ÁREAS SUSCETÍVEIS A RISCOS GEOMORFOLÓGICOS NO CONTEXTO DAS ENCOSTAS URBANAS: O CASO DAS ENCOSTAS DE UM BAIRRO DE MACEIÓ (AL).



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Transcrição:

ÁREAS SUSCETÍVEIS A RISCOS GEOMORFOLÓGICOS NO CONTEXTO DAS ENCOSTAS URBANAS: O CASO DAS ENCOSTAS DE UM BAIRRO DE MACEIÓ (AL). James Rafael Ulisses dos Santos Universidade Federal do Espírito Santo - UFES James.ulisses@hotmail.com Edilsa Oliveira dos Santos Universidade Federal de Alagoas - UFAL edilsa.geo@hotmail.com Everson de Oliveira Santos Universidade Federal de Alagoas - UFAL eversonoliveira2007@ig.com.br Nivaneide Alves de Melo Universidade Federal de Alagoas - UFAL nivaneide.ufal@yahoo.com.br 1. INTRODUÇÃO Encostas urbanas são ambientes que ao longo dos anos vem sofrendo processos de modelagem, devido a sua dinâmica natural e principalmente pelos fatores de ordem antropogênica. O homem nas últimas décadas tem intensificado e alterado as encostas íngremes, em detrimento das ocupações irregulares, com construções precárias realizadas sem planejamento habitacional prévio, e sendo na maioria dos casos, caracterizadas por populações de baixa renda. Fato que temdinamizadoos movimentos de massa nas vertentes, decorrente do lançamento de águas servidas (águas servidas cinzas e marrons), devido as precárias condições de moradia nessas áreas, sem infraestrutura básica. As discussões a respeito das ocupações desordenadas em áreas de risco e dos desastres naturais tem-se intensificado no meio acadêmico, em diversos setores do poder público e na comunidade cível etc. Nesse sentido na perspectiva de Florenzano (2008), o interesse sobre esses fenômenos tem levado pesquisadores, planejadores e

gestores do setor público e privado a pensar novas estratégias sobre a instalação de complexos industriais, estradas, linhas de transmissão de energia e principalmente casa e conjunto residenciais. Bem como desenvolver novas soluções para os empreendimentos que já estão instalados em áreas de riscos. Segundo a ONU (1993), os movimentos de massa são os fenômenos naturais que mais causam prejuízos financeiros e mortes no mundo. Sendo esses processos morfológicos importantes para a evolução do relevo e tendo sua ocorrência nas vertentes. No entanto, nas cidades, eles assumem, em geral, proporções catastróficas, uma vez que causam danos materiais e perdas de vidas humanas (Brunsden; Prior, 1984; Montgomery; Dietrich, 1994; Fernandes; Amaral, 1996; Larsen; Torres-Sánchez, 1998; Zerkal, S.; Zerkal, O., 2004). (GUIMARÃES et al, 2008). Este estudo foi desenvolvido em Flechal de Cima, comunidade localizada no bairro de Bebedouro em Maceió, Alagoas, onde realizou-se um levantamento das principais áreas suscetíveis à ocorrência delandslides (deslizamentos e/ou escorregamento) nas encostas (slopes), e um mapeamento das características físicas da área, com auxílio dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Sendo essas ferramentas importantes na elaboração de estudos voltados para o monitoramento, prevenção e recuperação de áreas suscetíveis à ocorrência de desastres naturais. E como produto final adotou-se uma proposta de sensibilização ambiental da comunidade supracitada, realizando debates e palestras, a respeito da problemática de ocupar áreas suscetíveis a riscos geomorfológicos e da necessidade da preservação ambiental das mesmas. 2. OBJETIVOS 2.1.Geral: Analisar as áreas suscetíveis aos riscos de movimentos de massa nas encostas urbanas do bairro de Bebedouro em Maceió, Alagoas. 2.2.Específicos:

Entender a problemática do processo de ocupação urbana desordenada nas encostas íngremes do bairro; Caracterizar os pontos do bairro com maior suscetibilidade para a ocorrência de deslizamentos, por meio de um mapeamento das encostas; Trabalhar com as comunidades do bairro de Bebedouro uma metodologia de sensibilização e gestão dos riscos de movimentos de massa em encostas íngremes. 3. METODOLOGIAS Como metodologia adotada para o desenvolvimento desse estudo utilizou-se os seguintes procedimentos: realizou-se pesquisas bibliográficas concernentes aos processos de ocupação em encostas urbanas íngremes que apresentam suscetibilidade para o desencadeamento de riscos geomorfológicos. Em seguida, obteve-se o mapeamento de risco de deslizamentos do município de Maceió, em escala de detalhe junto a COMDEC (Coordenadoria Municipal de Defesa Civil), tendo como fonte o Plano Municipal de Redução de Riscos Produto 2. Relatório de Mapeamento de Risco. Maceió, Julho de 2007. Além do banco de dados, com todos as informações de Alagoas, no site do Instituto do Meio Ambiente IMA/AL para a produção do mapeamento da área de estudo. Posteriormente foram feitas visitas a campo, com a finalidade de validar os dados adquiridos e tabulados em laboratório, sendo essa uma etapa relevante para o desenvolvimento do estudo, (na ocasião foram realizadas cinco visitas de campo na encosta da comunidade Flechal de Cima em Bebedouro), onde delimitou-se e caracterizou-se as unidades geomorfológicas, tipos de litológicas, os solos da área, aspectos climáticos, rede hidrográfica e classes de declividade.sendo enquadrado como um ambiente suscetível a ocorrência de riscos geomorfológicos. Na sequência, foram desenvolvidas atividades como palestras e debates com a população no âmbito de tentar sensibilizar a comunidade do bairro inserida nas encostas

urbanas íngremes, sobre a problemática de edificar suas casas nessas áreas sujeitas a deslizamentos. Fato que tem causado uma série de perdas tanto materiais, como de vidas humanas, devido aos aspectos geológicos-geomorfológicos do ambiente, inadequado para construções de residências, devido à instabilidade do terreno. E como produto final, no Laboratório de Geomorfologia e Solos (GEOMORFOS), do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente - IGDEMA/UFAL, foram editadas as fotografias do levantamento tiradas em campo e confeccionados os mapas da área de estudo, com auxílio dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), e das técnicas de Geoprocessamento. E dessa forma, tendo como meta representar o bairro de Bebedouro, descrevendo suas áreas com maior grau de suscetibilidade de riscos à ocorrência de movimentos de massa (landslades) devido a ocupação sem planejamento das suas encostas. 4. RESULTADOS PRELIMINARES 4.1. Análise das Encostas Urbanas em Maceió Segundo Guerra (2012), o desenvolvimento das encostas é, consequentemente, o principal resultado da denudação, e o estudo dessas feições possui um caráter de grande importância para a Geomorfologia. E que qualquer processo que ocorra nas encostas por intervenção do homem acarretará em mudanças significativas nas formas de relevo. Nesse sentido, Guerra (2012) destaca que a ação humana sobre as formas de relevo causa alterações e transformações devido à ocupação desordenada, seja em áreas urbanas ou rurais. Essa ocupação quando se dá sem nenhum planejamento habitacional prévio desenvolverá impactos ambientais que tende a afetar tanto o meio físico como os seres humanos, além de culminar em riscos geomorfológicos, como movimentos de massa. Com relação as feições geomorfológicas de Maceió,a cidade está inserida praticamente nas encostas, sejam elas do tipo fundos de vale, flúvio-lagunares ou originárias de falésias erosivas, e sendo nessas formas de relevo, caracterizadas pelas

acentuadas declividades, que uma grande parte da população da cidade construiu suas moradias. No entanto, as encostas são ambientes que sofrem uma dinâmica tanto dos processos naturais como antropogênicos, o que vem a acarretar uma série de problemas socioambientais por consequência do desenvolvimento de movimentos de massa em decorrência da ocupação sem planejamento subindo as vertentes íngremes (Figura: 01). Figura: 01 Lançamento de lixo ao longo da encosta em Bebedouro, Maceió (AL), fato que construiu para o desencadeamento de umdeslizamento superficial, destruindo parte uma casa. Fonte: SANTOS, J. R. U, 2013. De acordo com levantamento realizado pela Defesa Civil, em Maceió [...] grande parte das encostas apresentam boa estabilidade natural, visto que os desastres vão se consolidando devido à forma de ocupação, fato que desencadeia riscos aos moradores, por consequência dos cortes no sopé dos taludes, saturação dos solos das vertentes

devido ao vazamento e lançamento de águas servidas e lixo (por falta de saneamento básico) ao longo das encostas (COMDEC, 2007). E para dar uma melhor representatividade a esse estudo sobre as áreas de riscos geomorfológicos nas encostas da comunidade Flechal de Cima em Bebedouro, Maceió- AL, foram caracterizadas, por meio de um Modelo Digital de Elevação MDE (Figura: 02) de parte dos bairros que margeiam a laguna Mundaú (margem esquerda), com destaque para Bebedouro, as classes de declividade com suscetibilidade para a ocorrência de escorregamentos nas encostas (landslides).

Figura: 02 - Modelo Digital de Elevação (MDE), do município de Maceió, destacando o bairro de Bebedouro. (Classes de Declividade adaptado de FLORENZANO, 2008). Fonte dos Dados: IMA-AL. Portanto, para o MDE de Bebedouro, foi estabelecida cinco classes de declividades com relação à ocorrência de riscos de deslizamentos nas encostas (landslides). Onde foram determinadas as classes de declividades em porcentagem da seguinte forma: < 6% declividade muito fraca (risco muito baixo); 6% a 12% declividade fraca (risco baixo); 12% a 20% declividade média (risco moderado); 20% a 30% declividade forte (risco alto) e > 30% declividade muito forte (risco muito alto). A comunidade Flechal de Cima, por se encontrar numa área de risco com declividade variando entre 20% a mais de 30% apresenta suscetibilidade a movimentos de massa de moderado, alto a muito alto. 4.2.Sensibilização Ambiental como Proposta de Prevenção e Gestão de Riscos Geomorfológicos em Bebedouro, Maceió AL.

Como proposta de sensibilização ambiental na comunidade Flechal de Cima, inserida nas encostas urbanas do bairro de Bebedouro, Maceió (AL), foi proposta uma metodologia de sensibilização ambiental no intuito de tornar a população mais crítica a respeito da problemática de habitar em áreas de riscogeomorfológicos, por meio de palestras e debates sobre o perigo de ocupar as encostas suscetíveis a ocorrência de movimentos de massa, esses sendo desenvolvidos por consequência de processos físicos decorrentes da dinâmica do relevo e de processos antrópicos, derivados do mau uso e ocupação do solo urbano. No norteamento das discussões com a comunidade do bairro, adotou-se a proposta metodológica de Veyret (2007), para as ações e estratégias de prevenção e gestão dos riscos, que do ponto de vista da autora deve ser adotado os seguintes critérios: Avaliar de maneira consensual a aceitabilidade do risco; facilitar sua percepção pelas populações ameaçadas; fundar a participação das comunidades locais na informação e na educação em matéria de riscos e de meio ambiente; adotar mecanismos de prevenção e de gestão dos riscos; definir uma estratégia de longo prazo, principalmente uma política de planificação urbana que integre o desenvolvimento dos bairros frágeis (MASURE, 1989, apud VEYRET, 2007, p.101). Contudo, é importante que a população tenha um conhecimento elementar sobre os eventos geomorfológicos e antropogênicos que contribui como fator relevante na modelagem das formas de relevo, visto que, a ação antrópica tem sido ao longo dos anos, o principal agente na transformação das encostas, principalmente, devido ao processo de ocupação irregular, fruto da falta de planejamento urbano, obrigandocomo quase sempre acontece, a população de baixa renda a avançar sobre as áreas ambientalmente frágeis. Ainda de acordo com a autora, algumas soluções teóricas são necessárias para a prevenção dos efeitos e das catástrofes naturais na prática como: Ocupação racional do território e, principalmente, orientação da urbanização das zonas menos expostas e menos frágeis; modificação das ações antrópicas geradoras de riscos e adoção de normas de construção adequadas [...]; realização de obras corretivas (estabilização das encostas, regulamentação e canalização dos cursos de água, luta contra a erosão); instalação de redes de

auscultação dos fenômenos perigosos; organização dos atores operacionais encarregados da proteção, do socorro a das ações de reabilitação etc. (MASURE, 1989, apud VEYRET, 2007, p.102). Para se ter uma resposta eficaz quanto a uma boa gestação das áreas de risco, se torna necessário um maior envolvimento da população a respeito do conhecimento da base física do meio à qual está inserida, bem como, intensificar a capacidade crítica com relação a percepção, prevenção e gestão dos riscos, podendo dessa forma, reivindicar melhorias junto aos gestores públicos, no intuito de viabilizar obras de infraestrutura como: saneamento básico com rede de esgoto tratada e sistema de drenagem de qualidade, evitando que as águas servidas e pluviais sejam lançadas a céu aberto, causando doenças à população, pavimentação das ruas, evitando transtornos durante o período de chuva, etc. Durante a realização do estudo, notou-se o descaso para com a população, decorrente da falta de interesse dos gestores públicos na elaboração de políticas públicas voltadas para a expansão e ordenamento urbano dos bairros periféricos da cidade. Pois, segundo relatos dos moradores, projetos de infraestrutura são elaborados, mas na realidade não se concretizam na prática, sendo que, muitas vezes os órgãos que tem a incumbência de realizar melhorias, mesmo sendo dada a ordem de serviço, não realizam as obras, deixando a população a mercê do descaso e numa situação humilhante e preocupante. Uma situação atípica e ao mesmo tempo dicotômica, mas que tem sido considerada normal nas áreas frágeis sujeitas a ocorrência de movimentos de massa e danos materiais e humanos, são as construções de grandes empreendimentos imobiliários ao lado de casebres nas encostas de Maceió, como exemplo, desse tipo de edificações nos bairros de Cruz das Almas, Jacarecica e Jacintinho.

Este tipo de empreendimento, em terrenos suscetíveis, denotam a falta do cumprimento das leis ambientais e urbanas (devido a falta da aplicação das leis vigentes no Plano Diretor do município de Maceió), as quais proíbem esse tipo de construção habitacional nas Áreas de Preservação Permanente (APP), que, todavia, deveriam ser preservadas por apresentar características geológico-geomorfológicas propícias ao desenvolvimento de riscos ambientais (Figura: 03). Figura: 03 - Cicatriz do movimento de massa na encosta da comunidade Flechal de Cima, Bebedouro em Maceió, evento que danificou parte de uma residência, fato ocorrido em 2013. Fonte: SANTOS, J. R. U, 2013. Na proposta de sensibilizar ambientalmente da população da comunidade supracitada, não deve só ser adotado como objetivo o alerta sobre os problemas derivados da ocupação irregular nas áreas com suscetibilidade aos riscos geomorfológicos, como também das possíveis soluções para evitá-los, onde a população deve reivindicar por seus direitos, enquanto cidadãos, cobrando junto as autoridades soluções de infraestrutura habitacional no ambiente urbano onde vivem. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos estudos de movimento de massa em encostas urbanas é necessário não somenteas análises, mitigações e prevenções dos aspectos físicos do ambiente, mas principalmente que a sociedade esteja a par dos fatores condicionantes dos processos que desencadeiam os desastres naturais nas encostas das comunidades. Pois a sociedade precisa de um senso mais crítico, e ser capacitada, no que tange aos conhecimentos de

preservação e gestão das áreas de risco nas encostas. No entanto, trabalhar essa temática não é tarefa fácil, porque é algo a ser pensado não para curto prazo, e sim para médio e longo prazo. O estudo faz parte de um projeto maior que teve duração de um ano, e encontra - se concluído, sendo realizado nas encostas da comunidade Flechal de Cima, localizada no bairro de Bebedouro em Maceió, Estado de Alagoas. Nessa área foram analisados os principais pontos com suscetibilidade para a ocorrência de caracterizando-se assim como área de risco geomorfológico. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS deslizamentos, COSTA, J. A.; RAMOS, V. A. O espaço urbano de Maceió ambiente físico e organização sócio-econômica. In: Geografia: espaço, tempo e planejamento. ARAÚJO, L. M (Org.) Maceió: Ed. Edufal, 2004, p. 320. DANTAS, C. L. Maceió, porto e porta de Alagoas. In: TENÓRIO, D. A; LIMA, R. C. A, CARVALHO, C. P. Enciclopédia Municípios de Alagoas. Maceió: Instituto Arnon de Mello, 2006. FERNANDES, N. F.; AMARAL, C. P. do. Movimentos de Massa: Uma Aboradagem Geológico-Geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T; CUNHA, S. B. da. (Org,). Geomorfologia e Meio Ambiente 4ª ed. Rio de Janeiro Bertrand Brasil, 2003. Cap. 3, p.123-194. FLORENZANO, T. G. Sensoriamento Remoto para Geomorfologia. In:. Gemorfologia: conceitos e tecnologias atuais (org.) Ed. 1ª. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. Cap. 2, p. 31-71. GUERRA, A.T; GUERRA, A. J. T. NovoDicionário Geológico-geomorfológico 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011, 648p. GUERRA, A. J. T. Encostas e a questão ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Aquestão ambiental: diferentes abordagens. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, 250 p. GUERRA, A. J. T. Processos Erosivos nas Encostas. In: GUERRA, A. J. T; CUNHA, S. B. da. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos 7ª ed. Rio de Janeiro Bertrand Brasil, 2007. Cap 4, p. 149-209. GUERRA, A. J. T. Encostas Urbanas. In: Geomorfologia Urbana/ GUERRA, A. J. T. (org). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 280p.

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