EN 2411 Aula 4 Escoamento externo. Escoamento cruzado em cilindros e esferas

Documentos relacionados
PERMUTADOR DE PLACAS TP3

Condução. t x. Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa Maria

Aquecedor Solar de Placas Planas. Carlos Leandro Veiga Felipe Santin Furlan

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 Fenômenos de Transporte I A Profª Fátima Lopes

EXPERIÊNCIA Nº 4 ESTUDO DE UM TROCADOR DE CALOR DE FLUXO CRUZADO

Mecânica dos Fluidos. Aula 10 Escoamento Laminar e Turbulento. Prof. MSc. Luiz Eduardo Miranda J. Rodrigues

Lista de Exercícios Aula 04 Propagação do Calor

Relatório Preliminar Experimento 6.2 Reologia

CONTEÚDOS PROGRAMADOS (Energia Solar - EEK508)

Prof. Eduardo Loureiro, DSc.

Mecânica dos Fluidos Fundamentos da Cinemática dos Fluidos

-ESTRUTURA VIÁRIA TT048 SUPERELEVAÇÃO

Transferência de energia sob a forma de calor

Resolução Comentada Unesp

Exercícios Terceira Prova de FTR

1) Determine o peso de um reservatório de óleo que possui uma massa de 825 kg.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

FÍSICA. A) 2 J B) 6 J C) 8 J D) 10 J E) Zero. A) 6,2x10 6 metros. B) 4,8x10 1 metros. C) 2,4x10 3 metros. D) 2,1x10 9 metros. E) 4,3x10 6 metros.

1ª) Lista de Exercícios de Laboratório de Física Experimental A Prof. Paulo César de Souza

CORRELAÇÕES PARA ESCOAMENTO MONOFÁSICO NO INTERIOR DE TUBOS EM CONVECÇÃO FORÇADA

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA REFERENTE À IMPLANTAÇÃO DO ISOLAMENTO TÉRMICO DA TUBULAÇÃO DE ÁGUA REFRIGERADA DA UNIDADE DE PRODUÇÃO DA SPAR

HIDRODINÂMICA CONDUTOS SOB PRESSÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ UNIFAP PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO - PROGRAD DEPARTAMENTO DE CIENCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS-DCET CURSO DE FÍSICA

Escoamentos Internos

Conceitos gerais. A movimentação do ar e dos gases de combustão é garantida por: Ventiladores centrífugos Efeito de sucção da chaminé

Determinação da viscosidade. Método de Stokes e viscosímetro de Hoppler

4 Resfriamento de Óleo

Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2009 RESUMO EXECUTIVO

1 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMANDO 1.1 INTRODUÇÃO

Resistência dos Materiais

Módulo 06 - VISCOSÍMETRO DE STOKES

VASOS SEPARADORES E ACUMULADORES

6. Modelagem de uma Estação de Entrega de Gás Natural Existente

Enunciados de problemas de radiação e de permutadores de calor de Incropera e De Witt 5ª Edição

Fundamentos de Engenharia Solar. Racine T. A. Prado

O raio crítico. Problema motivador 01: Problema motivador 02: Problema motivador 03: Portfolio de:

Assim, você acaba de ver como essa peça (came) é importante. Por isso, nesta aula, você vai conhecê-la melhor.

A Aerodinâmica da Bola de Futebol

FÍSICA EXPERIMENTAL 3001

Editorial Módulo: Física

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Depto De Eng. Química e de Eng. De Alimentos EQA 5313 Turma 645 Op. Unit. de Quantidade de Movimento

Transmissão de calor

Fenómenos de Transferência I

Condução Unidimensional em Regime Estacionário 5ª parte (Geração de Energia Térmica e Superfícies Estendidas)

CAPITULO 1 INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS TÉRMICAS 1.1 CIÊNCIAS TÉRMICAS

6.2. Volumes. Nesta seção aprenderemos a usar a integração para encontrar o volume de um sólido. APLICAÇÕES DE INTEGRAÇÃO

Processos em Engenharia: Modelagem Matemática de Sistemas Fluídicos

ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS E GASES EM DUTOS

CIÊNCIAS PROVA 4º BIMESTRE 9º ANO PROJETO CIENTISTAS DO AMANHÃ

LISTA 3 - Prof. Jason Gallas, DF UFPB 10 de Junho de 2013, às 18:19. Jason Alfredo Carlson Gallas, professor titular de física teórica,

PROJETO DE UM TROCADOR DE CALOR PARA RESFRIAMENTO DE FLUIDO EM UM CIRCUITO HIDRÁULICO UTILIZADO NA AGRICULTURA DE PRECISÃO

ÓRGÃOS ACESSÓRIOS DA REDE DE ESGOTO

Propriedades Térmicas. DEMEC TM229 Prof. Adriano Scheid Callister Cap. 19

Eixo Temático ET Energia ESTUDO DA TERMOFLUIDODINÂMICA DE UM SECADOR SOLAR DE EXPOSIÇÃO DIRETA: MODELAGEM E SIMULAÇÃO


Física Geral 2010/2011

PESQUISA OPERACIONAL -PROGRAMAÇÃO LINEAR. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

MECÂNICA DOS FLUIDOS 2 ME262

Capítulo1 Tensão Normal

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Escola Politécnica - Departamento de Engenharia Mecânica

1331 Velocidade do som em líquidos Velocidade de fase e de grupo

TECNOLOGIA DE GRANDES TURBINAS EÓLICAS: AERODINÂMICA. Professora Dra. Adriane Prisco Petry Departamento de Engenharia Mecânica

PERDA DE CARGA EM SISTEMAS DE VENTILAÇÃO

TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM CALDEIRAS E FORNOS

FÍSICA - 2 o ANO MÓDULO 17 ELETRODINÂMICA: CORRENTE ELÉTRICA, RESISTORES E LEI DE OHM

AVALIAÇÃO DE UM TANQUE DE DECANTAÇÃO DE SÓLIDOS UTILIZANDO FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

QUESTÃO 01. a) Qual a temperatura do forno? b) Qual a variação de energia interna do bloco do latão. QUESTÃO 02

Engenharia de Software II

grandeza do número de elétrons de condução que atravessam uma seção transversal do fio em segundos na forma, qual o valor de?

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

DESENHO TÉCNICO ( AULA 03)

Matrizes de Transferência de Forças e Deslocamentos para Seções Intermediárias de Elementos de Barra

b) Calcule as temperaturas em Kelvin equivalentes às temperaturas de 5,0 ºC e 17,0 ºC.

Para cada partícula num pequeno intervalo de tempo t a percorre um arco s i dado por. s i = v i t

A unidade de freqüência é chamada hertz e simbolizada por Hz: 1 Hz = 1 / s.

Modelos de Probabilidade e Inferência Estatística

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS SETOR DE ENGENHARIA RURAL. Prof. Adão Wagner Pêgo Evangelista

AULA 07 Distribuições Discretas de Probabilidade

2ª Série do Ensino Médio

Conteúdo programático por disciplina Matemática 6 o ano

Tecnologia em Automação Industrial Mecânica dos Fluidos Lista 03 página 1/5

1 02 Fl F u l i u d i os o,, At A m t os o fe f ra r,, E scoa o ment n o t Prof. Diego Pablo

SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO.

Permeabilidade dos Solos. Mecânica de Solos Prof. Fabio Tonin

DISTRIBUIÇÕES ESPECIAIS DE PROBABILIDADE DISCRETAS

ESTRUTURA DO CURSO 08:00-10:00 RTQ-R

NOME: Matrícula: Turma: Prof. : Importante: i. Nas cinco páginas seguintes contém problemas para serem resolvidos e entregues.

1ª Lista de exercícios de Física 2 ( Fluidos)

1- OBJETIVO 2 - INTRODUÇÃO

DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR NUMA PLACA PLANA AQUECIDA NO INTERIOR DE UM TÚNEL DE VENTO COM ESCOAMENTO DE AR EM PARALELO

Escoamento Superficial Curva-Chave

Professora Bruna FÍSICA A. Aula 13 Aceleração escalar média classificação dos movimentos. Página - 181

Cilindro de bielas de pistão Cilindro de guia Série GPC. Catálogo impresso

ANÁLISE DO ESCOAMENTO DE UM FLUIDO REAL: água

7. A importância do aterramento na Qualidade da Energia.

Materiais / Materiais I. Guia para Trabalho Laboratorial

Aluno: Disciplina: FÍSICA. Data: ELETROSTÁTICA

PERDAS DA FORÇA DE PROTENSÃO

Transcrição:

Universidade Federal do ABC EN 2411 Aula 4 Escoamento externo. Escoamento cruzado em cilindros e esferas EN2411

Consideremos o escoamento de um fluido na direção normal do eixo de um cilindro circular, como mostra a Figura 1. Esteira Ponto de estagnação frontal Ponto de separação Camada limite Figura 1 Formação e separação da camada limite sobre um cilindro circular em escoamento cruzado (Fonte: Incropera et al., 2008) Ponto de estagnação frontal: ponto em que o fluido da corrente livre é levado ao repouso. Nesse ponto, há um aumento de pressão. EN2411

Em cilindros: V u A partir do ponto de estagnação frontal: Pressão diminui com aumento de x e a camada limite se desenvolve com um gradiente de pressão favorável (dp/dx < 0) Pressão atinge um mínimo (dp/dx = 0) Pressão aumenta com o aumento de x e a camada limite passa a se desenvolver sob gradiente de pressão adverso (dp/dx > 0) - u = 0 (no ponto de estagnação frontal) -evido ao gradiente de pressão favorável (dp/dx < 0) a velocidade aumenta com o deslocamento (du /dx > 0) - A velocidade atinge o seu ponto de máximo onde a pressão é mínima e os dois gradientes se anulam (dp/dx = du /dx = 0) - Sob gradiente de pressão adverso (dp/dx > 0) a velocidade diminui com o deslocamento (du /dx < 0). EN2411

Ponto de Separação: é o ponto em que o gradiente de velocidades na superfície se iguala a zero. Nesse ponto, ocorre uma separação da camada limite, conforme ilustra a Figura 2. Gradiente de pressão favorável Gradiente de pressão adverso Ponto de separação u y y0 0 Escoamento reverso Vórtices Esteira Figura 2 Perfil de velocidades associado à separação sobre um cilindro circular com escoamento cruzado (Fonte: Incropera et al., 2008) EN2411

Transição da camada limite: Para a condição de escoamento transversal sobre um cilindro, o número de Reynolds é calculado como: V V Re Para escoamento sobre cilindros, é razoável considerar que a transição entre os escoamentos laminar e turbulento ocorre em Re = 2 x 10 5. Camada limite laminar Camada limite laminar Transição Camada limite turbulenta Separação Separação Figura 3 O efeito da turbulência na separação da camada limite (Fonte: Incropera et al., 2008) EN2411

EN2411

Resultados experimentais para a variação do número de Nusselt local com para um cilindro em um escoamento cruzado de ar são mostrados na Figura 4: Re 10 5 : O escoamento é laminar e, com a separação da camada limite em 80, Nu aumenta com o aumento de ; Re 10 5 : - Aumento de Nu entre 80 e 100 devido à transição de escoamento laminar para turbulento. - Novo aumento em 140 pela separação da camada limite. Figura 4 Número de Nusselt local para o escoamento de ar normal a um cilindro circular (Fonte: Incropera et al., 2008)

Correlação para o número de Nusselt local, no ponto de estagnação frontal ( = 0), para Pr 0,6 e baixos números de Reynolds: Nu ( 0) 1,15Re 1/ 2 Pr 1/ 3 Correlação de Hilpert: Número de Nusselt médio, para Pr 0,7, em cilindros de seção transversal circular ou não circular. Nu h k CRe m Pr 1/ 3 Tabela 1 Constantes da correlação de Hilpert para um cilindro circular (Fonte: Incropera et al., 2008) Re C m 0,4 4 0,989 0,330 4 40 0,911 0,385 40 4.000 0,683 0,466 4.000 40.000 0,193 0,618 40.000 400.000 0,027 0,805 EN2411

Correlação de Hilpert: Tabela 2 Constantes da correlação de Hilpert para cilindros não-circulares em escoamento cruzado de um gás (Fonte: Incropera et al., 2008) EN2411

Correlação de Zukauskas Nu Pr Pr 1 4 0,7 Pr 1 Re 500 10 m n CRe Pr 6 s Todas as propriedades são avaliadas em T, com exceção de Pr s, que é avaliado a T s. As constantes estão apresentadas na Tabela 3. Se Pr 10: n = 0,37 Se Pr 10: n = 0,36 Tabela 3 Constantes da correlação de Zukauskas para cilindro circular em escoamento cruzado (Fonte: Incropera et al., 2008) Re C m 1 40 0,75 0,4 40 1000 0,51 0,5 10 3 2 x 10 5 0,26 0,6 2 x 10 5-10 6 0,076 0,7 EN2411

Correlação de Churchill & Bernstein: Cobre toda a faixa de Re e uma ampla faixa de Pr. Recomendada para Re Pr 0,2 Nu 0,3 1/ 2 0,62Re Pr [1 (0,4 /Pr) 2 / 3 1/ 3 ] 1/ 4 1 Re 282.000 5 / 8 4 / 5 Onde todas as propriedades são avaliadas à temperatura de filme. Para a maioria dos cálculos de Engenharia, qualquer que seja a correlação adotada, não se deve esperar uma precisão superior a 20%. EN2411

Escoamento sobre esfera Os efeitos da camada limite associados ao escoamento sobre uma esfera são muito semelhantes aos do cilindro circular, com a transição e a separação representando papéis importantes. Correlação de Whitaker: Nu 2 0,71 Pr 3,5 Re 1,0 380 7,6x10 3,2 s 0,4Re 1/ 2 0,06Re 4 2 / 3 Pr 0,4 s 1/ 4 Onde todas as propriedades, exceto s são avaliadas à temperatura T. EN2411

Escoamento sobre esfera EN2411

Escoamento sobre esfera EN2411

Escoamento sobre esfera Correlação de Ranz & Marshall: Aplicável a gotas em queda livre, que podem ser aproximadas por esferas. Nu 2 0,6Re 1/ 2 Pr 1/ 3 No limite de Re 0, as equações para a esfera se reduzem a Nu = 2, que corresponde à transferência de calor por condução de uma superfície esférica para um meio infinito e estacionário ao redor da superfície. EN2411

Exemplos Exemplo 1 (Ex. 7.4 INCROPERA et al., 2008) Experimentos foram conduzidos com um cilindro metálico de 12,7mm de diâmetro e 94 mm de comprimento. O cilindro é aquecido internamente por um aquecedor elétrico e é submetido a um escoamento cruzado de ar no interior de um túnel de vento de baixas velocidades. Sob um conjunto específico de condições operacionais, nas quais a velocidade e a temperatura do ar na corrente a montante do cilindro são mantidas em V = 10m/s e 26,2 C, respectivamente, a dissipação de potência no aquecedor foi de P = 46W, enquanto a temperatura no cilindro era de T s = 128,4 C. Estima-se que 15% da dissipação de potência sejam perdidos em função dos efeitos cumulativos da radiação na superfície e da condução pelos terminais nas extremidades do cilindro. 1. etermine o coeficiente de transferência de calor por convecção a partir das observações experimentais; 2. Compare o resultado experimental com o coeficiente de calor calculado pelas correlações aplicáveis. EN2411

Exemplos Exemplo 1 (Ex. 7.4 INCROPERA et al., 2008) Propriedades do ar - T = 300K: = 15,89 x 10-6 m 2 /s; k = 26,3 x 10-3 W/(mK); Pr = 0,707; -T = 350K: = 20,92 x 10-6 m 2 /s; k = 30 x 10-3 W/(mK); Pr = 0,700; - T = 401K: Pr = 0,69 EN2411

Exemplos Exemplo 2 (Ex. 7.6 INCROPERA et al., 2008) O filme plástico decorativo sobre uma esfera de cobre com 10mm de diâmetro é curado em um forno a 75 C. Com a remoção do forno, a esfera é submetida a uma corrente de ar a 1 atm e 23 C, que possui uma velocidade de 10 m/s. Estime quanto tempo será necessário para resfriar a esfera até 35 C ados: Propriedades do ar (T = 296K, p = 1 atm) = 182,6x10-7 Ns/m 2 = 15,53 x 10-6 m 2 /s; k = 0,0251 W/(mK) Pr = 0,708 (T s = 328K, p = 1 atm) = 197,8x10-7 Ns/m 2 Propriedades do cobre (T s = 328K) = 8933kg/m 3 k = 399 W/mK C p = 388 J/kgK EN2411