Caracterização das Fundações Portuguesas

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Transcrição:

Caracterização das Fundações Portuguesas Ana Sampaio * Anabela Afonso ** Resumo Neste artigo é efectuada uma caracterização das Fundações portuguesas no sentido de colmatar a ausência de informação existente em Portugal sobre o universo das fundações. Esta caracterização é essencialmente descritiva e foi realizada com base nas respostas obtidas em dois inquéritos. Dá-se ênfase aos aspectos relacionados com a localização, natureza e tipo, objectivos e principais actividades, formação dos recursos humanos, regime de voluntariado, nível de satisfação com o actual enquadramento jurídico e conhecimento do conceito Fundação das Comunidades. Palavras-chave: Inquérito, Fundações portuguesas, Fundação das Comunidades, IPSS. 1. Introdução Desde a década de 80 que se observa um proliferar de novas fundações em Portugal. A importância que estas têm na sociedade e escassez de informação sobre as fundações existentes, justificou a * Assistente na Universidade de Évora ** Assistente estagiária na Universidade de Évora 1

realização recente de dois inquéritos junto destas instituições com o objectivo de enriquecer o conhecimento sobre elas. Com as respostas obtidas nestes inquéritos, efectuou-se uma caracterização sucinta das fundações, dando ênfase a vários aspectos. Na secção 2 é efectuada a caracterização das duas amostras resultantes dos inquéritos realizados. Na secção 3 são apresentados e analisados os resultados obtidos com os questionários tendo-se aprofundado as questões relacionadas com a localização geográfica e temporal, natureza e tipo de fundações, objectivos e principais actividades a que se dedicam, formação dos recursos humanos, regime de voluntariado, nível de satisfação face ao actual enquadramento jurídico e com o conhecimento do conceito Fundação das Comunidades. Finalmente, na última secção apresentam-se em síntese os principais aspectos que caracterizam as fundações inquiridas. 2. Caracterização das amostras Segundo os registos notariais existe um universo de cerca de 800 fundações em Portugal para as quais foram enviados, em 1999, dois inquéritos. O primeiro sob a responsabilidade da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI) surge no âmbito de um processo de revisão do actual quadro jurídico das fundações. A este questionário 344 fundações que representam 44% do universo. O segundo inquérito do Centro de Investigação sobre Economia Financeira (CIEF) do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) foi realizado no contexto do Projecto de Economia Social do ISEG que englobou o estudo das fundações portuguesas. A este inquérito 150 fundações, ou seja, apenas 19% do universo. 2

Universo 800 Fundações Registos notariais Amostra SGMAI 344 Fundações (44%) Amostra CIEF - ISEG 150 Fundações (19%) Figura 1 - Universo e amostras. Uma vez que os dois inquéritos não são semelhantes utiliza-se, de acordo com a conveniência, a informação contida em ambas as amostras e sem se referenciar a fonte. As taxas de resposta obtidas não correspondem verdadeiramente à realidade uma vez que, nos registos notariais constam não só as fundações em exercício de actividade como também as inactivas, ou sejam, aquelas que já não estão a desenvolver qualquer actividade. No entanto, continua a desconhecer-se a significância destas no referido universo, pelo que a representatividade estatística das amostras poderá ser questionada. Assim, carece de bastante cautela a extrapolação dos resultados amostrais para o universo das fundações. Ao longo do tratamento e análise das respostas obtidas em ambos os inquéritos, foi detectado um elevado número de questões não respondidas, missing values, e também frequentes incorrecções no seu preenchimento, das quais se destacam: Quanto à localização geográfica da fundação, algumas identificaram o Concelho quando questionadas relativamente ao Distrito; Fundações com mais de um tipo de natureza, como por exemplo simultaneamente canónica, pública, particular e IPSS, conforme ilustrado na Figura 4. 3

3. Caracterização das Fundações Nesta secção é feita a caracterização das fundações que aos inquéritos. Devido às anomalias já enunciadas, não devem ser extrapoladas para o universo das fundações as características apuradas com base nas amostras. 3.1. Distribuição Geográfica Pela análise da Figura 2, constata-se que existe uma maior concentração de fundações nos distritos da zona litoral norte (Braga, Porto, Aveiro e Coimbra) e da grande Lisboa, onde se localizam mais de metade das fundações que ao inquérito SGMAI. Os distritos com menor concentração de fundações são Viana do Castelo, Vila Real, Bragança e Beja. Figura 2 - Distribuição geográfica das fundações. 4

As fundações de natureza canónica têm uma maior representatividade também nos distritos de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro, que concentram mais de metade deste tipo de fundações (Figura 3). Figura 3 - Distribuição geográfica das fundações canónicas. Quando se cruza a informação ilustrada pela Figura 2 e pela Figura 3, constata-se que no distrito de Lisboa 31% das fundações são canónicas, enquanto que nos Distritos do Norte do país esta percentagem é mais significativa, ou seja, em Braga e Aveiro cerca de 60% das fundações existentes são de natureza canónica e no Porto estas representam 40%. Quanto à percentagem de fundações de natureza canónica por distrito, verificamos que é no norte do País que esta é mais elevada, registando-se a percentagem máxima no distrito de Viana do Castelo com 67%. 5

3.2. Natureza e tipo Quanto à sua natureza as fundações distinguem-se entre públicas, particulares, IPSS e canónicas. No inquérito SGMAI, algumas fundações, quando questionadas acerca da sua natureza classificaram-se como possuindo mais do que um tipo de natureza. Quadro 1 - Natureza das fundações. Canónica canónica Pública Pública Total Particular 0,9% 18,3% 19,2% particular 0,9% 20,1% 21,0% Total 1,8% 38,4% 40,2% Particular 4,7% 49,5% 54,2% particular 5,6% 0,0% 5,6% Total 10,3% 49,5% 59,8% 12,1% 87,9% 100,0% Como se pode constatar pela análise do quadro anterior, das fundações que a esta questão, 0,9% afirmaram ser particulares, públicas e canónicas; 18,3% classificaram-se como particulares e canónicas (não públicas) 0,9% são canónicas e públicas (não particulares); 4,7% afirmaram ser particulares e públicas (não canónicas). Na figura 4, verifica-se que os quatro tipos de natureza se sobrepõem, quando tal não deveria acontecer. No entanto e apesar desta anomalia, constata-se que predominam as fundações de natureza particular. No questionário efectuado pelo CIEF-ISEG, este problema não ocorreu uma vez que a questão foi colocada à partida de forma inequívoca: 6

resp. 5% IPSS 59% Particular 69% Pública 11% Canónica 38% Figura 4 - Natureza das fundações. particular pública outra: Salienta-se no entanto, que as fundações que a este questionário e que não se identificaram com a natureza pública ou particular, apenas se classificaram como IPSS, não se obtendo portanto como resposta a natureza canónica. Tal como na amostra SGMAI, também nesta amostra se verifica a predominância das fundações de natureza particular. Julga-se que a elevada percentagem obtida para a natureza particular, inclui as fundações de natureza canónica e ainda uma percentagem significativa de fundações de natureza IPSS que nesta amostra parecem estar subvalorizadas. 7

5% Particular 86% IPSS 6% Pública 3% Figura 5 - Natureza da fundação. 3.3. Temporal A fundação mais antiga data de 1651 e a mais recente de 1999. Como se pode observar pela Figura 6, cerca de 60% a maioria das fundações foram constituídas a partir da década de 80. 35% 30% 25% % de Fundações 20% 15% 10% 5% 0% 1651 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Ano de Instituição da Fundação Figura 6 - Distribuição da data de instituição da fundação. 3.4. Dotação inicial Grande parte das fundações foi constituída com uma dotação inicial inferior a 20.000 contos. A este facto não é alheio o factor data 8

de constituição. Daí que na Figura 7 seja representada a data de constituição versus a dotação inicial. 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 < 20.000 20.000 a 50.000 50.000 a 100.000 100.000 a 500000 500.000 a 1.000.000 > 1.000.000 Figura 7 - Dotação inicial versus data de instituição da fundação. A análise da figura anterior, revela ser a partir da década de 60 que começa a surgir uma maior variabilidade quanto à dotação inicial, tendência esta que se acentua a partir da década de 80. 3.5. Estatuto de utilidade pública 69% das fundações que afirmaram possuir estatuto de utilidade pública repartindo-se a natureza que reveste este estatuto de forma quase equitativa entre a natureza simples e administrativa. De salientar a elevada percentagem de não respostas a esta questão. 9

28% tem estatuto UP 3% Tem estatuto UP 69% 11% Natureza Simples 42% Natureza Administrativa 47% Figura 8 - Estatuto de utilidade pública e natureza. 3.6. Tipo de Fundação As fundações podem ser classificadas quanto ao seu tipo em independentes, ligadas ao Governo (fundação pública, fundação governamental, outra), de empresa ou de recolha de fundos (fundação comunitária, fundação de recolha de fundos). As fundações independentes são as que mais se destacam face aos outros tipos. Seguem-se as fundações ligadas ao Governo, as de recolha de fundos e finalmente as fundações de empresa. Ligada ao Governo 7% Empresa 3% Recolha de Fundos 4% 9% Independente 77% Figura 9 - Tipo de fundação. 10

3.7. Objectivos e actividades As fundações distinguem-se quanto ao âmbito de actividade entre internacional, nacional, regional e local ou outro. Regional 23% Internacional 10% 6% Nacional 27% Local ou outro 34% Figura 10 - Âmbito de actividade da fundação. O grupo mais representativo insere-se num âmbito local, seguindo-se por ordem de representatividade as fundações cuja actividade tem um âmbito nacional e regional. As fundações com actividade internacional são as menos significativas. As actividades das fundações dirigem-se, preferencialmente, para a Comunidade em geral, em seguida para um grupo específico, para uma actividade específica e apenas uma percentagem muito reduzida não tem actividade dirigida para um destinatário específico. tem destinatário específico 2% 5% Actividade específica 18% Comunidade em geral 52% Grupo específico 23% Figura 11 - Objectivo da actividade da fundação. 11

De acordo com os objectivos preferenciais, as actividades predominantes caracterizadoras das fundações são a educação, a infância e o apoio a Idosos. Verifica-se que cerca de 40% das fundações repartem 100% dos seus recursos financeiros por estas actividades e que estas fundações, 10% aplicam os seus recursos financeiros inteiramente na actividade dirigida para o apoio a idosos, 9% só investe na educação e 7,3% só na infância. 3.8. Formação Quando confrontadas com a utilização corrente de programas de qualidade total, verifica-se que a maioria das fundações não faz uso destes programas, não só pela elevada percentagem significativa de respostas negativas como também pela percentagem significativa de não respostas. Utiliza 16% 25% utiliza 59% Figura 12 - Programas de qualidade total. A formação dos seus recursos humanos também parece não fazer parte das preocupações da maior parte das fundações respondentes, uma vez que a maioria das fundações afirma não possuir programas de envolvimento dos empregados, nem programas de formação destinados aos colaboradores. 12

Existe 36% 13% existe 51% Figura 13 - Programas de envolvimento dos empregados. Existe 17% existe 63% 20% Figura 14 - Programa de Formação para Colaboradores. A maioria das fundações afirma não possuir um plano para formação de dirigentes diferente do programa de formação geral. Mas será que existe um plano de formação para dirigentes? Como já foi referido anteriormente não existe formação tanto para colaboradores como para os empregados na maioria das fundações, o que indicia de certa foram a ausência de planos de formação dirigidos aos dirigentes das fundações. 13

Sim 7% 79% 14% Figura 15 - Formação para dirigentes, distinta do programa de formação Geral? A maioria das fundações não tem uma política orientada para programas de investigação e desenvolvimento. As que praticam este tipo de política para a concretização dos projectos que patrocina fá-lo, de um modo geral, em parceria com outras organizações. Estas parcerias são efectuadas, na maior parte dos casos, com organismos públicos. 12% Orientada 32% Em parceria 73% orientada 56% parceria 27% Figura 16 - Política de programas de investigação e desenvolvimento. 3.9. Voluntariado Cerca de 58% das fundações conta com a participação de voluntários para a concretização das suas iniciativas, ou seja o regime de voluntariado parece prevalecer neste tipo de instituição. 14

10% tem voluntários 32% Tem voluntários 58% Figura 17 - Voluntariado. 3.10. Enquadramento jurídico Relativamente ao nível de satisfação das fundações quanto ao actual enquadramento jurídico do sector, constata-se que cerca de 50% está satisfeita e que a taxa de não respostas a esta questão é muito elevada (27%), o que revela uma certa apatia ou desconhecimento por parte das fundações do enquadramento jurídico. 27% satisfeitas 21% Satisfeitas 52% Figura 18 - Satisfação com actual enquadramento jurídico do sector. Nos próximos anos as fundações não pretendem no seu ambiente de actuação nem uma diminuição do papel do Estado, nem reforço do papel do Estado. Também não querem a criação de órgãos de controle do próprio sector em colaboração com o Estado. 15

As fundações que dizem estar insatisfeitas com o actual enquadramento jurídico pretendem a simplificação do actual quadro e regime de tutela e consideram que a actividade passada da fundação constituiu um bloqueador da actividade. A Figura 19 ilustra uma contradição detectada nas respostas das fundações insatisfeitas com o actual enquadramento jurídico: dizem que não efectuariam nenhuma alteração no ambiente em que actuam visto o enquadramento jurídico ser satisfatório (!). 100% 80% satisfeita Satisfeita 60% 40% 20% 0% alteração Alteração alteração do actual enquadramento jurídico porque é satisfatório Figura 19 - Satisfação com o actual regime jurídico versus a sua não alteração. Quanto aos protocolos com o Estado coo fonte de financiamento, quer as fundações satisfeitas como as insatisfeitas com o actual enquadramento jurídico do sector, atribuem um elevado nível de importância a este tipo de financiamento. 16

45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% satisfeita Satisfeita 1 2 3 4 5 6 7 Nível de importância dos protocolos com o Estado como fonte de financiamento Figura 20 - Nível de importância dos protocolos com o Estado versus satisfação com o actual enquadramento jurídico. 3.11. Regime de Tutela No que concerne à adequação do actual regime de tutela para o desenvolvimento da actividade da fundação, 44% afirmam ser adequado, 37% não e apenas 19% não consideram o actual regime de tutela o mais adequado. Satisfeitas 44% 37% satisfeitas 19% Figura 21 - Actual regime de tutela para a actividade da fundação. 17

3.12. Formas de Financiamento As principais formas de financiamento identificadas pelas fundações nos inquéritos foram os donativos, as receitas de serviços prestados e os protocolos com o Estado. Quadro 2 Formas de financiamento. Forma de financiamento Sim Donativos 61% 39% Receitas de serviços prestados 59% 41% Protocolos com o Estado 58% 42% Rendimentos de Capital 42% 58% Legados 27% 73% Outra 15% 85% Empresa-mãe 7% 93% Directamente pelo Estado 6% 94% fundações: Quanto à forma de financiamento identificamos 3 grupos de as fundações que são financiadas pela empresa mãe e por donativos; as que são financiadas directamente pelo Estado, por Donativos e através dos rendimentos de capital; e finalmente as fundações que são financiadas por donativos, protocolos com o Estado e por receitas de serviços prestados. 3.13. Fundação das Comunidades O Conceito de Fundação das Comunidades não está suficientemente divulgado junto das fundações, pois como se pode constatar pela Figura 22 apenas um número muito reduzido de fundações afirma estar familiarizado com este conceito. Das que afirmam conhecer este conceito, 64% são da opinião de que existem condições para a Fundação das Comunidades se implementar em Portugal. 18

22% conhece 42% Conhece 37% 20% existem condições 16% Existem condições 64% Figura 22 - Conceito Fundação da Comunidade. 4. Conclusão Com os dois inquéritos foi possível efectuar uma caracterização sintética das fundações portuguesas. Alguma cautela deve, no entanto, ser tomada aquando da extrapolação dos resultados enunciados neste artigo para o universo das fundações, uma vez que a representatividade das amostras não está ainda convenientemente estudada. A maior parte das fundações são de natureza particular e localizam-se preferencialmente nos distritos da zona litoral Norte e no distrito de Lisboa. É também nestes distritos que se encontra um maior número de fundações de natureza canónica. Foi a partir da década de 80 que foram constituídas a maior parte das fundações. As fundações são do tipo independente, têm estatuto de utilidade pública e contam com a participação do trabalho voluntário. A actividade da fundação dirige-se preferencialmente para a comunidade em geral, predominando as actividades relacionadas com a educação, com a infância e com o apoio a idosos. A maioria das fundações não parece privilegiar a formação dos seus recursos humanos através da promoção de planos e programas e não faz uso de programas de qualidade total. 19

Nos próximos anos, as fundações não pretendem no seu ambiente de actuação a alteração do papel do estado nem a criação de órgãos de controle do próprio sector em colaboração com o Estado. O actual quadro jurídico do sector satisfaz metade das fundações. As principais formas de financiamento identificadas pelas fundações foram os donativos, as receitas de serviços prestados e os protocolos com o Estado. O Conceito Fundação da Comunidade não está suficientemente divulgado junto das fundações. Das que afirmam conhecer este conceito a maioria é da opinião de que existem condições para a Fundação da Comunidade se implementar em Portugal. Com base neste quadro caracterizador sugere-se a implementação, junto das fundações, de campanhas de divulgação da importância da qualificação dos recursos humanos e das vantagens da constituição em Portugal de uma Fundação da Comunidade. Referências Barros, Carlos Pestana e J. C. Gomes Santos, 2000, Inquérito às Fundações Portuguesas: Relatório Técnico, Mimeo. Barros, Carlos Pestana e J. C. Gomes Santos, 2000, Inquérito da Secretaria Geral do Ministério da Administração Pública às Fundações Portuguesas: Relatório Técnico, Mimeo. De Machete, Rui Chancerelle, 1993, Sobre as Fundações e Azevedo Perdigão, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. 20