CONTESTAÇÃO DA PLR (modelo)



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Transcrição:

CONTESTAÇÃO DA PLR (modelo) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO - CAPITAL Ref. Proc. Nº A Empresa (qualificar com nome, endereço e CGC), tendo sido citada para responder aos termos da Ação de Cumprimento proposta pelo Sindicato dos Empregados no Comércio de São Paulo (processo em referência), vem respeitosamente por seu advogado infra-assinado, apresentar a sua o que faz nos seguintes termos de fato e de direito: CONTESTAÇÃO Trata-se de pedido com fulcro na Lei nº 10.101/00, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa. I - PRELIMINARMENTE 1) DA ILEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO-AUTOR Por primeiro, invoca o sindicato-autor no item 1 da inicial, legitimidade ativa para a propositura da presente ação, argüindo o instituto da substituição processual com fulcro no art. 8º, inciso III da CF, regulamentado pela Lei 8.073/90, em especial seu art. 3º, o qual, segundo argumenta, garante a possibilidade da substituição em defesa de "direitos individuais com projeção coletiva de origem comum". Com todo respeito que merece a parte contrária, tal assertiva, além de ser de difícil compreensão, não se coaduna com nenhum princípio de direito sindical previsto em nossa legislação. Por segundo, busca o autor reforçar a sua condição de substituto processual, na presente ação, argumentando ser lógico supor (item 5 da exordial) que o inciso III do art. 8º, assim o permite. "Data maxima venia", não se pode admitir que a lei seja interpretada por meras suposições. Em verdade, no caso concreto, não há que se falar em substituição processual, que deve obedecer a pressupostos previamente estabelecidos em normas próprias, sobretudo aqueles consubstanciados no Enunciado nº 310 do C. TST, que se contrapõem à toda argumentação expendida pelo autor sobre o instituto da substituição processual, e que prevalecem, em toda sua plenitude, no presente caso. Não se pode olvidar que a Lei nº 10.101/00 não cuida - e até mesmo veda - seja a participação nos lucros ou resultados da empresa considerada salário, consoante dispõe seu art. 3º, o que reforça o descabimento da hipótese da substituição e da legitimidade do autor, implicando, via de conseqüência, na inadmissibilidade da ação proposta. 2) DA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO Só para argumentar, caso a primeira preliminar não venha a ser acolhida, pede-se, desde já seja dada acolhida à preliminar da incompetência do juízo, de que ora se cuida. Sem embargo de que a Lei nº 10.101/00, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa é facultativa, o que será melhor apreciado nas razões de mérito, e ainda que se

admitisse, apenas a título de debate, sua obrigatoriedade, para efeitos de aplicação da mesma, seja facultativa ou obrigatória, prevê seu artigo 2º que a participação de que cuida "será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados" ou por comissão escolhida pelas partes ou por convenção ou acordo coletivo. Portanto, se as partes optaram por não escolher comissão, restaria a opção de se estabelecer as normas através de convenção ou acordo coletivo de trabalho. Em assim sendo, de conformidade com o disposto nos artigos 611 e seguintes da CLT, qualquer entidade sindical que pretenda celebrar convenção ou acordo coletivo de trabalho, só poderá fazê-lo obedecendo, rigorosamente, as formalidades constantes desses dispositivos, quais sejam, em resumo, as seguintes: - assembléia geral especialmente convocada para esse fim, preenchido o "quorum" legal" (art. 612 e 617); - convocação dos sindicatos ou das empresas conforme se trate de convenção ou acordo coletivo (art. 616); - havendo recusa à negociação, deverá ser providenciada pelo interessado, a convocação compulsória dos sindicatos ou empresas através da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego (art. 616); - desatendidas as convocações ou malograda a negociação, é facultada aos sindicatos ou empresas interessadas a instauração de dissídio coletivo (art. 616). Ora, no caso concreto, o sindicato-autor fez tábula rasa das normas da própria lei cujo benefício invoca, bem como das normas correlatas constantes dos dispositivos legais mencionados, ingressando com a presente ação através dessa MM. Vara do Trabalho, quando a competência originária para tratar da matéria é do Tribunal Regional do Trabalho, conforme disposto no artigo 678, inciso I, letra "a" da CLT, como segue: "Art. 678 - Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete: I - ao Tribunal Pleno, especialmente: a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos. Convalidando a competência da Justiça do Trabalho ora argüida, a Lei nº 8.984/95 deixa expresso e claro em seu artigo primeiro que: "Compete a Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções coletivas de trabalho ou acordos coletivos de trabalho, mesmo quando ocorram entre sindicatos ou entre sindicatos de trabalhadores e empregador". Isto posto, uma vez acatada a presente preliminar de incompetência dessa MM. Vara, requer sejam os autos remetidos ao E. TRT da 2ª Região, nos termos do art. 311 do CPC. II - DO MÉRITO Não é coincidência (ou é no mínimo curioso), que o autor tenha reservado apenas 4, dos 25 itens que compõem a peça exordial para formular seu pedido, abordando, efetivamente, o mérito do mesmo. A razão é simples Excelência: Não há o que postular, senão vejamos:

A Lei 10.101/00 foi editada como uma tentativa de regulamentar o inciso XI, do art. 7º, da CF, que objetivou assegurar ao empregado participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração. Ora, tal benefício vem sendo parte integrante de outras constituições, desde a promulgação da Carta de 1946. A sua regulamentação em caráter obrigatório ocorreu somente em 1970, através da Lei Complementar nº 07/70, que instituiu o PIS, conforme adiante, no item 3, melhor se esclarecerá. 1) DA NATUREZA INDIVIDUALÍSSIMA E CONDICIONAL DO BENEFÍCIO Falar da obrigatoriedade de se garantir o processo negocial nas datas-bases das diversas categorias profissionais, ou mesmo de se conceder reajustes salariais e outros benefícios nessas ocasiões (ainda que a atual legislação não vislumbre o repasse automático de índices inflacionários aos salários em geral, condicionando sua concessão à livre negociação) é muito diferente do que se falar de participação em lucros ou resultados. Salário, bem sabemos, é a contrapartida ao serviço prestado pelo empregado. Já o benefício ora postulado pelo autor possui características e natureza bastante distintas. A principal delas reside no fato de ser o salário uma obrigação efetiva da empresa para com o empregado, independentemente de quaisquer condições. É direito líquido e certo. Não se questiona. Paga-se. É incondicional. Não se pode dizer o mesmo da PLR. À parte seu alcance social (o que não está em discussão aqui), é benefício de natureza essencialmente voluntária, eis que condicionado a uma série de fatores internos (da empresa) e externos (da conjuntura econômica), o que torna virtualmente impossível sua instituição obrigatória através de dispositivo legal. Não obstante, vamos valorizar a tentativa do legislador em regulamentar para aplicação em caráter facultativo, dispositivo constitucional tão controverso e complexo. A elaboração da Lei 10.101/00, levou o legislador aos limites do possível. Com efeito, não se pode obrigar uma empresa, qualquer que seja sua atividade, a distribuir seus lucros ou resultados se esta não se prestar voluntariamente a isto, até porque lucro, em si, é condição absolutamente incerta. Ainda assim, a despeito de tantas dificuldades em tratar de assunto tão complexo, procurou o legislador encontrar a única forma de se regulamentar o dispositivo constitucional, insistimos, para aplicação facultativa, qual seja, a negociação entre as partes, prevista com absoluta clareza e transparência no artigo 2º da lei em questão. Apenas a título de argumentação, pode-se, ainda que com enormes restrições, admitir-se a possibilidade de se obrigar partes com interesses conflitantes a adotar a via negociai como solução de eventual impasse. Ainda assim, em nenhum momento, a Lei 10.101/00 menciona a palavra "obrigação". Não foi este, com, efeito, o espírito do legislador. A referida lei carece, pois, de imperatividade, não por ser falha ou imperfeita, mas em função da natureza essencialmente condicional do benefício ali previsto. 2) DA NECESSIDADE DE UM PLANO DE METAS A Participação nos Lucros ou Resultados está condicionada, ainda, e principalmente, à elaboração de um plano de metas para sua implantação e posterior distribuição, e isso demanda um longo e complexo planejamento.

Não se trata aqui, em absoluto, de se instituir valores fixos. Além de solução simplista, não atende aos objetivos da lei de que se cuida. Isto está absolutamente claro no disposto no art. 2º, parágrafo 1º, inciso II, da norma. Pactuar-se valor fixo, dissociado de um programa de metas criterioso seria instituir um 14º salário, uma bonificação, ou coisa parecida. Seria tudo, menos participação em lucros ou resultados. Infelizmente, o que temos observado, é que o sindicato-autor, numa total distorção dos objetivos da lei, tem optado pela via que lhe é mais conveniente, qual seja, a do estabelecimento de um valor fixo a título do que viria a ser o benefício. Ora, "data maxima venia", não se pode admitir uma participação fixa daquilo que é variável por excelência. Considerando-se ainda, que mais de 90% do universo das empresas comerciais é constituído por micro ou pequenas empresas - muitas, inclusive, familiares - não é difícil prever-se a dificuldade quase intransponível de se cumprir a norma, por mais nobre que sejam suas intenções. Com efeito, a elaboração de um plano de metas, com direitos e obrigações das partes envolvidas, onde as regras sejam claras e bem definidas é condição absolutamente necessária para a implementação do benefício. 3) DA INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA DE INTEGRACÃO SOCIAL (PIS) Como já afirmado na rubrica II, do mérito, a Lei Complementar nº 7, de 07/09/1970, que instituiu o PIS, objetivou, justamente, atender ao dispositivo constitucional que assegura aos trabalhadores aquela integração, com participação nos lucros das empresas, dispositivo esse constante das Constituições de 1946, 1969 e, posteriormente, da Constituição de 1988, o que foi reconhecido expressamente pelo então Ministro da Fazenda - Dr. Delfim Neto, bem como pelo então Presidente da Caixa Econômica Federal - Dr. Giampaolo Marcelo Falco, em suas considerações sobre a Lei Complementar. Ao ensejo da edição da Lei Complementar nº 07/70, o Dr. Delfim Neto publicou um artigo sob o rótulo de "GOVERNO FEZ SUA PARTE", no qual tece considerações sobre os objetivos, a destinação, o funcionamento, enfim, sobre todos os aspectos do PIS. Dos seus comentários, extraímos os seguintes trechos:... "Todos os países que instituíram a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas, nos moldes clássicos, estão colhendo hoje amargas decepções. É curioso verificar que em todos esses países são os próprios operários que dizem não a essa participação. A solução brasileira supera essas dificuldades. O trabalhador não participa apenas dos lucros de uma empresa, mas de todos os ganhos de produtividade do sistema empresarial do País. O trabalhador fica liberado dos vínculos com uma empresa para se ligar ao sistema. E mais: no Brasil, até os empregados das empresas com prejuízos terão a sua participação no bolo da produtividade nacional.... O problema da participação nos lucros foi consagrado na Constituição de 1946, foi debatido durante 23 anos pelos mais ilustres economistas do país, mas não foi possível resolver o problema. Acredito que a solução só chegou agora porque o Governo já pode contar com uma arrecadação de impostos que permite abrir mão de uma parcela. É uma solução brasileira para um problema brasileiro. O Governo não se mete em aventuras. Seria uma aventura adotar um sistema de participação direta nos lucros das empresas, pois isso poderia destruir o

sistema empresarial. O Governo, dentro das limitações do país, vai com o PIS auxiliar os trabalhadores e por esse caminho auxiliar também o País. O Dr.. Giampaolo Marcelo Falco - Presidente da Caixa Econômica Federal quando da edição do PIS, em 1970, manifestou-se nos seguintes termos: "Em realidade, a Lei Complementar nº 07/70 vem disciplinar o princípio constitucional consubstanciado no inciso V do artigo 165, na forma antes preconizada pelo artigo 160, da lei maior vigente, no Título III que trata da ordem econômica e social, cuja finalidade é a realização do desenvolvimento nacional e a prática da justiça social, com base, entre outros, nos princípios de valorização do trabalho como condição da dignidade humana e na harmonia e solidariedade entre as categorias sociais da produção. A importância desta filosofia de participação não tem limites no campo eminentemente social. Vai permitir ao homem do interior participar dos resultados obtidos pelos empresários das grandes cidades. Da mesa forma, o modesto empregado da menor empresa estará participando dos resultados das grandes empresas. Esta parficipa5ão, assim entendida, será a determinante maior da integração de todos, na mútua cooperação para o engrandecimento desejado." Ora, a Lei 10.101/2000 não revogou nem derrogou a Lei Complementar nº 07/70, nem poderia fazê-lo, pois esta é superior hierarquicamente àquela, e está em plena vigência, haja visto que o art. 239 da Constituição Federal a ela se refere. Portanto, se a Lei Complementar 07/70 está em vigor, os pressupostos que norteavam a sua edição continuam a prevalecer. Assim, se a participação obrigatória dos trabalhadores nos lucros das empresas já está atendida pela Lei Complementar 07/70, a Lei 10.101/2000 é uma modalidade de participação instituída em caráter facultativo para as empresas que entenderem que sua aplicação poderá incentivar a produtividade (seu principal pressuposto) e ainda beneficiá-las com a exclusão da incidência de encargos trabalhistas sobre os valores estipulados, sendo que a aplicação da lei conforme nela expresso, somente poderá ocorrer através de convenção ou acordo coletivo, obedecidas as normas legais concernentes, já explicitadas na Preliminar nº 1 da presente contestação. Isto posto, admitindo, para argumentar, que as preliminares argüidas sejam superadas, quanto ao mérito deve a ação, com aplicação do art. 330 do CPC, ser julgada IMPROCEDENTE, pois nada há a cumprir, tendo em vista o caráter facultativo da Lei 10.101/2000, condenado o sindicato-autor às cominações legais cabíveis. Nestes termos, com os documentos anexos, P. deferimento. São Paulo, de de 2002.