Os silêncios e interditos no discurso sobre a representação do negro escravizado na literatura brasileira

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Transcrição:

Os silêncios e interditos no discurso sobre a representação do negro escravizado na literatura brasileira Priscila Lorrane Lopes de Sousa, Estudante (IC), Jucelino de Sales, Pesquisador (PQ). priscilalopesfsa@gmail.com Av. Universitária, S/N - Nordeste, Formosa - GO, 73807-250 RESUMO: O presente trabalho objetiva tratar das diversas formas de representações do negro escravizado na literatura brasileira, no Brasil escravocrata do século XIX, mediante a análise da obra metaficcional historiográfica Um defeito de cor, romance de Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006, o qual estabelece um diálogo entre ficção e história. Desenvolvendo questões relacionadas à literatura, à história, à raça, ao discurso e à diáspora africana, busca-se demonstrar a importância das obras de literatura afrodescendente no Brasil, comprometidas etnograficamente com as relações raciais contemporâneas, a exemplo de Um defeito de cor. Essa pesquisa foi escrita visando apresentar a condição do sujeito negro escravizado como objeto, numa visão distanciada que se coloca de nossa época contemporânea por meio de um olhar para o passado, para investigar e analisar o discurso a respeito da representação dessa subjetividade que foi estereotipada e silenciada por séculos entre o processo de colonização e a realidade social e política de nossa época para se emudecer diante desse trauma histórico. PALAVRAS-CHAVE: romance brasileiro, literatura afro-brasileira, discurso, negro, interdito, silêncio. Introdução A questão que propusemos dialogar nessa pesquisa, parte de indagação proposta na elaboração do projeto de pesquisa a que esse plano de trabalho se vincula: Por que o negro escravizado não foi tomado de maneira mais evidente como matéria literária na época de sua escravização, isto é, por que há um silêncio em relação a esse trauma histórico que, somente, nossa época encena uma batalha para desmistificar essa sombra? Nesse sentido, nos questionamos: Que tipo de silêncio ou sombra há por trás da representação desse sujeito? Quais sentidos existem no interdito desse silêncio? Vale aqui a reflexão de Orlandi, sobre a condição discursiva do silêncio: o silêncio na Análise do Discurso se faz em todas as direções, e não numa linha reta. É o silêncio que preside essa possibilidade, porque quanto mais falta mais possibilidades de sentidos existe (ORLANDI, 1995, p.148). Cabe a pergunta, em relação à produção literária de épocas anteriores que não refletiram de forma direta, ou refletiram de uma outra forma sobre a condição desse sujeito: o que ficou por não dizer (interdito) na construção do discurso literário dessas obras? E o porquê desse aprisionamento em estereótipos numa estrutura de produção literária vinculada, em seu surgimento, ao pensamento ocidental?

Para tal, partimos de nossa época, por meio de um viés histórico, procurando compreender como o negro escravizado é representado e apresentado em nossa contemporaneidade? Essa pergunta desemboca numa outra: Quais os discursos (ideológico, político, social) que esse sujeito precisa enfrentar hoje para até mesmo superar o trauma histórico da escravização? Podem-se ver vários questionamentos em torno de um único sujeito que serão problematizados ao longo deste trabalho, a partir da obras que apontamo agora: Um Defeito de Cor de Ana Maria Gonçalves. Ana Maria Gonçalves narra uma história do século XIX: a protagonista Kehinde, uma africana idosa, cega e à beira da morte, viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Neste romance, os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens, criando a saga emocionante e verossímil da história de Kehinde. O que nos interessa como pesquisa é analisar os silêncios e interditos no discurso sobre a representação do negro escravizado na literatura brasileira através do romance Um Defeito de Cor, procurando compreender os regimes de verdade e os regimes de exclusão que circundam essa sombra. A figura do negro na literatura brasileira anterior a 1850, portanto anterior à abolição do tráfico de escravos, praticamente não existe. Isto é surpreendente se considerarmos o papel diário desempenhado pelos escravos em muitas atividades durante vários séculos de colonização. Já foi dito que a total ausência de escravos na literatura é um indício de que o escritor brasileiro não considerava, de modo nenhum, o escravo como um ser humano (BROOKSHAW, 1983, p. 26). A Nossa intenção é interpretar os regimes de verdade por trás desse silêncio. Material e Métodos Dividimos a pesquisa em duas etapas. Na primeira, realizamos a leitura das obras procurando examinar atentamente qual foi à perspectiva de cada escritor na elaboração das mesmas em relação ao discurso sobre o negro escravizado. Neste processo, o levantamento, leitura, e observação de bibliografia crítica e/ou relacionada aos objetos também foi relevante.

Noutra etapa, voltamos nossos olhos para os sentidos que há na elaboração do silêncio e como nessas narrativas é construído o discurso sobre o negro escravizado, refletindo sobre o porquê de apenas na segunda metade do século XIX esse sujeito se tornar, evidentemente, matéria literária. Resultados e Discussão Antes de passarmos aos resultados, abrimos uma ressalva de que, pelo tamanho e força do discurso expresso no interior da obra Um defeito de cor, acabamos que permanecendo exclusivamente nessa narrativa, deixando de lado as outras duas narrativas as quais estavam na proposta inicial de estudo e análise. No decorrer do período de implementação desse Projeto e Iniciação Cientifica foi possível fazer um conjunto de análises em torno da obra Um Defeito de cor de Ana Maria Gonçalves. A partir dela e do balizamento com outros aparatos literários, já foi possível ponderarmos sobre a representação do negro escravizado na literatura brasileira, e compreender que o ápice de sua representatividade negativa nas obras literárias foi ao longo do século XIX e o começo do século XX, épocas que já existia uma ideia de inferioridade de uma raça e superioridade de outra, em consequência de inúmeros determinismos, entre eles, o histórico e o científico, que refletiam as ideologias sociais desse período. Percebemos também que na obra, a autora delineia de forma minuciosa as culturas dos povos da África e de seus descendentes. Em sua narrativa também se pode notar que na voz de Kehinde se desvela o silenciamento, fruto da dor a que foram submetidos os escravos negros traficados durante o século XIX, como também o trauma resultado da violência, inclusive cultural, sofrida por eles. Nesse período de estudo, vivenciamos experiências que enriqueceram muito a pesquisa e abriram caminhos para o melhor entendimento do trabalho. Uma dessas experiências foi à comunicação oral no XI ELFO Encontro de Letras de Formosa, promovido pelo Curso de Letras da UEG Campus Formosa, realizado no período de 22 a 26 de Junho de 2015, no qual, foi apresentado o projeto, onde se fez a exposição de como desejávamos trabalhá-lo e foi abordado temas sociais que são pertinentes ao desenvolvimento literário a respeito da matéria elencada: o negro

escravizado e o silêncio ao redor desse trauma, dando abertura a vários questionamentos problematizados até o fim dessa pesquisa. Por ora, temos condições de apontar que a obra Um defeito de cor, coloca-se em nossa posição atual como um clássico de nossa literatura capaz de abrir uma multiplicidade de discussões a respeito não apenas do negro escravizado, mas também da profunda cultura africana e todos os arranjos de crioulização (da língua negra, dos homens negros, da sociedade negra) que, por meio de uma poética de relação possibilitou e vem possibilitando a riqueza e heterogeneidade da cultura brasileira. Trata-se de um arquivo escrito em nossa época, mas cuja sensibilidade e pesquisas bibliográficas realizadas pela autora, permitem reconstruir o ocaso do século XIX em solo brasileiro. Um Defeito de Cor é obra desafiadora e ao mesmo tempo reveladora, pois no interior dessa narrativa se esconde um manancial de traços e elementos de pureza africana que possibilitam compreender como, nos arranjos sociais da empresa colonial, entre eles, a dolorosa escravatura, resiste no silêncio de sua condição possível uma maneira de ser brasileira devedora de um enorme pedaço da alma africana. Considerações Finais Com base na obra em análise e as discussões que a partir dela se abrem, pode-se inferir que o negro dentro da escrita literária brasileira é quase sempre evidenciado com estereótipos negativos. O Brasil sempre tentou encontrar formas de sustentar a imagem de um país sem preconceito racial, apesar das desigualdades estarem visíveis na sociedade. Este racismo enraizado, disfarçado, mas sempre presente e violento acontece devido ao mito da democracia racial. Observando a sociedade, o dia-a-dia das pessoas, é notável que esse racismo camuflado de democracia ainda esteja presente na sociedade brasileira e em outros países também. No entanto, se o racismo e a discriminação são uma construção feita há séculos ao longo da história, pode ser, do mesmo modo, desconstruída, e é a partir dessa desconstrução que os negros irão se libertar desse silêncio e dos arquétipos que ainda perduram na sociedade moderna.

Destacamos, por fim, que essa pesquisa de iniciação científica, além de nos inserir no âmbito acadêmico de pesquisas, também viemos desenvolvendo a partir dela o nosso Trabalho de Conclusão de Curso, previsto para ser apresentado na última dezena de novembro. Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar às dificuldades. Ao meu coordenador de pesquisa e professor Jucelino de Sales pela orientação, apoio e confiança; pelo incentivo e, fundamentalmente, por acreditar em minha capacidade. Referências BASTIDE. Roger. Os estereótipos de negros na Literatura Brasileira. Em: MACHADO, Maria de Lourdes Santos (org). Estudos Afro-Brasileiros. São Paulo: Editora Perspectiva, 1953. BROOKSHAW, David. Raça e Cor na Literatura Brasileira. Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto, 1983. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. CHAUI, Marilena de Souza. O que é ideologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2006. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 3. ed. Campinas: Ed.Unicamp, 1995. SHOHAT, Ella e STAM Robert. Crítica da Imagem Eurocêntrica: Multiculturalismo e Representação. Tradução: Marcos Soares. São Paulo: Cosac Naify, 2006.