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Transcrição:

P.º R. P. 147/2009 SJC-CT- Registo de aquisição por doação efectuada por uma sociedade comercial Eventual relevância da invocação no título de um interesse societário que, em abstracto, permita afastar o ânimo altruísta normalmente associado àquele tipo de negócio jurídico, bem como de elementos que permitam considerar tal doação em concreto como conforme aos usos e circunstâncias da época e às condições da sociedade. DELIBERAÇÃO Relatório 1 Sob a Ap. n.º 1 de 9 de do corrente ano de 2009 foi requisitado online na conservatória recorrida um registo de aquisição, por doação, do prédio descrito sob o n.º 4, da freguesia de, do concelho do, titulada por escritura notarial datada do dia 2 do mês em apreço, na qual intervieram, nas qualidades de doadora e donatária, respectivamente, as sociedades comerciais que giram sob as firmas.limitada, com sede na Rua, n.º 2, 4.º andar,.,e, Lda., com sede na Rua, n.º 81-A,. 2 O peticionado registo foi, em sede de qualificação, objecto de recusa, legalmente alicerçada na alínea d) do n.º 1 do artigo 69.º do Código do Registo Predial manifesta nulidade do registo requerido -, ex vi do disposto no artigo 6.º do Código das Sociedades Comerciais ( a contrario ), conjugado com o preceituado nos artigos 280.º, n.º 1, e 294.º, ambos do Código Civil, sem prejuízo do apelo também efectuado ao disposto no artigo 68.º do predito Código do Registo Predial. 3 Da decisão fundamentada nos termos acabados de expor, foi interposto recurso hierárquico no dia 25 do subsequente mês de Maio, no qual se impugnou a invocada nulidade manifesta do acto, com o fundamento de que, nos termos do disposto no artigo 6.º do Código das Sociedades Comerciais, é à gerência ou administração das sociedades que compete decidir o que é necessário ou suficiente à prossecução dos seus fins, determinando os actos que devem ser praticados com vista à obtenção do justo lucro, razão última da existência da sociedade comercial em economia de mercado, não podendo, nem devendo tais actos ser apreciados isoladamente por quem não conhece, nem tem de conhecer a estratégia global da empresa, que só à respectiva gerência compete. 1

E, mesmo admitindo, por mera hipótese de raciocínio embora, que a doação efectuada por uma sociedade comercial é nula, entende a recorrente que resulta da parte final do artigo 294.º do Código Civil que os negócios contrários à norma injuntiva (e já se viu que no caso em apreço não há norma injuntiva) não são necessariamente nulos. Em abono desta posição, cita-se, por transcrição, textos insertos na Revista do Notariado, dos quais resulta não competir ao notário, mas ao órgão de representação da sociedade comercial avaliar da necessidade ou conveniência da prática de certo acto em vista da prossecução do fim social, sendo certo que os actos praticados pelos órgãos de representação das sociedades por quotas, em nome delas e dentro dos poderes que a lei confere a tais órgãos, ainda que em desrespeito do objecto social, são válidos, obrigando a sociedade. 4 Sustentou a recorrida a qualificação por que se decidiu, socorrendo-se, para tal, da invocação de posições já antes defendidas por parte da doutrina e da jurisprudência nacionais, concluindo, em síntese, que a incapacidade das sociedades para a prática de actos gratuitos com fim desinteressado é uma incapacidade de gozo, insusceptível, por isso, de ser sanada ou suprida pela intervenção de todos os gerentes, administradores ou directores, sendo, pois, nulos os actos praticados por titulares de órgãos da sociedade comercial que não sejam abrangidos pela capacidade desta. 5 Atentas a capacidade e legitimidade das partes, a tempestividade do recurso e a inexistência de questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito, a posição do conselho vai expressa na seguinte Deliberação 1 I O fim mediato de qualquer sociedade comercial é a obtenção de lucros e a sua atribuição aos sócios (cfr. art.º 980.º, C. Civil, aplicável subsidiariamente, ex vi art.º 2.º, C. das Sociedades Comerciais) 2, objectivos 1 São entendidos como tais os ganhos consistentes num aumento do património social no qual se formam. 2 Conquanto da terminologia legal utilizada pelo citado preceito legal decorra que se trata de uma repartição, parece-nos, à semelhança da opinião, a propósito sustentada, por Coutinho de Abreu (in Curso de Direito 2

em função dos quais se processa o exercício da sua actividade, delimitada pelo respectivo objecto social (fim imediato). II De acordo com o chamado princípio da especialidade, hoje enunciado no artigo 6.º do Código das Sociedades Comerciais, a capacidade jurídica ou de gozo de direitos da sociedade comercial 3 acha-se balizada, face ao teor literal do n.º 1 daquele preceito A capacidade da sociedade compreende os direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim pelo aludido escopo lucrativo e não pelo respectivo objecto social (cfr. n.º 4, artigo cit.), o que significa que, em regra, estarão fora da capacidade da sociedade os actos gratuitos pelos quais a mesma dá a outrem uma prestação ou contrapartida. III Tendo em conta o preceituado na parte final do n.º 1 do referenciado art.º 6.º - exceptuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da personalidade singular. -, porque a capacidade de gozo das pessoas colectivas é diversa da das pessoas singulares, encontra-se a mesma, desde logo, sujeita a limitações legais (v.g., estão-lhe vedados os direitos de uso e habitação que a lei art.º 1484.º e segs. do C. Civil reserva às pessoas humanas) e a restrições ditadas pela natureza das coisas, tais como, os direitos e obrigações inseparáveis da personalidade singular, bem como várias situações de direito público que visam pessoas singulares (v. g. o direito ao voto em eleições públicas). IV - Não obstante a asserção contida na parte final da conclusão 2, a simples gratuitidade dos actos praticados pela sociedade não é, todavia, suficiente para os excluir da esfera da respectiva capacidade, dado que - e cada Comercial, vol. II, 2.ª edição, pág. 15) que é mais rigoroso falar de atribuição, atenta a realidade das sociedades unipessoais - e não obstante o paradigma ser, tanto no âmbito do Código Civil, como no do Código das Sociedades Comerciais, o das sociedades pluripessoais. 3 Sem prejuízo daqueles autores que, não obstante, entendem que a sociedade tem uma capacidade jurídica geral ou genérica, determinando o afastamento do fim uma mera irregularidade e não um vício fundamental do acto. - Vide Oliveira Ascensão, in Direito civil Teoria Geral, vol. I, pág. 266, e Luís Serpa Oliveira, in R.O.A., 59.ª, I, Jan./99, págs. 389 a 412. 3

vez mais na actual conjuntura 4 - as sociedades recorrem a actos deste tipo, os quais, desde que se mostrem necessários, ou, no mínimo, convenientes, para a prossecução do fim societário, são considerados válidos. Acresce que, por expressa determinação legal (n.º 2, art.º 6.ºcit.), não são havidas como contrárias àquela finalidade as liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições da própria sociedade. 5 V Ora, não fornecendo a lei quaisquer índices ou presunções a respeito destes pontos, constatamos que a latitude com que o legislador procurou definir o âmbito da capacidade da sociedade é de tal forma ampla que pode conduzir a que, na prática, seja postergado o dito princípio da especialidade, deferindo a qualificação do acto praticado, no limite, para a apreciação das circunstâncias que envolveram a respectiva formalização, com vista a ponderar a possibilidade de, caso a caso, concluir pela não verificação do pressuposto da validade do acto. VI Conquanto seja irrefutável a nulidade das doações efectuadas por uma sociedade comercial fora das hipóteses previstas nos números 1 e 2 do mencionado artigo 6.º, se dos autos designadamente, da escritura que serviu de título ao solicitado registo não resultarem elementos decisivos no sentido de concluir pela inexistência, na liberalidade efectuada, de fim interessado ou interesseiro, ou pela ausência, na mesma, do espírito altruísta, vedada se mostra ao conservador a apreciação da validade substancial do negócio, atento o desconhecimento da situação concreta nos seus contornos objectivos. VII Sendo certo que nenhuma exigência decorre da lei relativamente aos elementos que devem integrar as declarações contratuais da sociedade doadora e do/s donatário/s aceitante/s, ou aos documentos que devem instruir 4 De facto, é dia a dia mais comum a intervenção das empresas, independentemente de contrapartida, na promoção de objectivos culturais, desportivos e assistenciais, sem que tal prejudique a finalidade geral da sociedade, que não exige que todo e qualquer acto seu produza lucro, antes requer que as ditas actividades se insiram em objectivos genericamente lucrativos. 5 Cfr., a propósito, o parecer deste Conselho, emitido no P.º C. P. 106/2003 DSJ-CT e a deliberação do mesmo Conselho, proferida no P.º R. P. 122/2007 DSJ-CT. 4

o respectivo negócio jurídico, por forma a que do correspondente título resulte, clara e objectivamente caracterizada, a liberalidade a que o mesmo diz respeito 6, não pode o conservador, no condicionalismo exposto, concluir pela nulidade manifesta do negócio jurídico em apreço, e, como corolário, pelo preenchimento do fundamento legal de recusa estabelecido na alínea d) do n.º 1 do artigo 69.º do Código do Registo Predial. Face ao exposto, entende o Conselho que o recurso merece provimento. 2009. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 24 de Setembro de Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, relatora. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, com declaração de voto em anexo. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 02.10.2009. 6 De resto, para os autores que, como Oliveira Ascensão, vêm defendendo a capacidade genérica da pessoa colectiva, o próprio afastamento do fim societário configura uma mera irregularidade e não um vício fundamental do acto. In Direito Civil Teoria Geral, vol. I, pág. 266. 5

P.º R.P. 147/2009 SJC-CT Declaração de voto Entendo que o registo merece a qualificação de provisório por dúvidas pelas razões aduzidas na declaração de voto junta ao processo R.P. 122/2007 DSJ-CT, que aqui dou por reproduzidas. Lisboa, 24 de Setembro de 2009, A vogal, Maria Madalena Rodrigues Teixeira 6

Proc. R.P. 122/2007 DSJ-CT Declaração de voto 1. Voto vencida o parecer com base no seguinte entendimento: Considerando o disposto no artigo 6º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), do título deveriam constar, pelo menos, a invocação de um fim interessado ou interesseiro que, em abstracto, permitisse arredar o ânimo ou escopo altruísta artigo 6º, nº1, do CSC - ou quaisquer elementos que, no entender da sociedade doadora permitissem classificar a doação como usual, segundo as circunstâncias da época e as condições da sociedade artigo 6º, nº2, do CSC. Na verdade, não compete ao conservador apreciar em concreto das razões da doação ou liberalidade e, designadamente, decidir se preenchem ou não os requisitos de validade do acto contidos no artigo 6º do CSC, porquanto, tratando-se de conceitos amplos e sem definição legal, na livre apreciação de prova a que estes requisitos naturalmente se achariam sujeitos em sede judicial poder-se-ia, efectivamente, chegar a resultado ou conclusão diversos. A meu ver, a diferença está em que, se nada constar no título o valor negativo do acto pode oscilar entre o ser inequivocamente nulo porque inexiste interesse - e o poder ser nulo porque existe interesse, ainda que o mesmo possa vir a ser julgado como juridicamente irrelevante. Parece-me, por isso, que atenta a finalidade do registo, a exigência de indicação no título de um interesse na liberalidade ou de uma perspectiva de usualidade na doação não visam habilitar o conservador a decidir em definitivo sobre a validade do negócio jurídico - tratando-se de um acto que pode provocar a diminuição do património afecto à garantia do passivo, caberia, em primeira linha, aos credores demonstrar a falta de interesse ou a impossibilidade da doação poder ser considerada conforme aos usos sociais e às condições da sociedade antes se justifica como um mínimo de controlo de legalidade artigo 68º do Código do Registo Predial - pela necessidade de vincular o doador a uma finalidade ou 7

propósito capazes de eliminar, à partida, a falta de um escopo susceptível de ser discutido e provado para efeitos do disposto no artigo 6º do CSC e, com isso, a nulidade inequívoca da doação. Em súmula, trata-se de distinguir entre um acto que está definitivamente fora do âmbito da capacidade da sociedade (artigos 160º e 980º do Código Civil, e artigo 6º do CSC) e um acto que, em abstracto, se situa nos limites definidos nos ns. 1 e 2 do referido artigo 6º em face da invocação de um interesse societariamente relevante ou de uma qualificação da liberalidade conforme os usos e as circunstâncias da época e as condições da sociedade. No caso em apreço, não creio que o facto do donatário ser um menor possa determinar a opção pela manifesta nulidade da doação, colocando-a em definitivo no âmbito da incapacidade societária. Na verdade, se ao menor não pode ser reconhecida uma incapacidade de exercício absoluta, não se vê que o negócio jurídico em causa não possa representar um interesse ou uma finalidade interesseira a operar numa relação jurídica em que o menor possa validamente intervir como sujeito activo ou passivo. Propendo, por isso, para a provisoriedade por dúvidas a remover mediante declaração de enquadramento do acto no artigo 6º do CSC. Lisboa, 30 de Janeiro de 2008 Maria Madalena Rodrigues Teixeira 8