O ENQUADRAMENTO SINDICAL DA CATEGORIA DOS MOVIMENTADORES DE MERCADORIA VERSUS A ATIVIDADE PREPONDERANTE DO EMPREGADOR
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- Sebastião de Almeida de Almada
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1 O ENQUADRAMENTO SINDICAL DA CATEGORIA DOS MOVIMENTADORES DE MERCADORIA VERSUS A ATIVIDADE PREPONDERANTE DO EMPREGADOR Muito se tem questionado sobre o correto enquadramento dos trabalhadores em movimentação de mercadoria, ocorrendo, em várias oportunidades, o assédio do Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias, pretendendo a representação de trabalhadores que entende fazerem parte da categoria laboral. É comum vermos que o Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias estabelece suas pretensões dentre os trabalhadores cujo Código Brasileiro de Ocupações CBO denote alguma movimentação de mercadoria, independente de seu empregador pertencer a categoria econômica diversa. Apenas a título de exemplo, podemos citar o operador de empilhadeira de uma empresa do ramo de construção civil. Apesar da atividade econômica da empresa ser a construção civil, e seus empregados serem representados pelo Sindicato dos Empregados na Construção Civil, o Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias pleiteia a representação e as contribuições do operador de empilhadeira, gerando a controvérsia que nos propomos a debater Além disso, é argumento do Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias os termos de seu Estatuto Social, onde há extensa relação de CBO, dizendo-se representante dos empregados que ocupam referidos cargos, independente de quem seja o empregador. Delimitado o conflito, passamos a análise de qual categoria laboral os trabalhadores em movimentação de mercadorias se encontram, como segue.
2 I O enquadramento sindical brasileiro deu-se por planificação legal, pois o artigo 511 e seguintes da CLT estabelece o critério da categoria econômica e categoria laboral e, conforme veremos adiante, é necessário existir correspondência entre ambas para poderem se relacionar, sendo que o artigo 577 da CLT estabeleceu quadro de atividades e profissões e o plano básico do enquadramento sindical. Verificando-se referido Quadro Anexo ao art. 577 da CLT, vê-se que a categoria econômica e laboral da atividade de movimentação de mercadorias foi criada no plano da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio, conforme se reproduz abaixo: Da atenta análise do quadro acima reproduzido, verificase que todos os empregados no ramo econômico do Comércio Armazenador tem a representação sindical outorgada ao Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias existente na respectiva base territorial. Posteriormente, com a edição da Portaria MTb n. 3204/88, cuja imagem encontra-se inserida abaixo, é que foi criada a categoria profissional diferenciada de Trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral, integrante do 3º grupo Trabalhadores no Comércio Armazenador, transformando em categoria dos trabalhadores avulsos em categoria diferenciada. 2
3 Por sua vez, a categoria dos avulsos, chamados popularmente de chapa ou chapas, são os trabalhadores sem vínculo empregatício, que estavam alijados dos amortecedores sociais, e que agora terão a mão de obra fornecida diretamente pelo sindicato de trabalhados, conforme dispõe a Lei n /09, passando a ser regulamentado, a exemplo do que já ocorreu com a categoria dos trabalhadores estivadores. 3
4 Como referida mão de obra será fornecida pelo Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias, os trabalhadores serão empregados do Sindicato, inexistindo formação de vínculo de emprego com o tomador da mão de obra. Dessa forma, para ser representado pelo Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias, ou o trabalhador é avulso (chapa), ou é empregado da categoria econômica do comércio armazenador. Caso o trabalhador em questão for empregado de empresa de outro ramo econômico, NÃO SERÁ REPRESENTADO pelo Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias. II Estabelecido acima o limite legal da representação sindical do Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias, necessário agora estabelecer se existe correspondência entre as categorias econômica e profissional da hipótese dada no início deste trabalho, onde um operador de empilhadeira trabalha numa empresa do ramo de construção civil, e o Sindicato dos Empregados em Movimentação de Mercadorias pleiteia a representação e as contribuições desse operador de empilhadeira. E a resposta é NEGATIVA, pois não há correspondência entre a atividade econômica da construção civil, com a atividade profissional dos empregados em comércio armazenador. Tal correspondência entre categorias é intransponível quando da análise da representação sindical de empregados de uma determinada atividade econômica por sindicatos de outra atividade laboral, sendo que nesse sentido o C. TST vem reiteradamente se manifestando, como se vê do incluso Acórdão proferido nos autos do Proc. TST-RODC-511/ , cujo trecho é a seguir transcrito: 4
5 Ainda, há que se mencionar que a questão da legitimidade para acionar a empresa com vistas a formar Convenção Coletiva de Trabalho passa pelo critério da legitimidade, conforme estabelecido pela Orientação Jurisprudencial n. 22 da Seção de Direito Coletivo do TST. 5
6 III Outro argumento que não se sustenta é o da utilização da Classificação Brasileira de Ocupações CBO para se definir a representação, pois CBO não faz enquadramento sindical, sendo um critério que não existe na lei, não podendo ser utilizado, por ferir os pressupostos mencionados anteriormente, pois enquadramento sindical não se pode resolver pelo argumento atinente à atividade dos trabalhadores. Quer dizer: não pode ser definitivo da representação dos empregados da empresa o fato de eles ativarem-se ou não na movimentação de mercadoria, ou pelo CBO da função, pois não é esse o critério da lei para o enquadramento sindical. IV Recentemente foram criados diversos Sindicato de Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias, sendo que, analisando a constituição e arquivamento dessas entidades, logramos encontrar o caso do Proc. MTb /96, cujo sindicato tem com base territorial no Município de Araras e região, e recebeu impugnação de outro sindicato e, em sua resposta, deixou claro qual é a verdadeira extensão de sua representação sindical. Com efeito, quando do pedido de registro sindical no Ministério do Trabalho, tratou o requerente de definir os limites de sua representação, como se vê do documento abaixo reproduzido e arquivado no Ministério do Trabalho, verbis: "ILMO. SR. PRESIDENTE DO SINDICATO DOS TRABALHADORES TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DE RIO CLARO/SP. Ref.: Impugnação - Processo /96 Ministério do Trabalho - Brasília SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS MOVIMENTACÃO DE MERCADORIAS EM GERAL DE ARARAS E REGIÃO, através de seu diretor abaixo assinado, vem respeitosamente à presença de V. Sa., para com a máxima vênia expor e afinal requerer o seguinte: 1.- Nosso Sindicato - representa tão somente "TRABALHADORES AVULSOS" também conhecidos como "Chapas", sem vínculo empregatício com qualquer empresa, 6
7 pois nosso Sindicato prestará serviços com seus próprios empregados, integrantes dessa categoria dos avulsos, na área de carga e descarga de mercadorias, desde que requisitados ao nosso Sindicato pelo dono do serviço. 2.- Também nosso Sindicato nunca teve e nem tem a pretensão de representar parcela da categoria do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Rio Claro/SP, até porque nosso Sindicato visa apenas legalizar e empregar aquelas pessoas que atuam como "Chapas" e que vivem à mercê da sorte, sem nenhum benefício. 3.- Inexiste pretensão de nossa entidade representar trabalhadores empregados celetistas que são do Transporte Rodoviário dessa região nos termos do artigo 3 da CLT, pertencentes a transportes rodoviários, tais como: condutores de veículos rodoviários, motoristas, ajudantes de motoristas, conferentes, carregadores, descarregadores, arrumadores de cargas, porteiros, vigias, auxiliares de escritório e outros mais que abrangem a categoria dos Trabalhadores Rodoviários e de Transportes, apenas o que se pretende é representar os "avulsos", como acima expostos. E também não é objetivo nosso e nem interesse em empregados de empresas de ônibus, e ou prestação de serviços de fretamento e turismo. Nossa entidade somente representa e defende os interesse dos Trabalhadores Avulsos, sendo que esse pessoal trabalha e recebe pagamento mediante "pagamento por produção". Em razão disso, vimos requerer a V. Sa., se digne determinar que proceda a competente desimpugnação, mediante declaração ou pedido de desistência. As declarações acima serão cumpridas e honradas, me responsabilizando civil e criminalmente em caso de descumprimento. Esperamos poder contar com vossa compreensão, e nos colocamos ao inteiro dispor para quaisquer esclarecimentos, desde já. P. E. Deferimento. Araras, 23 de novembro de Moacyr Buzo - Presidente" 7
8 V - CONCLUSÃO Resta evidente que os SINDICATOS DOS TRABALHADORES NAS MOVIMENTACÃO DE MERCADORIAS EM GERAL representam apenas e tão somente: a) os empregados no comércio armazenador; e, b) os trabalhadores avulsos, cuja mão de obra é por eles fornecida. A representação sindical dessa categoria NÃO atinge os empregados de outras categorias econômicas, pois a Portaria MTb n , de 18 de agosto de 1988, ao criar a categoria diferenciada, o fez no 3 grupo dos "Trabalhadores no Comércio Armazenador", como se vê do quadro anexo ao art. 577 da CLT, inexistindo a correspondência entre as demais categorias que não sejam do Comércio Armazenador. E a Portaria que criou a categoria diferenciada dos trabalhadores na movimentação não lhes alterou a condição de trabalhadores avulsos, sendo que a Lei /09 apenas regulamentou o fornecimento dessa mão de obra. Por sua vez, o setor patronal é o setor de armazenamento, tais como armazéns gerais, entreposto, etc..., categoria econômica restrita que deve ser observada quando do enquadramento sindical dos seus trabalhadores. Limeira/SP., 30 de março de Advogado Walter Bergström OAB/SP n D 8
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