AS CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS MATEMÁTICOS PARA A APRENDIZAGEM DAS OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Leonardo Alves Ferreira Universidade Estadual do Ceará leoflated@gmail.com Resumo: O ensino de matemática para deficientes visuais requer a utilização de jogos como fator de aprendizagem para o educando. Partindo desse princípio, o presente artigo apresenta os resultados prévios de uma investigação sobre as possibilidades de aprendizagem das operações fundamentais por meio de jogos para alunos com necessidades visuais. Este trabalho teve o intuito de conhecer alguns jogos adaptados e as potencialidades desses jogos para aprendizagem dos conteúdos matemáticos e compreender a aplicabilidade dos jogos na ação pedagógica. O presente trabalho é de natureza qualitativa e teve como subsídios: a análise de documentos nacionais, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9394-96), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN); o levantamento de literaturas publicadas sob formas de livros, revistas e publicações avulsas, sites e artigos científicos para fornecer um caráter científico ao tema proposto. Como resultados prévios, constatamos que a utilização de jogos matemáticos, apropriados ou adaptados para o ensino de alunos com deficiência visual, pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa e incentivar a integração da criança com o meio. Palavras-chave: Deficiência Visual; Jogos Matemáticos; Operações Fundamentais. INTRODUÇÃO A inclusão de alunos com necessidades especiais na escola é uma das discussões mais importantes no cenário educacional brasileiro. Isso porque o panorama da educação brasileira na atualidade ainda retrata as dificuldades que os deficientes, em especial, os visuais, têm em estudar com todos os recursos que lhes são assegurados pelos dispositivos legais. No caso dos deficientes visuais, tanto os cegos como os que têm uma visão subnormal, percebe-se que há dificuldades em planejar e aplicar atividades adequadas para a aprendizagem deles porque não existe investimento suficiente para a aquisição de materiais adequados. Isso provoca uma limitação das ações das escolas para fornecer um ensino qualificado. 1
Mesmo com essas adversidades, alguns educadores conseguem criar instrumentos apropriados ou adaptados de recursos usados nas escolas regulares convencionais, proporcionando mais possibilidades de aprendizagem por parte dos educandos. Dentre esses instrumentos, os jogos representam um dos meios de aquisição do conhecimento que mais são aceitos na educação, pela amplitude de assuntos que podem ser trabalhados em sala de aula, inclusive os conteúdos matemáticos. Ao contextualizar esse panorama, tomo a iniciativa de discorrer acerca das possibilidades que os jogos podem proporcionar para a aprendizagem das operações fundamentais por alunos com deficiência visual (cegueira ou visão subnormal). O interesse partiu de conversas informais com alunos cegos sobre suas dificuldades e prazeres em aprender matemática. Esses depoimentos foram transformados em problemática e serão trazidos na monografia do curso de Especialização em Ensino de Matemática da Universidade Estadual do Ceará UECE, artigo este que foi desenvolvido em paralelo com as pesquisas para o trabalho de conclusão de curso. O presente trabalho é de natureza qualitativa e teve como subsídios: a análise de documentos nacionais, o levantamento de literaturas publicadas sob formas de livros, revistas e publicações avulsas, sites e artigos científicos para fornecer um caráter científico ao tema proposto. O DEFICIENTE VISUAL NA ESCOLA REGULAR. Antes de comentarmos sobre a inclusão de alunos com deficiência visual ao mundo do conhecimento, vejamos algumas considerações acerca do significado de inclusão e deficiência visual. Os graus de visão abrangem um amplo espectro de possibilidades: desde a cegueira total, até a visão perfeita, também total. A expressão deficiência visual se refere ao espectro que vai da cegueira até a visão subnormal. 2
Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. [...] A cegueira, ou perda total da visão, pode ser adquirida, ou congênita (desde o nascimento). O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue se lembrar das imagens, luzes e cores que conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual, possuir lembranças visuais. Gil (2000, p. 06 e 08) Levando em consideração o contexto educacional, Masi (2002, s.p) conceitua a criança deficiente visual como aquela que difere da média a tal ponto que irá necessitar de professores especializados, adaptações curriculares e ou materiais adicionais de ensino, para ajudá-la a atingir um nível de desenvolvimento proporcional às suas capacidades. Por essas necessidades colocadas, é que o portador de deficiência visual é sujeito de uma educação que deve incluí-lo na escola regular e com todos os recursos necessários. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à idéia de eqüidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. Para atender a demanda de pessoas com necessidades especiais, foram criados dispositivos legais que enfatizam o direito à educação básica para todas as crianças e adolescentes. Tanto a Constituição Federal de 1988, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394-96 (LDB), atentam para a promoção da educação regular para educandos especiais. Dentre essas normas, podemos citar o inciso III, do artigo 4º da LDB nº 9394-96 (BRASIL, 2009, s.p), na qual consta que é um dos deveres do Estado com a educação escolar o atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. 3
Contudo, acreditamos que o compromisso com a formação do cidadão com deficiência visual exige uma prática educacional voltada à compreensão da realidade social, dos direitos e das responsabilidades em relação à sua vida pessoal e comunitária. A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NA CONSTRUÇÃO DO RACIOCÍNIO MATEMÁTICO É coerente afirmar que os jogos, como recursos didáticos, introduzem a experimentação de vivências importantes para a aquisição de conhecimentos, subsidiando a prática docente. É partindo desse pressuposto que muitos educadores valorizam a aplicação de jogos nas diversas áreas do conhecimento, principalmente nas séries iniciais da educação básica. Orlick (1990, apud MURCIA, 2005, p. 12) afirma que jogar é um meio ideal para uma aprendizagem social positiva, pois é natural, ativo e muito motivador para maior parte das crianças. Assim, a aprendizagem necessária para alcançar o desenvolvimento completo está presente tanto na escola como na vida. Aprender jogando torna-se mais significativo para a criança. No que se refere ao ensino de matemática, os jogos e as brincadeiras são instrumentos importantes para que elas conheçam a si mesmas, os outros e o seu ambiente social, de acordo com os objetivos traçados para cada jogo ou brincadeira. Bittar e Freitas (2005, p. 37) afirmam que o jogo em sala de aula pode ser eficaz para aumentar a concentração e a atividade mental e assim contribuir para o envolvimento das crianças em atividades matemáticas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s) de matemática apontam os jogos como um dos caminhos para facilitar a aprendizagem em sala de aula. De acordo com o PCN: (BRASIL, 2001, p. 48) Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, 4
criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a regras e dar explicações. Portanto, os jogos como recurso de aprendizagem do raciocínio matemático podem ser plenamente utilizados, considerando a heterogeneidade dos alunos, a faixa etária, a interação com o conteúdo a ser estudado e, principalmente, as potencialidades que esses jogos podem promover na aquisição do interesse e no prazer de explorar os conhecimentos matemáticos e cultivar nos educandos a aplicação desses conhecimentos no cotidiano. AS POTENCIALIDADES DOS JOGOS MATEMÁTICOS PARA APRENDIZAGEM DAS OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS POR ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Alguns dos mais significativos conteúdos, se não o fundamental, da matemática são as operações fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão). Esses conhecimentos as crianças devem aprender logo nos primeiros anos de escolarização, para que possam ter mais facilidade em compreender conteúdos mais complexos. Um dos objetivos apontados pelo PCN de matemática para o primeiro ciclo do ensino fundamental é resolver situações-problema e construir, a partir delas, os significados das operações fundamentais, buscando reconhecer que uma mesma operação está relacionada a problemas diferentes e um mesmo problema pode ser resolvido pelo uso de diferentes operações. (BRASIL, 2001, p. 43). Percebe-se que os jogos matemáticos para alunos com deficiência visual proporcionam um entendimento mais prático dos conteúdos propostos pelo educador e o interesse dos alunos pelas aulas aumentam, possibilitando também a integração entre a turma. As possibilidades de jogos adaptados ou criados especialmente para alunos com necessidades visuais são múltiplas. Podemos criar situações didáticas onde podem ser integradas várias vertentes do conhecimento. Brandão (2006, p. 15) parte do princípio de 5
que o conhecimento aprendido pelos alunos deficientes visuais de atividades cotidianas como andar, desviar de um obstáculo, entre outros, pode servir para inserir conceitos matemáticos. Complementando Brandão, tais conceitos podem ser apresentados de forma implícita, caracterizando o que é denominado interdisciplinaridade. Além dos jogos matemáticos tendo como objeto o próprio corpo, variados jogos feitos com sucata ou industrializados que envolvem habilidades numéricas, de medidas e espaciais podem transformar-se em um excelente recurso e estratégia nas aulas de Matemática. No caso específico dos deficientes visuais, a interação com jogos também promove um desenvolvimento da percepção tátil por parte desses alunos, tanto na prática da leitura e escrita Braille, como na manipulação de materiais concretos utilizados nos jogos. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer das pesquisas, observamos que a prática de jogos no ensino das operações fundamentais para alunos com deficiência visual promove um entendimento melhor do conteúdo, incentiva a integração entre os alunos e o professor e facilita a interpretação das operações no cotidiano do aluno. As investigações trouxeram a afirmação de que os jogos proporcionam o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático de qualquer aluno. No caso dos alunos com baixa visão ou cegueira, os jogos acarretam no desenvolvimento de mais habilidades, tais como a coordenação motora fina, a abstração dos cálculos, o aperfeiçoamento do tato e da audição, fatores que facilitam a compreensão dos conteúdos vistos por meio de jogos. Além disso, a aplicação de jogos matemáticos para esses alunos propicia o fortalecimento de competências como a participação, cooperação, concentração e a socialização dos conhecimentos adquiridos. Vale ressaltar também que essas experiências vividas pelo educando em sala podem ser fundamentais para a convivência do aluno em sua comunidade e o preparam para o mercado de trabalho e as responsabilidades da vida adulta. 6
Contudo, essas considerações são baseadas em pesquisas bibliográficas e documentais, pois esperamos que essas investigações instiguem o leitor a aprofundar essa temática tão importante para a educação e para a sociedade. REFERÊNCIAS BRANDÃO, Jorge. Matemática e deficiência visual. São Paulo: Scortecci, 2006; BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 93944-96. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 23 nov. 2009;. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. 3. ed. Brasília: MEC, 2001; BITTAR, Marilena; FREITAS, José Luiz Magalhães de. Fundamentos e metodologia de Matemática para os ciclos iniciais do ensino fundamental. 2. ed. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2005; FERNANDES, Cleonice Terezinha. A construção do conceito de número e o présoroban. Brasília: Secretaria de educação Especial-MEC, 2006; GIL, Marta. Deficiência visual. In Cadernos da TV escola. Vol. 1. Brasília: Mec. Secretaria de Educação a Distancia, 2000; MAROSTICA, Letícia Aline. Contribuições dos jogos para a aprendizagem matemática dos deficientes visuais. Monografia apresentada ao curso de Matemática da Universidade Regional e Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI. Erechim, RS. Disponível em: http://www.projetos.unijui.edu.br/matematica/cd_egem/fscommand/mc/mc_49.pdf. acesso em 26 dez. 2009; MASI, Ivete De. Deficiente visual: educação e reabilitação. Disponível em: intervox.nce.ufrj.br/~abedev/apostila-dv.doc. Acesso em 15 out. 2009; MURCIA, Juan Antonio. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed 2005; 7