Densidade populacional e degradação florestal em fronteiras agrícolas na Amazônia: o caso de Sinop, Mato Grosso. Danilo Avancini Rodrigues 1

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Transcrição:

Densidade populacional e degradação florestal em fronteiras agrícolas na Amazônia: o caso de Sinop, Mato Grosso. Danilo Avancini Rodrigues 1 1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE Caixa Postal 515-12227-010 - São José dos Campos - SP, Brasil danilo.rodrigues@inpe.br Abstract: This paper uses demographic and forest degradation data to investigate the mixed relationship between patterns of human occupation and forest degradation by timber extraction and fire between 2000 and 2010 within the Amazon Forest, on the region of Sinop, Mato Grosso, Brasil. We use the database on forest degradation by Pinheiro (2015) and the population census data released by the federal geographical and statistical agency IBGE at the census tract level. Crossing the population density and forest degradation through a cellular plane enabled the identification of ten human settlement and forest degradation patterns in the study area. The analysis showed that the human settlement and forest degradation patterns on areas closer to the highway BR-163 turned into less intense population density and degraded forest over the study period whilst the patterns far from the road became more dense in terms of population and degradation. Between 2000 and 2010 there was a decrease on the population density and degraded forest on the patterns with low population density in 2000, and an increase on the population density of patterns with high population density, while the degraded forest areas on this patterns also decreased. Palavras-chave: human occupation, cellular space, timber extraction, forest fire, ocupação humana, ambiente celular, exploração madeireira, fogo florestal. 1. Introdução A relação entre a ocupação humana e o aproveitamento dos recursos naturais tem sido um aspecto de grande relevância nos estudos de população e ambiente. A exemplo, diversos estudos que exploram esta relação em florestas tropicais apontavam, até a década de 90, relação positiva entre densidade populacional e desmatamento (LAURANCE, et al. 2014; LOPEZ-CARR & BURGDORFER, 2013). A partir do século XXI novos estudos tratam a ocupação humana como um dos fatores envolvidos no desmatamento, e não mais o principal fator, ao lado de complexos processos econômicos e políticos (DEFRIES, et al. 2010; PACHECO et al., 2011). Contudo, ao tratar-se das possíveis relações entre a ocupação humana e a degradação florestal ainda é imprescindível o avanço na compreensão dos fatores envolvidos no processo de degradação florestal e a relação da população com estes fatores. A complexidade inerente ao processo de degradação florestal é, em grande parte, responsável pela falta de informação a respeito da contribuição deste processo aos outros processos adjacentes a este. Esta complexidade é atribuida ao fato de as alterações ocasionadas pela degradação florestal serem altamente dependentes da intensidade e persistência dos disturbios induzidos, sejam eles pela dinâmica de incêndios florestais ou pelas atividades de extração seletiva de madeira (PINHEIRO, et al. 2016). Neste trabalho é adotada a definição operacional de degradação florestal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2008), que se refere ao processo gradual a longo prazo de redução do dossel florestal por fogo florestal ou extração madeireira insustentável. Este trabalho busca explorar a relação mútua entre densidade populacional humana e degradação florestal na Amazônia para os períodos de 2000 e 2010 através de padrões de ocupação humana e floresta. A heterogeneidade de padrões e seus impactos na disponibilidade de recurso e na ocupação humana são críticos para os gestores das políticas públicas envolvidas no planejamento do uso da terra.

2. Material e métodos 2.1. Área de estudo A área de estudo compreende a órbita/ponto 226/68 do sensor TM/Landsat que envolve a região de Sinop no estado de Mato Grosso (Figura 1). A paisagem da área de estudo é caracterizada por um mosaico de áreas urbanas, floresta e terras agrícolas com elevada produtividade agroindustrial devido ao cultivo de soja, milho, arroz e algodão, e também devido à modernização da pecuária (BRASIL, 2005). Nos municípios de Vera, Santa Carmem e Cláudia, pertencentes a área de estudo, predomina, basicamente, a atividade de extração de madeira, enquanto que Sinop, beneficiada pela proximidade com a BR-163, também foi desenvolvido um parque industrial e aprimorou-se a prestação de serviços (TEIXEIRA, 2006), além de ainda ser um dos principais polos madeireiros da Amazônia, com extensão de degradação florestal de aproximadamente 17.672km 2, com incremento anual de área superior ao incremento anual de corte raso (entre 1984 e 2011), tipicamente associada a padrões de extração de madeira de baixa a moderada intensidade (PINHEIRO, 2015). Figura 1. Localização da área de estudo (órbita/ponto 226/68 do sensor TM/Landsat) no estado de Mato Grosso: Sinop e região. 2.1.1 Histórico de ocupação da área de estudo A primeira etapa de desenvolvimento da área de estudo teve seu início em meados da década de 70 e se extendeu a meados da década de 90, período em que houve o início da ocupação da região, caracterizado principalmente pela retirada gradual da vegetação, dando oportunidade ao estabelecimento das primeiras empresas madeireiras na região, e pela tentativa de se estabelecer as atividades socioeconômicas (SOUZA, 2004). A pavimentação do trecho da BR-163, instalação e fechamento da Sinop Agroquímica e ligação da eletricidade via linha de transmissão podem ser destacados, pois afetaram de maneira significativa a região. Durante década de 90, até meados de 2000, houve na região a entrada do agronegócio e tentativa de se estabelecer maior fiscalização e cumprimento da legislação ambiental por meio da publicação de diversos dispositivos legais específicos. Contudo, mesmo com esse conjunto

de ações, é nesse período que são registradas pelo PRODES as maiores taxas de desmatamento da Amazônia, que resultou na criação de um novo plano de combate e controle do desmatamento, o PPCDAM (SOUZA, 1999). A segunda metade dos anos 2000 inicia-se com reflexos positivos das ações promovidas pelo PPCDAM. As ações de fiscalização se intensificam refletindo na diminuição da taxa de desmatamento. Paralelo a isso, ações não governamentais são intensificadas, como a moratória da soja, com intuito de diminuir o avanço do agronegócio e, mais tarde, a moratória da carne, agora visando conter o avanço das áreas de pastagem sobre a floresta (ROSENDO e TEIXEIRA, 2004). O fim deste período é marcado por alterações importantes nas legislações ambientais, como o caso do lançamento do programa estadual MT-LEGAL e do novo código florestal, que, dentre outros, possui como objetivo a regularização ambiental das áreas rurais (SOUZA, 1999). Também é nesse período que se tem a consolidação do agronegócio na região, que trouxe novas perspectivas sociais e econômicas, uma vez que foi o grande responsável por atrair grandes investimentos para a região. 2.2. Mapeamento da degradação florestal O mapeamento da degradação florestal é detalhado em Pinheiro (2015). O mapeamento foi iniciado com a decomposição das bandas originais do sensor TM/Landsat em imagens fração solo, vegetação e água/sombra através do Modelo Linear de Mistura Espectral, em seguida foi obtido um índice espectral sensível à degradação florestal a partir da relação entre as imagens-fração solo e vegetação. Uma técnica semiautomática foi aplicada para o mapeamento anual da degradação florestal nas imagens resultantes do índice espectral utilizando as trilhas de arraste e pátios de estoque de madeira como indicadores de atividade de extração de madeira e cicatriz de fogo como indicador de fogo florestal. Neste estudo foi utilizada uma série de 20 anos de degradação florestal, entre os anos de 1991 e 2010. 2.3. Dados demográficos Os dados demográficos utilizados provém dos censos demográficos realizados a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE, 2010) para o levantamento de dados populacionais e sócio-econômicos. Os dados produzidos pelo censo demográfico são organizados em setores censitários, que permitem uma escala espacial 48 vezes mais detalhada que a organização por município. Para termos de análise, os dados de moradores por setor censitário foram transformados em densidade populacional por quilômetro quadrado. 2.4. Processamento dos dados Para combinar os dados demográficos e de degradação florestal de 2000 e 2010 foi utilizada a metodologia proposta por Tritsch, et al. (2016), em que através de um sistema de informação geográfica (neste caso o TerraView 5.2.2) todos os dados são projetados em um ambiente celular de 5x5km. Para cada célula do ambiente celular foi calculada a área total de floresta dentro da célula, e a densidade populacional do setor censitário com maior área de interseção na célula, para os dados de 2000 e 2010. 2.5. Classificação das células de acordo com os padrões de ocupação humana e degradação florestal As 1175 células foram classificadas em 10 padrões de densidade populacional e degradação florestal (A a J) de acordo com os limiares apresentados na Figura 2. A definição da tipologia de ocupação humana e degradação florestal foi, inicialmente, baseada na densidade populacional. Desta forma, todas as células com densidade populacional inferior ou igual a 0,5 habitantes por quilômetro quadrado foram consideradas vazias, as células com

densidade populacional entre 0,5 e 1,5 habitantes por quilômetro quadrado foram consideradas levemente povoadas, as células entre 1,5 e 25 habitantes por quilômetro quadrado foram consideradas povoadas e aquelas com densidade populacional superior a 25 habitantes por quilômetro quadrado foram consideradas povoamento denso. A degradação florestal em 2010 foi utilizada para a definição dos limiares para a degradação florestal na tipologia, sendo as células com área menor ou igual a 5% da área da célula consideradas apenas como floresta, enquanto as células com área entre 5 e 40% da área total da célula consideradas floresta moderadamente, e aquelas com área superior a 40% da área total da célula consideradas floresta. Figura 2. Tipologia para padrões de ocupação humana e degradação florestal (A a J) de acordo com a densidade populacional e degradação florestal em 2010. 3. Resultados e Discussão A Figura 3 apresenta o resultado da classificação da área de estudo de acordo com a tipologia de padrões de ocupação humana e degradação florestal para os anos de 2000 e 2010. Em 2000 é possível notar uma concentração de padrões com degradação florestal e densidade populacional mais intensas próxima a sede municipal de Sinop, e concequentemente mais próxima à margem da BR-163. Contudo, no ano de 2010 estes padrões sofrem uma desintensificação de ocupação humana e degradação florestal à medida que as células localizadas a nordeste destas regiões sofrem intensificação dos processos. Apesar de este comportamento ser visível nas proximidades de Sinop, o mesmo ocorreu em toda a região da área de estudo. Importante ressaltar que o retrato deste processos em 2000 e em 2010 refletem os processos de ocupação humana e degradação florestal da década anterior ao ano, 1991 a 2000 e 2001 a 2010 respectivamente. No entorno das sedes municipais (vizinhança 5x5 pixels) presentes na área de estudo (Figura 4) observa-se que, nos municípios mais próximos a BR-163 (Sinop, Santa Carmem, Cláudia e Itaúba) houve decrécimo nos padrões de ocupação humana e degradação de maior intensidade acompanhado do aumento de ocorrência dos padrões de maior intensidade, o que pode estar relacionado ao esgotamento do recurso florestal nestas regiões, que traz consigo a necessidade de deslocamento às regiões mais distantes das sedes municipais para exploração de novas áreas e manutenção do suprimento de madeira ao mercado consumidor e subsistência da população que tem a exploração madeireira como fonte de renda. Por outro lado, nos municípios mais distantes da BR-163 (Marcelândia e União do Sul) houve intensificação da densidade populacional e florestas s, o que pode estar sendo incentivado pela disponibilidade de recursos na regiões destes municípios, contudo a continuidade da degradação florestal poderá ocasionar o esgotamento do recurso e, consequentemente, a ocorrência do mesmo padrão observado para os municípios mais próximos a BR-163, a necessidade de deslocamento da população que tem a atividade madeireira como fonte de renda para novas áreas de disponibilidade do recurso florestal,

evidenciando a necessidade de incentivo ao manejo florestal nestas regiões, uma vez que o manejo florestal assegura a continuidade da disponibilidade de madeira ao longo do tempo. Figura 3. Padrões de ocupação humana e degradação florestal na região de Sinop em 2000 e 2010.

Figura 4. Frequência de padrões de ocupação humana e degradação florestal na vizinhança de 5x5 pixels no entorno das sedes municipais da área de estudo. Houve redução na densidade populacional média dos padrões de menor densidade populacional (A, E e H) acompanhado do aumento da densidade populacional média dos padrões de maior densidade populacional (C, G e J) (Tabela 1), o que pode indicar o processo de Urbanização Discreta, comum à região amazônica (TRITSCH, et al. 2016), que representa o crescimento demográfico e expansão espacial das principais vilas próximas as cidades, estradas e polos educacionais à medida que a população busca por acesso a infraestrutura disponível nestas regiões. Apesar do aumento na densidade populacional dos padrões C, G e J foi observada uma leve redução na degradação florestal total destes padrões entre 2000 e 2010.

Tabela 1. Comparação das variáveis de interesse de cada padrão de ocupação. Padrão de ocupação humana e degradação florestal Nº. Células em 2000 Nº. Células em 2010 Densidade populacional média 2000 Densidade populacional média 2010 Total degradação 2000 (km²) Total degradação 2010 (km²) A: Floresta vazia 416 355 0.46 0.24 175.60 163.45 B: Floresta 67 levemente povoada 160 0.86 0.70 27.53 73.56 C: Floresta povoada 71 72 1.82 3.60 27.76 22.73 D: Povoamento 3 denso 3 90.93 44.47 1.76 0.11 E: Floresta vazia e moderadamente 438 418 0.14 0.24 1487.76 1482.01 F: Floresta levemente povoada e 98 moderadamente 125 0.86 1.07 356.14 443.62 G: Floresta povoada e moderadamente H: Floresta vazia e I: Floresta levemente povoada e J: Floresta povoada e 56 16 2.20 5.08 215.02 141.59 21 21 0.15 0.07 257.23 196.38 4 5 0.68 0.54 46.93 65.55 1 0 1.89-11.88 - TOTAL 1175 1175 - - 2607.60 2599.01 4. Conclusão Os padrões de ocupação humana e degradação florestal na área de estudo se intensificaram nas regiões mais distantes da BR-163 (e, consequentemente, de Sinop) durante o período de análise, enquanto o contrário foi observado para a região mais próxima à rodovia. A densidade populacional nas regiões de baixa densidade demográfica reduziu durante o período de análise, bem como as áreas de floresta. A densidade populacional nas regiões de elevada densidade demográfica aumentou durante o período de análise, acompanhado de um decréscimo de áreas s. Referências Bibliográficas BRASIL. Grupo de Trabalho Interministerial. Casa Civil da Presidência da República. Plano de desenvolvimento Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia BR-163 Cuiabá/Santarém. Brasília, 2005. 142 p. DEFRIES, R. S., RUDEL, T., URIARTE, M., & HANSEN, M. Deforestation driven by urban population growth and agricultural trade in the twenty-first century. Nature Geoscience, 3, 178e181. 2010. INPE. Monitoramento da cobertura florestal da Amazônia por satélites: Sistemas PRODES,

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