Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: JATIR BATISTA DA CUNHA Assunto: Representação Colegiado: Plenário Classe: Classe VII Sumário: Representação movida contra ato da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo que concedeu pensão vitalícia à Sra. Maria Helena Ferreira Mendes pelo falecimento do ex-fiscal do Trabalho, José Marques Ribeiro, falecido em março de 1989. A beneficiária divorciou-se do instituidor em maio de 1978. Não consta dos autos que percebesse pensão alimentícia. Consta segundas núpcias em setembro de 1978 e novo divórcio em dezembro de 1991. Cláudia Barbosa Marques Ribeiro, filha única do instituidor, atingiu a maioridade em 1972 e teve a pensão suspensa em razão de seu ingresso em cargo público em 03.11.1992. Consta, ainda, pedido de averiguação da irregularidade da pensão endereçado à Assessoria Jurídica - AGU/DRT/SP (fls. 90/98). Conhecimento da Representação para considerá-la procedente. Determinação à DRT/SP. Natureza: Representação Data da Sessão: 21/11/2001 Relatório do Ministro Relator: Representação movida pelo Sr. Décio Aparecido Costa contra ato da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo que concedeu pensão vitalícia à Sra. Maria Helena Ferreira Mendes pelo falecimento do ex-fiscal do Trabalho, José Marques Ribeiro, falecido em março de 1989. A beneficiária era divorciada do instituidor desde maio de 1978 e não consta dos autos que percebesse pensão alimentícia. Teve segundas núpcias em setembro de 1978 e novo divórcio em dezembro de 1991. 2.Conforme consta dos autos, a filha única do instituidor, Cláudia Barbosa Marques Ribeiro, atingiu a maioridade em 1972 e teve a pensão suspensa em razão de seu ingresso em
cargo público em 03.11.1992. Consta, ainda, pedido de averiguação da irregularidade da pensão, em tela, endereçado à Assessoria Jurídica - AGU/DRT/SP (fls. 90/98). 3.A zelosa SECEX/SP, em minudente instrução subscrita pela Analista de Finanças e Controle Externo Maria Aparecida de Azevedo (fls. 166/168), expõe a situação administrativa objeto da Representação, de cujo teor destaco os pontos relevantes, adotando-os como parte do Relatório: "De esclarecer que a Sra. Maria Helena Barbosa Lima, após apresentar a documentação solicitada, habilitou-se ao benefício, posteriormente ilegalmente concedido, não omitindo que já havia contraído segundas núpcias com o Sr. Sidney Ferreira Mendes (advogado), em 05.09.1978, passando a assinar Maria Helena Ferreira Mendes, tendo dois filhos: Karina Ferreira Mendes e Sidney Ferreira Mendes Junior. Também divorciou-se deste segundo casamento, em dezembro de 1991. Consta dos autos (fl. 93) que o denunciante fora companheiro da pensionista Maria Helena Ferreira Mendes, por cinco anos, com posterior separação traumática, que culminou na ação criminal que tramitou perante a 3ª Vara Criminal da Comarca de Atibaia/SP, Processo n.º 191/97 e condenação do interessado no Processo Administrativo. Consta, ainda, pedido de averiguação da regularidade da pensão vitalícia concedida à exesposa, de interesse de Décio Aparecido Costa, fls. 90/98, endereçado à Assessoria Jurídica - AGU/DRT/SP. A Assessoria Jurídica da DRT/SP, em pesquisas realizadas junto à sua Divisão de Administração de Pessoal, bem como, junto ao TCU e ao INSS, em 1999 (fls. 90/98), não localizou nenhum processo administrativo que viesse a comprovar o pagamento de pensão alimentícia à ex-esposa, sendo que o único processo encontrado refere-se à pensão alimentícia concedia a Cláudia Barbosa Marques Ribeiro, percebida através de sua genitora, Maria Helena Ferreira Mendes (representante legal), a partir de 1989 (Processo n.º 73.740.383.7/89 - fl. 61). Esta unidade, por sua vez, endossa o Parecer Técnico, expendido por servidora da própria unidade, em que, após tecer exaustivos comentários, opina pela suspensão imediata do pagamento do benefício, a Maria Helena Ferreira Mendes (nome atual Maria Helena Barbosa Lima), argüindo: 1. o fato de que a interessada nunca fora destinatária da pensão de alimentos, uma vez que não demonstrou a previsão de tal pagamento em seu favor, na sentença que homologou a conversão em divórcio do desquite por que passou, fato este que, se legitimado, conceder-
lhe-ia o respaldo legal para a obtenção do benefício, artigo 354 'caput' e parágrafos 3º e 5º do Decreto n.º 83.080/79; 2. os valores constantes na declaração de imposto de renda do ex-servidor José Marques Ribeiro, referem-se à pensão alimentícia a que fazia jus a menor Cláudia Barbosa Lima Marques Ribeiro, como dependente, e percebida através de sua representante legal, sua mãe, Maria Helena Ferreira Mendes; 3. contra a argumentação de que a pensionista vivia exclusivamente das pensões alimentícias que recebia do servidor, não há qualquer documento que comprove tal dependência, ademais, ao contrair núpcias com Sidney Ferreira Mendes, o divórcio dissolveu o vínculo matrimonial até então existente, aplicando-se a regra contida no artigo 29, da Lei n.º 6.515/97, 'in verbis': 'artigo 29: O novo casamento do cônjuge credor de pensão extinguirá a obrigação do cônjuge devedor.'; 4. em que pese a interessada requerer a pensão à época em que já estava separada judicialmente de Sidney Ferreira Mendes, resta-lhe comprovar estado de pobreza, o que está absolutamente fora de propósito, tendo em vista a relação de bens existentes em seu nome, conforme declaração de imposto de renda, referente ao exercício de 1995, anexa ao processo à fl. 37; 5. inexistência de Processo Administrativo referente à concessão do benefício, apreciado pelo E. TCU. Visando ao saneamento dos autos foi autorizada diligência à Delegacia Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, através do Ofício/SECEX/SP n.º 120, de 14.03.2000, com as seguintes questões: 1. relação dos pagamentos efetuados à pensionista, com indicação dos respectivos períodos; 2. fundamentação legal e cópia do processo da concessão do benefício para apreciação por este E. TCU; 3. documentação que comprove a partir de que data ocorreu a suspensão do referido pagamento da pensão, caso esta já tenha sido efetivada.
Em resposta foram anexados os documentos de fls. 105/132, analisados na instrução de fls. 135 e 136, em que ficou demonstrado que: 1. não foram especificados os dias do efetivo crédito na conta da beneficiária; 2. a inexistência do processo administrativo, referente à concessão do benefício, foi justificada em razão de fusões/extinção/reestruturação ocorridas no âmbito dos órgãos envolvidos (Ministério do Trabalho, SAF, DRT, INSS), o que, a nosso viso, não elide o forte indício de prática de irregularidade administrativa, visto que todo ato de concessão de benefício deve ser necessariamente revisto por este E. Tribunal, competência atribuída pelo art. 70, III, da Lei n.º 8.443/92; 3. a suspensão do pagamento da pensão ocorreu em 15.12.1999. De informar que a interessada, através de sua advogada tomou vista dos autos, bem como obteve cópia de peças do processo (fls. 137/141). Em razão da pendência verificada no item 1 supra, foi autorizada nova diligência, através do Ofício/ SECEX/SP n.º 577, fl. 147, com o fim de completar tais informações. Em resposta foram encaminhados os documentos de fls. 148/164, os quais não foram suficientes para elidir a questão suscitada (especificar os dias do efetivo crédito na conta corrente da beneficiária). Isto posto, encaminhamos o presente processo à consideração superior, propondo que o E. TCU determine à Delegacia Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo, a instauração de Tomada de Contas Especial, em razão de pagamentos ilegais a Maria Helena Lima, a título de pensão vitalícia, desde 1992." 4.O ilustre Diretor da 2ª DT, referendando, no mérito, a instrução da Analista, conclui que a determinação ao Órgão de origem deve ser no sentido de que, primeiramente, se adotem "providências administrativas com vistas à recomposição do Tesouro Nacional", e somente em caso de resultado infrutífero dessas, "instaure, nos termos do art. 3º, da IN TCU n.º 13/96, com a Redação dada pela IN/TCU n.º 35/2000, a necessária Tomada de Contas Especial". 5.O nobre Secretário Titular da SECEX, manifestando-se à fl. 170, referenda expressamente o parecer do Diretor, espelhado à fl. 169.
6.O douto Representante do Ministério Público, Subprocurador-Geral Jatir Batista da Cunha, manifesta-se à fl. 172 dos autos assentindo com a Unidade Técnica, nos seguintes termos: "Trata-se de representação formulada por Décio Aparecido Costa sobre suposto recebimento irregular de pensão vitalícia por parte de Maria Helena Ferreira Mendes, concedida em 1992. A beneficiária estava divorciada do instituidor, falecido em março de 1989, desde o ano 1978. Após o exame da documentação constante dos autos, fica demonstrado que a beneficiária não tem respaldo jurídico capaz de sustentar seu direito à manutenção da pensão. Ressaltese, ainda, que não foi localizado o processo que concedeu o benefício. O Sr. Diretor, com a anuência do Sr. Secretário, destaca que a questão da boa-fé não deve afastar a devolução dos valores recebidos irregularmente, pois foram decorrentes de ato nulo que, na dicção de Hely Lopes Meirelles, enseja o pronunciamento da invalidade com efeito ex tunc. Este representante do Ministério Público aquiesce à proposição da Secretaria de Controle Externo, vez que os documentos constantes dos autos não deixam dúvida quanto à ilegalidade dos pagamentos efetuados." Voto do Ministro Relator: 7.Conforme se verifica claramente dos elementos constantes dos autos, não restam dúvidas quanto à ocorrência de ilícito administrativo com claro prejuízo ao Erário. Assiste razão ao Diretor, ao Secretário e ao nobre representante do Ministério Público. Com efeito, o citado dispositivo regulamentar referente ao processo de Tomada de Contas Especial, assim determina, in verbis: "Art. 3º Tomada de contas especial é um processo devidamente formalizado, dotado de rito próprio, que objetiva apurar a responsabilidade daquele que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário, devendo ser instaurada somente após esgotadas as providências administrativas internas com vistas à recomposição do Tesouro Nacional." (grifo nosso). Ante todo o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões, em 21 de novembro de 2001. VALMIR CAMPELO Interessados: Interessado: Décio Aparecido Costa Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1 - conhecer da presente Representação, nos termos do art. 69, inciso II, da Resolução TCU n.º 136/2000, tendo em vista o preenchimento dos requisitos de admissibilidade, para, no mérito, considerá-la procedente; e Grupo: Grupo I Indexação: Representação; Delegacia Regional do Trabalho; SP; Pagamento Indevido; Pensão da Lei 8112/90; Viúva Recasada; Pensão Alimentícia; Comprovação; Importância Recebida Indevidamente; Ressarcimento; Dano; Cofres Públicos; Instauração; Tomada de Contas Especial; Data da Aprovação: 28/11/2001 Unidade Técnica: SECEX-SP - Secretaria de Controle Externo - SP Quorum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (Presidente), Iram Saraiva, Valmir Campelo (Relator), Adylson Motta, Walton Alencar Rodrigues, Guilherme Palmeira, Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler e o Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti. Ementa: Representação formulada por pessoa física. Possíveis irregularidades praticadas pela Delegacia Regional do Trabalho no Estado de São Paulo. Concessão indevida de pensão vitalícia a ex-cônjuge, já divorciada do instituidor antes do óbito deste. Ausência de comprovantes de pensão alimentícia. Conhecimento. Procedência. Determinação.
Data DOU: 21/02/2002 Número da Ata: 51/2001 Entidade: Órgão: Ministério do Trabalho e Emprego Processo: 002.450/2000-3 Ministro Relator: VALMIR CAMPELO