REPERCUSSÕES DA DISFUNÇÃO VESTIBULAR NO CONVIVÍO FAMILIAR E SOCIAL DE IDOSOS RENATA PORCEL DE OLIVEIRA NADIA DUMARA RUIZ SILVEIRA



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Transcrição:

REPERCUSSÕES DA DISFUNÇÃO VESTIBULAR NO CONVIVÍO FAMILIAR E SOCIAL DE IDOSOS RENATA PORCEL DE OLIVEIRA NADIA DUMARA RUIZ SILVEIRA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - BRASIL Atualmente, os pesquisadores que estudam o envelhecimento estão mais preocupados com a qualidade de vida do idoso, seus hábitos como alimentação, desempenho nas atividades de vida diárias, prática de atividades físicas, desenvolvimento cognitivo e estado psicológico, base para mudanças no estilo de vida. Destacam-se, nesta abordagem, as medidas preventivas e não só curativas, para um envelhecimento bem sucedido de acordo com as necessidades de cada pessoa. A fisioterapia vem de encontro a esse conceito por ter como objetivo principal a independência do idoso para as suas tarefas básicas de vida diária visando amenizar e evitar as conseqüências das alterações fisiológicas e patológicas do envelhecimento. A garatia da mobilidade é uma das funções que contribui para uma qualidade de vida satisfatória. Em relação a este aspecto a conduta fisioterapêutica deve ter como preocupação as relações entre a funcionalidade e grau de independência do idoso, o que lhe permitira reavaliar o significado da presença de limitações específicas como encontrada na disfunção vestibular. Para manter o equilíbrio o ser humano necessita do sistema vestibular, sistema ocular e do sistema proprioceptivo. O sistema vestibular responde constantemente a estímulos, em condições normais, com o corpo parado ou em movimento. E tem por função proporcionar a manutenção do equilíbrio constante. O conjunto de mecanismos que processa essa condição de equilíbrio é praticamente inconsciente, se dando de forma automática. Portanto, o sistema vestibular é nosso centro de controle indispensável para a manutenção do controle postural, exercendo a difícil função de processar as

informações sensoriais sobre a partir da movimentação da cabeça e dos movimentos posturais bruscos. Assim, a estimulação excessiva ou o mau funcionamento desse sistema é denominado disfunção vestibular, que gera sintomas típicos como a vertigem, a movimentação errada dos olhos, náuseas, vômitos, sudorese e outras sensações que causam desconforto às pessoas acometidas por esta disfunção. É extremamente necessária uma avaliação completa para identificar a origem e suas causas específicas que provocam a disfunção vestibular e resultam em queixas do paciente envolvendo sintomas como vertigem, náuseas, zumbidos e desequilíbrio. O histórico do paciente apresentando esta sintomatologia específica, juntamente com uma avaliação otoneurológica detalhada é de suma importância para o diagnóstico da disfunção vestibular. A definição do tratamento medicamentoso e clínico apropriado para intervenção dependerá deste diagnóstico, que se constitui na principal referência de todos os processos médicos e de outros procedimentos pertinentes. A disfunção vestibular em idosos e sua repercussão no contexto familiar e social, objeto de estudo desta pesquisa, constituem temas de interesse que se localizam na interface da Geriatria e Gerontologia por sua estreita relação com o processo de envelhecimento e as influências que exercem na condição de vida desse segmento. Mesmo sendo portador de doenças, devemos admitir que o idoso não perde sua capacidade de participação nas atividades que realizava durante a sua vida como também pode desenvolver em outros potenciais engajando-se em novos projetos. A população idosa não deve ser isolada de seu ambiente familiar e social mas deve-se buscar novas formas de adaptação às mudanças que podem ocorrer no seu estado de saúde. Todas as alterações geradas com o envelhecimento, em particular aquelas resultantes da disfunção vestibular, não devem assustar, mais sim, estimular um entendimento da necessidade de adaptação, prevenção e da busca constante para a melhor compreensão do funcionamento do nosso corpo, das alterações que surgem constantemente, o que permite delinear com objetividade progressiva as possibilidades de maior qualidade de vida.

O tratamento dos diversos distúrbios vestibulares deve ser direcionado considerando-se a origem do problema, para ser solucionado com maior eficácia, possibilitando a diminuição e, se possível, a extinção dos sintomas decorrentes da disfunção, que prejudicam o desempenho nas atividades de vida diária e alteraram a qualidade de vida do idoso. Existem três formas de tratamento para as disfunções labirínticas: a medicamentosa, a cirúrgica e a reabilitação vestibular. Mudanças de hábitos e vícios como (tabagismo, alcoolismo, má alimentação) e acompanhamento psicológico, devem ser consideradas, dependendo das necessidades apontadas no diagnóstico. Na fisioterapia, a reabilitação vestibular é extremamente importante uma vez que esses distúrbios afetam o individuo causando um déficit de equilíbrio acentuado. As metas da reabilitação são: resolver déficits agudos ou reversíveis, compensar déficits irreversíveis, minimizar a carga de déficit crônico e diminuir o perigo de quedas para restaurar a mobilidade segura e ereta, promovendo a independência. Quando aplicada por equipes multidisciplinares, incluindo além de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos e psicólogos, a reabilitação vestibular obtém melhores resultados. Essa equipe deverá ter como principal objetivo a melhora do equilíbrio global, da qualidade de vida e a restauração da orientação postural por meio de exercícios que estimulam a adaptação. Esta pesquisa teve como principal objetivo analisar os efeitos da disfunção vestibular do idoso no contexto familiar e social, visando melhorar as formas de diagnóstico e tratamento da sua saúde, além de contribuir para que esse segmento possa viver plenamente essa etapa da vida. O perfil de cada um desses idosos foi traçado para possibilitar uma melhor compreensão desses indivíduos, através de uma entrevista semi estruturada, com uso de um roteiro com as perguntas abertas, o que, de acordo com May (2004), permitiu gerar e manter conversações mais livres com as pessoas sobre tópicos específicos de interesse para a pesquisa. O roteiro contém itens relativos à identificação pessoal e outro que aborda aspectos relativos ao contexto familiar e social dos sujeitos investigados. Também foram realizadas, entrevistas com um dos familiares de cada idoso, incluído como sujeito da pesquisa. Esse procedimento possibilitou ampliar a compreensão da vida cotidiana do idoso tanto no âmbito individual quanto no contexto familiar e social.

Portanto, esta pesquisa foi desenvolvida com a abordagem qualitativa aplicada à saúde, empregando-se a concepção trazida das ciências humanas, para o desenvolvimento de estudos que permitam ampliar o significado da saúde para a vida das pessoas. Contribuição já reconhecida por Turato (2005) que explicitou a importância dessa metodologia para a compreensão dos aspectos biopsicossociais da vida dos pacientes. Inicialmente, foi então realizada a triagem de pacientes com disfunção vestibular associada ao envelhecimento, já com o diagnóstico médico constatado, no cadastro dos da empresa de home care na qual pertenço, MedMar/Family Atendimento Médico de Emergências, na cidade de Santos estado de São Paulo. Pela necessidade dos pacientes serem maiores que 65 anos, ter a predominância da sintomatologia da disfunção vestibular pura, e morar com algum familiar, este processo foi demorado, já que a maioria dos idosos apresentava outras doenças secundárias além da disfunção vestibular que poderiam alterar os resultados da análise. Foram então, selecionados nove idosos para a coleta de dados. A análise dos dados coletados das entrevistas levou em consideração os depoimentos subjetivos e a narrativa de histórias pessoais, o que expressa a interação do pessoal com o social, além da importância do ambiente familiar harmonioso e adaptado às novas condições provenientes do envelhecimento. Acometendo um número equivalente entre homens e mulheres, a disfunção vestibular se mostra presente na maioria dos idosos, que também relatam lembrar de antecedentes familiares ou amigos com queixas particulares da disfunção vestibular. Fica evidente que o surgimento dos sintoms da disfunção vestibular, na maioria dos casos, aparece mais severamente após os 65 anos de idade, caracterizado por vertigens, tonturas, náuseas, zumbido no ouvido, desequilíbrio e medo de queda. Os sintomas da disfunção vestibular podem afetar atividades de vida diária, quando desconhecidos e mal entendidos e podem gerar repercussões relevantes no convívio familiar e social dos idosos, como já apontados anteriormente. Após analise das nove entrevistas realizadas com os idosos e seus respectivos familiares, podemos constatar que quatro dos sujeitos que sofrem com os sintomas da

disfunção vestibular, não conhecem a fundo a patologia, acham que é condição normal do envelhecimento. A falta de acompanhamento médico e a perda da eficácia dos medicamentos por uso incorreto, provocam uma exacerbação na sintomatologia da disfunção vestibular, que conseqüentemente irá afetar ainda mais o convívio familiar e social, gerando maior dependência e falta de autonomia do idoso para a realização de suas atividades de vida diária. Ao desconhecerem a reabilitação vestibular realizada por profissionais da área da saúde com diferentes formações, porém com um mesmo objetivo, concretizam ainda mais a condição de doente, não acreditando que todos os sintomas podem ser controlados com um tratamento multidisciplinar adequado. Essa limitação é mais evidente quando os idosos sujeitos dessa pesquisa relatam seu cotidiano antes dos sintomas aparecerem, quando eram ativos, tomavam conta das atividades da casa, saiam, gostavam de se relacionar com amigos, fazer compras, caminhar na praia, dentre outros, que agora deixaram de fazer. No contexto familiar, se isolam, não gostam mais de participar de reuniões familiares, almoços e também são apáticos nas decisões domésticas. Descrevem não ter mais função dentro da família, se sentem inúteis, e por isso passam a maior parte do dia em frente à televisão, tentando esquecer os problemas. No contexto social, os relatos afirmam que antes possuíam amigos, participavam de programas para a terceira idade, iam a igrejas e hoje não saem mais de casa, por medo de cair preferem ficar a maioria do tempo sentados e deitados, gerando ainda mais desequilíbrio e insegurança na hora de caminhar e de sair na rua. O envelhecimento para esses quatro idosos que sofrem com os sintomas da disfunção vestibular revela uma situação que compromete sua visão sobre a fase da velhice. Acreditam que por estarem velhos não possuem mais função, não podem vislumbrar novos projetos, não tem expectativa de vida, apenas esperam o tempo passar e à hora da morte chegar. Reclamam da vida, da família, não gostam mais de receber amigos em casa e nem de fazer visitas a outras pessoas. Destacam a ocorrência da vertigem quando levantam, principalmente quando já estão muito tempo deitados ou sentados, incluem

que evitando se levantar a vertigem vai melhorar e, por desconhecimento, aumentam ainda mais esse circulo de sintomas da disfunção. Quando as questões foram aplicadas aos respectivos familiares desses idosos com visão negativa do envelhecimento e com descrença de uma vida absolutamente normal mesmo sendo portador da disfunção vestibular, o quadro encontrado não foi diferente. As queixas dos familiares foram as mesmas enfatizadas por seus idosos. Todos afirmam que bom humor, alegria de viver e satisfação estavam presentes na vida desses idosos antes das vertigens e o desequilíbrio aparecerem, agora, essa realidade mudou a insegurança, o medo e a dependência são presenças constantes no cotidiano da família. Os familiares também destacam que esses idosos tinham uma participação efetiva na casa e na família, assim como na organização das tarefas e contas domésticas que eram executadas com responsabilidade e eficácia. Agora, esses idosos só cobram atenção e reclamam da vida e da situação que se encontram. A falta de atividade e a não realização das tarefas do lar, levaram esses indivíduos a aumentarem o sentimento de inutilidade. Uma vez isolados e inativos só fazem agravar a manutenção dos sintomas da disfunção vestibular, que se exacerbam com a falta da movimentação e com falta de recrutamento do sistema vestibular para manutenção do equilíbrio do corpo. Quanto menos o sistema vestibular é acionado mais ele vai se deteriorando. Portanto, a movimentação, a reabilitação vestibular e bom hábitos de vida como já tratados anteriormente, faz com que o sistema vestibular se adapte a nova condição de possuir uma disfunção e consiga se adequar dentro dessa realidade, fazendo a manutenção do equilíbrio de maneira eficaz, como descrito pelos outros cinco idosos que relataram experiências diferentes dos idosos anteriores. Portanto a maioria dos idosos entrevistados relata que após o surgimento dos sintomas não mudaram em nada suas atividades; relatam que no primeiro instante ficaram assustados e apreensivos, mas depois com orientações e conhecimento do assunto passaram a levar uma vida normal, sem intercorrências.

Todos eles participam e desempenham ativamente seu papel dentro da família, sendo que alguns ainda aumentaram a responsabilidade por terem que cuidar dos netos. No caso das mulheres, não realizam mais as atividades domésticas, porque destinam querem tempo para se divertir. O mesmo acontece com os homens que já são aposentados e não querem trabalhar mais. Momentos de lazer, jantares, danças, trabalhos voluntários está presente na vida desses idosos, que não param em casa. Dizem que quando algum sintoma como vertigem ou náusea aparecem é só tomar a medicação que logo passa. Exercícios de cabeça, olhos e pescoço usados na reabilitação vestibular é uma atividade diariamente presente na rotina desses sujeitos. Para viver com bastante qualidade, se adaptaram á disfunção vestibular, tomam medicamento corretamente, praticam atividades físicas e realizam ou já realizaram exercícios de reabilitação vestibular. Esses idosos, não deixam se abater com a disfunção vestibular e levam uma vida normal e realizam suas atividades com independência e eficácia. Nas entrevistas com os familiares desses cinco idosos a satisfação também foi encontrada. Disposição, alegria, e vontade de viver são as palavras utilizadas na descrição de seus idosos. Os entrevistados relatam que certa lentidão na hora da realização das atividades diárias pode ser notada, mais que isso não interfere em nada e nem é problema para esses idosos. O conhecimento da disfunção vestibular, a orientação médica e a prática da reabilitação são indispensáveis para que os acometidos por tal disfunção levem uma vida sem privações e com qualidade de acordo com as necessidades e disposição de cada um. Os idosos que aceitam bem o avanço da idade, não deixam de realizar suas atividades por estarem mais velhos, são participativos dentro da família e gostam do convívio social, são provas que a disfunção vestibular associada ao envelhecimento, tratada não os privam de uma vida normal e muito agradável. Contrapondo essa realidade, podemos constatar que os sintomas da disfunção vestibular originadas pelas alterações geradas pelo envelhecimento, quando não tratados e controlados, podem gerar uma série de desconfortos aos indivíduos. Essa

condição de vida acentua ainda mais o sentimento de inutilidade e vazio desses idosos que com a velhice, associam a falta de função dentro do contexto familiar e social que se encontram. BIBLIOGRAFIA ALONSO, F.R.B.; ( 2005) O idoso ontem, hoje e amanhã: o direito como alternativa para a consolidação de uma sociedade para todas as idades. Revista Kairós, São Paulo. BACELAR, R.; ( 2002) O lugar da avó. Recife: Fundação Antonio dos Santos Abranches FASA. BEAUVOIR, (1970) Simone. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira BENSEN, R.; ADACHI, J. D.; PAPAIOANNOU, A.; IOANNIDIS, G.; OLSZYNSKI, W. P.; SEBALDR, R. J.; MURRAY, T. M.; JOSSE, R. G.; BROWN, J. P.; HANLEY, D. A.; PETRIE, A.; PUGLIA, M. GOLDSMITH, C. H.; BENSEN, W. (2005) Evaluation of easily measured risk factors in the prediction of osteoporotic fractures. BMC Musculoskeletal Disorders. BRASILEIRO. GERALDO, FILHO. (2006) Bogliolo Patologia. 6ª Ed. Guanabara Koogan. RJ 2002BROWN, K.E., WHITNEY, S.L., MARCHETTI, G.F., WRISLEY, D.M., Furman JM. Physical therapy for central vestibular dysfunction. Arch Phys Med Rehabil. BOTTÓS, M. R. M. (2007) O envelhecer na visão de idosos com seqüelas do Acidente vascular Encefálico. Dissertação apresentada para o Mestrado em Gerontologia da PUC- SP.

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