TRIBUNAL MARÍTIMO CB/MCP PROCESSO Nº 25.503/10 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO CB/MCP PROCESSO Nº 25.503/10 ACÓRDÃO Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS. Colisão de embarcação contra duas casas palafitas, situadas às margens do rio Solimões, proximidades do porto Careiro da Várzea, Manaus, AM. Danos Materiais, sem ocorrências de acidentes pessoais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico. Erro de manobra por condutor inabilitado, somando-se a negligência do proprietário, ao permitir pessoa, sem a devida habilitação, conduzisse embarcação de sua propriedade e responsabilidade. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Consta dos autos que em 24 de maio de 2009, por volta de 19h40min, já ao término da viagem de travessia do porto do CEASA (Manaus/AM) até o porto do Careiro da Várzea, Manaus, AM, ao se aproximar do ponto de atracação, a Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, tipo Ferryboat, de 36,50 metros de comprimento, 163 AB, colidiu contra duas casas palafitas, deixando-as parcialmente destruídas, estimando-se os prejuízos sofridos pelos seus proprietários/moradores, total em torno de R$ 17.000,00 (v. fl. 5). Não houve vítimas, tampouco poluição ao meio ambiente hídrico. A embarcação foi apreendida, conforme Auto de Apreensão nº 193/09, fl. 138. Ocorrência Registrada na Polícia Civil - 31º Distrito Policial, Careiro da Várzea, AM (v. fls. 03 a 05). Dos depoimentos colhidos e documentos acostados, extrai-se que, no momento da colisão, a Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, era conduzida pelo Sr. Raimundo Horacio Bezerra de Souza, inabilitado para conduzir embarcações. Apesar de ser época de cheias, as águas do rio Solimões estavam calmas, sem banzeiros. Grece da Silva Meneses, moradora de uma das casas atingidas, em depoimento de fl. 56, declarou que, por ocasião do acidente o depoente se encontrava na cozinha de sua casa. As condições do tempo eram boas, visibilidade em torno de 100 metros, até porque, as luzes estavam todas acesas, tanto as de sua casa como as da casa da vizinha que também foi atingida. Não havia qualquer embarcação que impedisse o comandante da balsa, o Sr. Raimundo Horacio, de realizar manobras para evitar o acidente, pois, o cais estava livre. Declarou também que, primeiro o depoente ouviu um barulho, foi até a frente da sua casa e observou que a balsa havia se chocado contra a casa da vizinha e, no momento, a mesma estava dando ré e, logo em seguida, veio em direção 1/6

à casa do depoente, de forma descontrolada. Declarou, ainda, se o comandante da embarcação fosse habilitado, provavelmente teria evitado o acidente e que a alegação do Comandante após o acidente foi de estar a manete da marcha avante quebrada. Finalmente, declarou que a balsa é usada no transporte de cargas e passageiros entre o porto do Ceasa e o Porto do Careiro da Várzea. Lucenilde da Silva Nery (fl. 61), moradora da primeira casa atingida, declarou quando do acidente a depoente estava em viagem para o município de Tefé, AM. Soube do ocorrido através de um telefonema de um amigo. Declarou ainda que, o motivo de querer testemunhar sobre o acidente foram os prejuízos sofridos pela depoente em decorrência desse acidente, e que a real situação só foi observada quando a depoente chegou a casa e encontrou a mesma parcialmente destruída. João Garcia Maquiné Filho (fls. 66/67) declarou que, estava na praça que fica em frente ao porto, e assistiu o acidente. Na ocasião, as condições do tempo eram boas, tudo calmo, o cais estava livre para manobras das balsas, porém se tivesse outras embarcações no porto seriam quebradas. Asseverou que, de onde estava, o depoente pode ver a balsa chegando, aparentemente descontrolada, quebrando as casas que estavam pela sua frente. Que, se o dono da empresa tivesse colocado o comandante titular para conduzir a embarcação e não o operador de rampa, o Sr. Horacio, não teria acontecido o acidente. O depoente acredita que o Sr. Horacio não estava habilitado para a função. Antônio Benvindo do Nascimento (fls. 70/71) declarou que, quando do acidente o depoente se encontrava na praça que fica em frente ao porto. Na ocasião o tempo era bom, estava tudo calmo, não havia nenhuma embarcação no porto que pudesse interferir na manobra da balsa para evitar o acidente. Acredita que o comandante da embarcação não seja habilitado, porque na maioria das vezes o viu operando a rampa da balsa. Declarou ainda que, ouviu algumas pessoas gritando e quando observou, o depoente viu a balsa chegando e quebrando as casas. A balsa foi e voltou três vezes para cima das casas. Não soube informar se os passageiros ou tripulantes sofreram danos físicos ou materiais ou, ainda, se ocorreu poluição do meio hídrico. Raimundo Horacio Bezerra de Souza (fls. 98/99), funcionário da empresa proprietária da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, declarou que, exerce a função de serviços gerais e trabalha na atividade de cobrança de veículos em terra, e que todos os funcionários que exercem a atividade de comandante são habilitados para a função. Negou que estivesse conduzindo a embarcação naquele dia, como ainda negou a ocorrência de acidentes. Deborah Nogueira França (fls. 101/102), funcionária da empresa proprietária da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, declarou exercer a função de administração de 2/6

modo geral, quando necessário também trabalha na atividade de cobrança de veículos em terra. Asseverou que, todos os funcionários que exercem a atividade de comandante são habilitados para a função e que o sistema de manutenção empregado na empresa é adequado. Em seu relatório, fl. 136, o Encarregado do inquérito, ressalta que não foi possível notificar o Sr. Mario Jorge Barroso França, proprietário da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS envolvida na colisão, a despeito de várias tentativas por meio de ligações telefônicas, porque quando o mesmo identificava o número da chamada, não atendia. Diante da dificuldade imposta, e no afã de elucidar os fatos, foi providenciado no dia seis de abril de dois mil e dez, uma diligência para notificar o Sr. Mario Jorge Barroso França, pessoalmente, no local onde o mesmo costuma trabalhar (Porto do CEASA) não se obtendo êxito, porque no momento da abordagem o Sr. Mario Jorge evadiu-se do local. Esse fato foi presenciado pelas testemunhas o 2 SG-ET 86.7981.03 Antônio Carlos da Silva e o CB-OR 85.7648.03 Armando Nunes Ferraz, ambos servindo, nessa data, na Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC). Informa ainda o Encarregado do inquérito que, No dia quatorze de abril de dois mil e dez na CFAOC, tentou-se outra notificação ao proprietário da referida embarcação através da Sra. Deborah Nogueira França, que é representante legal do Sr. Mario Jorge, conforme documento em anexo, sendo que a mesma se negou assinar a notificação e entregar a testemunha acima citada (v. anexos fls. 138 a 149). Os peritos, em Laudo de Exame Pericial Direto, datado de 29/10/2009, portanto, cinco meses após a ocorrência, informam que a embarcação encontrava-se em bom estado de conservação, com material de salvatagem a bordo. Apontam o fator operacional como contribuinte para o evento e encerrando a perícia, atribuem como causa determinante a negligência do seu proprietário ao contratar tripulante não habilitado para conduzir sua embarcação, atrelado a falta de experiência do condutor, pois, foi imprudente ao aceitar conduzir a embarcação, mesmo sabendo que não era habilitado para fazê-lo e pelo fato de não ter experiência, e pela sua falta de atenção foi imperito no momento da atracação da balsa, permitindo que esta viesse colidir com as casas de palafita.. O Encarregado do Inquérito em relatório de fls. 133 a 137, após descrever as diligências realizadas, características da embarcação envolvida, analisar e transcrever resultado da perícia, principais trechos dos depoimentos, sequência e consequências do acidente, na esteira dos peritos, aponta o fator operacional como contribuinte para o acidente, atribuindo como causa determinante para colisão da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS contra duas casas palafitas no Careiro da Várzea foi a negligência do Sr. 3/6

Mario Jorge Barroso França, ao contratar funcionário não habilitado para conduzir a embarcação de sua propriedade e, a imprudência e imperícia do Sr. Raimundo Horacio Bezerra de Souza, que mesmo sabendo que é necessário ser habilitado para conduzir a Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS e, sem preencher esse requisito, aceitou o contrato. Assim, sendo, colidiu contra as casas de palafitas danificando-as. Encerrou então o inquérito, apontando como possíveis responsáveis diretos pelo evento: o Sr. Mario Jorge Barroso França e o Sr. Raimundo Horacio Bezerra de Souza. Inquérito devidamente instruído com documentos de praxe, a destacar aqueles acima mencionados. Após análise dos Autos, a Procuradoria Especial da Marinha - PEM, em promoção juntada às fls. 153 a 156, em consonância com as conclusões do inquérito, representou, então, com fulcro no art. 14, alínea a (colisão) e art. 15, alínea e (todos os fatos, expor a risco), da Lei nº 2.180/54, contra Mario Jorge Barroso França, qualificado, porém sem endereço nos autos, na condição de proprietário da embarcação ENCONTRO DAS ÁGUAS, a ser citado através de Edital, e contra Raimundo Horacio Bezerra de Souza, devidamente qualificado, na condição de condutor inabilitado da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, sustentando (...). Analisados os autos, é imperioso responsabilizar o condutor inabilitado da Balsa ENCONTRO DAS ÀGUAS, Sr. Raimundo Horacio Bezerra de Souza pela sua atitude imprudente, no momento em que não sendo habilitado para a função se aventurou no rio, mesmo sabendo estar em época de cheia, expondo assim a risco sua vida e a de outras pessoas que ali navegavam e moravam, além de ter colocado em risco à Segurança da Navegação, risco este que não tardou em materializar-se, culminando assim em todo desenrolar do acidente. Já o proprietário da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS, o Sr. Mario Jorge Barroso França deverá responder por imprudência no momento em que permitiu e autorizou que pessoa não habilitada assumisse o timão da balsa, expondo desta forma a risco a própria embarcação e a Segurança da Navegação, além das vidas das pessoas que moravam próximo. Finalmente, requer a procedência da presente representação com a condenação dos ora representados nas penas estabelecidas na Lei nº 2.180/54, com as alterações decorrentes da Lei nº 8.969/94 e custas processuais. Recebida a Representação (fl. 160), citados por Edital (fls. 167 e 202), os representados não apresentaram defesa técnica, sendo-lhes designado Defensor Público da União (fl. 205) que apresenta defesa por Negativa Geral (fl. 206v.). Destaque-se que Mario Jorge Barroso França consta do Rol de Culpados 4/6

deste Tribunal - Proc. 24.011/2009 (cf. fl. 220). Enquanto Raimundo Horacio Bezerra de Souza, sem antecedentes (cf. fl. 221). inquérito. de fls. 206v e 215v. Aberta a Instrução, as partes se reportam àquelas colhidas em sede de Em Alegações Finais a PEM e a DPU ratificam os termos de suas exordiais Isto posto, decidimos. De todo o exposto, concluímos que o acidente da navegação em apreço, previsto no artigo 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, materializado na colisão da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS contra duas casas palafitas, situadas às margens do rio Solimões, altura do porto do Careiro da Várzea, Manaus, AM, acidente este ocorrido cerca das 19h40min de 24 de maio de 2009, durante manobra de atracação da referida embarcação no porto de Careiro da Várzea, teve como causa determinante o erro de manobra cometido pelo 2º representado, o Sr. Raimundo Horacio Bezerra de Souza, inabilitado para conduzir embarcações, mesmo assim, aceitou e se aventurou a realizar uma navegação, em época de cheia, situação em que se exige mais destreza e conhecimentos técnicos por parte do condutor, somando-se a negligência do 1º representado Mario Jorge Barroso França, quando na condição de proprietário autorizou que o 2º representado não habilitado assumisse o comando da embarcação destinada ao transporte de carga e pessoas que se exige habilidade técnica do seu condutor. Assim agindo, ambos os representados colocaram em risco a segurança da navegação, como de fato expuseram com a ocorrência da colisão da Balsa ENCONTRO DAS ÁGUAS contra duas casas palafitas, destruindo-as parcialmente, felizmente sem ocorrências de acidentes pessoais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico. E esta a tese acusatória embasada exclusivamente nas provas colhidas em sede de inquérito e que a defesa conjunta dos representados não deu conta de destruir. Considerando ainda o disposto no artigo 58 da Lei Orgânica deste Tribunal (Lei nº 2.180/54), c/c artigo 83, 4º, do Regimento Interno Processual deste Tribunal (RIPTM). Por todo o exposto e por tudo o mais que dos autos constam, julgamos procedente a representação de autoria da D. Procuradoria Especial da Marinha (fls. 153 a 156), para responsabilizar os representados Mario Jorge Barroso França e Raimundo Horacio Bezerra de Souza, como responsáveis pelo acidente da navegação em tela, ressaltando-se que o fato da navegação, previsto no artigo 15, letra e, restou absorvido pelo artigo 14, letra a (colisão), ambos da Lei nº 2.180/54. 5/6

Na aplicação da pena deve-se considerar o disposto nos artigos 124 I-IX, 127, caput, ambos da Lei nº 2.180/54. Assim, ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: colisão de embarcação contra duas casas palafítas, situadas às margens do rio Solimões, nas proximidades do porto Careiro da Várzea, Manaus, AM. Danos materiais, sem ocorrências de acidentes pessoais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente hídrico; b) quanto à causa determinante: erro de manobra por condutor inabilitado, somando-se a negligência do proprietário, ao permitir que pessoa sem a devida habilitação, conduzisse embarcação de sua propriedade e responsabilidade; e c) decisão: julgar procedente a Representação de autoria da Procuradoria Especial da Marinha (fls. 153 a 156) e considerando o acidente da navegação, previsto no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, e suas consequências, como decorrente da conduta negligente de Mario Jorge Barroso França e da imperícia de Raimundo Horacio Bezerra de Souza, para condenar o 1 representado à pena de multa de R$ 800,00 (oitocentos reais), prevista no art. 121, inciso VII e o 2º representado à pena de Repreensão, prevista no art. 121, inciso I, c/c os artigos 124, incisos I e IX, 127 - Caput, todos da mesma Lei nº 2.180/54, com redação dada pela Lei nº 8.969/94. Custas processuais ao 1 representado (Mario Jorge Barroso França). Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 09 de setembro de 2014. MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA Juíza Relatora Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado. Rio de Janeiro, RJ, em 23 de março de 2015. MARCOS NUNES DE MIRANDA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente OTTO ROLAND BEHRING Diretor da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 6/6