A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLANTADAS NO BRASIL

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Transcrição:

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS IMPLANTADAS NO BRASIL Luciana Lucci de Oliveira 1, Maria Aparecida dos Santos Sarraipo 2, Rosana Salles 3 Maria Aparecida Campos Dinis de Castro 4, Márcia Maria Dias Reis Pacheco 5 1 Mestranda em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais- PRPPG- Universidade de Taubaté- Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro- 12020-040- Taubaté/SP, lucianaluccideoliveirao@gmail.com. 2 Mestranda em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais- PRPPG- Universidade de Taubaté- Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro- 12020-040- Taubaté/SP, cidinhasarraipo@hotmail.com 3 Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação Política e Práticas Sociais- rayzana@outlook.com 4 Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação Política e Práticas Sociais- nenacdiniz@gmail.com 5 Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação Política e Práticas Sociais- mareispacheco@ig.com.br Resumo- Este artigo tem por finalidade fazer um breve resgate das bases históricas da Educação de Jovens e Adultos EJA, no Brasil, com foco nas políticas públicas implantadas a partir da década de 90 analisando as orientações curriculares dessas medidas políticas e suas relações com as principais teorias do desenvolvimento e aprendizagem. O estudo apresenta uma revisão bibliográfica a partir da literatura já publicada sobre a EJA, e as principais teorias do desenvolvimento e aprendizagem. A partir da análise conclui-se que as políticas públicas voltadas para EJA, no Brasil, necessitam de ajustes pedagógicos que possibilitem o sucesso escolar dos indivíduos que se servem dessa modalidade de ensino. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Políticas Públicas. Processo de Ensino-Aprendizagem. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução A Educação de Jovens e Adultos - EJA sempre esteve presente no cenário do Sistema Educacional Brasileiro, com o intuito de possibilitar o acesso e a continuidade de estudos as pessoas que, por vários motivos não tiveram oportunidade na idade adequada. A oferta dessa modalidade de ensino tem sido amplamente difundida no Brasil, com o intuito de erradicar o analfabetismo no País. Entretanto, foi somente a partir da Constituição de 1988, reforçada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que a Educação de Jovens e Adultos se configura no corpo da lei, como dever de oferta obrigatória pelo estado brasileiro a essa parcela excluída da sociedade escolarizada. (BRASIL, 1988). Nesse contexto é que surge o interesse em investigar se as políticas públicas implantadas a partir da década de 90 consideram a especificidade do processo de ensinoaprendizagem, principalmente, do adulto, no que tange às orientações pedagógicas e curriculares propostas para a educação de jovens e adultos. Para tanto, serão apresentadas questões sobre a trajetória histórica da EJA, as principais políticas públicas implantadas a partir da década de 90, e as bases teóricas que subsidiam tais propostas pedagógicas e curriculares desse contexto educativo. 1

Assim, a concretude desse debate dar-se-á na medida em que se estabelecer o diálogo entre as teorias do desenvolvimento e da aprendizagem com as diretrizes educacionais das políticas públicas que atendem a essa parcela significativa da sociedade brasileira. Metodologia Neste estudo é apresentada uma revisão bibliográfica a partir da literatura já publicada sobre as bases históricas da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, as principais políticas públicas implantadas, assim com, suas diretrizes educacionais. Para tanto, foram realizados estudos da literatura em bancos de teses e dissertações, artigos em revistas, textos normativos e navegações pela internet. Estudos aprofundados dos teóricos que versam sobre as teorias do desenvolvimento e aprendizagem, como Piaget, Vygotsky e Bronfenbrenner também irão compor esse artigo. É uma pesquisa de natureza básica, porque se destina a suscitar conhecimentos atualizados e relevantes quanto a Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Do ponto de vista dos objetivos, caracteriza-se como pesquisa exploratória porque proporciona uma visão geral e aproximada do tema explorado. Resultados e Discussão A modalidade de ensino denominada Educação de Jovens e Adultos EJA nasce, no Brasil, a partir da pressão social de uma demanda significativa da população brasileira que se viu excluída dos contextos escolares por questões de ordem social, econômica e cultural, resultando assim, em altas taxas de repetência e evasão escolar. Embora o direito a educação estivesse presente nos textos legais desde os tempos mais longínquos, é somente a partir da Constituição de 1988, reafirmada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que a EJA surge como dever de oferta pelo Estado Brasileiro, conforme pode ser constatado no texto legal, Seção V - Da Educação de Jovens e Adultos. Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (BRASIL, 1996). A partir da imposição do texto legal começam, então, a surgir às propostas curriculares e políticas de indução à descentralização da EJA, por parte do governo federal. Conforme afirma, Haddad, O efeito desse processo foi o governo federal ampliar sua responsabilidade por programas nacionais de alfabetização, os governos municipais atuarem nos quatro primeiros anos do ensino fundamental, e os governos estaduais assumirem os quatro últimos anos do fundamental, além do ensino médio. (HADDAD, 2007, p. 198). Atualmente, há muitas possibilidades de continuidade e conclusão dos estudos por meio de cursos regulares de suplência instituídos pelas escolas públicas e privadas, como, por exemplo, cursos oferecidos por meio de tecnologia educacional Telecurso, programa de parceria entre a Fundação Roberto Marinho e as prefeituras e governos e pelos Centros de Educação de Jovens e Adultos CEEJA, projeto implantado pelo governo do Estado de São Paulo, que oferece atendimento individualizado aos alunos, com presença flexível, estruturado para atender, preferencialmente, o aluno trabalhador. Outro caminho também disponibilizado são os exames de certificação oferecidos pelo Ministério da Educação, e pelas Secretarias Estaduais de Educação, dentre eles merecem destaque, o Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, que embora tenha mais visibilidade pelo acesso que confere ao ensino superior aos candidatos egressos do ensino médio às várias instituições que utilizam o resultado desse exame como critério de seleção para o ingresso, o ENEM também possibilita a certificação de conclusão do Ensino Médio para os candidatos que por inúmeros motivos não concluíram esse nível de ensino, última etapa da educação básica, bastando o candidato alcançar desempenho mínimo de 50% em cada área do conhecimento avaliada. Outro instrumento que também é muito utilizado por essa parcela da população é o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos Encceja, oferecido pelo Ministério da Educação - MEC e o Exame de Certificação realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, por meio do Centro de Exames Supletivos CESU. Ainda sobre essas políticas públicas voltadas para a EJA, não dá para deixar de citar o grande educador Paulo Freire, quando esteve a frente da Secretaria Municipal de São Paulo, em 1990, com o seu programa de alfabetização e escolarização de Jovens e Adultos, denominado Movimento de 2

Alfabetização (MOVA), que serviu de modelo para muitos governantes estaduais e municipais. Além disso, programas de âmbito nacional foram criados com o intuito de erradicar a taxa de analfabetismo no Brasil, dentre eles aponta-se para o Programa Alfabetização Solidária, desenvolvido pelo Conselho da Comunidade Solidária do Governo Federal em parceria com empresas, prefeituras e universidades, que tem por objetivo alfabetizar jovens e adultos, na faixa etária entre 12 e 18 anos, nos municípios que apresentam maior índice de analfabetismo, segundo dados do IBGE, esse programa foi criado em 1997 e até o final de 2000 já tinha atingido a marca de 1,5 milhão de alunos distribuídos em mais de 1000 municípios brasileiros. Outro programa que merece relevo é o Programa Brasil Alfabetizado, também criado pelo governo federal, ele possui a mesma finalidade do programa anterior, porém além de jovens e adultos, dá ênfase à alfabetização de idosos. Esse Programa foi criado em 2003, e é desenvolvido em municípios de todo o território nacional que apresentam taxa de analfabetismo, igual ou inferior, a 25%. Ressalta-se que 90% dos municípios atendidos estão localizados na Região Nordeste do Brasil. Nesse Programa, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE e a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI/MEC repassam aos estados e municípios, recursos financeiros e apoio técnico para a implantação das ações do programa. Diante de tantas possibilidades de acesso e continuidade de estudos aos jovens e adultos que não tiveram oportunidade na idade própria, convém um questionamento: Todas essas medidas políticas e educacionais estão dando conta de erradicar o analfabetismo e a falta de continuidade na trajetória escolar desses indivíduos? Talvez a resposta mais correta seja que não, pois se essas políticas estivessem cumprindo com plenitude o seu objetivo, todos os indivíduos estariam ajustados no sistema educacional, num movimento de correspondência entre a idade/série. Corroborando a questão acima, é Oliveira (1999), quem afirma que a falta de sintonia entre o modelo de escola existente com os alunos que dela se servem, seja um indicativo da situação de exclusão da escola regular. Assim, há que se pensar nas especificidades do processo de aprendizagem e desenvolvimento do adulto, nessa etapa da vida, pois segundo, Oliveira (1999), esse adulto traz consigo uma história de vida longa e complexa, caracterizada por suas experiências, conhecimentos acumulados e concepções de mundo, traz ainda, diferentes habilidades e dificuldades se comparado com uma criança. Tais peculiaridades não podem ser desprezadas pelas diretrizes pedagógicas dos cursos que são oferecidos aos jovens e adultos. Nesse sentido, as contribuições teóricas podem enriquecer as reflexões acerca de todo o processo de desenvolvimento e aprendizagem nas diferentes etapas da vida. Nessa linha, pode-se iniciar uma análise teórica pela concepção de Piaget (1970), ele acredita que o desenvolvimento cognitivo é constituído por estruturas mentais compostas por esquemas de ação, e que tais esquemas, inicialmente, são categorias inatas que vão amadurecendo e adquirindo caráter distinto por meio de um processo de equilibração entre o sujeito e seu ambiente. Já Vygotsky defende que [...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal, para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente (VYGOTSKY, 1998, p. 115). E para completar essa análise, a referência se dá pelo modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner, no qual ele afirma que O desenvolvimento humano é considerado de forma contínua e recíproca, na interface entre aspectos biológicos, psicológicos e sociais, em que as forças de coação, responsáveis pelas mudanças e continuidades da pessoa, são notadas à luz dos processos evolutivos e das variações ocorridas na pessoa e no ambiente do qual faz parte (BRONFENBRENNER, 1996). Nesse sentido, voltando à reflexão aos processos de desenvolvimento e aprendizagem de jovens e adultos, há que se destacar o caráter universal das etapas do desenvolvimento a toda espécie humana. Mas, não dá para desprezar o papel ativo do sujeito como protagonista de seu próprio processo de desenvolvimento e aprendizagem. A partir disso, pode se afirmar que todo indivíduo é capaz de aprender, entretanto, há peculiaridades da faixa etária do adulto que torna o processo de aprendizagem mais específico. Dentre as especificidades, destaca-se para as características dessa etapa da vida que distingue 3

o adulto de qualquer criança ou jovem, como a sua inserção do mundo do trabalho, as relações interpessoais, grupo cultural, entre outros (OLIVEIRA, 2004). Alguns psicólogos cognitivos sugerem que existem dois tipos de inteligência: a inteligência fluída - na qual as habilidades de processamento cognitivo são as que capacitam o indivíduo a manipular sobre símbolos abstratos, com maior rapidez, é considerada uma inteligência mais alta em adultos mais jovens; e a inteligência cristalizada - caracterizada pelo conhecimento armazenado ao longo da vida, é considerada mais alta, em média, em adultos mais velhos (HORN & CASTELL, 1966, Apud STEMBERG, 2000, p. 393). Diante dessa concepção ressalta-se que, ainda que adultos mais velhos não demonstrem a mesma rapidez no processamento da informação que um adulto mais jovem, eles podem demonstrar, em substituição, benefícios por consumirem mais tempo e, portanto, refletirem mais sobre suas experiências passadas, antes de concluírem um julgamento ou aprendizagem, por meio da sabedoria (STEMBERG, 2000 p. 394). Assim, à luz das contribuições teóricas há que se pensar em propostas curriculares específicas para a faixa etária adulta, considerando suas peculiaridades, no processo de aprendizagem e também em relação ao rol de conhecimento e experiências que esse adulto acumulou em toda sua trajetória de vida. Conclusão Concluindo a análise proposta pode se afirmar que as políticas públicas voltadas para a Educação de Jovens e Adultos, implantadas no Brasil, se preocupam mais com o aspecto quantitativo, no sentido de erradicar o analfabetismo no País, do que com o aspecto qualitativo relacionado às diretrizes curriculares e pedagógicas que atendam as especificidades do processo de ensino-aprendizagem da faixa etária adulta. Embora, essa modalidade de ensino tenha por finalidade assegurar uma correspondência ao currículo mínimo que é exigido no ensino regular, não se pode deixar de lado, a necessidade de garantir uma metodologia diferenciada que vá ao encontro das expectativas de aprendizagem desses indivíduos. Sabe-se que muita coisa já evoluiu nessa direção, mas ainda há a necessidade de ajustes pedagógicos que convirjam para o sucesso escolar das pessoas que se servem da EJA no Brasil. Referências ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA. Dicionário Interativo da Educação Brasileira. Disponível em <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.a sp?id=27> Acesso em 25 set. 2012. BRASIL ALFABETIZADO. Educação. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?itemid=86&id=1 2280&option=com_content&view=article> Acesso em 27 set. 2012. BRASIL. Câmara dos Deputados. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Edições Câmara. 5. ed. Brasília, 2010. 60 p. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/co nstitui%c3%a7ao.htm. Acesso em: 5 set. 2012. BRONFENBRENNER, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. (M. A. Verríssimo, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas. HADDAD, S. A ação de governos locais na educação de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, v. 12, n. 35, p.197-211, 2007. PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1970. OLIVEIRA, M. K. Ciclos de Vida: algumas questões sobre a psicologia do adulto. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.30, n.2, p.211-229, 2004.. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n.12, p. 59-73, 1999. SÃO PAULO (Estado). Resolução SE n. 77 de 6 de dezembro de 2011. Dispõe sobre a organização e o funcionamento dos cursos de Educação de Jovens e Adultos, nos Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos CEEJA. Disponível em: <http://www.imprensaoficial.com.br/portalio/do/b 4

uscado2001documento_11_4.aspx?link=/2011/ex ecutivo%2520secao%2520i/dezembro/07/pag_002 8_EPE2NEDM72L4Te7JL29U9QO1NJO.pdf&pagi na=28&data=07/12/2011&caderno=executivo%20i &paginaordenacao=100028>. Acesso em: 5 set. 2012. STEMBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. (M. R. B. Osório, Trad.) Porto alegre: Artes Médicas, 2000. VYGOTSKY, L. S; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. (Org). Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1998. P. 103 117. 5