Projeto Brilhar: inserindo a Literatura Infantil no Hospital como forma de humanização



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Transcrição:

Projeto Brilhar: inserindo a Literatura Infantil no Hospital como forma de humanização Área Temática: Educação Autor(es): ROMANIW, Giseli (apresentador) PAULA Ercília Teixeira de (orientadora) Resumo: O hospital é um local que acaba gerando medo e insegurança em muitos adultos. Quando o mesmo acontece com crianças, o caso se agrava, pois, por se tratar de um local desconhecido, com pessoas estranhas e com picadas e remédios amargos, as crianças tendem a se fragilizarem com mais facilidade, esquecendo toda a graça e magia de ser criança. A literatura infantil é uma bela forma de resgatar o todo esse mundo, fazendo-a usar a sua imaginação e criatividade, transportandoa para um outro lugar, bem longe das paredes do hospital. Esta pesquisa foi realizada no Projeto Brilhar: Brinquedoteca, Literatura e Arte no Ambiente Hospitalar, situada em dois hospitais da cidade de Ponta Grossa Paraná. Neste projeto, as acadêmicas do curso de Pedagogia, Letras e História levam o mundo mágico da Literatura Infantil para as crianças da ala Pediátrica. Esta pesquisa teve como objetivo observar como a literatura infantil foi inserida, a aceitação das crianças e seus gostos literários, obtendo os dados através de entrevistas e análise do acervo de livros existente no hospital. Com base nesses dados, foi possível perceber que as crianças realmente se interessavam por essas atividades, havendo muita procura pelos livros e principalmente pelas histórias em quadrinhos, chegando a representar 70% na preferência de tais pacientes. Outro ponto relevante foram as respostas encontradas, a grande maioria se interessava pelos clássicos da literatura, como Chapeuzinho Vermelho, Os três porquinhos e outros livros conhecidos. Os resultados mostram que a literatura no ambiente hospitalar gerava um conforto as crianças hospitalizadas, estimulando a sua criatividade e tornando menos dolorosa a sua estadia no hospital. Palavras-chaves: Humanização, Pediatria Hospitalar Literatura Infantil Introdução O Projeto Brilhar: Brinquedoteca, Literatura e Arte no Ambiente Hospitalar é coordenado por professores do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. É desenvolvido na pediatria do Hospital Bom Jesus e do Hospital da Criança Prefeito João Vargas de Oliveira, situado na cidade de Ponta Grossa, Paraná. Este projeto acontece quatro vezes por semana, nos períodos de manhã e tarde, contando com seis estagiárias dos cursos de Pedagogia e Letras da UEPG, que se dividem da melhor forma para desenvolver atividades previamente planejadas. Atende a Resolução nº. 41 do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizado de Outubro de 1995, que prevê toda criança e adolescente hospitalizado tem o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento de currículo escolar durante a permanência hospitalar (BRASIL, 1995). Essa resolução é completada com a Lei nº. 11.104/2005, de autoria da Deputada Luiza Erundina, obrigando aos hospitais com atendimento pediátrico a se preocuparem também com o bem estar dos pacientes. O projeto tem como objetivo a recreação de crianças hospitalizadas, visando o conforto psicológico dos pacientes, tentando amenizar o sofrimento que permeia a internação, pois sabemos que o hospital é visto pelas crianças como um local desconhecido, onde é necessário a interação com pessoas estranhas e de tratamentos e exames, por muitas vezes, dolorosos. Isso é algo que gera medo e insegurança. Na brinquedoteca as crianças internadas têm acesso a brinquedos, devidamente higienizados, os quais podem ser direcionados à atividades ou mesmo a brincadeiras livres. A arte está presente com brincadeiras que englobam músicas, danças, desenhos, pinturas e várias outras maneiras de se expressarem. Outro ponto do projeto é a utilização da literatura, a qual este artigo estará dando um enfoque principal. A literatura é uma forma de estimular a criatividade das crianças, além de ser uma forma de aguçar o gosto pela leitura. Através da leitura, a criança entra em um outro mundo, utiliza sua imaginação para sair do hospital e ir muito além, não visando só a parte educacional, mas também o seu bem estar. Caldin (2004), nos fala da importância terapêutica da literatura no âmbito hospitalar: O texto direcionado à criança pode ter aplicabilidade terpêutica, isto é,

pode produzir emoções e apaziguá-las, proporcionando a catarse aristotélica a justa medida dos sentimento conduzindo ao equilíbrio necessário à mente infantil; pode produzir o riso que transforma a dor em prazer; pode construir identificações nos modelos literários personagens, situações ou intrigas que circulam no texto, ao valer-se da introjeção (em certos objetos são absorvidos pelo ego) e da projeção (quando a dor dento do ego é empurrada para o exterior), pode proporcionar a introspeção pela reflexão, e pode favorecer a compensação o imaginário suprindo o real. (2002, p.72) Como podemos verificar, a literatura tem múltiplas finalidades no ambiente hospitalar. Métodos O Projeto da briquedoteca acontece a partir da interação do estagiário com o paciente Através deste contato é possível reconhecer as necessidades das crianças e buscar encontrar um caminho para utilizar os brinquedos, a arte e a literatura de uma forma a levá-las para um mundo de sua própria imaginação e deixar de lado o cotidiano hospitalar. Os dados desta pesquisa foram obtidos através de fichas de caracterização da população atendida, nas quais foram preenchidas pelas estagiárias que perguntaram aos pais das crianças os dados pessoais (nome, idade, localidade da moradia, entre outras), a escolaridade dos pacientes atendidos (quem qual série está estudando, em qual escola) e dados para o projeto, que englobava perguntas sobre brincadeiras, artes, músicas e literaturas prediletas das crianças. A partir destas fichas, foi possível conhecer o gosto das crianças por determinadas áreas de recreação e suas preferências. Outra forma de conseguir informações foi a partir da listagem de livros e o controle do acervo do projeto. Nestes documentos, foi possível verificar quais são os livros mais lidos e procurados pelas crianças. Também existem outros meios nos quais são obtidos informações, como: a observação, a conversa com as enfermeiras, com os pais dos pacientes e com as próprias crianças, o que nos rende belas histórias. A literatura em enfoque A literatura no hospital tem como propósito amenizar o sentimento de desconforto encontrado em crianças hospitalizadas, mostrando uma outra visão sobre o hospital, onde ela, mesmo estando em um quarto, pode encontrar um mundo por trás das páginas de um livro, soltando toda a sua imaginação e, por muitas vezes, esquecendo do local em que realmente se encontra. Caldin (2004, p. 72) nos descreve que No psique infantil o imaginário e a fantasia podem ser liberados pelo contato literário (escrita, audição ou leitura), pois são constitutivos da atividade criadora da criança sobre a realidade. As atividades que utilizam a literatura como base no Projeto Brilhar ocorrem das formas mais variadas. A contação de histórias é uma forma de estimular a imaginação dos pacientes, e a partir dessas histórias são feitos vários trabalhos, como: a construção de outros textos; a continuação da narrativa com invenção de um outro final; a utilização de bonecos, fantoches e figuras para ilustrar os contos e também a ilustração feita pelas próprias crianças, desenhando o seu personagem preferido, ou algo que mais lhe chamou a atenção. Tudo isso faz com que a criança entre em um mundo de faz de conta, do seu imaginário, deixando um pouco de lado o dia-a-dia do hospital. Outra forma de utilizar os livros é emprestá-los para as crianças já alfabetizadas e elas mesmas realizam a leitura, este processo é muito significativo, pois a criança se sente capaz, motivada e agente do seu desenvolvimento. A brinquedoteca tem um acervo de livros para empréstimo, sendo disponibilizados aos pacientes que, após a leitura, entregam o livro para alguma das estagiárias. Estes livros emprestados são devidamente listados para controle de leitura e desta maneira podemos ver a quantidade de livros lidos e quais são os preferidos. Ao todo são 294 livros (sendo eles infantis e juvenis), 110 revistas infantis e 20 histórias em quadrinhos. Neste acervo, não há somente livros infantis, há também literatura destinada aos pais e acompanhantes das crianças, com livros mais extensos e complexos, que são oferecidos também aos pré-adolescentes internados, que se interessam por histórias mais longas. Podemos observar que, no período de três meses, de setembro à dezembro de 2007, 10,2% dos livros foram emprestados, 20,3% de revistas infantis foram lidas e 69,5% de Gibis foram utilizados pelo pacientes. Isso nos mostra a preferência das crianças hospitalizadas por histórias em quadrinhos. Coelho (1991) nos relata, em seu livro Literatura Infantil Teoria, análise e prática, que

as histórias em quadrinhos são tão válidas quanto os livros de figuras, como processo de leitura acessível ou adequado às crianças pequenas (1991, p.194). O interesse que as crianças demonstram por esse tipo de leitura é explicado pela facilidade com que esse tipo de leitura fala à mente infantil; ou melhor, atende diretamente à natureza ou necessidades específicas da criança. (1991, p. 195). Podemos compreender que os gibis são uma forma de leitura atraente às crianças, pois além de ser fácil seu entendimento, as figuras auxiliam no processo de compreensão da história. Neste gráfico, podemos ver com clareza a grande preferência pelas histórias em quadrinho: Porém, sabemos que é preciso um cuidado na seleção das histórias a serem trabalhadas no projeto, pois muitas delas possuem um final triste, com morte ou separação; um exemplo seria o Soldadinho de Chumbo, no qual um dos personagens acaba sendo queimando em uma lareira, história essa que não seria indicada para crianças que sofreram queimaduras. Algumas histórias, indicadas por Caldin, tem a finalidade de serem utilizadas em hospitais para estimular as emoções das crianças e não somente o seu intelecto. Seriam elas: Seu Feliz, A Casa Sonolenta, Lúcia-já-vou-indo, Chapeuzinho Vermelho, Chapeuzinho Amarelo e Maria-vai-comas-outras. Cada uma delas trata de histórias com um fundo incentivador, que motiva as crianças a vencerem as doenças e encontrarem um final feliz. A autora coloca que: A criança frágil ou doente está muito preocupada consigo mesma e aprecia textos que falem de seus problemas. (...) A universalização dos problemas é uma garantia de que não está sozinha na sua dor. (2004, p. 74) Há também, no Projeto Brilhar, um levantamento de dados sobre as crianças que participam e participaram das atividades. Com esses dados foi possível perceber alguns pontos importantes como: quantas crianças gostavam de ler; quantas ainda não adquiriram esse hábito; quais eram as suas histórias preferidas; e quantas ainda não aprenderam a ler (pelos mais variados motivos). No decorrer de cinco meses (entre agosto de 2007 e janeiro de 2008) pudemos notar que das 69 crianças alfabetizadas que participaram do projeto, apenas 9 responderam que não gostavam de ler. As outras 60, relataram que se interessavam e nos falaram quais eram seus livros e suas histórias preferidas. Para esta questão, as respostas foram as mais diversas, sendo mais apontados os clássicos como: Os três porquinhos, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, Pinóquio, Pica-pau, Rei- Leão, entre outros. Interessante notar que muitos gostavam de ler, mas não se lembravam de nenhum livro em especifico. Já outros responderam que liam livros como a Bíblia, livros didáticos e até mesmo revista de signos. Existem também alguns casos específicos como revistas do Batman, Barbie e livros de histórias reais. Porém, uma das leituras mais citadas pelas crianças foram as histórias em quadrinhos, como já havíamos constatado pelo empréstimo de livros da brinquedoteca.

Das crianças que ainda não sabiam ler, o principal motivo era a idade, pois o atendimento começa com crianças a partir de 0 anos. Neste caso, seus pais responderam que os pequenos se interessavam por folhas de papel em branco, livros com gravuras, contos e histórias infantis, as famosas historinhas. Outros Projetos O projeto brilhar, realizado na cidade de Ponta Grossa, se interessou em pesquisar também outros projetos e pesquisas que visassem à literatura inserida no ambiente hospitalar, e a partir disto chegamos ao conhecimento de alguns casos muito interessantes. Uma das pesquisas realizada em hospitais foi feita pela Professora/Doutora Ercília de Paula que nos relata a importância da literatura e do vídeo em um hospital localizado na cidade de Salvador-Bahia. Esta nos decresce e analisa episódios decorrentes no período de um ano. O que foi possível verificar é que a literatura infantil e os vídeos produzidos nas salas de aulas, foram recursos expressivos para as crianças e adolescentes hospitalizados compartilharem dores, alegrias, conhecimentos e repensarem sobre suas condições de vida e de internação (2007, p. 181). Dados relevantes são ressaltados nesta pesquisa, como a compreensão das diferentes linguagens como recurso para a inclusão dos pacientes nas atividades. Também foi possível compreender a forma com a qual as crianças e adolescentes queriam agir, não somente como paciente de um hospital ou alunos de uma escola, mas sim como agentes modificadores de suas realidades. Outro caso que nos chamou a atenção foi a associação Viva e Deixe Viver que tem por objetivo amenizar o sofrimento de crianças internadas através da Literatura, levando aos hospitais contadores de histórias para trabalharem com os pacientes de mais variadas formas, como: pintar, brincar, ou simplesmente escutar. (...) além das quatro paredes do quarto do hospital, a Associação Viva e Deixe Viver é uma sociedade civil e sem fins lucrativos que, através do apoio de seus voluntários e parceiros, tem como missão promover o entretenimento e levar informação educacional, visando transformar a internação da criança no hospital e a vivência em sua casa de apoio em um momento mais leve, agradável e alegre. (p.02) Nas palavras de Valdir Cimino, fundador e presidente da associação, é muito difícil encarar uma criança com câncer terminal e não ter vontade de chorar, mas o contador precisa passar por cima disso. (p.02) No Hospital Pequeno Príncipe, localizado na cidade de Curitiba-Paraná, foi realizado o projeto Enquanto o Sono Não Vem, onde estagiárias do curso de pedagogia percorriam os quartos da pediatria no inicio da noite, com o intuito de contar histórias clássicas e cantar músicas de ninar para as crianças dormirem, promovendo assim o relaxamento dos pacientes. Conclusão Pudemos concluir com esse trabalho que a literatura se faz muito útil para as crianças hospitalizadas, ajudando a sua estadia no hospital. Também constatamos que estas crianças se interessam pela leitura e a sua grande maioria prefere as histórias em quadrinhos, por sua fácil leitura e pelas figuras que facilitam no processo de compreensão. Outro ponto de grande relevância são as preferências literárias das crianças, neste, podemos observar que são inúmeros os exemplos, dos mais várias possíveis, o que mostra que as crianças gostam de ler, independente de que assunto se trata. O Projeto Brilhar se mostra muito útil na recreação das crianças hospitalizadas, cumprindo seu objetivo de tornar um pouco menos dolorosa a estadia da criança no hospital, mostrando a ela todo o encantamento que uma bela história pode lhe proporcionar, estimulando o seu gosto pela leitura e principalmente, fazendo-as entrar em um outro mundo, aonde a sua imaginação é quem manda, sem remédio ou agulha, sem dor e sofrimento, aonde ela mesma é construtora de sua história e o dia-a-dia do hospital é deixado um pouquinho de lado, para dar lugar a todo esse mundo que é dela. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005. Brasília: Imprensa Oficial, 2005. BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional da Criança e do Adolescente. Resolução nº 41 de 13 de outubro de 1995 sobre os direitos das crianças e adolescentes hospitalizados. Brasília, 1995.

CALDIN, Clarise Fortkamp. A aplicabilidade terapêutica de textos literários para crianças. Florianópolis: Encontros Bibli, n. 18, 2002. p. 72-89. COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, análise e didática. São Paulo: Ática, 1991. º ed. 247 p. PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira de. A Literatura Infantil e o Vídeo na Escola do Hospital: Diferentes Linguagens de Inclusão Social. Ponta Grossa: Olhar de Professor: UEPG, n. 002, 2007. p. 181-193. SHIM, Celine. Associação Viva e Deixe Viver: Profissionalização do Serviço Voluntário. São Paulo: Exame. n.21. 19 p.