O PROJETO ALFABETIZADOR INCLUSIVO DE CUBA E AS PROPOSTAS FREIREANAS NO BRASIL



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Transcrição:

O PROJETO ALFABETIZADOR INCLUSIVO DE CUBA E AS PROPOSTAS FREIREANAS NO BRASIL Regina Alves de Oliveira Renata Santos Gimenes (Formandas da Turma 7 Q, Pedagogia, Mackenzie) Fonte: http://migre.me/8stgn

Introdução Este artigo tem como objetivo apresentar alguns pontos sobre a Educação de Jovens e Adultos em Cuba e o processo de erradicação do analfabetismo deste país no decorrer da década de 60. Ainda nessa linha de pensamento, o artigo apresenta uma breve discussão sobre o projeto de alfabetização proposto por Paulo Freire no Brasil. Frente a essa conjuntura, será possível articular os ideais preconizados por Fidel Castro e Paulo Freire no momento histórico em questão. O artigo procura ainda, demonstrar que a Educação de Jovens e Adultos em ambos os países é travada sob lutas políticas, econômicas e sociais. Breve histórico do contexto Econômico, Político e Social de Cuba A capital de Cuba é Havana, a maior cidade do país com cerca de 2,4 milhões de habitantes. Havana é conhecida por ser uma cidade com rica tradição histórica e cultural. A capital de Cuba atrai todo o mundo por ter um clima tropical moderado durante todo o ano. Cuba é um arquipélago formado por milhares de ilhotas e ilhas, sendo as maiores, a Ilha de Cuba e a Ilha da Juventude. O conjunto do arquipélago cubano possui uma superfície de 110.860 quilômetros quadrados e uma extensão territorial de 1.200 quilômetros. Com relação aos dados climáticos, identifica-se que o clima deste país é tropical e o relevo possui planícies em quase todo território com presença de montanhas e colinas escarpadas no Sudeste. Os problemas ambientais vivenciados no país atualmente estão relacionados com o desmatamento, a poluição do ar e a perda de biodiversidade. A localização de Cuba no globo terrestre fica no continente americano central sendo a população, estimada em 2012, de 11,07 milhões de habitantes. Sobre a cultura de Cuba é possível

destacar que a moeda de circulação é o Peso cubano e a língua oficial é o Espanhol, sendo um país de religião católica. O PIB do país constatado em 2009 foi de US$ 110,8 bilhões e o per capita de US$ 9.700. Os principais setores econômicos do país são: agricultura, turismo e a indústria. Sobre a infraestrutura cubana, pode-se verificar que há forte precariedade no país, que no geral, envolve o transporte público, usinas de força antigas, rede elétrica, esgoto, entre outros. Apesar dessas situações, as autoridades cubanas reconhecem tal precariedade e estão investindo mais nas questões da infraestrutura do país. O índice de alfabetização de Cuba, conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2007/2008 foi de 99,8% da população, no qual ocupou o primeiro lugar na classificação entre os países. A expectativa de vida nesse país é de 77,8 anos (estimativa de 2012). A ilha de Cuba foi colonizada pelos espanhóis em 1442 e durante aproximadamente 400 anos ficou sob o domínio espanhol. A economia girava em torno da plantação de tabaco e cana-de-açúcar, tudo com a mão-de-obra escrava africana. Cuba tornou-se independente da Espanha em 1898 e desde então o país passou a estar bastante ligado aos Estados Unidos. Sobre sua organização política, é importante destacar que, após 49 anos no poder, o líder Fidel Castro foi afastado oficialmente do cargo em 2008, devido a problemas de saúde. Em consequência disso, seu irmão Raul Castro assumiu o cargo de presidente, porém Fidel ainda continua como líder do Estado cubano. Nesse governo, houve mudanças significativas na ciência e tecnologia, uma vez que o presidente Raul Castro liberou a aquisição de computadores. Entretanto, o uso destas máquinas é restrito no país, ou seja, os indivíduos não possuem liberdade para acessar qualquer tipo de site. Outro ponto importante foi a liberação do uso dos celulares, no entanto, é inacessível para a maioria da população devido ao alto custo. Cuba é um país de tradição musical, com o som dos instrumentos africanos como bongo e conga é possível dançar obembé e caringa. Certas musicas folclóricas, como orumba, a salsa, o són e o punto, sofreram

influências europeias. Um dos escritores cubanos mais conhecidos é José Lezama Lima (1912-1976). Havana possui uma rica biblioteca que conta com cerca de 2,2 milhões de volumes, sendo também sede do Museu nacional que protege coleções de arte moderna e clássica. Educação operária e camponesa em Cuba A erradicação do analfabetismo em Cuba surgiu por meio da estratégia política de Fidel Castro em alfabetizar os operários e camponeses. Devido à falta de mestres, a alternativa cubana foi selecionar professores do próprio meio operário para instruir os outros trabalhadores. A respeito disso, comenta Fidel (1964 apud PÉREZ, 1986): Quando se apresentou o problema da educação operáriocamponesa, então, participaram vários milhares de mestres de instrução primária, e se incorporaram, ademais, muitos professores amadores, Mas ainda isso não bastava. E os companheiros que ficaram responsáveis pela educação operário-camponesa idealizaram outro tipo de mestre, que tenho entendido, chamam de trabalhador-mestre. Quando cresceu o número de operários estudando, se perguntaram como resolver isso, e o resolveram de uma maneira muito correta. E oxalá que muitas coisas sempre as resolvamos assim, de maneira tão correta. O que lhes ocorreu? Não havia mais professores, não havia de onde tirar o pessoal, então idealizaram utilizar aqueles trabalhadores mais conscientes e com mais nível de educação para que dessem as aulas aos operários que estavam em níveis inferiores. E assim puderam resolver o problema: extraindo os mestres dentro os próprios trabalhadores, sem abandonar a produção, resolveram as novas necessidades de professores que se propuseram a ensinar quando aumentou o número de trabalhadores estudando. Esta foi uma solução boa, uma solução revolucionária, uma solução de massas. Diante disso, os professores amadores (voluntários) representaram papel importante na alfabetização dos adultos em Cuba, uma vez que o professorado na cidade era escasso. A estratégia de emergência para a formação desses professores amadores foram os cursinhos de formação

inicial, com duração de quatro meses. O êxito desta iniciativa ocorreu devido ao caráter prático, metodológico e a qualidade dos mestres que ministravam os cursinhos. O salário dos mestres amadores era de vinte e cinco pesos e, muitas vezes, esse salário era utilizado para pagar as aulas dos cursinhos ou poderia ser pago também por meio da força de trabalho, [...] limpando cafezais ou trabalhando em plantações de cítricos, em plano interno de meia sessão de estudo e meia de trabalho diárias, para cobrir o custo do seminário, onde se aperfeiçoavam como mestres para os trabalhadores [...] (PÉREZ, 1986, p.64). Entretanto, a estrutura dos cursinhos de formação inicial não pôde continuar o seu funcionamento, devido ao elevado número de professores apresentados em 1963-64. Diante desta situação, houve a necessidade de concentrar os professores num único local, com objetivos semelhantes aos do cursinho. Assim, foi necessário construir um edifício específico para estas formações, no qual foi chamado: Seminário Sabatino. Este seminário era uma escola normal que servia para formar os professores das classes operárias e camponesas. Assim, além de realizar aulas práticas com análises críticas dos métodos e procedimentos, estudavam o manejo dos novos livros de textos e treinavam na produção variada de outros meios de ensino (PÉREZ, 1986, p.65). Nesses seminários, os professores também realizavam atividades complementares que tinha como objetivo favorecer a formação coletiva dos educadores. Neste viés, comenta o autor (PÉREZ, 1986, p.66): os professores amadores constituíram assim uma nova categoria, criada pelas necessidades do processo, que além de ser uma alternativa para alguns setores da juventude, particularmente jovens camponeses de 14 a 18 anos, constitui em breve tempo uma nova fonte de trabalho estável, na medida em que os seminários e outras formas complementares da qualificação técnica foram dando o seu fruto. Durante anos, os professores amadores não receberam compensação monetária pelo seu trabalho, mas a partir de 1975, uma Resolução do Ministério do Trabalho, instituiu que a contratação destes mestres deveria ser paga pelas empresas, no entanto, o trabalho voluntário não foi excluído do país. Sob tal perspectiva, Fidel Castro propôs a erradicação do analfabetismo pela Campanha Nacional de Alfabetização em 1961, ou seja, a erradicação do

analfabetismo era uma das principais metas do governo revolucionário. A cartilha Venceremos e o manual do alfabetizador Alfabeticemos nortearam o trabalho do ensino da leitura e escrita (BEISIEGEL, 2003). O governo revolucionário substituiu os latifúndios pelas cooperativas, e após tal revolução, os camponeses poderiam cultivar suas próprias terras e viver dignamente na sociedade. De acordo com Beisiegel (2003, p.36): as cooperativas tinham eliminado a exploração do trabalhador pelos proprietários e pelos intermediários. Possibilitavam o aumento da produção agrícola, melhoravam as condições de vida dos camponeses e eliminavam para sempre a exploração do trabalhador camponês. O tema da cooperativa era trabalhado na cartilha Venceremos, na qual possuía citações de Fidel Castro, Raul Castro, entre outros. Os conteúdos eram associados às mudanças que estariam sendo introduzidas nas condições de existência da população e às necessidades de afirmação e defesa do processo revolucionário (BEISIEGEL, 2003, p.37). Desse modo, a finalidade da revolução era de integrar grande parte da população na concretização e desenvolvimento do movimento revolucionário. O processo de alfabetização feito em Cuba teria a sua continuidade no projeto pós-alfabetização. Assim, pode-se perceber que o projeto realizado em prol da erradicação do analfabetismo tinha como finalidade integrar o cidadão cubano no contexto do movimento revolucionário. Neste âmbito, a educação de jovens e adultos em Cuba representou um movimento altamente ideológico no país, visto que as ideias preconizadas nesta campanha estavam intrinsecamente relacionadas com as questões políticas, econômicas e culturais da sociedade. Paulo Freire e a Educação de Jovens e Adultos no Brasil Pensar em Educação de Jovens e Adultos no Brasil implica falar em Paulo Freire. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife no ano de 1921, aprendeu a ler e escrever com os pais na casa onde nasceu. Aos 13 anos de idade perdeu seu pai e devido a essa circunstância, seus estudos tiveram de

ser adiados ingressando no ginásio aos 16 anos. Aos 20 anos conseguiu uma vaga na Universidade de Direito de Recife e, o estudo da linguagem do povo foi um dos pontos de partida para sua elaboração pedagógica tendo significativa participação e envolvimento no Movimento de Cultura Popular (MCP) de Recife em 1960. Elaborou um estudo sobre um novo método de alfabetização sendo as primeiras experiências desse método desenvolvidas na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte no ano de 1962, em que 300 trabalhadores foram alfabetizados em 45 dias. Diante desse contexto, comenta Beisegel (2003, p.40) que no Recife, os objetivos da alfabetização eram diversos. Aqui tratava-se de educar jovens e adultos analfabetos para associá-los a um projeto de transformação pacífica da sociedade. O voto era do povo. Um pouco mais tarde, já em Angicos, os universitários envolvidos na prática do método de alfabetização de Paulo Freire afirmariam que o voto era a arma do povo. A cartilha trabalhada no método Paulo Freire, apresentava lições sempre introduzidas por fotografias ou gravuras que abordavam temas relacionados com o cotidiano dos trabalhadores. Freire acreditava que a leitura da palavra deveria estar intrinsecamente ligada a leitura de mundo do indivíduo o que era essencial para o processo de construção da aprendizagem, sendo este um movimento de conscientização em que possibilitava o aluno a lutar contra a opressão sociopolítica, pois sem essa finalidade, o processo educacional serviria apenas para a manutenção das desigualdades sociais. O método teve grande repercussão em todo o Brasil, uma vez que os iletrados, que na época somava aproximadamente 40 milhões, foram alfabetizados e assim tinham condições de votar. Frente a esse contexto, reformistas e revolucionários de esquerda investiram em Freire e em sua equipe, que logo se encarregaram de implementar o Plano Nacional de Alfabetização em 1963. A esse respeito diz Souza (apud, Beisegel, p.40) que [...] uma das grandes tarefas do Ministério da Educação era fazer a campanha nacional de alfabetização e a meta era alfabetizar um milhão de pessoas em um ano. A entrada de milhares de eleitores do interior e alfabetizados pelo método Paulo Freire era tida como um dado que poderia alterar toda a correlação de forças entre os partidos [...] sua luta de classes e sua luta política davam a sensação de que algo era possível fazer, que um processo revolucionário estava em curso [...] até

1963 um processo revolucionário era possível no Brasil. Possivelmente não o socialismo. Mas uma democracia avançada era possível. Devido à conjuntura política da época, a derrubada do Governo Federal pelas forças militares brasileiras, em março de 1964, interrompeu o trabalho de Paulo Freire reprimindo toda a mobilização popular. Diante do contexto apresentado, é possível estabelecer semelhanças e diferenças no tange as propostas de alfabetização de Cuba e do Brasil. Sobre as cartilhas utilizadas, em ambos os países, é possível verificar a preocupação na abordagem de temas que envolvam a realidade dos sujeitos. Sobre as diferenças, a maior surgia na relação entre a educação popular e o processo de transformação da sociedade. Em Cuba, a educação vinculava-se a uma Revolução que já havia ocorrido. A alfabetização de adultos e sua continuidade na pósalfabetização eram parte de um processo educacional mais amplo de todos os habitantes. A revolução propunha-se a integra essa parcela significativa da população no processo de consolidação e desenvolvimento revolucionário (BEISEGEL, p.39). O método Paulo Freire buscava a emancipação dos sujeitos para que esses fossem sujeitos ativos na construção de seu conhecimento com base em suas experiências de vida. Considerações Finais Pensando na proposta cubana de erradicação do analfabetismo em 1961, pode-se perceber que tal projeto esteve atrelado a questões de ordem político-social. Em outras palavras, este projeto fazia alusão aos ideais preconizados na revolução cubana pelo líder Fidel Castro e seus precursores. Assim, o índice de analfabetismo apresentado no país e a situação dos camponeses representaram uma das justificativas plausíveis para o início da Campanha Nacional de Alfabetização. Apesar das dificuldades enfrentadas no início, como, por exemplo, a ausência de professores especialistas, a alternativa cubana foi selecionar dentre os camponeses, os indivíduos mais

instruídos para que pudessem formar o grupo dos professores amadores. Diante disso, percebe-se que mesmo com condições iniciais precárias, Cuba ousou em continuar com esse objetivo por meio de diversas estratégias e alternativas. Assim, tal projeto tinha como finalidade a emancipação do indivíduo na sociedade para que o mesmo pudesse participar de forma ativa na consolidação e desenvolvimento da revolução cubana. Em relação ao Brasil, sobre a Educação de Jovens e Adultos, é possível dizer que o método Paulo Freire preconizava uma educação para a libertação dos trabalhadores. A leitura de mundo era essencial para a leitura da palavra, pois a conscientização do indivíduo estava intrinsecamente ligada às suas experiências. Ao contrário do projeto de erradicação do analfabetismo em Cuba, que tinha como premissa alfabetizar os trabalhadores camponeses para participarem ativa e conscientemente do processo revolucionário do país, o método de alfabetização de Paulo Freire foi reprimido e o propósito de educação para a libertação foi substituído em prol da educação para a reprodução das desigualdades sociais calcadas em um ideal de democracia. Diante deste quadro, é possível dizer que os ideais preconizados por Fidel Castro e Paulo Freire trilhavam o mesmo propósito, no entanto, a situação política do Brasil no decorrer da década de 60 não permitiu que a Educação de Jovens e Adultos percorresse o caminho da revolução educacional pretendida. Referências BEISEGEL, Celso de Rui. Alfabetização de jovens e adultos: desafios do século 21. R. Brás. Est. Pedagog. Brasília, v. 84, n. 206/207/208, p. 34-42, jan./dez. 2003. Disponível em:<www.brasilescola.com/historia-da-america/historia-cuba.htm>. Acesso em:: 18 abr. 2012.

Disponível em: <www.paises.hlera.com.br/america-central/cuba/>. Acesso em: 18 abr. 2012. Disponível em: <www.suapesquisa.com/paises/cuba/>. Acesso em: 18 2012. abr. Disponível em: <www.historiaeatualidade.blogspot.com.br/2008/02/e-agoracuba.html>. Acesso em: 18 abr. 2012. RAUL, Peréz Ferrer. Educação de Adultos em Cuba. São Paulo: Summus, 1986.