadológica que contemple a Internet esbarra com orçamentos e verbas que têm de ser desviadas de outros setores. A concorrência não foi o fator de decisão para participar na Internet, mas ela tem merecido atenção especial das organizações interessadas em não perder espaço no mercado. A exigência do consumidor foi o fator de maior significado na adoção da Internet para a maioria das empresas pesquisadas. Já o fator modernidade exerceu grande influência no processo decisório que envolveu o uso da rede. Com relação à busca da eficiência, esta foi conseqüência e não fator de decisão para fazer uso da Internet. No que diz respeito ao produto, a ênfase na Internet não é muito significante. As empresas também não têm se preocupado em usar a Internet para configurar um novo canal de distribuição. Com relação ao preço, não houve mudanças: as empresas oferecem produtos na Internet com os mesmos preços praticados no comércio tradicional. Já nas atividades promocionais do marketing, para divulgar seus produtos e serviços, relacionar-se com o consumidor e informar que estão on-line, esta investigação não encontrou diferenças significativas entre as formas de utilização das ferramentas de marketing e comunicação na Internet. A preocupação principal delas reside na comunicação com o consumidor. O CRM e a propaganda on-line aparecem como as ferramentas mais freqüentemente utilizadas, seguidas pela promoção de vendas, relações públicas e marketing direto. Também é comum o uso da Internet para relacionamentos com intermediários, na operacionalização de processos de recebimento de pedidos de produtos, na organização de sistemas financeiro, de compra de matéria-prima, de faturamento e de custos. Esta revelação traz embutida uma característica mercadológica importante: a preocupação dessas empresas no desenvolvimento de ferramentas eficientes para atender seus intermediários e a escolha da Extranet como meio para efetivar este atendimento. As empresas entrevistadas têm como objetivos modernizar e expandir suas atividades de marketing na Internet, com a convicção que a rede é o veículo do futuro de marketing. Seu plano mais imediato é criar e/ou renovar um website que consiga causar impacto. Observaram-se particularidades em algumas empresas, tais como o desenvolvimento de softwares específicos para a atender seus objetivos, o uso da Internet como forma de vendas on-line e captação de clientes. Algumas estratégias são de uso comum a todas as empresas, como o uso do website como forma de propaganda para divulgar seus produtos e serviços e se relacionar com uso da ferramenta de CRM. Os pressupostos que resultaram desta pesquisa podem subsidiar o estabelecimento de políticas empresariais que visem não somente potencializar a capacidade produtiva da ENEGEP 2005 ABEPRO 3398

organização, mas também fortalecer a integração entre produtor e consumidor, de forma a repercutir positivamente nos balanços da empresa e no atendimento às necessidades e exigências do mercado. Numa inferência não tão ousada, devido à rapidez da renovação de mecanismos da Internet como apoio ao marketing, pode-se admitir que a análise relatada é interessante referencial de avaliação para os que já utilizam ou pretendem utilizar a Internet em suas ações de marketing. REFERÊNCIAS BELCH, George; BELCH, Michael. Advertising and Promotion: an integrated marketing communication. 5. ed. [S.l.]: The McGraw-Hill Companies, 2001. CERTO, Samuel C.; PETER, Paul J. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. GIOVANNINI, Fabrizio. A empresa média industrial e a Internet. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 8, n. 3, jul./set. 2001. KERN, Russel. S.U.R.E. Fire Direct Response Marketing. New York: McGraw-Hill, 2001. MONTGOMERY, Cynthia; PORTER, Michael. ESTRATÉGIA. Uma vantagem competitiva. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. PERRY, Mônica; BODKIN, Charles D. Fortune 500 manufacturer web sites. Innovative marketing strategies or cyberbrochures? Industrial Marketing Management, 15/03/2001. Depatement of Marketing. University of North Caroline at Charlotte. Disponível em: <www.sciencedirect.com/science>. Acesso em: 21.ago. 2003. SLACK, Nigel. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1997. SOUMITRA, Dutta; SEGEV, Arie. Business transformation on the Internet. European Management Journal, v. 17, issue 5, p. 466-476, out. 1999. TAVARES, C. Mauro. Planejamento estratégico: a opção entre sucesso e fracasso empresarial. São Paulo: Harbra, 1991. VARADARAJAN, Rajan P.; YADAV, Manjit S. Marketing strategy and the Internet: an organizing framework. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 30, n. 4, p. 296-312, Fall 2002. WIND, Yoram; MAHAJAN, Vijay. Marketing de convergência: estratégias para conquistar o novo consumidor. São Paulo: Pearson Education, 2003. ENEGEP 2005 ABEPRO 3399