Protocolo para Transfusão de Hemocomponentes em Crianças Grupo Hospitalar Conceição - Hospital da Criança Conceição. 1. Introdução: Atualmente, a transfusão de hemocomponentes é considerado um procedimento seguro devido aos avanços nos testes de triagem sorológica, na adequada avaliação do doador e na disponibilidade de transfusão de hemocomponentes modificados (irradiados, lavados, leucoreduzidos). Porém, existem reações adversas relacionadas à hemotransfusão, infecciosas ou alérgicas, imediatas ou tardias. Sendo assim, a indicação de uma hemotransfusão deve ser criteriosa, sendo avaliados em conjunto a condição clínica atual do paciente, sua doença de base e a fase evolutiva e não apenas os exames laboratoriais. Os pais ou responsáveis pela criança devem ser orientados sobre os riscos e benefícios das transfusões. As recomendações de transfusão de hemocomponentes para crianças com mais de 4 meses são similares à dos adultos. 2. Hemocomponentes Modificados: Podem ser irradiados, lavados ou leucorreduzidos (filtrados). 2.1. Hemocomponentes Irradiados: Os componentes do sangue que contém linfócitos viáveis (concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco não congelado) devem ser irradiados quando destinados à transfusão em receptores com risco de desenvolver a doença do enxerto contra-hospedeiro pós tranfusional. 2.1.1. Indicações Absolutas:
- Imunodeficiências congênitas do tipo celular. - Pacientes submetidos à transplante de células tronco hematopoéticas, autólogo ou alogênico. - Anemia aplástica grave em uso de soro anti-linfocítico. - Receptores parentes em primeiro grau dos doadores. 2.1.2. Indicações Relativas: - Pacientes com imunossupressão celular grave secundárias a quimioterapia, radioterapia ou outras drogas imunossupressoras. - Pacientes submetidos à transplante de órgãos sólidos. 2.2. Hemocomponentes Lavados: A lavagem das hemácias com solução salina remove proteínas plasmáticas, eletrólitos, anticorpos, restos celulares e alguns leucócitos. 2.2.1. Indicações: - Pacientes portadores de deficiência de IgA. - Pacientes com reação alérgica recorrente ou antecedente de reação alérgica grave. 2.3. Hemomponentes Leucorreduzidos (filtrados): Os concentrados de hemácias ou de plaquetas leucorreduzidos (ou desleucocitados ou filtrados) são aqueles nos quais foram retirados mais de 99% dos leucócitos. Está indicado para diminuir a reação febril não hemolítica, a formação de anticorpos anti-hla e a transmissão de CMV.
2.3.1. Indicações: - Pacientes com história de reação febril não hemolítica. - Pacientes com sorologia para citomegalovírus negativa. - Pacientes com anemia aplástica. - Pacientes com indicação de transplantes de células tronco hematopoiéticas. - Pacientes portadores de doenças oncológicas e hematológicas. - Pacientes portadores de hemoglobinopatias (talassemia, anemia falciforme). - Pacientes portadores de plaquetopenias hereditárias. 3. Transfusão de Concentrado de Hemácias: 3.1. Objetivo: Reverter ou prevenir a hipóxia tissular resultante da diminuição da massa eritrocitária secundária a procedimentos cirúrgicos, doenças oncológicas, doenças hematológicas, dentre outros. 3.2. Indicações: 3.2.1. Pacientes em tratamento quimioterápico: - Hemoglobina < 7 g/dl - Pacientes assintomáticos, com previsão de iminente recuperação de hemoglobina e plaquetas
- Hemoglobina < 8 g/dl - Pacientes com sintomas de taquicardia, taquipnéia e hipotensão. Pacientes sem previsão de recuperação de hemoglobina e plaquetas. - Hemoglobina 8-10 g/dl - Pacientes com comorbidades pulmonares ou cardíacas. - Hemoglobina 8-10 g/dl - Pacientes trombocitopênicos e com história de hemorragia e necessidade de hemotransfusão previamente. - Hemoglobina 8-10 g/dl - Pré-operatório. - Hemoglobina 8-10 g/dl - Pacientes com sintomas de fadiga (impacto na qualidade de vida) - Hemoglobina 8-10 g/dl - Radiação (controverso). 3.2.2. Pacientes com anemia falciforme: - Acidente vascular-cerebral. - Síndrome torácica aguda. - Sepse - Sequestro esplênico. - Priapismo recorrente. - Pré-operatório de anestesia geral, com objetivo de alcançar hemoglobina 10g/dL. 3.2.3. Anemia (hg < 10 g/dl) pré-operatória com anestesia geral, quando outras terapias não estão disponíveis. 3.2.4. Perda sanguínea perioperatória superior a 15% da volemia. 3.2.5. Perda sanguínea aguda superior a 15% com hipovolemia, não responsiva a outras terapias.
3.2.6. Hemoglobina < 7 g/dl, sintomática ou asssintomática, congênita ou adquirida. 3.2.7 Hemoglobina entre 8-10 g/dl, sintomática, a critério clínico. 3.2.7. Hemoglobina < 13 g/dl, em doença cardio-pulmonar severa. 3.2.8. Transfusão crônica em hemoglobinopatias (talassemia, anemia falciforme), síndrome de Blackfan- Diamond. 3.3 Dose: 10 a 20 ml/kg, infusão de 1 a 4 horas. 10 ml/kg aumenta aproximadamente 2g/dL de hemoglobina 4. Transfusão de Concentrado de Plaquetas. 4.1. Objetivos: Prevenção e tratamento de hemorragias em pacientes trombocitopênicos ou com distúrbio da função plaquetária. 4.2. Indicações: - Plaquetas 10.000/mm 3, em pacientes sem riscos adicionais de sangramento (febre, sepse, uso de antibióticos ou outras anormalidades da hemostasia). - Plaquetas 20.000/mm 3, em pacientes com fatores de risco (febre, esplenomegalia, hiperleucocitose, sepse, mucosite grave, terapia anticoagulante, uso de anfotericina, globulinas anti-linfocíticas) ou se sangramento. - Plaquetas 30.000/mm 3, pré-procedimentos de pequeno porte: biópsia, inserção de cateter central por punção, coleta de líquor, biópsia de medula óssea.
- Plaquetas 50.000/mm 3, pré-procedimentos cirúrgicos de médio e grande porte. - Plaquetas 50.000/mm 3 em pacientes com coagulação intravascular disseminada, transfusão maciça com sangramento ativo, sangramento em trato gastrointestinal ou genitourinário. - Plaquetas 100.000/mm 3, pré-neurocirurgias e pós procedimentos com circulação extra-corpórea. - Plaquetas 100.000/mm 3 em pacientes com trauma cranioencefálico, politraumatizados. - Defeito qualitativo de plaquetas, transfundir se sangramento agudo ou profilático pré-procedimento. - Púrpura trombocitopenica idiopática: Transfundir apenas se houver sangramento ativo. 4.3. Níveis plaquetários recomendados para realização de procedimentos: Broncoscopia, endoscopia digestiva: 20.000/mm 3 biópsia), 20.000/mm 3 (com biópsia). (sem Punção liquórica: 20.000 a 50.000/mm 3. Extração dentária, toracocentese, paracentese, laparotomia, biópsia hepática, brônquica, inserção de cateter central por punção: 50.000/mm 3. Cirurgias neurológicas e oftalmológicas: 100.000/mm 3. 4.4. Dose: 1 Unidade para cada 10 Kg, 1 a 2 vezes ao dia, conforme avaliação médica. 5. Transfusão de Plasma:
5.1. Objetivo: Corrigir deficiência de fatores de coagulação congênita ou adquirida (doença hepática, deficiência de vitamina K, reversão de anticoagulação, coagulação intravascular disseminada). 5.2. Indicações: Tratamento de sangramento ativo ou préprocedimento em: - Pacientes com insuficiência hepática. - Coagulação intravascular disseminada. - Púrpura trombocitopenica trombótica. - Transfusão maciça. - Deficiência de anti-trombina III. - Pacientes portadores de deficiência congênita ou adquirida de um ou mais fatores de coagulação que não esteja disponível concentrado liofilizado específico, associado a prolongamento de TP e TTPA. - Coagulopatia secundária à deficiência de vitamina K. - Reversão imediata dos efeitos da anticoagulação. - Preparo de cirirgias em pacientes com alterações significativas no TP e TTPA. 5.3. Dose: 10 a 20 ml/kg, 1 a 4 vezes por dia. 6. Transfusão de Crioprecipitado. 6.1. Objetivos: Reposição de fibrinogênio em pacientes com hipofibrinogenemia congênita ou adquirida.
6.2. Indicações: - Hipofibrinogenemia (dosagem < 100 mg/dl) em pacientes em uso de quimioterapia L-asparaginase. - Hipofibrinogenemia (dosagem < 100 mg/dl), congênita ou adquirida, em pacientes com sangramento agudo ou préprocedimento. - Doença de Von Willebrand, Hemofilia A ou deficiência de fator XIII quando não houver concentrado de fator disponível. - CIVD e falência hepática (fibrinogênio < 100 mg/dl). 6.3. Dose: 1 unidade para cada 5 a 10 Kg.