A relação entre morbi-mortalidade infantil e acesso à água de qualidade. Profª. Dra. Susana Segura Muñoz

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Transcrição:

A relação entre morbi-mortalidade infantil e acesso à água de qualidade Profª. Dra. Susana Segura Muñoz

Bairro da Esperança ¼ dos municípios brasileiros com rede de distribuição de água convive com racionamento e intermitência no fornecimento de água

ESCASSEZ E INTERMITÊNCIA DE ÁGUA + POLUIÇÃO DOS CURSOS DE ÁGUA FATORES DE RISCO A SAÚDE uso de fontes inseguras de água(fontes alternativas) armazenamento domiciliar de água inadequado uso de conexões clandestinas

Conceito de acesso à agua Alcance a uma fonte de água segura

Doenças relacionadas à falta de acesso à água Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud, 2015) A cada dia 5.000 crianças em média morrem devido a doenças facilmente evitáveis, relacionadas com o saneamento precário e o consumo de água sem qualidade. A falta de acesso à água de qualidade e o saneamento precário podem ser os responsáveis por 94% dos casos de diarreia no mundo.

Diarréia aguda Doença caracterizada pela perda de água e eletrólitos que resulta no aumento do volume e da freqüência das evacuações e diminuição da consistência da fezes, apresentando algumas vezes muco e sangue Processo autolimitado agente infeccioso.

Diarreia aguda -Segundo lugar entre as causas de mortalidade infantil no mundo. -Brasil-Nordeste: >30% do total de mortes no primeiro ano de vida. -Idade de 6-11 meses Podem manifestar até 5 episódios/criança. -Mortalidade reduzida com a implantação de terapia de reidratação oral (TRO) Fonte: WHO; UNICEF, 2012; OLIVEIRA et al., 2012

Diarréia aguda Agentes etiológicos veiculados pela água VÍRUS BACTÉRIAS PARASITAS -Rotavirus -Adenovírus -Escherichia coli -Shigella sp. -Salmonella sp -Vibrio cholerae -Cryptosporidium -Entamoeba -Giardia lamblia histolytica -Ascaris spp. -Taenia spp. Razzolini & Gunther, 2008

Mortalidade Infantil A mortalidade Infantil é considerada um dos mais sensíveis indicadores para avaliar as condições de vida da população O Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) Óbitos de crianças < 1 ano x 1000 Nacidos vivos no mesmo ano

Dado epidemiológico importante Perfil epidemiológico Indicador de saúde: Mortalidade Infantil Investimento em tratamento de água reduz a morbidade por diarréias entre 6 e 25%. Investimento em tratamento de esgoto reduz a morbidade por diarréia em 32% US$1,00 investido em saneamento poder-se-ia economizar US$4,00 em saúde (PNUD, 2010)

Coeficiente de Mortalidade Infantil Coeficiente Mortalidade Infantil Neonatal 0-27 dias Coeficiente Mortalidade Pós-neonatal (28-365 dias) Precoce 0-6 dias Tardio 7-27 dias condições de maternas como: pré-natal, gravidez, história materna, conduta e doenças maternas, idade materna, consangüinidade, mortalidade peri-natal, condições e tipo de parto, síndrome de morte súbita, estado marital, fatores congênitos, baixo peso ao nascer. Condições infantis: condição sócio-econômica, doenças infecto-contagiosas e outros fatores externos

Fatores de Vulnerabilidade criança < 1 ano Sistema Imunológico em formação Comportamento fecal-oral Relação massa corporal agente tóxico Fatores de Proteção Leite Materno Boas condições de vida Cuidados Educação da mãe

Profissional da saúde Problemas de Saúde Qualidade da Água Condições ambientais Sistemas de Abastecimento Sistemas de Tratamento de Esgotos Condição Sócio-econômica das famílias Equipamentos Sociais Perfil epidemiológico Visão Integral do Indivíduo e da família

População carente, peri-urbana, modelo periférico de ocupação do solo: POBREZA DOENÇA

POBREZA Pobreza que gera mais doença MAIS DOENÇA MAIS DOENÇA População com poucos bens e serviços Baixos salários (subsistência) Energia humana deficiente Poucas possibilidades de efetiva recuperação da saúde Baixo investimento em saúde pública e medicina preventiva Nutrição deficiente Educação insuficiente Baixa qualidade de vida Doença que perpetua a pobreza DOENÇA

Referências Bibliográficas: BRASIL. MINSTÉRIO DA SAÚDE. Avaliação de impacto nas ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica. Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 116 p. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA). Manual de Saneamento. 3 ed. Brasília: Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde, 1999. 374 p. MELO, C.A; A Vigilância Sanitária como ação da Vigilância à saúde no distrito sanitário. In: MENDES, E.V.; VILASBÔAS,A.L.(et al). A Vigilância à Saúde no Distrito Sanitário. Brasília, OPAS/OMS, 1993. MENDES, E.V.; A Construção social da Vigilância Saúde no distrito sanitário. In: MENDES, E.V.; VILASBÔAS,A.L.(et al). A Vigilância à Saúde no Distrito Sanitário. Brasília, OPAS/OMS, 1993. MENDES, E.V.; Planejamento Local da Vigilância da Saúde no Distrito Sanitário. In: Planejamento e Programação Local da Vigilância da Saúde no Distrito Sanitário. Brasília, OPAS/OMS, 1994. MENDES, E.V.; TEIXEIRA, C.F.(et al) ; Distritos sanitários: conceitos chave. In: Distrito Sanitário: O processo social de mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. 2º ed. HUCITEC ABRASCO, São Paulo- Rio de Janeiro, 1994. MENDES, E.V. Uma agenda para a saúde. São Paulo: HUCITEC. 1996 MENDES, E. V. A atenção primária à saúde no SUS. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002. 92 p. NEVES, D. P. Parasitologia Dinâmica. São Paulo: Atheneu, 2 ed., 2006. 495 p. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 596 p. STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002, 726 p. VERDI, M.; BOEHS, A. E.; ZAMPIERI, M. F. M. Enfermagem na atenção primária de saúde Textos fundamentais. Florianópolis: UFSC/NFR/SBP, 2005. v. 1, 385 p. WALDMAN, E.A.; Vigilância em Saúde Pública.Vol.7. São